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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Sobre a Imortalidade de Rui de Leão" de Machado de Assis

Duas versões de uma mesma história escritas por um dos maiores representantes da literatura brasileira: Machado de Assis. Com uma pegada de ficção científica, somos apresentados a Rui de Leão, um homem imortal que vai viver várias aventuras enquanto descobre sua humanidade. 

Sinopse:


Quem quer viver para sempre?

Publicados pela primeira vez em 1872 e 1882, respectivamente, Rui de Leão e O imortal contam duas versões diferentes da mesma história de um homem que, após beber misteriosa poção que recebeu das mãos do sogro enfermo, descobre que não pode mais morrer. Nada poderia tê-lo preparado para isso, mas Rui de Leão não vê outra opção além de seguir em frente — e permitir que o leitor siga com ele.

A primeira publicação da Plutão Livros traz dois contos precursores da ficção científica brasileira, escritos por ninguém menos do que Machado de Assis, com prefácio de Roberto de Sousa Causo e ilustrações de Paula Cruz.




Esta coletânea reúne dois contos escritos por Machado de Assis no século XIX. Logo de cara eu já sei o que você, leitor, está pensando: “ah, meu Deus, lá vem aquele chato do Machado de Assis que eu tive que ler na escola.” Sim, minha experiência machadiana também foi traumática. Muito porque nós não somos apresentados propriamente ao autor. Seus livros nos são arremessados sem aviso prévio e temos que nos virar para fazer um seminário ou um relatório. Mesmo o mais divertido dos livros perde a graça se for empurrado goela abaixo do leitor. Machado de Assis é um escritor interessante, irônico e criativo. Seus contos são o que há de melhor na literatura nacional clássica e ele se aventurou por diversos gêneros como o drama, o romance e até a ficção científica. Confesso que fazia décadas que eu não lia nada do autor e fico feliz em dizer o quanto me agradou ver que eu amadureci como leitor e pude apreciar muito mais o autor hoje que eu li sem compromisso ou necessidade.

Sobre a Imortalidade de Rui de Leão foi compilado pela Plutão Livros, uma nova editora dedicada a publicar materiais de ficção científica que ou não receberam o devido destaque ou nunca foram lançados por aqui. Esta é a primeira vez que estes dois contos são colocados juntos, lado a lado. E eu gostei bastante da edição da Plutão. O projeto de capa é lindo, contendo ilustrações feitas por Paula Cruz. Me parece que a editora quer dar uma identificação gráfica própria e só isso já demonstra o quanto a editora já pensa mais à frente. Internamente tem duas ilustrações no começo de cada conto. As fontes estão muito agradáveis no seu modelo pré-configurado (nem precisei ajustar à minha visão). Conta ainda com um prefácio do grande Roberto de Sousa Causo onde ele explora a história da ficção científica no Brasil bem rapidamente e ao final faz alguns comentários sobre Machado de Assis e sua exploração da ficção científica.

Temos duas versões da mesma história. Admito que gostei mais da primeira porque achei-a mais solta em relação à segunda história. A história muda pouco em seu conceito principal ganhando mais detalhes na segunda narrativa que possui um ar mais histórico e dramático. O primeiro conto é mais satírico e brinca com convenções sociais o tempo todo. Ambos versam sobre a imortalidade. Ela pode ser muito mais uma maldição do que uma solução para os problemas da efemeridade da vida. Através das histórias de Rui de Leão vemos (mesmo quando o autor adota um tom satírico) o quanto o personagem não gosta de sua condição depois de algum tempo. Ele vai perdendo todos aqueles que ama progressivamente enquanto ele vai ficando para trás.

É engraçado que se pararmos para pensar, Rui de Leão pode ser visto como alguém parado no tempo. Como ele não foi capaz de aceitar a sua mortalidade, sua vida parou enquanto a do resto do mundo prosseguiu. O protagonista procurou investir o seu tempo em acumular conhecimentos e amores, mas em nenhum momento vemos o personagem adquirindo sabedoria. Somente quando ele foi capaz de seguir adiante é que ele percebeu onde estava a solução para a sua imortalidade. Ou seja, foi nesse momento em que ele aceitou que não havia mais lugar para ele no mundo.

Existe também um tom dramático em ambas as narrativas. Vemos um Machado de Assis pessimista ao nos mostrar um ser humano incapaz de mudar seus valores ao longo do tempo. No segundo conto isso fica ainda mais claro porque o personagem de Rui de Leão reclama acerca de o quanto as coisas continuavam as mesmas mesmo quando ele retornava a um mesmo lugar após uma ou duas gerações. Quanto mais o tempo passava, mais o personagem ficava cético e se sentia incapaz de deixar algo realmente produtivo para trás. Todas as tentativas de empreendimento do personagem dão errado.

Enfim, gostei muito de poder reler Machado de Assis após mais de duas décadas de vida. Me sinto um leitor mais preparado para entender clássicos. Entretanto, estes dois contos são tão amigáveis de serem lidos que eu não tenho como não recomendar a todos.  

Ficha Técnica:

Nome: Sobre a Imortalidade de Rui de Leão Autor: Machado de Assis Editora: Plutão Livros Gênero: Ficção Científica Número de Páginas: Não informado Ano de Publicação: 2018


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