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Foto do escritorPaulo Vinicius

Luca

Embaixo de uma pequena cidade na costa da Itália existe uma vila de monstros marinhos. Eles vivem suas vidas normais, mas são caçados pelos seres humanos. Uma de suas características é que quando eles sobem à superfície eles se transformam em seres humanos. Luca é um garoto curioso que conhece Alfredo, um menino que vive na superfície. Mesmo proibido de ir à superfície, Luca quer conhecer o mundo.


Nossa, que filme gostoso de assistir. Aquela típica aventura em que a gente sai de alto astral ao final. Santa mozzarella!!! Esse é um daqueles filmes que podemos pegar a família, botar no sofá e curtir algumas boas horas de diversão. E estamos precisando de filmes legais assim, que elevem o nosso espírito e passem mensagens boas. Curiosamente, comecei a ver sem grandes pretensões essa semana e não conseguia parar de assistir. Algumas situações eram hilárias e me pegava rindo alto durante algumas cenas. Fora aquelas músicas italianas super conhecidas (em algum momento da vida de vocês, alguma delas foi ouvida). Sem falar nas frases em italiano e no jeito alto astral dos personagens. E esse também é aquele típico filme da Pixar que tem uma fórmula conhecida, mas nunca batida. Ao final, fiquei com vontade de assistir mais, saber o que aconteceu com os personagens depois de tudo o que se passou. E justifica o pedido insano da galera nas redes sociais da Disney por mais aventuras do Luca, do Alberto e da Giulia.


Falando da produção do filme, ele pertence à Pixar, tendo sido dirigido por Enrico Casarosa. A produção foi de Andrea Warren, o roteiro foi feito por Mike Jones e Jesse Andrews. O filme tem 95 minutos de duração e foi lançado mundialmente em junho de 2021. Ele era para ter sido lançado em março nos EUA, mas os cinemas ainda estavam fechados devido à pandemia. Uma curiosidade é que, na Itália, ele estreou presencialmente em 13 de junho no Aquário de Gênova, como uma forma de divulgar a animação (Gênova é onde a personagem Giulia estuda). A animação está muito, mas muito boa, no mesmo nível de Soul, outra animação da Pixar que estreou em 2020. Gostei do jeitão colorido das cenas que se passam no fundo do mar. É uma profusão de cores como amarelo, vermelho, muito azul. Tudo esbanja vida e me faz pensar o quanto o fundo do mar é interessante. Imediatamente me veio à mente um cenário como a Grande Barreira de Corais. Por falar em colorido, senti que o diretor fez homenagem a um longa-metragem que mora no meu coração e pertence ao Studio Ghibli: Ponyo. O design dos personagens e do cenário lembram um pouco, mas são homenagens bem sutis. Lembrando também que Ponyo faz amizade com Sosuke, um menino que vive no mundo terrestre e daí eles partem para viver mil aventuras. Então algumas similaridades estão presentes.


Na costa da Itália, existe uma pequena cidade chamada Portorosso que é famosa pelos seus caçadores de monstros marinhos. Mal sabem os habitantes da cidade que existe uma outra cidade embaixo de sua linha costeira habitada por vários monstros marinhos. Um deles é Luca, um jovem menino amigável e curioso que ajuda sua mãe a cuidar dos peixes que vivem em seu quintal. Depois de ver alguns objetos dos humanos que caíram no fundo do mar, ele começa a despertar uma certa curiosidade pelo que existe lá em cima. Os monstros marinhos são proibidos de irem até a superfície porque podem ser caçados pelos humanos. Mas, quando Luca conhece Alberto, um menino que mora sozinho em uma torre em uma ilha próxima à sua cidade, ele fica pasmo de como um monstro marinho consegue viver numa boa na superfície. Alberto gosta de coletar objetos dos humanos e seu sonho é ter uma Vespa, uma moto tipicamente italiana. Para Luca, o mundo da superfície representa a liberdade, a possibilidade de ir a diversos lugares sem restrições e conhecer coisas maravilhosas. Quando seus pais descobrem que Luca foi até a superfície, eles ameaçam colocar Luca de castigo no fundo do mar. É então que o menino foge de casa e junto de Alberto eles seguem rumo a Portorosso para tentar conseguir uma Vespa e serem verdadeiramente livres.


O roteiro é simples e divertido. Trata-se de uma narrativa de amadurecimento em que os dois personagens precisarão descobrir a si mesmos no processo. Parte da história se passa no fundo do mar com eles planejando fugir e a segunda parte é quando eles chegam a Portorosso e conhecem Giulia. Embora a história como um todo passe como uma pluma, uma parte que leva ao clímax da história é um pouquinho arrastada. Mas, nada que deixe o filme necessariamente ruim. Como a história é ágil, a gente não sente vontade de parar por nenhum momento. A trilha sonora é maravilhosa e tem um timing de execução impecável. Por exemplo, tem um momento em que Luca e Alberto estão brincando de descer uma ladeira com a bicicleta e pular no mar. Nessa mesma hora entra uma música muito divertida que dá mais gás à cena. São aquelas músicas italianas manjadas, mas elas se encaixam tão bem que não tenho reclamações.


Essa é uma história sobre liberdade. Luca é um garoto que precisa conhecer o mundo. Saber qual é o seu lugar nele. E estar limitado a um pequeno espaço pode ser bem chato para um garoto mais jovem. Quando ele descobre que vive em um mundo bem pequeno e limitado, tudo o que ele deseja é sair em busca de novas experiências. Como quaisquer pais e mães preocupados com os seus filhos, os pais de Luca tentam usar todos os métodos para impedir o menino de se machucar. Infelizmente ao invés de conversar com ele e explicar por que ele não deveria ir à superfície, eles decidem colocá-lo de castigo. É óbvio que isso não funciona e deixa Luca com mais vontade de ir ao mundo. Porcorosso é uma cidade perigosa, sem dúvida alguma, mas mostra suas belezas ao menino que vai bebendo de sua experiência avidamente. Mas, o que isso tem a ver com uma motoneta? Simples, a moto funciona mais como um símbolo de liberdade. De ser capaz de ir aonde quiser na hora em que se desejar. Não é pela moto em si. Tanto que mais tarde Luca vai perceber que não precisa da moto para ir a outros lugares; basta lutar para conquistar os seus sonhos.


Já Alfredo é um menino que vive no alto de uma torre em uma praia situada em uma ilha próxima a Luca. Todos os dias ele desce ao fundo do mar para catar objetos dos humanos e inventar mil maluquices a respeito delas. É um pouco do que Ariel, a Pequena Sereia, fazia de colecionar objetos da superfície. Mas, Alfredo vive sozinho e seu pai não pode ser encontrado em parte alguma. Segundo ele, seu pai saiu para o mar e deve voltar logo. Mas, os dias se passam e não vemos ninguém responsável por ele. Quando ele conhece Luca, os dois rapidamente formam uma amizade próxima. Dá para ver o quanto Alberto se sentia solitário ali naquele lugar. A amizade de Luca é que vai tirá-lo de sua "torre de marfim" e colocá-lo em ação. Para Alberto, seu amigo representa tudo em sua vida e vamos ver mais tarde o quanto ele é importante. Principalmente quando ele percebe que Luca é um garoto que consegue fazer amizades facilmente. É aí que ele vai ficar abalado.


O filme emprega uma espécie de jargão próprio empregado pelos personagens que vivem na vila de Portorosso. O diretor aproveitou-se do fato de o italiano ser uma língua bem expressiva para fazer os personagens terem suas próprias expressões. Isso deu muita personalidade ao filme. Me pegava repetindo stupido ou santa mozzarella toda hora. E isso criou um ambiente cheio de energia na vila que transbordava italianidade por toda a parte. É uma deliciosa visita à Riviera italiana, aos pequenos casebres típicos da região de Gênova. É provar macarrão, fettuccini. É ver as pessoas andando de bicicleta pelas ruelas apertadinhas da cidade. É curtir competições bizarras que envolvem nadar, pedalar e comer macarrão. E tudo isso ao lado de uma galerinha do barulho aprontando todas.


Giulia funciona como o elemento de ligação dos dois meninos ao mundo da superfície. A forma como eles se ligam um com o outro é bastante positiva. E existe um medo de Alberto e de Luca de serem molhados e se transformarem em monstros marinhos. Eles vão precisar de toda a sua coragem para enfrentarem os humanos e tentar conviver com eles. O tema da aceitação também vai ser discutido aqui. E visto do ponto de vista de quem pode se tornar um excluído. O curioso de tudo é que eles já são excluídos por terem se ligado à Giulia, uma forasteira, alguém que só visita Porcorosso durante suas férias. Ela mesma não consegue fazer amizades porque é vista como alguém de fora. Claro que isso nem se compara ao perigo vivido pelos dois meninos de serem descobertos como monstros e passarem a ser caçados por todos na vila. Luca vai descobrindo a magia da amizade e que não importa se ele é um monstro ou não já que seus sonhos são os mesmos. Os três amigos sonham o mesmo sonho: serem livres. E sonhar junto é tão mais legal do que sonhar sozinho.


Adorei Luca e a Pixar continua me entregando mais e mais motivos para eu abrir um sorriso toda vez que assisto um filme deles. A propósito, fica outra homenagem feita ao Studio Ghibli: a cidade Porcorosso é uma óbvia homenagem à animação Porco Rosso, do porco aviador que luta na Segunda Guerra Mundial. Esse é um daqueles filmes alto astral que a gente precisa assistir quando estamos meio chateados. Para nos levantar e nos mostrar que a vida pode ser repleta de magia e que os sonhos são possíveis para aqueles que lutam para realizá-los.



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