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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Bosque Profundo" de Carmen Maria Machado, Dani e Tamra Bonvillain

A cidade de Shudder-to-think esconde segredos terríveis que remontam a eras passadas. Eldora e Octavia foram assistir a um filme no cinema e acordam sem lembrar do que aconteceu nas últimas horas. Isso as leva a entrar em contato com criaturas saídos dos piores pesadelos dos seres humanos.


Sinopse:


Em uma pequena cidadezinha da Pensilvânia, as coisas estão cada vez mais estranhas. As minas de carvão abaixo da cidade estão abandonadas há anos. O bosque está repleto de coelhos com olhos humanos, uma mulher-cervo que persegue garotas e homens sem pele. E no centro, eventos misteriosos acontecem o tempo todo. Quando El e Octavia acordam em um cinema sem nenhuma lembrança das últimas horas de suas vidas, as duas adolescentes rebeldes começam uma jornada surreal e aterrorizante para descobrir a verdade sobre a bizarra cidade que elas chamam de lar.





Costumamos pensar que bons escritores equivalem a bons roteiristas de quadrinhos. Basta saber escrever que montar um roteiro de quadrinhos é fácil, certo? Só que isso não é bem uma verdade absoluta. É óbvio que um bom roteirista precisa criar uma narrativa interessante, criativa e que gere empatia pelo leitor. Saber escrever é um dos passos. Mas não é só isso. É preciso combinar arte e escrita em um só espaço e nessa frade sozinha existe um universo de possibilidades. Carmen Maria Machado é uma autora de destaque nos últimos anos por seus livros que tratam de feminismo, de violência contra a mulher, do corpo feminino. Ela traz para nós uma narrativa que vai beber dessa fonte a qual ela escreve ótimos contos e nos narra a história de uma cidade pequena no interior dos EUA onde duas garotas vão se colocar no centro de um turbilhão de acontecimentos terríveis. Tem tudo para ser uma boa história, certo?


Em uma noite de cinema em que Eldora e Octavia estão assistindo a mais um filme de terror elas parecem ter dormido durante a sessão. Despertam com a estranha sensação de que alguma coisa aconteceu com elas. É então que elas tentam voltar à sua vida normal de adolescentes em que Octavia está prestes a deixar a cidade rumo a uma vida melhor e El não sabe lá muito o que fazer. As amigas discutem por amores nunca acontecidos e decisões difíceis. Só que a estranheza daquele dia no cinema continua cutucando lá no fundo da mente das duas. E quanto mais fundo elas vão, mais coisas estranhas começam a acontecer ao redor delas. Um homem chamuscado saído de uma fenda na terra ataca El enquanto ela pensava em suas escolhas enquanto Jessica, a namorada de Octavia se transforma em uma espécie de buraco que suga tudo ao redor. A vida das duas parece ficar mais e mais estranha a cada dia que passa e elas precisam entender o que está acontecendo. Quando elas começam a descobrir algumas pistas sobre o que está acontecendo ao redor delas, El e Vi vão se deparar com um segredo hediondo que pode abalar as próprias fundações da cidade.


Vamos conversar sobre roteiros. Antes de mais nada é preciso dizer que sou bastante fã da autora. E por essa razão que me dói dizer que a história é boa, porém é um quadrinho bem ruim. Há uma dissonância bem clara entre arte e história. Parece que eles não conversam bem ao longo de dois terços da série. As edições 4 e 5 são as melhores nesse sentido de arte e história conversarem. Isso se dá no sentido de que a arte nos leva a imaginar a cena de um jeito enquanto que a sequencialidade do roteiro nos leva em outra direção. Se pensarmos no roteiro de Bosque Profundo como um conto em prosa, ele é bem interessante (salvo alguns problemas que destaco a seguir). Faz discussões que são relevantes, possui um clima de tensão (que a arte não consegue passar) e ao final temos uma boa virada narrativa. Mas, tudo isso se perde em uma falta de ritmo que me espanta. As viradas de página não conseguem te surpreender e mesmo os ganchos entre as edições não me fazem querer voltar na história. Lá pela edição 4 que eu finalmente entendi aonde a autora queria chegar, mas ela já havia me perdido lá atrás. Então, tudo o que foi apresentado a seguir só servia para eu querer acabar logo a leitura. Não larguei porque sou fã da autora. Algo que a DC não compreende é que nem todo autor de literatura em prosa é um bom roteirista de quadrinhos. Até existem casos como o da N.K. Jemisin que fez um bom trabalho em Lanterna Verde - Setor Final. Mas, no geral, tudo acaba desse jeito: com o autor perdendo o leitor no meio da sua narrativa porque os quadrinhos são outro veículo criativo.



A arte da Dani não é boa. Entendi que ela quis fugir um pouco dos padrões ao apresentar personagens com visuais diferenciados e partindo para uma ideia mais realista de estilo corporal. O problema nem é esse e até gostei que ela fez isso. O problema são os cenários, é a coesão do que está acontecendo nos quadros e a conexão com a narrativa escrita. Nada disso funciona e o que temos são ideias que são jogadas em tela. Em alguns momentos, algumas páginas realmente me incomodaram como a cena acima cujo objetivo era criar um clima meio melancólico levando para o assustador. Só que o resultado foi apenas o de me tirar da história. Os momentos de terror são estranhos e o que era para ser assustador teve como consequência a confusão. Mais de uma vez eu tive que parar o fluxo da leitura para tentar entender a página em si. Porque os visuais eram estranhos e não faziam muito sentido. A ideia da Dani era seguir a visão simbólica e figurativa que Carmen Maria Machado impôs ao seu roteiro. Ela só me perdeu nesse processo. Ficava com um ponto de interrogação na cara buscando o contexto das coisas. Até entendi em alguns casos, como a obsessão com a ideia de fendas e buracos ou os "demônios-cervo" ou até as árvores assustadores (que você entende lá pelo final o que são). O que salva de verdade é a colorização da Tamra Bonvillain que é um monstro. O que ela consegue fazer nessa HQ com o emprego de uma palheta de cores que simula o humor das personagens me fez imaginar as páginas em outra perspectiva. Sem a colorização seria um caos absoluto.


Bosque Profundo é repleto de simbolismos. Só que o roteiro dá início a algumas ideias que a autora nunca retoma depois. Ou que não tem tanta importância assim para o desdobrar dos acontecimentos. Por exemplo, toda a história da cidade como tendo sido famosa pela exploração do carvão e o lastro de destruição das doenças pulmonares que afetam os cidadãos é um tema interessante e me fez pensar que haveria alguma conexão com o que acontece às duas adolescentes. Só que não. Serviu apenas para mostrar quais são as características dos moradores da cidade. Que os homens são machistas e conservadores, tipicamente do sul dos EUA. Só que ela não precisava entrar na fundação da cidade e gastar duas edições com isso. Bastava apontar através de algumas cenas como era a divisão social em Shudder-to-think. O enredo das pessoas afetadas pelo carvão não serve também para muita coisa porque não se liga à questão da bruxa e das fendas. Algumas coisas no triângulo El-Vi-Jessica ficaram mal acabados e não houve algum tipo de conversa ou acerta de contas. Entendi que a Carmen queria dar um desfecho com algo natural acontecendo com elas, mas me soou tão corrido e tão esquisito que me perguntei... "ah, é isso?". Outro problema diz respeito à decisão de Vi de seguir adiante sua vida, deixando a cidade para lá contra a visão de El de permanecer devido aos seus problemas familiares e à sua falta de condições de arcar com as despesas. Não houve uma resolução nisso... ia mencionar que não houve resolução satisfatória, mas nem isso posso dizer. Apenas que o assunto foi deixado sem resposta.


Gostaria de comentar tanta coisa sobre esse quadrinho porque a Carmen usa esse espaço para falar de masculinidade tóxica, de violência contra a mulher, de sexo não consentido. Mas, fica difícil comentar sobre o tema quando a história é tão dispersa. A gente tenta se engajar em alguns dos temas, que a autora saca tão bem, mas não consegue. Porque daqui a algumas páginas a história está seguindo um rumo completamente diferente do anterior. Por exemplo, se a história apenas se focasse no acontecimento do cinema e na relação entre a Vi e a El e como a El iria lidar com o namoro da Vi com a Jessica, já seria uma história bem legal. Acrescentasse no meio aí toda a história das drogas do esquecimento e estava tudo bem. Não precisava dar milhões de voltas para chegar nisso. No fundo a história é sobre pessoas que descobriram um meio de deixar as mulheres sem memória e se aproveitar delas. Estou hiperssimplificando, mas é basicamente isso. As personagens ficam sabendo de segredos sujos da cidade e as pessoas que sabem do ocorrido, mas nada fazem para mudar as coisas.


Repito: queria tanto falar de tanta coisa desse quadrinho. Porém, meu senso como leitor crítico não me deixa fazer isso. É tanto problema, mas tanto problema, que uma boa história ficou afogada em um mar de estranhezas e perdições. Como um passaporte de entrada para o selo Hill House, com histórias que passaram pela curadoria do Joe Hill (filho do Stephen King), é um péssimo começo. E não gostaria de queimar a roteirista ou a desenhista, que certamente se esforçaram para trazer uma boa história. Mas, não rolou mesmo. É uma narrativa crítica e criativa, mas dispersa e dissonante.











Ficha Técnica:


Nome: Bosque Profundo

Autora: Carmen Maria Machado

Artista: Dani

Colorista: Tamra Bonvillain

Editora: Panini Comics

Tradutor: Gabriel Faria

Número de Páginas: 160

Ano de Publicação: 2021


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