Neste quinto volume da série Orixás, que adapta para HQs diversas lendas africanas, vemos a história de Iku, a Morte. Uma história de amor e sofrimento, de vida e morte, de criação e esquecimento.
Sinopse:
Ikú, a Morte, se apaixona por uma mortal. E por algum tempo, vive feliz com sua família, mas nem a Morte está livre das ironias do destino.
Uma desgraça com sua esposa e filhos leva Ikú, a Morte, a um caminho de ódio e vingança, passando por cima de tudo o que encontra em seu caminho, de humanos a Orixás. Além de uma batalha épica contra Exu, Ikú ainda enfrenta Iansã, Orunmilá e os gêmeos Ibejis. Sua intenção é exterminar deuses e humanos.
E quem poderá deter a Morte?
Essa é a segunda HQ que eu leio a respeito de lendas africanas. O primeiro deles foi a HQ do Hugo Canuto que tinha uma pegada mais heroica dos orixás. É impossível não fazer comparações entre a narrativa kirbyesca do Canuto e a do Alex Mir que é mais literal sobre as lendas. Embora esse seja o volume 5 da série, os volumes podem ser lidos de forma independente já que cada um deles trata de uma lenda diferente. Então podem ir tranquilos. Nos próximos anos a tendência é que mais autores explorem toda a originalidade e a magia das histórias oriundas de vários lugares do continente africano. Aqui temos apenas a pontinha do iceberg na forma das histórias iorubás. Uma produção como a do Alex Mir é ótima para que possamos ter contato com esses materiais e para que autores possam se inspirar em novas fontes para suas histórias.
Ikú representa a Morte dentro da mitologia iorubá. Ele foi criado como a antítese da vida e é responsável por levar as almas para o outro mundo depois que seu tempo na Terra tiver passado. Sem injustiça, sempre no momento certo. Por muito tempo, Ikú fez sua tarefa como nenhum outro. Até o momento em que conheceu Olojongbodu por quem se apaixonou. É então que Ikú toma uma atitude inesperada: se apresenta como a Morte para sua amada e decide se unir a ela. Eles constroem uma casa no meio da floresta onde tem uma vida sossegada. Do amor dos dois nasce um lindo filho, orgulho de seu pai. Um dia quando ele sai de casa para cumprir suas tarefas como a Morte, acontece uma tragédia. Quando ele volta para casa, encontra os dois mortos, no chão. É aí que Ikú parte em vingança para encontrar quem cometeu tamanha atrocidade.
A arte é feita por um coletivo de artistas: Al Stefano, Alex Rodrigues, Caio Majado, Jefferson Costa, Marcel Bartholo, Omar Vinole e Will. Ao mesmo tempo em que isso dá oportunidade para conhecermos novos artistas e experimentarmos maneiras de concepção artísticas distintas, isso provoca altos e baixos. É inevitável que o leitor tenha suas preferências e escolha aqueles capítulos que ele vai curtir mais. No meu caso curti três artistas em particular. Gostei bastante da arte do Al Stefano por sua precisão e segurança. Ele emprega ângulos de visão que fazem com que as cenas pareçam ser mais importantes. Todas elas tem gravitas. Ficou perfeito para ele ficar com a parte da criação em que conhecemos como o universo foi criado. Já a do Jefferson Costa combinou bem para demonstrar a convivência de Ikú entre os seres humanos. Explora as expressões, os sentimentos. Tem uma ênfase também em como os personagens se relacionam entre os quadros. O artista emprega uma quadrinização tradicional com quatro a oito quadros embora ele brinque algumas vezes com uns formatos diferentes. A arte do Will também me agradou bastante na medida em que ele consegue criar cenários bastante detalhados e a palheta de cores é bem quente. O emprego do verde, do vermelho e do marrom dá uma segurança nas linhas que ele usa. Pena que tanto o primeiro como o terceiro artista que eu curti produziram menos páginas na HQ.
Uma das temáticas principais na lenda é o amor de um deus por um mortal. Não posso dizer o quanto a adaptação está precisa, mas mais o que eu entendi da narrativa. E é interessante o quanto a narrativa de Ikú depois que você termina de ler, a gente fica com um sentimento dividido. Entendi o raciocínio por trás da contradição criação x destruição, que é uma coisa cíclica, mas não dá para não sentirmos empatia por tudo o que o personagem vive. Ele é um ser da destruição, do fim da vida, e ele acaba passando a se relacionar indiretamente com os seres humanos. Não tem como. Ele desejar montar uma família e encontrar o seu lugar no mundo era algo que seria inevitável. Isso se levarmos em conta que os orixás são antropomorfizados, logo eles sentem como seres humanos. As cenas que alternam os momentos de Iku como uma força da natureza e outras que alternam o seu lado como homem apaixonado são bonitas e tanto o roteiro como a arte traduzem bem isso.
E aí temos os capítulos da vingança do personagem. Era lógico ver como ele reagiria àquela situação toda. Ele tem uma reação muito humana a tudo. E talvez essa seja uma das grandes mensagens ditas no final; o quanto uma força da natureza se esqueceu de seu papel. Ou acabou realizando algo que estava além de sua alçada pelas forças que regem o universo. Iku reage com violência e acaba levando à morte mesmo para aqueles que não havia chegado a hora. Não sei o que pensar sobre isso porque o motivo dado no final para a morte dos dois me incomodou. Mas, eu compreendo que isso seja um conto cautelar sobre forças que não devem se sobrepor a outras. Ao final o autor deixa um gancho para uma futura próxima narrativa. Não sei se isso foi um acréscimo por parte do Alex Mir, ou se isso faz parte realmente da lenda.
Orixás - Iku é uma boa porta de entrada para aqueles que não conhecem lendas iorubás. Somos colocados diante de um mito de criação tentando enxergar o papel da Morte sobre o destino dos homens. Vemos também uma história de amor entre um ser com poderes divinos que acaba se apaixonando por um mortal e tendo filhos. Ao mesmo tempo o quanto isso mexeu com o equilíbrio celeste por conta de um pequeno detalhe nessa narrativa que só entenderemos mais tarde. E a vingança que vem quando seus amados são mortos por forças desconhecidas.
Ficha Técnica:
Nome: Orixás - Iku
Autor: Alex Mir
Artistas: Al Stefano, Alex Rodrigues, Caio Majado, Jefferson Costa, Marcel Bartholo, Omar Vinole e Will
Editora: Auto-publicado
Gênero: Lendas
Número de Páginas: 72
Ano de Publicação: 2019
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