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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Ascensão" de Stephen King

Scott Carey vai procurar ajuda de seu amigo dr. Bill quando ele começa a sofrer de uma estranha condição em que ele começa a perder peso progressivamente. Mas, tem alguns detalhes bizarros sobre essa perda de peso. Enquanto lida com isso, Scott vai entrar em rota de colisão com a vida de um casal de lésbicas, Deirdre e Missy. Isso vai gerar uma linda e inspiradora história.


Sinopse:


Scott Carey tem muito em que pensar ― o projeto enorme que pegou no trabalho; o casal lésbico que mora na casa ao lado e o cachorro delas, que insiste em fazer as necessidades no seu quintal; e a súbita e inexplicável perda de peso das últimas semanas.

Apesar de não querer ser estudado e examinado, Scott decide compartilhar a questão com seu velho amigo, o dr. Bob Ellis. Afinal, apesar dos números decrescentes na balança, sua aparência continua a mesma ― além disso, seu peso não varia quando está nu ou usando roupas pesadas, quando está de mãos vazias ou carrega algo no colo. Não importa o que ele faça ou coma, Scott está cada vez mais leve ― embora não mais magro ―, e conforme seu peso se aproxima de zero, ele sabe que logo nada vai prendê-lo ao chão.

Scott não quer se preocupar com o que vem pela frente; ele ainda tem tempo para resolver todas as suas questões antes do Dia Zero, e por que não começar pelas mais difíceis? Por exemplo, encarando o preconceito que suas vizinhas têm sofrido da comunidade ― e dele ― e fazendo o possível para ajudar.

Amizades improváveis, a maratona anual da cidade e a misteriosa condição de Scott são a fórmula para grandes transformações. Incrivelmente alegre e profundamente triste, Ascensão é um verdadeiro antídoto para nossa cultura intolerante.





Algumas das histórias mais conhecidas e reverenciadas de Stephen King não são exatamente histórias de terror. Quem não se emocionou com a jornada dos jovens meninos de Conta Comigo, um clássico dos anos 80? Ou acompanhou a jornada de John Coffrey e como ele impactou a vida do policial Edgecomb em À Espera de um Milagre? Ou quantos de nós não choramos com o final de Shawshank, um prisioneiro que dizia ser inocente e muda a vida de um presídio em Um Sonho de Liberdade? Fazia décadas que King não escrevia histórias com essa pegada mais emotiva e inspiradora. E ele finalmente traz de volta isso em Ascensão. Esse filho da mãe conseguiu tirar uma lágrima dos meus olhos no último dia de 2019 com essa história.


Somos colocados junto a Scott Corey, um homem de meia idade, separado e que começa a sofrer de uma estranha aflição: ele está perdendo peso a uma velocidade constante. Mas, não é que ele esteja ficando mais magro; é que a gravidade passou a deixar de funcionar ao seu redor. Quando ele encosta em objetos ou pessoas ele consegue retirar a noção de peso deles. Mas, Scott parece estar estranhamente calmo. Mesmo sabendo que isso pode levar a um dia em que ele não terá peso algum, seu espírito nunca esteve tão elevado. Sua percepção sobre a vida ganha novas cores e ele passa a enxergar o mundo de maneira positiva. Seu destino vai se cruzar com o de Deirdre e Missy, um casal de lésbicas que são suas vizinhas. O que começa como um problema corriqueiro que envolve os cachorrinhos das duas, se transforma em uma jornada para lidar com o preconceito que elas sofrem na cidade de Castle Rock.


"Tudo leva a isso, pensou ele. A essa ascensão. Se é assim que é morrer, todo mundo deveria ficar feliz de partir."

Stephen King tem brincado com novos gêneros e formatos nos últimos anos. Desde uma trilogia (algo que ele não fazia desde que terminou a série de A Torre Negra) com romance policial, a retornar a velhas histórias (Doutor Sono) e até escrever narrativas mais curtas (Ascensão e A Pequena Caixa de Gwendy). A escrita de Ascensão está muito boa e não sofre daquele velho problema do autor de se alongar demais em sua narrativa. Aqui tudo está preciso e bem encaixado em uma narrativa em que levamos duas sentadas para terminar. Os capítulos estão de bom tamanho e a história é bem fácil de ser compreendida. Dos últimos livros que eu li do mestre, este é o que mais se encaixa no formato "poderia se tornar um filme". Ele não exagera nos diálogos e nas descrições e o leitor não se sente perdido em nenhum momento.



Vamos falar do casal Deirdre e Missy. Elas são um casal de lésbicas que moram em uma cidade conservadora como Castle Rock. É óbvio que elas vão sofrer de forte preconceito por parte de seus moradores. A princípio, Scott sente que todos são bons vizinhos e que Deirdre é apenas uma mulher revoltada e irritada. O pequeno entrevero entre Scott e DeeDee envolve o fato de que os cachorros do casal fazem suas necessidades no gramado de Scott. Todas as vezes em que ele foi falar com ela sobre o caso, DeeDee negava que seus bichinhos faziam isso. O que para Scott se tornou uma simples confirmação de algo que ele sabia que acontecia, envolvia motivos mais profundos para ela. O protagonista descobre que o que parecia ser uma pequena e convidativa comunidade, na verdade era um poço rancoroso de conservadorismo patriarcal. Ele vai percebendo as pequenas agressões quando sua consciência simplesmente passou a prestar atenção nos comentários locais: as pequenas piadinhas direcionadas a elas, o fato de o restaurante estar sofrendo com a falta de clientes (que não comiam lá, apesar de a comida ser fenomenal) e até as crianças que não iam pegar doces na casa delas no Halloween porque seus pais haviam dito que elas eram "lesbecas" perigosas.


King sabe trabalhar bem cidades pequenas e o quanto as pessoas podem ser ruins. Isso é um dos pontos altos da narrativa. Todos os personagens são bem delineados, sem exageros. Aqueles que não são necessários à história principal, fazem parte apenas dos limites narrativos. Seja a ira e espírito combativo de Deirdre, a doçura de Missy, o companheirismo de Dr. Bill e o espírito elevado de Scott. Essa combinação nos faz pensar nas pequenas coisas do cotidiano. Em o quanto deixamos nossos pré-conceitos nos afastar de boas experiências e boas pessoas. Uma das cenas mais bonitas de Ascensão envolve um simples jantar entre todos os personagens da história e a fala de Myra, esposa do dr. Bill. Não falarei mais nada além disso.


A Editora Suma foi muito feliz na tradução do título original, Elevation, para Ascensão. Não parece nada, mas quando você terminar de ler a narrativa vai entender o motivo. A jornada de Scott envolve o desapego e o simples amor ao próximo. Ele me lembrou muito John Smith, o protagonista de A Zona Morta (resenha aqui). Um cara legal que acaba sendo colocado em uma situação ruim por circunstâncias inexplicáveis. Ele vai precisar revelar aquilo que há de melhor em si para nós, leitores. E a gente certamente vai comprar a jornada dele. Quantos de nós somos capazes de dizer que temos esse espírito de Carey, um momento de nossas vidas em que apenas passamos a curtir cada dia de nossa existência. E não algo voltado para a individualidade, mas para o coletivo, para o ajudar o próximo. Para perceber a desigualdade e a injustiça que impera em nossa sociedade e simplesmente fazer algo a respeito. Não há violência ou guerra aqui, apenas um cara empenhado a dar o melhor de si.


"A gravidade é a âncora que nos puxa para os nossos túmulos."

Vejo muitas pessoas reclamando do preço e do tamanho do livro. Desculpa, gente, mas O Instituto, que saiu na mesma época, não consegue ser tão bom quanto Ascensão. Mesmo com 144 páginas, o livro é comovente, reflexivo e toca nossos corações aonde importa. Tem toda pinta de se tornar um clássico assim que ganhar uma adaptação para o cinema que eu tenho certeza que não vai demorar. Recomendadíssimo. Só não vão esperando encontrar qualquer coisa de terror aqui porque não há. Vão esperando uma boa história. E não se arrependerão.












Ficha Técnica:


Nome: Ascensão

Autor: Stephen King

Editora: Suma

Tradutor: Regiane Winarski

Número de Páginas: 144

Ano de Publicação: 2019


Link de compra:


*Material enviado em parceria com a editora Suma






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