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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "O Fascínio da Neve" de Algernon Blackwood

Nesse gélido romance, Hibbard, um homem cujo apego ao mundo dos nobres e ao mundo dos camponeses é bem pequeno, começa a desenvolver um estranho fascínio por uma bela patinadora com quem ele tem um estranho encontro noturno. Após isso, ele passa a buscá-la nos bailes da elite, mas sem sucesso. Quem será essa bela patinadora?


Sinopse:


E se você fosse capaz de trazer seus sonhos para a realidade?


Professor Ludwig decide brincar com os limites entre o sonho e a realidade ao criar um par de óculos que faz com que seu portador tenha uma experiência sensorial única. Entretanto, talvez esse experimento seja um pouco intenso demais.


Os óculos de Pigmalião apresenta criaturas mágicas e cenários apaixonantes em uma história de aventura, fantasia e romance.





Esse é um conto bastante curioso onde Algernon Blackwood faz uma bela análise social, disfarçada de um conto de fantasmas. E as histórias de fantasmas tem essa sutileza de inserir outras questões no meio da narrativa. O que faz das histórias de Blackwood diferentes é sua maneira de criar ambiente e tensão para que os leitores possam imaginar que alguma coisa está errada ali. Não se tratam de histórias de terror, necessariamente, mas histórias que provocam desconforto. O fato de Blackwood colocar o personagem em um lugar gélido (que suscita a sensação de isolamento) e faz o personagem se sentir solitário em uma multidão de pessoas torna a narrativa mais claustrofóbica. Esse desconforto vai aumentando progressivamente à medida em que a trama vai ganhando mais corpo. E, no meio desse desconforto, Blackwood vai tratar de desigualdade social, relação entre cristianismo e paganismo. Em uma história meio fantasmagórica. Por esse motivo é que Blackwood é considerado um dos precursores desse gênero.


A narrativa começa com Hibbar, um homem com um bom trabalho cujo hobby é a escrita. Ele é alguém que classifica a realidade em que vive em três mundos: o mundo dos nobres com seus bailes de gala e frivolidades; o mundo dos camponeses com sua vida mundana e o mundo da natureza que, para ele, é um lugar eivado de mistérios. Durante sua estadia em um hotel durante um inverno rigoroso, ele se sente solitário mesmo estando cercado de pessoas. Seus dias são melancólicos e nada parece agradá-lo. Isso porque ele não se sente parte do mundo dos nobres ou dos camponeses. Apenas a natureza lhe revela algum atrativo. Até que um dia, quando ele havia saído para espairecer a mente e patinar à noite, ele se depara com uma linda moça de cabelos loiros e um vestido branco como a neve. Ele tenta alcançá-la, mas seu jeito esquivo apenas provoca uma espécie de dança sedutora que o fascina. Ela desaparece misteriosamente e isso faz com que queira buscá-la custe o que custar. É então que sua percepção vai colocá-la em todos os lugares. Mas, será que ele vai encontrá-la?


Nesse conto, Blackwood nos apresenta um homem que está obcecado em encontrar uma mulher espectral que ele encontrou por acaso um dia. E ele se vê encantado pela beleza estranha da neve, uma beleza cruel e misteriosa. Um dos elementos de escrita que mais me chamaram a atenção é em como ele transforma a neve, o clima frio, em um indivíduo dotado de personalidade e temperamento. Talvez seja uma das melhores exposições a respeito da prosopopéia como figura de linguagem. É tornar o abstrato em algo que possui características humanas. Os longos parágrafos descritivos, que são típicos em sua escrita, servem para reforçar essas características. Lembrando que Blackwood faz parte ainda da tradição vitoriana de escrita de terror, que vimos em obras como Drácula, de Bram Stoker ou de O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde. O personagem é um romântico incurável, cujo sofrimento se espalha pelas páginas e o faz ficar doente de amor por alguém que ele não é capaz de alcançar. É isso que vai levá-lo à sua perdição.


Por outro lado, Blackwood faz um contraponto entre o mundo cristão e o mundo pagão. Hibbard é um homem temente a Deus cujas ações são virtuosas embora ele sofra com isso. Estar no mundo cristão é viver segundo todo um conjunto de regras criadas para fazer a sociedade funcionar. É o mundo da ordem, da previsibilidade, da humanidade. Já a natureza selvagem que se espalha para além do horizonte de sua visão é um lugar indomável, onde os indivíduos não são capazes de prever o que vai lhes acontecer. Nele, os ensinamentos de Deus não são mais viáveis já que o mundo da natureza funciona por seus próprios caprichos. Quando um indivíduo sai da esfera de Deus (por exemplo, lá no final, temos o emprego dos sinos da Igreja como uma forma de salvação), ele fica à mercê das forças ocultas. O sobrenatural neste conto é o pagão, é aquilo que é regido pelas forças do caos, aquilo que não é previsível. Se Hibbard deixa o seu caminho reto e cristão, ele se coloca como passível de ser assombrado. Em todas as vezes que ele ignorou os ditames do bom católico, foi alvejado por coisas inexplicáveis.


Blackwood traz uma narrativa intrigante e misteriosa que nos coloca diante de um homem que está obcecado com o encontro de si em um mundo que não mais consegue fazê-lo se sentir parte dele. E para isso, ele vai precisar se perder de seu correto caminho, ser tentado por forças além da compreensão para só então entender como ele se encaixa na sociedade. Mas, será tarde demais para ele ou ainda existe salvação? Leiam este misterioso conto de Blackwood e tirem suas próprias conclusões.










Ficha Técnica:


Nome: O Fascínio da Neve

Autor: Algernon Blackwood

Editora: Wish

Tradutor: Paulo Noriega

Número de Páginas: 42

Ano de Lançamento: 2022


Avaliação:

*Faz parte da Sociedade das Relíquias Literárias


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