Em uma Nigéria tomada pela violência contra a população mais pobre, uma mulher tenta encontrar um sentido para sua vida nas cordas de seu violão. Tentando fugir de um marido agressor, ela conhece um robô que parece estranhamente fascinado pela sua música.

Nesta história curta, temos o relato de uma mulher nigeriana que mora em um vilarejo pobre do interior. Próximo à vila passa um oleoduto que serve a diversas corporações de exploração de petróleo que usam seus recursos financeiros para controlar a polícia para servir a seus interesses. Para evitar o roubo de petróleo de seus oleodutos, é desenvolvido um robô no formato de aranha (que os moradores apelidaram de zumbis) que serve para patrulhar e deter os invasores. Só que estas criaturas, providas de uma inteligência própria, pouco a pouco vão mudando suas diretivas. Nossa narradora desenvolve uma estranha relação com uma das aranhas que se torna fascinada pela música tocada por ela. Mas, é claro que essa relação em algum momento vai causar alguma situação explosiva.
A vida da protagonista é bem difícil. Como várias mulheres que vivem em locais mais pobres, ela vive em um lugar simples com um marido bêbado e abusivo. A maneira como ela descreve o jeito como o marido a enxerga é terrível. Vítima de violências constantes, tanto físicas como morais, ela tenta sobreviver em um mundo cruel. Ela deseja ter um filho de seu marido, mas as coisas parecem não estar dando certo e ela vê na gravidez uma forma de obter de volta o carinho de seu marido. A traição dele é um ato recorrente que ela já se conformou. Quando aparece a aranha é como se ela tivesse ganhado uma companheira com quem compartilhar suas angústias e sofrimentos. Tanto que o contato com essa criatura de metal consegue curar o seu coração. É curioso pensar que foi necessário ela encontrar um ser como esse para ser compreendida.
A escrita da Nnedi está muito boa. É impressionante como ela consegue mesclar uma narrativa real com elementos ficcionais. Se pararmos para pensar o conto tem muito de realista. A exploração de petróleo nos países do continente africano é uma tônica que vem se desdobrando há décadas. E a autora mostrou ser possível trazer o tema para um outro gênero de histórias. Ela vai se debruçar sobre temas como a morte de inocentes, o capitalismo selvagem de grandes empresas de petróleo, a violência contra a mulher e o descaso da população mais pobre. Os elementos de ficção científica são bem tênues o que poderia fazer com que leitores que normalmente não curtem histórias deste tipo possam ser atraídos.
Aranha, a Artista é uma história de realidade e de ficção; e daquilo que se situa no meio de tudo isso. Nnedi Okorafor nos guia pelos olhos de uma mulher sofrida e que busca um sentido para sua vida na música. Uma canção que vem do fundo de sua alma. E que no fim deixará um fruto surgido no meio da violência e da incompreensão.

Ficha Técnica:
Nome: Aranha, a Artista
Autora: Nnedi Okorafor
Editora: Morro Branco
Tradutora: Heci Regina Candiani
Número de Páginas: 29
Ano de Publicação: 2020

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