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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "A Filha de Rappaccini" de Nathaniel Hawthorne

A chegada de Giovanni a uma pousada vai marcar uma mudança em sua vida. Ele vê um lindo campo de flores e uma jovem misteriosa cuidando do jardim. Seu coração foi roubado por esta bela jovem. Mas, quando ele vê pequenos animais morrendo próximos a ela, alguma coisa parece estar errada.



Sinopse:


Publicado pela primeira vez em 1844, A Filha de Rappaccini é uma das obras-primas de Nathaniel Hawthorne, considerado o maior contista dos Estados Unidos e famoso pelo seu trabalho A Letra Escarlate.


“A protagonista de A Filha de Rappaccini é uma jovem linda e inocente que também é - literalmente - venenosa e, portanto, incorpora os temas hawthorneianos de beleza imperfeita, o vínculo inextricável entre o bem e o mal e a arrogância ingênua e viciosa do intelecto humano, que presume separar os dois” - resenha de Bill Kerwin.





Mais um clássico que foi trazido pela Sociedade das Relíquias Literárias, uma iniciativa da editora Wish. Lembro que li essa noveleta pela primeira vez há quase dez anos quando estudava Edgar Allan Poe e Nathaniel Hawthorne. Precisei ler várias histórias curtas dos dois autores. Não sou assim tão fã de Poe, tendo preferido desde aquela época a prosa mais diferenciada de um autor que gosta de brincar com o uso incorreto da ciência. Hawthorne é um autor que vai fazer o leitor coçar a cabeça porque ele não tem tanto dos tiques comuns da escrita gótica medieval. Diria até que a prosa dele é menos rígida do que os floreios românticos tão típicos do período. Ainda temos sim aquele ar de contemplação e dramaticidade, mas em um nível menor. Quando alguém me pede para indicar algum autor do século XIX para os leitores contemporâneos, costumo sempre indicar o Hawthorne por sua escrita mais próxima do que a empregada no século XX. Dito isso, a trama de A Filha de Rappaccini já foi relida inúmeras vezes em formatos diferentes. Ou seja, quando o leitor começar a se deparar com a narrativa, vai se questionar se já não ouviu essa história em algum lugar. E de fato sim. Querem ver como essa história curta se tornou tão popular? Pamela Isley, a Hera Venenosa, foi inspirada diretamente em Beatrice, a moça que rouba o coração de Giovanni na história.


Giovanni Guasconti, um jovem estudante com um futuro brilhante pela frente, chega até Pádua, na Itália, onde se hospeda em uma pousada. Ao olhar por sua janela vê um lindo campo de flores à distância. Inicialmente cuidado por um estranho homem recurvado, em seguida ele vê chegando até o jardim uma linda e formosa dama chamada Beatrice. Giovanni logo fica encantado pela beleza inocente dela. Mas, coisas estranhas acontecem ao seu redor. Pequenos animais morrem como se tivessem recebido um sopro mortal. Após se informar na cidade, ele descobre que a jovem donzela é filha de um médico inescrupuloso chamado doutor Rappaccini. Suas experiências científicas são condenadas por todos os seus pares e sua obsessão pelo corpo humano beira à obsessão. Doutor Baglioni, amigo do pai de Giovanni, aconselha ao jovem para se manter longe do estranho médico, caso contrário sua vida corre um sério risco. Mas, Giovanni está perdidamente apaixonado por Beatrice e ele parece estar perdendo sua vitalidade dia após dia. O que está acontecendo?


Hawthorne é um autor que gosta de brincar com as antíteses, as contradições. Bem contra o mal, ordem contra o caos, inocência e sedução. E aqui temos várias delas aparecendo na história. Percebam o quanto Beatrice nos é apresentada como uma mulher virginal, dotada de uma beleza estonteante e ingênua, capaz de seduzir homens incautos. O autor brinca com a imagem da linda donzela, com Beatrice quebrando o clichê da virgem e nos colocando diante de uma mulher mortal. Ela não é maligna, mas estar ao seu lado pode simbolizar a morte. Nos romances típicos da época, temos sempre um homem sofrendo por amor, buscando a mulher inalcançável até ele ser recompensado (ou não) pela sua jornada. Aqui, a recompensa por alcançar e aceitar o amor é a morte. Uma outra leitura que podemos fazer é a de uma flor ser empregada para matar outra pessoa. Ou seja, como um ser tão belo pode causar a morte de outro ser vivo?


Ao mesmo tempo, temos o homem manipulando a natureza e transformando-a em uma arma. Esse é o papel do inescrupuloso Rappacini que usa a ciência para destruir outras pessoas. O cientista se diverte com o sofrimento de Giovanni colocando em uma encruzilhada entre o amor e a dor. O que ele não conta é que o protagonista não vai assumir um papel de aceitação diante da tragédia. Normalmente um protagonista romântico apenas aceitaria a morte ao lado de sua amada. Mas, tal não é o caso como veremos no momento climático da história. Hawthorne vai ser um dos precursores do emprego do personagem do cientista usando o seu conhecimento para causar o mal ao próximo. Algo que vai ser profundamente estudado ao se mencionar a ética científica no futuro. Convido todos a conhecerem esta história magnífica de uma das vozes mais assombrosas do século XIX.










Ficha Técnica:


Nome: A Filha de Rappaccini

Autor: Nathaniel Hawthorne

Editora: Wish (Sociedade das Relíquias Literárias)

Tradutora: Cláudia Mello Belhassof

Número de Páginas: 141

Ano de Publicação: 2020


Avaliação:









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