Tenshu Yashiro foi condenado à morte por enforcamento. Os dias seguem e ele aguarda o dia em que sua sentença será executada. E o dia finalmente chegou! Mas, quando ele estava prestes a ter sua sentença feita, ele é convidado a abandonar todos os seus direitos como ser humano e fazer parte de um estranho projeto.
Sinopse:
Pouco antes de ser executado, o assassino Tenshu Yashiro consegue escapar da pena de morte graças a uma certa organização. Ao lado da sala isolada que ocupa com outro prisioneiro, está uma linda mulher que foi possuída por uma entidade! Em meio a tudo isso, Yashiro carrega a angústia e tem alucinações com a namorada Misako. O que a sobrevida lhe reserva?!
Alive é um mangá que trata, entre outros assuntos, de arrependimento. Aquele arrependimento por alguma ação passada e que nos trouxe infelicidade de alguma forma e não somos capazes de seguir em frente. Mesmo que esse arrependimento nos siga até o túmulo e além. Ações que na crença oriental fazem com que a alma de um indivíduo fique presa no mundo terreno. Enquanto não somos capazes de aceitar aquilo que fizemos e transcender nossos erros, alguma parte de nós permanece quebrada.
A edição da Panini está bem bacana com uma capa cartonada, o título com brilho prateado e orelhas (aliás, isso de orelhas na capa se tornou quase como um padrão ultimamente). A quarta capa é colorida e algumas das páginas iniciais tem algum colorido. Entretanto, não julgo esse como o melhor mangá para um tratamento luxuoso. A capa é simplesmente pavorosa e não diz absolutamente nada sobre a história (a Panini manteve a capa original). O papel usado é o Pisa Brite que também não foi a melhor escolha, já que o autor usa e abusa do preto. Como o Pisa Brite usado não é de alta gramatura as cores mais escuras acabam vazando para a folha de trás causando alguns efeitos bem estranhos. Alive é o tipo de mangá que poderia ter tido um tratamento mais econômico com papel jornal e uma capa comum que não teria feito muita diferença no final. E teria ficado com um preço bem mais em conta.
É, vocês já perceberam que eu não gostei muito do mangá. Achei o roteiro muito confuso e o autor acaba se perdendo ao longo da trama. Ele começa trabalhando bastante o medo e o remorso do protagonista e o quanto ele teme a sua execução. Logo em seguida ele aceita trabalhar para um estranho grupo que o coloca em uma espécie de sala enorme junto de outro indivíduo que também estava marcado para a execução. Aí vemos parte da interação entre ambos e quando a gente acredita que ocorreria uma confrontação, aparece uma mulher estranha. Aí a coisa degringola para uma trama sobrenatural com uma criatura que possui corpos. O que eu percebi através da leitura é que o autor tinha muitas ideias interessantes e pouco espaço para colocá-las em funcionamento. Ao invés de recuar nas ideias, ele quis colocar tudo ao mesmo tempo. O resultado é uma trama estranha e confusa que não segue para lugar algum e não chega a lugar algum.
O traço definitivamente não me agradou. O autor até tem uma boa pegada no design de personagens e ele consegue dar uma aparência bem séria e crua a eles. Vi uma clara inspiração do Takahashi no traço do Takehiko Inoue, o mestre mangaká por trás dos mangás Slam Dunk e Vagabond. Dá para perceber os traços faciais, a preocupação com os lábios, as sobrancelhas e as curvas corporais. Mas, isso é só no começo. A partir do terceiro capítulo o traço fica mais instável e parece muito corrido. A ponto de ele ser mais rabiscado do que definido. Tem algumas cenas mais para o final que são estranhas demais, e estranhas no mau sentido. O uso do preto no começo cria uma atmosfera de suspense e de tensão, mas à medida em que a história vai seguindo, ele vai parecendo vazado demais. Lá para o final do nono capítulo o autor parece recuperar um pouco do brilho inicial e consegue até fechar com algumas cenas bacanas como a do Yashiro olhando para o céu azul.
Definitivamente eu não consegui me relacionar com os personagens. O Yashiro é o típico protagonista que cometeu um erro e sabe que o cometeu, mas se arrepende. Ele aceita a punição que lhe é conferida. O companheiro de Yashiro nos jogos estranhos é tão superficial que eu tive que procurar onde estava o nome dele (é Gondo). Acho que a ideia era colocá-lo em confronto com Yashiro... mas isso acaba nunca acontecendo e constitui um momento totalmente anticlimático para a narrativa. A Bruxa também constitui um momento de virada narrativa, mas ela é introduzida muito cedo. Ao mesmo tempo, o autor não dá tempo de construirmos uma tensão entre a personagem e os demais. Não dá nem para desconfiarmos sobre quem ela seria ou não (o autor revela tudo logo em seguida).
A temática do arrependimento de Yashiro é a única coisa que acaba me prendendo até o final. Achei interessante a maneira como o autor faz um paralelo entre o protagonista e a cientista que teve sua irmã possuída por uma entidade. Enquanto ambos não foram capazes de darem o seu grito de liberdade e seguir adiante, a vida para eles permaneceu estática. A entidade acaba brincando com esses sentimentos do protagonista. Só que eu achei isso muito mal realizado pelo autor que não aproveitou melhor essa questão psicológica para fazer aquela disputa no final. Tudo pareceu trabalhado muito superficialmente. O final é bonito e revela uma espécie de transcendência do personagem quando ele aceita seguir adiante, mas estávamos tão confusos o tempo todo que toda aquela construção não teve o impacto necessário.
Alive não é um mangá interessante e tem apenas alguns flashes de uma arte interessante. O autor tinha muitos bons temas a serem trabalhados, mas a tempestade de ideias não surtiu o efeito esperado. Acabou que a história ficou rasa demais diante de um cenário que parecia promissor.
Ficha Técnica:
Nome: Alive
Autor: Tsutomu Takahashi
Editora: Planet Mangá
Gênero: Terror
Tradutora: Lidia Ivasa
Número de Páginas: 264
Ano de Publicação: 2017
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