Um acidente de carro, um ciclista atropelado e um motorista irresponsável. Esses são os ingredientes para uma poderosa história escrita por Karen Álvares.

Como leitor e amante de livros, uma das coisas que eu mais gosto é quando uma ideia absolutamente simples gera uma história arrebatadora. Esse é o caso de A Bicicleta Fantasma. Karen Alvares consegue nos assustar com uma situação que pode acontecer a qualquer momento da nossa existência. Ela acrescenta alguns elementos mágicos e/ou sobrenaturais para dar um tempero à história.
Alexandre é um motorista de um carrão que vive às custas do papai milionário que está viajando. Em um dia normal de sua vida, ele está andando a toda velocidade pela rua, mostrando todo o poder de sua caranga quando atropela lateralmente um jovem que passeava de bicicleta. Não bastando atropelar, Alexandre passa por cima da bicicleta do menino e sai de cena antes de ter que dar explicações. Algumas testemunhas viram o ocorrido e denunciaram Alexandre às autoridades. Apesar de ser obrigado a prestar depoimento, nada que um pouco de dinheiro nas mãos certas não consiga resolver qualquer situação. Mas, Alexandre perceberá que um outro tipo de justiça virá atrás dele. E essa justiça é branca e produz um som parecido com o trim-trim de uma bicicleta.
Que conto fantástico! Assusta o fato de essa ser uma situação completamente verossímil. Posso estar errado, mas a autora pode ter presenciado uma situação como a que acontece no início do conto. O leitor percebe como o conto tem um ar intimista e denunciatório. A situação do menino estirado no chão é descrito com uma precisão muito boa e passa todo o horror daquele momento fatídico. As imagens apresentadas por Karen ao longo do conto são muito ilustrativas. Somos capazes de imaginar os ativistas amarrando uma bicicleta branca na parede ou o horror daquela perseguição final. A história não tem um terror gore ou exagerado. Mas impõe uma tortura psicológica no leitor que fica agoniado com as situações apresentadas.
Os personagens são construídos na medida certa. Alguns contos sofrem com um excesso de construção e acabam não entregando tudo ou dando espaço para todos sem prejudicar algum. Aqui não... dos ativistas ao garoto e até o protagonista (ou seria o antagonista?) todos recebem o espaço necessário para o andamento do enredo. Alexandre é um verme... Karen consegue construir um personagem absolutamente odiável, mas ao mesmo tempo muito real. Ele é a representação de todos os motoristas riquinhos e sua postura absolutamente presunçosa em relação aos transeuntes. A maneira como ele se refere ao menino e como ele cria justificativas para o fato é totalmente possível. Os demais personagens servem para reforçar ou enfatizar alguma situação apresentada por Karen.
O elemento sobrenatural funciona de uma maneira harmônica na história. Diria até que Karen novamente flerta com o realismo mágico já que o senhor que parece invocar uma magia ou maldição trata tudo com naturalidade. A história de A Bicicleta Fantasma me lembrou muito a trama de A Maldição do Cigano de Stephen King. Mas, a autora deu a sua personalidade ao enredo abordando um tema muito comentado no nosso dia-a-dia. E me tocou bastante porque eu sou ciclista e já passei por situações em que eu quase sofri um atropelamento. É uma leitura rápida e muito boa ao mesmo tempo.

Ficha Técnica:
Nome: A Bicicleta Fantasma
Autora: Karen Álvares
Editora: Draco
Gênero: Terror
Número de Páginas: 15
Ano de Publicação: 2015
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