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Resenha: "O Retorno do Messias -Versículo 1" de Mark Russell, Richard Pace, Leonard Kirk e Andy Troy

Deus não está satisfeito com a humanidade. Depois de séculos tendo deixado seu filho hipster longe dos humanos que o crucificaram, ele pede a ajuda de Solar, o maior herói da Terra, para ensinar a seu filho Jesus Cristo como ser uma inspiração de verdade.



Sinopse:


Deus pede para o super-herói mais poderoso da Terra, Solar, aceitar Jesus como colega de apê e quer que o herói o ensine a usar o poder com mais firmeza. Chocado ao descobrir como os humanos distorceram sua mensagem nos dois milênios desde a última glória, Jesus decide botar todo mundo na linha. Série iconoclasta que deu o que falar nos Estados Unidos, O Retorno do Messias é trazido até você pelo premiado roteirista Mark Russell (Os Flintstones), acompanhado pelo artista Richard Pace (Pitt, Novos Guerreiros). Este volume inclui as histórias originalmente publicadas em Second Coming 1-6.





Fico pensando, às vezes, se as pessoas entendem o significado de uma obra irônica e bem humorada. Porque, no fundo, é isso o que O Retorno do Messias é. Várias das críticas que vemos nas redes sociais ou até em avaliações só demonstram que ou os leitores são caretas demais ou sequer se deram ao trabalho de ler o quadrinho. O que Mark Russell cria aqui ao lado de Richard Pace (com uma arte deslumbrante) é uma obra divertida, engraçada e que não se propõe muito a ser séria. Longe de ser aquela heresia ou blasfêmia que tanto pregam por aí. Russell sequer é desrespeitoso com a religião; faz algumas brincadeiras, mas mantém o espírito do que é pregado no Novo Testamento: amor, fé, compaixão. Fiquei procurando durante a leitura o que poderia ser tão ofensivo na HQ, e só consegui me divertir com uma obra voltada para um público contemporâneo e que recontextualiza algumas mensagens católicos. Vou tentar te convencer, leitor, a não colocar o Russell na fogueira da Inquisição. Tenho certeza que você irá desistir ao final.


Deus criou o mundo e os seres humanos, mas logo percebeu o quanto a humanidade era falha. Ele perdeu o interesse pelos homens e se voltou para seus próprios assuntos. Na sua visão, essa foi uma ideia estúpida. Mas, seu filho, Jesus Cristo, vê a humanidade a partir de suas potencialidades. Com seu amor incondicional pelo homem, ele desce à Terra para espalhar a mensagem de uma Boa Nova. Seu coração livre é só amor. A humanidade, decaída e repleta de vícios, não entende a essência de sua mensagem e o crucifica, alegando que ele era um criminoso. Deus fica mais enfurecido e coloca seu filho de castigo, cortando seu contato com os homens. Mas, nos dias de hoje, Solar representa o herói mais poderoso da Terra. Derrota os inimigos e leva a justiça; mesmo que ele quebre os dentes de alguns e outros saiam mortos por seus atos malignos. Deus acha isso demais e decide enviar seu filho para passar um tempo com Solar e aprender o que significa ser um ídolo de verdade. Alguém capaz de levar medo ao coração dos incautos. Só que no meio dessa convivência, pode ser que a mensagem compassiva de Jesus Cristo que mudará o coração intempestivo de Solar.


Russell conseguiu criar um belo roteiro. E repleto de simbolismos. É impossível não ler esse quadrinho e não pensar em todas as associações possíveis presentes ao longo da história. O próprio roteiro é um mar de metáforas que vai exigir do leitor bastante atenção. É fácil a gente simplesmente descartar o roteiro como um monte de abobrinhas sem nexo e de mau gosto. Discordo. Se pararmos para perceber as nuances e detalhes vamos ver inúmeras mensagens e parábolas de Jesus presentes ali. E é aí que eu vejo como Russell foi bastante feliz. Sim, tem vários problemas de clichês e soluções fáceis, mas O Retorno do Messias no fundo é uma grande comédia que critica a nossa sociedade nos dias de hoje e como nos aproximamos da religião. Até existe uma grande história no pano de fundo, mas as histórias são bem independentes e com pequenos ganchos que ligam as edições. Tirando o último capítulo que tem um gancho maior para o volume seguinte. O roteiro em si é bem claro e preciso e brinca com as mensagens bíblicas transformando-as em lições passíveis de serem aprendidas na nossa conjuntura. De nenhuma forma sinto um desrespeito à religião, e olhe que eu sou católico.



O que incomoda um pouco, creio, é a visão literal de um Deus cruel e desbocado. Alguém que xinga de vez em quando, ao se incomodar com algo. Que passa lições duras a seu filho, mas no fundo quer vê-lo em segurança, pois é um pai amoroso. Esse Deus presente na visão de Russell é o do Antigo Testamento. Capaz de levar tragédias aos infiéis. O que me parece é que Russell levou um pouco ao pé da letra a ideia de uma divindade destruidora, que se incomoda com a humanidade e seus erros ao longo dos séculos. É como se o próprio Deus fosse antidivino, ao não mais querer saber dos problemas da humanidade. É ele próprio quem teria perdido a fé na capacidade do homem. Jesus Cristo funciona como um contraponto, com uma mensagem de perdão e novas oportunidades. E casa bem com a imagem passada pelo Novo Testamento, de uma mensagem amorosa e repleta de esperança por novos dias. Claro que Russell "evolui" o personagem ao mostrá-lo afinado com o que seu filho descobre nesse planeta. Mas, creio que no fundo, a imagem de um Deus que não se importa é uma fachada para uma tristeza profunda por aquilo que aconteceu com sua Criação.


A visão de um Cristo hipster e meio paz e amor também é motivo de críticas. O que eu realmente não compreendo porque a mensagem do Novo Testamento hoje tem toda a características de algo voltado a uma sociedade alternativa. O não-materialismo, a crítica a um regime de dominação, o foco no meio ambiente, o amor e o respeito ao próximo e a mensagem de paz para a humanidade. Essa visão renovada não entende o poder soberano de um Estado como na famosa parábola de César que é replicada muito bem por Russell na HQ. Quando o camponês pergunta se a ideia é não pagar contas ou tributos, Jesus responde positivamente. Essa é uma interpretação possível dessa mensagem. Podem existir outras, mas na minha visão isso só demonstra a falta de necessidade de um Estado burocrático já que as pessoas poderiam viver harmonicamente com a natureza, retirando delas o seu sustento. Em um mundo capitalista e contemporâneo como o nosso, essa mensagem vai parecer ingênua e é isso o que é passado com bom humor pelo roteiro. Mas, ela consegue ser bela em sua ingenuidade. Essa pureza de caráter é o que faz ela ser a correta. No fundo só precisamos um do outro para construir pontes e ligações entre os seres humanos. Não há nem a necessidade de uma Igreja física para que o amor seja expressado: a Igreja é o que existe dentro de cada um de nós.


Já o Solar é um super-herói típico dos anos 90. Um sujeito que bate primeiro e pensa depois. Alguém que quer ser um símbolo para a humanidade. É uma boa associação aos deuses modernos. Me faz pensar em todas as interpretações religiosas que Grant Morrison faz em suas HQs. Afinal os super-humanos representam essa ressignificação do divino. Alguém super-poderoso capaz de realizar feitos maiores do que os do ser humano. Que podemos clamar por ajuda em momentos de necessidade. Mas, Russell faz uma desconstrução desse mito ao nos apresentar um herói com problemas de afirmação e desejando ter um filho com uma humana. Um herói que precisa fazer terapia em grupo já que seus feitos são bastante criticados por conta do excesso de violência colocado em suas ações. A dinâmica entre Solar e Jesus é fantástico por que nos permite refletir sobre como a mensagem de paz e justiça foi deturpada ao longo dos tempos. Solar seria a representação da justiça nos dias de hoje. Só que frequentemente essa é uma avaliação falha, como quando ele matou um grupo de bandidos robôs porque pensou que eles eram apenas alienígenas autômatos. Na verdade eram apenas homens portando armaduras robóticas. Russell coloca isso de uma forma leve, mas na verdade Solar assassinou todos a sangue frio. A necessidade de ter um filho pode ser uma visão para o Solar de que ao ser pai isso o tornaria mais humano. E consolidaria os seus laços com sua esposa. Ao falhar nesse processo, a mensagem que fica é que ele não estava preparado ou maduro o suficiente para assumir essa responsabilidade. Somente quando ele alcançar esse grau de maturidade é que um filho possa vir a se tornar essa possibilidade.


Espero também não ter ofendido ninguém com essa minha resenha sobre a HQ. Como alguém que é especialista no estudo comparativo de religiões (sim... é a minha formação acadêmica) o que eu percebo é que muitas vezes esquecemos que as religiões do Livro (cristianismo, judaísmo e islamismo) são formadas a partir dos escritos religiosos. Mas, muitas vezes esquecemos da mensagem que está nesses livros e nos focamos no que outras pessoas interpretam sobre sua leitura. É como se a mensagem de uma religião chegasse por um intermediário, nunca pela própria pessoa. E isso dá margem a uma série de incompreensões. O que Russell faz na HQ é nos chacoalhar, nos tirar do lugar comum e brincar com essas incompreensões. E faz isso nos fazendo pensar sobre o que acreditamos de verdade. Tem alguns exageros, admito, mas nada que seja ofensivo de verdade. Por isso, não precisa queimar o autor em uma fogueira. Viram? Eu disse que vocês não iriam querer fazer isso no final.


O Quadrinho em 1 Quadro:



Destaquei esse quadro para falar de cores e inspirações. Curti bastante a arte do Richard Pace apesar de eu achar em alguns momentos que ela poderia ser melhor. Mas, antes de mais nada é preciso destacar que arte e colorização caminham juntas em O Retorno do Messias. Para separar os momentos narrativos, Pace separa as ações em dois quadros: um mais colorido e simulando uma arte mais quadrinesca que nos mostra um Solar em ação, detendo bandidos e fazendo super heroísmos. É uma arte claramente oriunda dos quadrinhos da Marvel e da DC, remetendo até a um quadrinho anos 90 com ação over-the-top e bandidos atirados para todo o lado. Um foco nos grandes momentos, na ação para a ação. Até o design de personagens segue esse padrão meio Marvel/DC e a esposa do Solar me lembrou demais o design da Lois Lane.


Já os momentos protagonizados por Jesus Cristo ou que se passaram na época de sua pregação possui uma arte mais suja e rabiscada, como se desse a impressão de que fosse uma pintura renascentista. Até a colorização é diferente com cores mais chapada enquanto as que são protagonizadas pelo Solar são mais foscas e berrantes. Cria uma clara divisão na forma como o quadrinho é apresentado; por isso eu disse que arte e roteiro trabalham juntos. Se eu disse que a colorização tem uma inspiração nos super-heróis, o quadro acima vai fazer uma homenagem bem legal a Moonshadow, quadrinho icônico dos anos 90 que teve a arte de Jon J. Muth a quem Pace faz uma homenagem. Curiosamente, Muth desenha um mundo de fábulas onde os deuses estão por toda a parte. Moonshadow também é um estudo sobre o que significa fé e religião, algo bem explorado aqui. Percebam também toda a psicodelia da cena, com os prédios distorcidos e figuras bizarras espalhadas por toda a visão de Solar.













Ficha Técnica:


Nome: O Retorno do Messias - Versículo 1

Autor: Mark Russell

Artista: Richard Pace

Colorista: Andy Troy

Arte-Finalista: Leonard Kirk

Editora: Comix Zone

Tradutor: Érico Assis

Número de Páginas: 176

Ano de Publicação: 2021


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