Um menino e sua avó se mudam para a Inglaterra para que ele possa receber uma educação inglesa após o falecimento dos pais. Mas, ao ficar em um hotel, eles acabam se deparando com uma convenção de bruxas... BRUXAS DE VERDADE!
Sinopse:
Bruxa de verdade nem parece bruxa. E aí está o perigo. Como é que a gente vai saber quem é bruxa e quem não é? Pois este livro conta a história de um menino que, de tanto se meter em encrenca com bruxas, acabou especialista no assunto.
Pode parecer engraçado, mas essa é a primeira vez que eu leio Roald Dahl. Já me deparei com várias adaptações de seus livros: A Fantástica Fábrica de Chocolates, Matilda e O Bom Gigante Amigo. Por isso eu acabei indo de coração aberto para a leitura e acabei gostando do que eu vi. Claro, tenho as minhas ressalvas, mas em se tratando de uma história infantil Dahl consegue unir o bobo ao sombrio, o cômico ao incômodo. Ao ponto de eu conseguir entender As Bruxas com aquele clima de contos de fadas cautelares tão típicos dos irmãos Grimm.
Na narrativa o menino conversa com sua avó sobre bruxas. E sua avó é uma enorme conhecedora do assunto. Ela conta como é possível reconhecê-las, como elas se organizam e se elas existem na Noruega. É então que ele recebe uma carta da família dizendo que seus pais morreram e que ele e sua avó precisam se mudar para Inglaterra para continuar seus estudos. Eles se instalam no hotel Merigold onde pretendem permanecer. Mas, durante suas brincadeiras dentro do hotel, o menino entra em um salão onde estava acontecendo a reunião de um estranho grupo de mulheres. Uma terrível conspiração estava sendo organizada pela Grã-Bruxa naquele lugar em que ela e suas companheiras bruxas planejam transformar todas as crianças da Inglaterra em ratos. E agora? O que nosso jovem menino poderá fazer?
É preciso analisar a escrita de Dahl pelo ponto de vista da literatura infantil. Nesse tipo de literatura é normal você ter uma quantidade maior de diálogos expositivos. Até diálogos curtos. Isso permite à criança se identificar com os personagens. Os trechos descritivos não são tão comuns. O fato do livro ser ricamente ilustrado também ajuda a dar um grande dinamismo ao livro. Então ele não é chato. Tem até alguns trechos com alguma barriga que eu vou falar depois, mas no geral não me incomodou. O começo demora um pouco para engrenar. Achei os dois capítulos iniciais expositivos demais, mas quando eles chegam no hotel e a aventura começa de verdade, a escrita do Dahl toma conta e flui numa boa.
O personagem do menino é o típico protagonista de histórias de aventura: curioso, esperto, enxerido. Não tem nada de muito destaque nesse ponto. Mas, ele consegue carregar bem a história em suas costas. É extremamente engraçado as mensagens politicamente incorretas passadas pelo personagem ao longo da aventura. Ele não gosta de tomar banho, não quer ir para a escola, quer aprontar todas. São aquelas mensagens que a gente não veria mais em livros infantis nos dias de hoje. Não passaria pelo crivo de nenhum editor. Mas, na mente criativa de Dahl a gente se diverte e é uma característica que se torna intrínseca ao personagem. Não o torna menos heroico ou menos corajoso. Outra característica importante do personagem é que ele é um agente de suas ações. Ele não espera que elas aconteçam, ou seja, ele não é passivo. Ele age.
A avó funciona como se fosse um tipo de mestre para o menino. Uma figura com experiência e sabedoria a ser passada adiante. Mas, ao mesmo tempo é super descolada. Novamente, outra personagem politicamente incorreta. Volta e meia ela puxa o charuto dela e está fumando na cara dura na frente do protagonista. E incentiva o jovem garoto a não tomar banho. Se possível tomar banho apenas uma vez por mês porque afinal as crianças tem o direito a não tomar banho. Cara, fico imaginando como o Dahl deveria ser. Completamente pirado. A avó apronta todas durante a história e apoia o protagonista em todas as suas travessuras. Que dupla do barulho!
Achei apenas que a história tem uma barriga grande no final. O momento climático acontece durante um grande jantar onde toda a ação acontece e eu imaginava apenas um epílogo para realizar o desfecho narrativo. Mas, não... ainda temos mais pelo menos dois grandes capítulos com vários desenvolvimentos. Achei desnecessário e não contribui para a narrativa. O que havia de importante já ficou para trás e esses trechos extras em nada acrescentam em evolução de personagem. Tudo aquilo que acontece entre o menino e a avó poderia ser resumido em um capítulo final pequeno como desfecho. E seria algo bem mais divertido do que dois capítulos enormes onde nada útil ocorre.
Ficha Técnica:
Nome: As Bruxas
Autor: Roald Dahl
Ilustrador: Quentin Blake
Editora: Wmf Martins Fontes
Tradutor: Jefferson Luiz Camargo
Número de Páginas: 240
Ano de Publicação: 2016
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