Tendo assumido a chapelaria de seus pais, Sophie precisa lidar com a responsabilidade de cuidar de suas irmãs. Sem muitas perspectivas na vida, ela está inquieta. Um dia, Sophie discute com uma bruxa que a amaldiçoa, transformando-a em uma velha. Ela agora precisa da ajuda do misterioso mago Howl para reverter o feitiço.
Sinopse:
Sophie é uma jovem de 18 anos que trabalha na chapelaria de seu pai. Em uma de suas raras idas à cidade ela conhece Howl, um mágico bastante sedutor mas de caráter duvidoso. Ao confundir a relação existente entre eles, uma feiticeira lança sobre Sophie uma maldição que faz com que ela tenha 90 anos. Desesperada, Sophie foge e termina por encontrar o Castelo Animado de Howl. Escondendo sua identidade, ela consegue ser contratada para realizar serviços domésticos no local, se envolvendo com os demais moradores do castelo.
Toda vez que eu vejo uma adaptação cinematográfica de alguma obra literária eu fico preocupado. Sempre existe alguma polêmica envolvendo adaptações. Seja uma adaptação que segue ao pé da letra e o ritmo fica ruim ou uma adaptação que se permite muitas liberdades e acaba desviando-se completamente de sua origem. O Castelo Animado está no último caso. Talvez teria me feito bem não ter lido o romance antes de ver a animação. Possivelmente eu teria curtido mais. Para a próxima animação Os Contos de Terramar, não lerei antes de assistir à animação.
Sophie é a mais velha de suas irmãs e uma menina sem muita perspectiva na vida. Tenso assumido a chapelaria, ela se vê presa a tarefas que ela não gostaria enquanto Lettie, sua irmã caçula trabalha naquilo que gosta. Um dia, pouco antes de fechar a loja, uma estranha senhora entra na chapelaria. Depois de uma rápida discussão, a velha que se identifica como a Bruxa do Nada, amaldiçoa Sophie transformando-a em uma velha. Assustada, Sophie sai de casa e procura ajuda no castelo do famoso e infame feiticeiro Howl. Chegando ao castelo, ela faz um acordo com o demônio de estimação de Howl, o fogo-fátuo Calcifer. Este concorda em libertar Sophie se ela conseguir libertá-lo de Howl. O que começa como uma estadia de uma noite no estranho castelo, acaba se estendendo indefinidamente. Sophie, Calcifer, Howl e Markl irão desenvolver um estranho companheirismo que fará com que eles se tornem uma família. Mas, Howl possui um estranho passado que o aterroriza e uma mestra que quer levá-lo para combater suas guerras. A Mestra Suliman não descansará enquanto não conseguir trazer Howl até seu castelo.
Sem dúvida alguma conseguimos perceber o quanto a animação do estúdio evoluiu ao longo de sua história. Possivelmente O Castelo Animado é o ápice em técnicas de animação mesclando cenários 2D e 3D. A própria construção do castelo de Howl é muito detalhada. Seu aspecto caótico transparece em elementos colados aqui e ali que tornam o castelo uma obra de arte. Se o espectador prestar atenção, vai perceber que o próprio castelo muda de forma várias vezes ao longo do filme, simulando o comportamento caótico de seu criador. A cidade também é bem construída com vários personagens distintos dividindo o cenário. Em outras animações a construção física e facial dos personagens costuma ser igual, mas aqui vemos elementos distintos compartilhando o mesmo espaço: pessoas altas, baixas, com roupas comuns, estranhas. A trilha sonora também é muito boa e competente, se adequando às situações. Parte dela é sinfônica como já se tornou quase tradicional para o estúdio. Joe Hisaishi foi novamente responsável pela trilha sonora, captando a essência dos cenários europeus da animação.
A temática principal da história de Diana Wynne Jones e transportada para a animação é o comodismo de Sophie. Sendo a primogênita, Sophie herdaria a ocupação dos pais, cuidando da chapelaria. Nunca passou pela cabeça de Sophie lutar por aquilo que ela gostaria. Entretanto, ela sempre reclama de sua vida ser ruim e medíocre e que ela gostaria de fazer mais. No início da história, o próprio comportamento de Sophie é o de uma velha. O feitiço da Bruxa do nada apenas ressaltou essas características na personagem. E, diferentemente de Lettie, a beleza de Sophie é apenas mundana, fazendo com que sua auto-estima fosse baixa. A protagonista também não entende no começo que a beleza muitas vezes vem de seu próprio interior. O contato dela com Howl faz com que ela seja obrigada a mudar a sua maneira de pensar. Aos poucos ela vai se encantando com o charme e a personalidade do jovem mago e ela passa a desejar que ele a queira. Isso provoca uma mudança sensível na personagem que mais para o final da história passa a lutar por aquilo que ela quer.
Entretanto, Miyazaki, sensibilizado com a guerra no Iraque, acaba enxertando uma temática ainda maior na animação: a do pacifismo. Howl vem de uma outra realidade onde as guerras são endêmicas e ele próprio é um instrumento de guerra. Mas, desejando parar com as guerras, Howl decide se esconder junto com Calcifer em seu castelo que se move quando ele deseja. Quando ele encontra Sophie, seus algozes conseguem rastreá-lo e ele acaba trazendo a guerra para junto de casa. Sua mestra Suliman também quer o poder de Howl porque este poderia fazer uma diferença a seu favor no conflito. A luta de Howl é pelo fim das guerras e possivelmente será no amor que Sophie sente por ele é que haverá a possibilidade para isso. Howl também precisará parar de fugir para que dessa forma ele seja capaz de encarar os seus problemas.
A animação é cercada de muita magia, algo típico na concepção de Miyazaki. Visualmente O Castelo Animado é lindo, cercado por uma ambientação baseada em ambientes franceses e vitorianos. Miyazaki foi até a França estudar a arquitetura de casas antigas para compor o cenário da animação. Algumas cenas no início da animação, me fizeram lembrar de Porco Rosso como os canais que simulam a Itália do protagonista daquela animação. A paixão por aviação de guerra transparece em O Castelo Animado com algumas boas cenas em que Howl combate alguns estranhos aviões que estão bombardeando a cidade.
O que realmente me incomodou é como Miyazaki alterou a história de Diana Wynne Jones. Isso poderia não impactar nada na construção do enredo se fosse feito corretamente, mas acabou impactando de forma negativa. Na história, Sophie e Howl discutem muita e sua relação de amor acaba surgindo principalmente a partir de suas diferenças. Howl é um mulherengo que gosta da arte da paquera e se cansa quando a conquista é realizada. O mago também não é nenhuma ave biomecânica como é na animação de Miyazaki. A história é mais focada na própria jornada de crescimento da protagonista que acaba descobrindo ser também uma feiticeira. Michael (chamado Markl na animação) é um aprendiz de Howl e é apaixonado por Lettie, irmã de Sophie. A própria antagonista da história é diferente, sendo a Bruxa do Nada a vilã da história. Existem várias outras mudanças feitas e a animação parece ter primado muito mais em sua técnica do que no desenvolvimento da história.
Com as mudanças feitas por Miyazaki, a história acabou sendo afetada. Alguns elementos de enredo ficam deslocados como a família de Sophie, que é parte importante para a construção da personagem. Eu sei que Sophie herda a chapelaria porque li o livro... na animação não é feita nenhuma menção a isso. O passado de Howl, criado por Miyazaki para dar um gosto exótico à história é mal explicado. Não entendi bem a existência daquele mundo de Howl: o que acontece ali? Como impacta na formação de Howl? E Suliman também acaba sendo empurrada na história como um elemento extra. Ela seria uma espécie de conselheira do rei, mas ela age como a própria governante do reino. Novamente é um elemento que soa muito estranhamente. Enfim, eu achei a construção do enredo muito caótica. Miyazaki tinha várias boas ideias, mas acredito que ele quis apresentar tudo ao mesmo tempo, o que prejudicou o desenvolvimento do enredo. A história na qual ele se baseou é riquíssima e poderia ter sido melhor adaptada já que ela permite isso. A autora confessou não ter feito parte em nenhuma das etapas do processo de criação e que apoiou a boa repercussão da animação.
O Castelo Animado teve uma excelente recepção no mercado japonês e ainda maior no internacional. Foi a segunda animação do Ghibli a ser indicada a um Oscar, apesar de não tê-lo vencido. Em números, foi o que deu o melhor retorno ao estúdio. Também concorreu a outras premiações tendo vencido algumas como as do Tokyo Anime Fair e a do Venice Film Festival. Também recebeu críticas muito positivas de alguns jornais internacionais como o Los Angeles Times, o The Chicago Tribune e o The Baltimore Sun.
O Castelo Animado é uma boa e divertida história. Entretanto, as falhas no enredo acabam atrapalhando uma diversão maior por parte do espectador. Contribuiu ainda mais para a minha recepção negativa o fato de eu ter lido e apreciado o romance de Diana Wynne Jones. Mas, como sempre, eu recomendo muito a história para todas as idades, sem restrições. Mesmo as partes de ação não são violentas, o que é uma marca do estúdio.
Ficha Técnica:
Nome: O Castelo Animado
Diretor: Hayao Miyazaki
Produtor: Toshio Suzuki
Roteirista: Hayao Miyazaki
Estúdio: Studio Ghibli
País de Origem: Japão
Tempo de Duração: 119 min
Ano de Lançamento: 2004
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finalmente achei uma crítica que eu concordo! basicamente, a sensação que eu tive vendo a animação foi do tipo: "eu sei que eu to vendo algo incrível, mas não consigo entender" e isso estragou muito a minha experiência. eu sei que assisti um filme com uma história incrível, mas má desenvolvida e muito subentendida/subliminar pra mim.