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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Corto Maltese - Uma Balada do Mar Salgado" de Hugo Pratt

Atualizado: 23 de mai. de 2024

Considerado um clássico dos quadrinhos europeus, A Balada do Mar Salgado nos traz a misteriosa figura de Corto Maltese, o verdadeiro marinheiro. Tendo sido resgatado por Rasputin, Corto se vê envolvido em uma trama que envolve o sequestro de dois jovens filhos de um homem importante nas águas do Pacífico. No meio de tudo isso, temos o Monge, alguém cuja identidade é desconhecida, mas que possui muita história a ser contada.



Sinopse:


Oceano Pacífico, dia de Tarowean de 1913. O sanguinário corsário Rasputin, a serviço do misterioso Monge, resgata seu antigo companheiro, Corto Maltese, amarrado e jogado à deriva no mar. Este é o início de uma incrível trama que se desenrola pelos mares do sul, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Drama e aventura se misturam ao fantástico e ao mistério, apresentando personagens inesquecíveis como Cain, Pandora, Crânio, Slutter, Sbringolin e muitos outros. Considerada um clássico da literatura mundial, Uma Balada do Mar Salgado foi publicada originalmente na Itália em 1967 e na França entre 1973, consagrando seu criador, Hugo Pratt, como uma das grandes personalidades artísticas do século XX. O álbum de estreia do Ulisses moderno, Corto Maltese, que dispensa poder e riqueza em favor da liberdade, um dos personagens mais importantes das histórias em quadrinhos de todos os tempos. A edição da Trem Fantasma traz a história completa de Uma Balada do Mar Salgado no traço original em preto e branco do mestre Hugo Pratt em uma edição repleta de extras em cores, incluindo aquarelas e esboços do autor, além de prefácio de Umberto Eco. Uma edição de colecionador em capa dura e papel de alta gramatura.






Está aí um clássico dos quadrinhos franceses. Corto Maltese é considerado um personagem icônico e suas histórias já se tornaram famosas pelo mundo inteiro. Aqui está a essência do trabalho de Hugo Pratt. Essa edição da Trem Fantasma faz jus ao legado do artista e como início dessa resenha queria destacar o longo artigo inicial escrito por ninguém menos do que Umberto Eco. Ele procura resumir em algumas páginas a longa trajetória e influência do personagem, discutindo a inovação da obra de Pratt e de como o personagem era um eterno amante da liberdade, navegando pelos mares desconhecidos. Mesmo falando bastante sobre esse volume, ele não dá nenhum spoiler da história, então podem ficar tranquilos. Acho até que vale a pena ler para que possamos entender mais o quanto o personagem tem toda uma aura de grandiosidade e os paralelos com o livro Moby Dick, de Herman Mellville estão por toda a parte. Essa é a minha primeira aventura pelo universo do personagem e quero deixar bem claro o quanto me impactou. Aliás, é a primeira HQ que leio do próprio Pratt.


Rasputin está tendo um péssimo dia. Ao lado de sua tripulação ele está se dirigindo para uma abordagem ousada, digna de um grande pirata quando dois acontecimentos marcantes mudam para sempre a sua vida. Ele resgata dois jovens, um rapaz e uma menina, de um naufrágio. Eles parecem ser filhos de algum figurão da região, a família Groovesnore. Rasputin imagina já quanto dinheiro ele pode conseguir em um possível resgate. Mas, logo em seguida ele se depara com um homem preso no mastro em alto mar. É ninguém mais, ninguém menos que Corto Maltese, com quem Rasputin já cruzou algumas vezes e não tem boas recordações disso. Só que Corto é alguém afiliado a um homem misterioso chamado Monge que controla toda aquela região do Pacífico. Então o marinheiro não vê outra saída se não trazer o seu desafeto a bordo e a partir daí pensar quais serão seus próximos passos. Ele ataca um navio carregando carvão, um recurso importante na região e Corto começa a ficar incomodado com Rasputin, cujos métodos não lhe agradam nem um pouco. Ao mesmo tempo, Cain e Pandora começam a criar vários problemas a bordo, o que os obriga a tomar uma decisão sobre o destino dos dois.


Se você pegou esse quadrinho para ler, certamente tem alguma familiaridade com o trabalho de Pratt. Ver a arte dele diretamente é uma experiência bastante diferente. A Balada do Mar Salgado é a primeira história do Corto então ele ainda está trabalhando nos designs de personagem. Tanto que vamos ver nas próximas histórias Pratt solidificando como ele imagina o marinheiro. Sua arte é toda no lápis e no emprego de carvão. As linhas são bastante precisas e o artista é um gênio no emprego da presença/ausência. No fundo o que ele faz em PB é o que vou deixar aparecer e o que não aparece. As silhuetas compõem o quadro e formam os cenários. Mesmo usando o lápis Pratt consegue dar detalhes e características bastante específicas ao cenário e a quem está presente nele. Há uma forte pesquisa sobre vestuário e tradições da região, sendo possível perceber como ele representa as comunidades do Pacífico com formas de se vestir bastante diferentes. Posso imaginar o quanto ele precisou ir atrás de informações específicas para representar povos que nem tinham tantas informações assim a respeito. Pratt também trabalha muito o aspecto gestual dos personagens, o que lhes dá personalidade e individualidade. Por exemplo, Corto é um sujeito meio estóico e malandro enquanto Rasputin é uma dinamite ambulante, vociferando e fazendo amplos gestos.


A narrativa de Pratt é bastante tranquila e ela segue um ritmo constante ao longo da história. Se você está procurando um quadrinho de ação, esta não é a sua pedida. Aqui temos uma história de piratas, traições e relacionamentos com uma bela virada narrativa ao final. A estrutura da história segue uma narrativa em três atos com o começo sendo o encontro com Cain, Pandora e Corto e como eles são apresentados à tripulação, a segunda parte sendo o ataque de Rasputin e a chegada à ilha Escondida e a terceira parte sendo todo o clímax envolvendo a loucura do Monge e como lidar com os personagens envolvidos. Há uma preocupação de Pratt em apresentar os personagens, todo o contexto onde se passa sua história e envolver os personagens em uma trama que os conecta de modo indelével. Há uma clara evolução nos personagens já que todos eles saem de um ponto A e vão a um ponto B, mesmo que essa mudança seja apenas um revelar de sentimentos adormecidos. Mistérios rondam a história como, por exemplo, a identidade do Monge, apesar de que Pratt solta algumas pistas na metade da história e o leitor meio que dá uma adivinhada antes da revelação. Em vários momentos o leitor fica apreensivo com Corto que é colocado em algumas situações bastante perigosas. Ou seja, o mar não é exatamente um ambiente calmo e tranquilo.


Corto é o ideal do homem livre. E isso é possível perceber completamente no roteiro de Pratt. Ele não chega a ser um personagem bonzinho no sentido estrito da palavra. De vez em quando, percebemos o quanto ele pode ser ardiloso e até colocar uns contra os outros. Só que se trata de um sujeito honrado, ou seja, ele acaba fazendo a coisa certa quando a circunstância não lhe dá outra alternativa. Por exemplo, ele não concorda com os métodos de Rasputin, mas não faz nada para impedi-lo. Só que quando o capitão passa uma linha específica, Corto não se contém. Queria entender mais sobre essa relação com a figura do Monge e como Corto se envolveu com ele, mas parece que não vai ser bem aqui que vamos descobrir. Essa falta de vontade do personagem em se atrelar a responsabilidades é seu ponto forte, mas também sua vulnerabilidade. Pratt o trata de uma forma tão livre que o personagem parece etéreo em várias cenas. Me incomodou isso um pouco ao mesmo tempo em que me deixou intrigado. Normalmente o papel de um protagonista é tocar a história adiante, mas Corto não faz isso ao longo da história. Ele funciona mais como um catalisador para que certos fatos se acelerem.


Vemos na história o funcionamento dessa rede de relações no Pacífico. Se trata de um cenário bem tenso, com uma história acontecendo pouco antes da Primeira Guerra Mundial e as marinhas dos países estando bastante presentes na região. Vemos ingleses e alemães nessa história, lembrando que ambos estão em lados opostos do conflito. Rasputin tem boas relações com um almirante alemão a quem ele deseja favorecer, mas os dois jovens são filhos de uma importante família inglesa local. Isso o coloca em uma posição onde ele precisa tomar uma decisão bem rápida, caso contrário ele estaria colocando todos os seus planos em risco. No meio disso tudo, Pratt nos mostra as traições e acordos em cadeias de comando e como a pirataria podia ser usada como um instrumento para o controle local. Vale a pena prestar atenção principalmente no final com o destino de Slutter nas mãos dos ingleses. Caso determinadas situações não tivessem acontecido, o resultado final poderia ter sido bem inglório.



Por outro lado temos a figura do Monge que age como uma espécie de comandante dos piratas dessa região. Um homem que age com um misto de misticismo e força de comando. Pratt consegue nos passar bem o quanto essa figura estranha é vista pelos demais. Se fôssemos pensar de maneira lógica, não seria estranho pensar como rufiões poderiam traí-lo rapidamente, mas ele consegue controlá-los. Há um respeito tácito exposto pela maneira como ele se porta e até as artimanhas que ele usa para impor o medo quando necessário. Gostei de ver o momento em que ele chega a encarar numa boa a marinha de um país estrangeiro sem medo de ser feliz. Ao mesmo tempo em que há esse poder de comando, sentimos logo que o mistério que ele esconde possui dor e arrependimento naquela capuz que esconde seu rosto. Nenhuma das pessoas que ele encara como aliadas viram seu rosto, o que lhe confere esse ar místico. Tem um momento na narrativa em que Crânio chega a pensar que o Monge seria uma espécie de título dado a várias pessoas ou que ele seria um homem muito velho. Crânio é um sujeito esperto, e o quanto essa sua reflexão vem de um pensamento próprio ou ele estaria apenas manipulando a opinião dos personagens é algo incerto. A terceira parte da história é toda voltada para lidar com o seu ocaso e loucura e aí vemos o quanto o personagem escondia sentimentos até de si mesmo.


Disse que Corto é um personagem que não move a história para a frente. Rasputin assume essa função. O seu estilo caótico e descontrolado, apesar de ser uma raposa astuta, é o que acaba tendo esse papel. É muito interessante ver as interações dele com Corto porque parece que alguma coisa vai explodir quando os dois estão juntos. Eles são polos muito opostos um ao outro. Porém, existe um grau de respeito na maneira como Corto se refere a ele. Rasputin deseja que as pessoas tenham respeito por ele. O mesmo respeito e deferência que o Monge tem. Só que há uma diferença clara entre os dois: enquanto que o Monge é um indivíduo naturalmente carismático (mesmo que pelo medo e intimidação), Rasputin precisa forçar situações para que isso aconteça. E é impossível prever o efeito que algumas de suas atitudes vão ter ao longo da história. Ele é lógico na sua maneira de abordar o mundo. Só que ele se encontra como um obstáculo para quase todos os personagens. Então seria óbvio pensar que todos querem se livrar dele de alguma maneira.


Essa minha primeira experiência com Corto Maltese foi bem legal. Não conhecia o trabalho de Pratt e foi uma boa experiência narrativa. Me incomodou um pouco o meio da história que tem uma barriga, me levando a crer que a história poderia ser um pouco menor, mas o autor quis investir mais no desenvolvimento de personagens. A arte de Pratt é uma aula de arte em PB que precisa ser melhor observada pelos leitores e todos aqueles interessados na nona arte. No mais, quero acompanhar mais histórias do personagens e já estou ansioso pelo próximo volume da coleção.




Ficha Técnica:


Nome: Corto Maltese - Uma Balada do mar salgado

Autor: Hugo Pratt

Editora: Trem Fantasma

Gênero: Ficção

Tradutor: Marcello Fontana

Número de Páginas: 184

Ano de Publicação: 2023


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