Em um lugar repleto de desolação por todos os lados, uma jovem tenta encontrar seu lugar no mundo. Tudo o que ela tem é uma pistola na mão e uma vontade incrível de fazer o seu próprio destino.
Sinopse:
O destino do deserto está nas mãos de Amani Al’Hiza ― uma garota feita de fogo e pólvora, com o dedo sempre no gatilho. O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher. Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele. Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo ― é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por lhe revelar o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir.
O que acontece quando você mistura uma ambientação de faroeste, outra de Mil e Uma Noites e coloca um pouco de magia no meio? Foi isso que a autora tentou fazer nesse livro. Gosto da ideia de sair um pouco daquele padrão tolkieniano de ambientações inspiradas na Europa medieval. Dá um sopro de ar fresco às narrativas e nos mostra algo diferente do normal. Só que isso faz com que o autor precise trabalhar mais na construção de mundo porque ele vai precisar partir de outros pontos de influência que não aquilo que já existe.
Vou começar falando primeiro da narrativa e fazendo o caminho inverso. Isso porque o grande destaque de A Rebelde do Deserto é a ambientação. No começo eu me questionei onde estava a ambientação de deserto porque tudo o que eu vi foi um western de fantasia. E eu adorei esse estilo. Até a personagem tinha este estilo de lobo solitário, de pistoleiro. Mas, a autora inverte tudo da metade final em diante. O deserto passa a fazer mais parte integrante da história. E, vou dizer que eu não gostei da mudança. Se o livro tivesse mantido este estilo western, ele seria sensacional. Os elementos de deserto poderiam ter permanecido mais no fundo como algo mais inspirado, mais para subverter um pouco o gênero. A alteração de estilo não surtiu um bom resultado e serviu mais para prejudicar do que para auxiliar a história. Me pareceu que a história sofreu de uma crise de identidade no fim das contas.
Ao mesmo tempo é preciso destacar que mundo interessante a autora criou. Do Último Condado até Fahali, as cidades tem vida. Você sente a desolação do lugar onde Amani cresceu e como o mundo que a aguardava era enorme. Os elementos puxados de histórias de As Mil e Uma Noites ficaram muito legais. Você consegue perceber estes elementos em detalhes espalhados aqui ou ali pela autora. Até coisas mais sutis como o hábito de contar histórias é retratado pela autora. Ela mostra a importância que isto tinha para as pessoas. Existe todo um código que o contador de histórias precisava seguir. Isto chega até a interferir na maneira como a autora estabelece o seu estilo de escrita.
Preciso dizer que eu não gostei do sistema de magia criado pela autora. Aspectos deste sistema me agradaram enquanto que outras coisas me desagradaram profundamente. Não quero entrar em muitos detalhes de forma a não dar spoilers, mas algumas opções foram muito agradáveis enquanto outras eu achei muito comuns. A própria protagonista é afetada por isso e me incomodou como tais escolhas alteraram até mesmo a natureza e as características psicológicas da personagem. Me pareceu uma solução genérica demais para a riqueza de outros detalhes presentes na história. Já as criaturas do deserto realmente impõem medo aos personagens e um determinado trecho na história (o da caravana) é assustador. Foi um momento que me lembrou o Álamo e a resistência dos soldados frente ao ataque das forças invasoras. Neste caso as forças invasoras seriam o desconhecido. O deserto é colocado realmente como um inimigo na história: poderoso, inclemente. Espero que a mudança nas características da protagonista não altere esse "antagonismo" da natureza no livro.
Um dos temas trabalhados na trama tem a ver com a construção da protagonista. A ideia de uma protagonista forte e buscando mudar sua vida é de uma mensagem de empoderamento incrível. Amani é uma personagem que sabe o que quer. E ela quer sair da Vila da Poeira a todo custo. As decisões que ela toma ao longo da narrativa vão servindo para compor os tijolos que servem como sustentação para a sua maturação como mulher. Ela vai percebendo pouco a pouco a importância de se responsabilizar por suas ações. E que nem sempre estas serão as mais corretas ou as ideais. Isso até o momento em que suas decisões voltam para assombrar. Compartilho da opinião de Jin dizendo quase no final da história que eu senti falta da Bandida de Olhos Azuis do início da história. A autora faz uma queda vertiginosa na personagem ao aferrá-la demais a outros personagens. Ela ficava melhor com aquele espírito de pistoleira do início. Não gostei do ponto em que ela terminou a história, mas gosto demais da Amani como protagonista.
Os demais personagens também são bem construídos apesar de não terem tanto espaço assim na narrativa. Vou falar apenas de Jin para não entrar demais na história. Ele serve como um bom parceiro para a protagonista. Alguns momentos dos dois são muito engraçados e servem para dar aquele momento iluminado em uma história vasta e desoladora. Os dois se complementam bem e em nenhum momento a relação dos dois me incomodou. A autora soube dosar bem estes momentos mais íntimos com o desenvolvimento da narrativa. Aos poucos vamos descascando as camadas que formam o personagem. Acho que o desenvolvimento que acontece ao Jin e a revelação no meio da história nem era tão necessária. Ele poderia ser um forasteiro simples mesmo. Mas, a autora quis fazer isso, então okay.
A escrita da autora é em primeira pessoa. Apesar de alguns não gostarem deste estilo narrativo, não achei enfadonho ou cansativo. Até porque vamos descobrir mais à frente que ter a narrativa contada pela Amani é muito interessante. Detalhezinho de construção de mundo. O leitor passa a prestar mais atenção no que a Amani pensa e fala. Escrita típica de livros YA; dinâmica, capítulos curtos, bom encadeamento de palavras. Ou seja, um livro bem acessível a todas as idades. Podem ficar tranquilos que, como eu disse acima, não tem muitas cenas românticas ou cenas hot. Para mim, foi uma leitura bem agradável e a encerrei com quatro dias, mas admito que se eu tivesse me esforçado mais, poderia ter acabado até antes.
A Rebelde do Deserto te apresenta uma bom ambientação que foge ao padrão de fantasia. Apesar de algumas opções da autora, principalmente no que diz respeito à construção de mundo e ao sistema de magias, o livro é bem agradável e diferente. A protagonista é uma personagem feminina muito boa com uma luta para demonstrar o seu lugar no mundo. Ela tenta fugir de um ambiente machista repressor e, através de suas ações, pouco a pouco vai construindo sua reputação. Uma escrita típica de livros YA, mas em primeira pessoa. Esse é um detalhe que vai interessar ao leitor principalmente com os desenvolvimentos da narrativa. No final, fiquei com vontade de continuar a ler a série.
Ficha Técnica:
Nome: A Rebelde do Deserto Autora: Alwyn Hamilton Série: A Rebelde do Deserto vol. 1 Editora: Gutenberg (no Brasil) Gênero: Fantasia
Tradutor: Eric Novello Número de Páginas: 312 Ano de Lançamento: 2016 (no Brasil)
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