A Terra já passou por vários apocalipses. E ainda está passando. Para resolver estas crises existe o CACAC: Centro de Aviso e Controle de Apocalipses e Cataclismos. Carlos e Ezequias cuidam de resolver os casos de apocalipses os mais mirabolantes e eles estão em busca de estagiários para ajudá-los.
Sinopse:
O fim é apenas o começo?
Meteoros, cientistas malucos, vulcões, guerras… O mundo já deveria ter acabado — em mais de uma ocasião —, mas, feliz ou infelizmente, a humanidade segue viva e bem graças ao Centro de Aviso e Controle de Apocalipses e Cataclismos. Depois de décadas fazendo um serviço heroico, os idosos Carlos e Zeca se deparam com um novo desafio: estagiários.
O Lauro Kociuba foi um dos primeiros autores nacionais que eu conheci nessa minha vida de blogueiro. E eu já sentia saudades de ler algo dele. Curti muito poder ler uma de suas histórias. Pude ver o quanto ele está mais solto em sua forma de construir sua narrativa. Essa é uma história absolutamente divertida ao mesmo tempo em que consegue manter um grau de sensibilidade. Aparecer de ser uma narrativa que parece ser longa, a velocidade com a qual a gente lê é vertiginosa e eu me peguei devorando a novella em um dia.
Carlos e Ezequias são dois cientistas que integram o CACAC: Centro de Aviso e Controle de Apocalipses e Cataclismos. É um centro responsável por lidar com desastres naturais ou artificiais que possam destruir o planeta. Para isso eles fazem uso de profecias e intercruzam para poder descobrir qual delas está mais próxima da verdade e agem em cima dela. Existem vários centros iguais aos do Brasil espalhados pelo mundo e pessoas que procuram deter estes eventos. Para ajudá-los, Carlos e Ezequias procuram estagiários. Comparecem três candidatos: Camila, uma garota de cabelos cor de rosa e com uma pinta de otaku; Clara, uma estudante com uma postura profissional; e Luan, um cara meio despojado. Durante a entrevista de estágio, o alarme soa e o aviso de uma queda de meteoro iminente vem. Chegou a hora da prova de fogo dos estagiários.
A narrativa se passa em duas temporalidades: 2018 e 1966. Em 2018 é onde se passa a narrativa que eu descrevi acima. Em 1966 é a narrativa de como Carlos e Ezequias se conheceram. E uma terceira personagem responsável por uni-los: Helena. É preciso até distinguir as narrativas porque elas possuem ritmos e tons distintos. Na primeira, ela é mais solta, dinâmica e com um tom mais sarcástico. A segunda possui um tom mais descritivo e se parece com um filme de ação no começo. Kociuba fecha com três pontos de vista distintos que convergem mais à frente. Gostei de como a gente tem essa quebra de ritmo porque demonstra o quanto os personagens estão mais afinados no presente enquanto que no começo as coisas aconteciam mais no improviso.
A interação entre Carlos e Ezequias é muito boa. Eles tem uma química incrível. Gostei também de como Kociuba trabalhou bem o fato de eles terem deficiência auditiva. Isso em nada impede o fato de eles terem um protagonismo ativo na trama. Se Carlos é o lado mais sério e estoico, Ezequias é a força. Os dois se complementam bem. Ao mesmo tempo não são perfeitos. Possuem suas fraquezas e vulnerabilidades e escondem isso através de suas piadas e ironias. Esse lado mais frágil é revelado quando eles se conhecem muito pela visão de Helena. Ela é a lupa que nos permite ver o interior dos personagens. A inclusão desta personagem deu um tom dramático que eu não esperava na trama. Realmente me pegou de surpresa a forma como o autor a colocou na narrativa e sua característica scifi distinta. Não quero comentar mais do que isso.
Achei que a narrativa careceu de equilíbrio. O autor arriscou bastante ao criar duas narrativas distintas. Com isso elas ficaram com pesos diferentes. Achei que a narrativa de 2018 teve um trabalho menor nos personagens secundários. É quase como se eles não fossem necessários. Mesmo a conexão com a segunda narrativa é tênue demais. O longo flashback cria uma conexão entre o leitor e aqueles três personagens. Quando voltamos à primeira narrativa, ela deixa de ser interessante. Eu preferia ter acompanhado a outra narrativa. É uma questão de empatia do leitor com os personagens. Quando o autor fez a troca e criou uma conexão, o que veio antes deixou de ser importante. Fora que os estagiários nem eram personagens tão interessantes assim.
Também achei que a narrativa tem uma leve barriguinha quando ela retorna da segunda narrativa. Há de se ter um certo cuidado ao ser muito explicativo. Quando isso acontece os diálogos expositivos acabam se tornando chatos e se tornam repositórios de informações que não ajudam no final. O famoso "info dumping" do qual todo mundo fala. Nesses momentos não há muito o que fazer... como crítico eu fico dividido entre fornecer informações suficientes e o fornecer o necessário para não ser demais. Mas, eu sempre penso que o menos nunca é demais. Claro que isso vai depender também da abordagem do autor; se ele quiser entrar por uma seara de discutir temas científicos, aí realmente o info dumping se torna necessário. Mas, se a ciência é mais uma justificativa para a aventura, reduzir pode ser bom para dar dinamismo.
Enfim, gostei bastante desta história. Me divertiu, me entreteve e ainda tive o prazer de rever um dos primeiros autores nacionais que resenhei no Ficções Humanas. Espero poder ver mais histórias dele em breve. E vão lá comprar essa história dele e colocá-la no Kindle de vocês. Agora. Já. Para hoje.
Ficha Técnica:
Nome: (Não Tão) Perto do Fim
Autor: Lauro Kociuba
Editora: Plutão Livros
Número de Páginas: não informado
Ano de Publicação: 2020
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