Changeling traz mistérios sobre a proposta fantástica desta história de terror, onde um vendedor negro de livros raros enfrenta os desafios da paternidade de forma jamais vistas.
Sinopse:
Foi na literatura que Apollo Kagwa encontrou refúgio depois de seu pai abandoná-lo e é do amor aos livros que ele faz sua renda, com um negócio chamado Improbabilia. Ele está se adaptando à nova rotina depois de ter um filho com Emma, sua esposa bibliotecária, quando algo nela muda. A falta de energia e de interesse da mãe pela criança poderiam ser sintomas de uma depressão pós-parto – mas quando Emma toma uma atitude drástica, fica claro que o problema é mais grave que isso.
Agora, em busca de sua família, Apollo vai descobrir o que se esconde nas sombras de Nova York. Nesta jornada sombria, ele encontrará lugares há muito perdidos e aprenderá a temer mais as nuances das pessoas que ama do que as lendas que se concretizam diante de seus olhos. Em Nova York, nem tudo é o que parece.
Diversos acontecimentos de nossas vidas ocorrem de formas distintas, conforme as condições sociais. A jornada de trabalho caracteriza e individualiza as pessoas, assim como as responsabilidades de um adulto. Isso é igual em cada história transmitida, seja em um conto de fadas ou na vida real, mas há realmente diferenças entre essas duas coisas? Changeling se aproveita deste dilema. Escrito por Victor Lavalle em 2017 e já vencedor de diversos prêmios literários antes de a editora Morro Branco trazer a história ao Brasil sob a tradução de Petê Rissatti em 2019, a história reservada à Apollo oferece muitos desafios ao criar seu filho neste ambiente aterrorizante de Nova York.
“Este conto de fadas começa em 1968, durante uma greve de lixeiros.”
Apollo foi criado apenas pela mãe Lillian, uma imigrante de Uganda, cujo pai foi ausente desde os quatro anos. Aprendeu a vocação profissional logo cedo, e desde então trabalhou em compra e venda de livros usados, obtendo lucros com edições raras obtidas por donos ingênuos que vendem seu tesouro por poucos dólares. Apaixonou-se pela bibliotecária Emma e do casamento resultou o filho Brian ― mesmo nome do pai de Apollo.
Ele fazia questão de ficar presente na criação do filho, ser o pai que nunca teve. Seguiu os passos da paternidade moderna, chegando até a postar as fotos mais aleatórias do filho nas redes sociais. Dividia as obrigações da criação com a esposa, sobrecarregada após a situação do parto, deteriorada até fazê-la tomar uma atitude, o pivô a provocar toda a perspectiva desta família a partir de então.
“O diabo gosta de se esconder atrás de uma cruz.”
O romance aborda vários assuntos contemporâneos. Trata da diferença social através do tom de pele ainda presente em Nova York, os desafios econômicos relacionados a isso, sobre paternidade moderna, literatura e segurança digital. A quantidade de páginas já se justifica por esta diversidade de conteúdo. Longe de engessar o enredo, cada tópico é condizente à realidade do protagonista apresentada nas diversas cenas desta aventura paterna. Tudo impõe peso na hora de enfrentar os elementos sobrenaturais a surgir próximo ao meio do livro.
E quanto a esta situação sobrenatural, é difícil abordá-la. Falar dos detalhes comprometeria a experiência, esta vislumbrada por Apollo junto ao leitor. Farei o possível ao evitar spoilers, mesmo assim recomendo pular ao próximo parágrafo caso deseje descobrir por si. O próprio romance dá a premissa ao leitor de como a fantasia deste conto de fadas funciona, oscilando a compreensão entre realidade fantástica e realismo mágico. Essa explicação só acontece mais tarde, pois antes o livro já oferece a sensação perceptiva ao leitor através da escrita, oferecendo a impressão ao leitor de estar lendo algo sobrenatural. Só então revela apenas outra situação realística. Isso se repete por todo o livro, evoluindo e provocando a questão de ser “a vida real, ou apenas fantasia?”
Tensão é o fator predominante na narrativa. Após descobrir a situação de Apollo, tudo pode piorar a qualquer momento. Os medos comuns são transformados a partir dos conflitos extraordinários, mesclam-se a ponto de um tornar o outro pior, mexer com o consciente dos personagens e provocar ações inesperadas. Impossível saber o suficiente de alguém, por essa pessoa surpreender com outra atitude inusitada no capítulo seguinte.
“Se ele fosse um garoto, teria chamado a mãe. Como era um homem, chamou a esposa”
Muitos erros textuais deixaram a leitura desconfortável nesta edição. Erros de concordância verbal e nominal, por vezes deixando duas conjugações do mesmo verbo na frase. Falta uma ou outra palavra e tem até “/” no meio de uma. Ainda teve problemas de entender onde estava o erro em algumas frases tão confusas. A revisão deixou muito a desejar, pelo menos a parte gráfica e diagramação estão com as qualidades já esperadas da Morro Branco, pois aproveita cada papel do miolo ao inserir conteúdo, nenhuma página fica em branco ― literalmente.
Changeling é uma leitura prolongada por diversas reflexões contemporâneas, amostras conjuntas sobre como é enfrentar a vida adulta conforme a dificuldade social. Há cenas pesadas, algumas poucas viscerais, todas enevoadas em climas de tensão bem elaborados pelo autor, ainda capaz de provocar a percepção do leitor sobre o que os personagens enxergam por meio da escrita.
Ficha Técnica:
Nome: Changeling
Autor: Victor LaValle
Editora: Morro Branco
Gênero: Terror
Tradutor: Petê Rissatti
Número de Páginas: 560
Ano de Publicação: 2019
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a Editora Morro Branco
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