top of page
Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Multiverso Pulp vol. 4 - Alta Fantasia" organizado por Duda Falcão

Mais um volume dessa coletânea organizada pelo Duda Falcão voltada para revelar grandes histórias de autores nacionais. O tema dessa edição é a alta fantasia, ou seja, as formas como esse gênero pode ser ressignificado pelas mãos de autores como Simone Saueressig, da Kátia Regina Souza, da Mariana Bortoletti e de tantos outros.


Contos dessa edição:


1 - "O Sumiço do Mensageiro" de Juliana Vicente

2 - "A fonte de obsidiana na floresta amaldiçoada" de Bruno Leandro

3 - "O tirano e a princesa" de Samuel Ngolatim

4 - "Desenho com saco de letras" de Simone Saueressig

5 - "Meninas podem, sim" de Katia Regina Souza

6 - "Mais do que os olhos podem ver" de Bruna Sanguinetti

7 - "A vingança do desmorto" de Veronica S. Freitas

8 - "Monstro feito de monstros" de Mariana Bortoletti

9 - "Lar de carvalho abaixo!" de Fabio Aresi

10 - "O olho de Tulging" de Duda Falcão


Resenhas:


1 - "O Sumiço do Mensageiro"


Autora: Juliana Vicente Avaliação:




Kinaya e Zuri levam aventureiros há anos em sua embarcação, a Malva. Ambas se amam, mas cada uma delas esconde suas próprias preocupações. Zuri teme uma maldição que pode levar sua vida antes do tempo. Já Kinaya é uma mestiça de duas espécies e sempre procura esconder suas origens o máximo possível. Mas, quando elas chegam no porto e se preparam para mais uma jornada, uma notícia pega a elas de surpresa. O Mensageiro, uma espécie de figura poderosa que serve de intermediário entre os seres mortais e os deuses, desapareceu. Ninguém sabe o que aconteceu com ele. Sem sua presença, a natureza pode entrar em desequilíbrio e o mundo nunca mais será o mesmo. Todos os representantes das etnias presentes ali são convocadas a fazer parte de uma missão para encontrar o Mensageiro e evitar que outras nações se aproveitem da fraqueza momentânea para realizar um saque e uma conquista.


O universo que a autora criou é fascinante. Ela conseguiu inserir elementos do folclore brasileiro em uma narrativa tipicamente inspirada na maneira de Tolkien de contar uma história. Mesmo a jornada em si segue esse mesmo tropo e é feito de uma maneira divertida. Só que ao mesmo tempo em que temos um universo bem delineado, temos muitas coisas acontecendo simultaneamente. Os problemas das duas amantes, o sumiço do Mensageiro, a preocupação com uma guerra, a jornada. São temas demais para uma história com poucas páginas. Fora as explicações e caracterizações de dúzias de raças diferentes. É tanta informação que o leitor frequentemente se perde e precisa voltar e começar de novo. Essa é uma narrativa que poderia ter sido bem delineada em uma história com 100 ou 150 páginas. Daria tempo para a autora colocar tudo no papel e ainda desenvolver adequadamente os personagens que ela criou. Da maneira como está, tudo parece atropelado e estranho, quase como se fosse um desfile de ideias e semi-humanos por toda a parte.


Não me entendam mal! A história é boa. Só que ela está comprimida de uma maneira que não consegue respirar. Vale a leitura pela curiosidade e por ver como é fácil adaptar o nosso folclore (que é rico demais) em uma narrativa clássica de fantasia.


2 - "A fonte de obsidiana na floresta amaldiçoada"


Autor: Bruno Leandro Avaliação:




Um grupo de aventureiros estão seguindo rumo a uma fonte capaz de realizar uras milagrosas. Uma princesa que está levando seu irmãozinho que foi transformado em pedra; um pastor de ovelhas que possui uma terrível maldição; uma contadora de histórias cuja missão é obscura; e uma guardiã responsável pela princesa. As diferenças entre os membros do grupo os colocam em uma situação de bastante tensão. E, para poder ultrapassar os obstáculos impostos por um mago que foi o responsável por algumas das mazelas vividas pelos heróis, eles precisarão aprender a confiar uns nos outros. E isso é mais fácil falar do que fazer.


Essa é uma aventura simples e direta colocando um grupo em uma missão complicada. Mas, se trata de um grupo de pessoas com interesses bastante distintos. É aquele tropo clássico de juntar pessoas estranhas e buscar criar uma conexão entre elas. O diferencial da história é o emprego de alguns personagens originados da cultura afro-brasileira. Só que o que me incomoda é quando o elemento cultural é usado apenas porque sim. Não faz diferença Enem ser um griô ou não. A nomenclatura em si não tem efeito sobre a história ou sequer se identifica com o universo onde a história se passa. A pergunta é: contadores de história nesse mundo se chamam necessariamente griô? Por que? Existem outros detalhes pequenos inseridos na narrativa que não fazem muito sentido. A narrativa em si é bem direta e intrigante, mas a construção de mundo é estranha e o desenvolvimento dos personagens é um pouco atropelado. Faltou planejar melhor o que queria ser feito com os personagens. Por exemplo, se o espaço para a história era pequeno, por que não concentrar a narrativa em dois ou três personagens? Tem um momento final da história em que o sacrifício em si teria feito mais sentido e teria um peso dramático maior do que aquilo que se sucede depois.


Acredito que a história tem bastante potencial, mas a apresentação e o desenvolvimento ficaram aquém das expectativas iniciais lançadas pelo autor. Nada que uma reformulação e um retorno à mesa de trabalho não consigam resolver.


3 - "O tirano e a princesa"


Autor: Samuel Ngolatim Avaliação:




Infelizmente vou ficar devendo uma sinopse aos leitores do blog porque não consegui terminar a leitura do conto. Abandonei pela metade. O que gostaria de propor nestes breves parágrafos é uma reflexão sobre o que é um conto.


Um conto é uma história curta com uma narrativa direta e objetiva onde o autor procura expor suas ideias em um espaço reduzido. Um conto pode servir a uma narrativa seriada como frequentemente o faz Duda Falcão e outros autores. Mas, as histórias são sempre encerradas em si mesmas. O desenvolvimento do protagonista precisa ser rápido e se concentrar nas características ou peculiaridades necessárias para a história. Se for um grupo de amigos que são protagonistas, o autor precisa fazer um equilíbrio fino entre os espaços dados aos protagonistas. Inclusive o autor precisa deixar claro que está na condução da história. É possível criar uma história sem protagonista? Com certeza. Vai exigir um pouco mais do autor e ele vai precisar pegar no braço do leitor desde o começo para que sua atenção permaneça na história. Já li ótimas histórias com essa propostas, inclusive flash fictions.


O que acontece aqui é que o protagonista da narrativa não fica bem claro para o leitor antes de passada a metade da história. Abandonei mais ou menos em 70% do que foi escrito. Se trata de uma narrativa de origem e de uma guerra entre dois irmãos. O problema é que por mais de quatro páginas vemos uma história de origem. Falta um agenciamento da parte dos personagens, entender quais são os objetivos, as motivações, as características. Tudo é tão deixado no ar que não há uma oportunidade de gerar empatia. Não me importei em nenhum momento com os personagens. Eles pareciam nomes jogados nas páginas.


E aí vem um segundo problema: a falta de direcionamento. O começo da história é uma sequência de situações e acontecimentos para que o leitor possa entender qual é a história desse mundo. Só que quando apenas citamos nomes e fatos parece que se trata de um livro de História. A narrativa se torna factual demais e perde o impacto para os leitores. As primeiras páginas são formadas por parágrafos longos e repletos de nomes de pessoas e localidades. O leitor se perde rapidamente nessa sucessão de expressões. Tudo se torna enfadonho e sem sentido. Sem a empatia gerada pelo contato com os personagens, a narrativa se torna desinteressante. O autor emprega também vários momentos descritivos com ações e decisões tomando o primeiro plano. Só que descrições longas costumam cansar os leitores. Vide quantas críticas são feitas a J.R.R. Tolkien e ele é um exímio escritor cuja habilidade para descrições é nítida. Sem falar na habilidade de Tolkien para encadear frases. Usar descrições só é eficiente quando estamos diante de narrativas longas. Quando existe o espaço para trabalhar tais conceitos. O que me parece é que o autor tinha muitas ideias e conceitos para criar uma narrativa e tentou encaixar o máximo delas na história. Só que ao encaixar suas noções na história, ele se esqueceu da própria história em si.


Minha sugestão é que o autor repense sua narrativa e dê outro encaminhamento à narrativa. Ao invés de descrever toda uma longa guerra, por que não se focar em um momento específico dela? Uma batalha, uma traição, um resgate? A união entre membros de um grupo que foi importante em uma situação? É importante que o escritor escreva para o leitor e não para si. É legal ver tantas ideias criativas juntas, mas um grupo de ideias agrupadas nem sempre formam uma história.


4 - "Desenho com saco de letras"


Autora: Simone Saueressig Avaliação:




Depois de um longo dia de trabalho, um monge vai finalmente poder descansar. Suas costas doem depois de copiar um livro que está demandando muita concentração. Mas, para seu desespero, seu aprendiz bate em sua porta tarde da noite alegando ter esquecido o documento que ele estava trabalhando em sua sala de estudos. Depois de muito resmungar, xingar seu aprendiz e pedir perdão a Deus pelos xingamentos, ele segue em direção ao local. Mas, estranhos fenômenos parecem estar acontecendo na sala de trabalho no escuro da noite. Fenômenos que farão o monge questionar sua própria fé e temer por sua vida e sanidade.


Uma bela história que me fez remeter imediatamente a um mestre da escrita como Umberto Eco e seu famoso O Nome da Rosa. Simone tem uma habilidade incrível de nos ambientar no local onde a história se passa. O que comentei acima sobre conseguir fazer longas descrições e ao mesmo tempo manter a atenção do leitor, cá está o exemplo disso. As descrições servem para familiarizar o leitor ao contexto onde se passa a narrativa. Qual é a importância de descrever as condições de construção do scriptorium? Simples, serve à narrativa contada por Simone e entrega um grau de tensão e desconfiança. Ao descrever os pormenores do cotidiano dos monges e as pequenas picuinhas ocorridas com eles, a autora fornece vida ao local. Gostamos de ver o nosso protagonista resmungão, o discípulo medroso, o abade com seus melindres e o monge ambicioso.


Essa é uma narrativa de mistério onde o elemento de fantasia se sobrepõe ao mundo real. O fantástico toma faces do maravilhoso como proposto por estudiosos da Idade Média. Serve para realizar milagres, nem sempre compreendidos pelos seres humanos. Simone brinca com a incredulidade do protagonista, que possui uma mente metódica e critica seu aprendiz por deduzir noções que beiram à heresia. Mas, à medida em que ele começa a investigar os segredos que se escondem no scriptorium, ele mesmo se questiona sobre onde se situa seu coração. Gostei demais da história e a virada narrativa no final, quando tudo vai para o espaço, surpreende e tira aquele sorriso maroto de nossas faces.


5 - "Meninas podem, sim"


Autora: Katia Regina Souza Avaliação:




Lilian está indo para a casa de João. Para ela, mais um dia desagradável e chato. Ela tenta argumentar que não quer ir para lá, mas é vencida por seus pais teimosos que não a entendem. A verdade é que João é um garoto egoísta que não a deixa jogar videogame e tocar em nada em seu quarto. E os pais do garoto não fazem nada a respeito, achando o comportamento normal. Quando ela chega lá, acontece justamente isso. O pai do menino, um desenvolvedor de jogos, a manda ir brincar na garagem onde existe uma série de coisas lá que talvez possam distraí-la. Lilian prefere ficar na garagem do que passar mais um minuto perto do moleque chato. Depois de muito procurar entre as tralhas na garagem, Lilian começa a ouvir uma estranha voz que a direciona até um estranho aparelho com um tipo de cartucho que deve ser encaixado em um buraco. Quando ela faz isso, Lilian desperta em outro mundo onde as pessoas parecem ser feitas de pixels, gráficos antigos de jogos de videogame. Aliás, ela mesma tem esse formato. E todos a estão chamando de herói. E agora?


Baita narrativa divertida escrita pela Kátia. Ela conseguiu escrever um conto cuja história é bem simples de entender e é uma crítica direta a uma sociedade machista. A autora brinca com os tropos típicos dos jogos de RPG de videogame como as missões sem nexo, o sistema de luta, os monstros cujas motivações são erradas. É curioso, mas dentro de todo esse pano de fundo existe uma história sobre empoderamento feminino. Nesse mundo não existem heroínas; elas são enxergadas até como ameaças. Isto espelha a maneira como as meninas eram enxergadas (e ainda são) dentro do universo geek: como seres estranhos que parecem não pertencer a esse domínio. A autora brinca também com os convencionismos do gênero como não entender o lado dos monstros e nos coloca diante de uma realidade em que estes são benéficos a uma sociedade que se via vítima da exploração de um rei abusivo.


Os diálogos são dinâmicos e carregados de ironia. O leitor devora o conto rapidamente. Me fez lembrar bons filmes de comédia em que os diálogos são jogos entre os personagens e o leitor se sente participativo deles. O final é aberto no sentido de que é o início de uma jornada e te traz uma sensação satisfatória de conclusão. Menciono o final aqui por causa da situação que se passa no conto seguinte. Aqui temos um final que convida os leitores a imaginarem o que vai se suceder com as personagens e a personagem da Tiana brinca justamente com isso. A Kátia está de parabéns por um conto muito diferente do que a gente esperaria encontrar. E serviu também como uma ótima crítica.


6 - "Mais do que os olhos podem ver"


Autora: Bruna Sanguinetti Avaliação:




Este é mais um conto que não vou citar a sinopse, embora tenha lido inteiro. Mas, na minha visão não tenho como analisar um conto que não foi terminado. Que não tem final. Já chego nesse ponto.


Até porque nem tudo são reclamações. A narrativa começa um pouco complicada com a narração de uma guerra entre seres que são lagartos e corujas. As corujas estão causando muitos danos aos lagartos graças a seus poderes mágicos e sua capacidade de voo. Lutar contra elas é uma tarefa diária das corujas. Guerreiros natos, eles procuram se preparar para os próximos dias. Erina, uma lagarto de uma tradicional família, vai à biblioteca procurar materiais de referência para que seu pai possa continuar a trabalhar nos esforços de defesa da cidade. Lá ela conhece Lita, uma lagarto sem barba (considerado quase uma ofensa entre os lagartos) que possui uma atitude firme contra todos os que a desprezam. A narrativa coloca Erina e Lita como aliadas improváveis diante de um objetivo que pode mudar a realidade dos lagartos. Mas, algumas forças dentro do reino parecem se colocar contra elas. Nesse ponto a história é bastante intrigante e nos mostra ao mesmo tempo uma narrativa com dois pontos de vista contrários, mas uma necessidade de esconder um segredo importante através da desinformação.


O conto seria fascinante se ele não terminasse na metade. Acontecem determinadas situações entre Lita e Erina e elas conseguem chegar a uma espécie de ponto comum. E é nesse momento que a narrativa se encerra. Não se trata de um final em aberto onde somos convidados a imaginar o que vai acontecer dali em diante. Se trata de um não-final. Isso porque diversas tramas ficam em aberto como a perseguição do rei, a guerra com as corujas e até mesmo a questão da magia. Nada disso é finalizado a contento. O leitor se sente bobo de ter investido tempo em uma trama que parecia interessante e diferente e termina daquela forma. Repito o que disse anteriormente: um conto é uma narrativa curta e objetiva onde os autores precisam abordar o que pretendem de uma forma concisa. As tramas precisam se fechar em um espaço limitado. Até é possível fazer tramas abertas como a Kátia fez no conto anterior, mas ela fechou várias sub-tramas. Ela conseguiu expor suas ideias a contento e o leitor não tem do que reclamar. Aqui a situação é frustrante. O mais frustrante de tudo é que a escrita da Bruna é muito boa. A narrativa tendia a apresentar algo que parecia levar a algum lugar. Mas, tudo ficou no meio do caminho. Espero que a autora retorna à mesa de trabalho e termine a história. Por ora, não tenho como avaliar o conto.


7 - "A vingança do desmorto"


Autora: Veronica S. Freitas Avaliação:




Durante de uma caçada de uma tribo de amazonas guerreiras, elas capturam três prisioneiros que tentavam invadir suas imediações. Um deles revela ser um vampiro, um homem chamado Yan. Ao invés de matá-lo no ato, elas decidem levá-lo como prisioneiro, mas Selene, filha da chefe da comunidade, o toma para si, alegando que ele será de grande utilidade nas minas de ferro das amazonas. O comportamento extremamente dócil e submisso do prisioneiro não escapa ao olhar das guerreiras, mas os dias que passam sem incidentes acabam fazendo-as baixar a guarda. Em uma determinada noite, em que as amazonas saem para procriar com outros homens (parte de seu ritual para manter a comunidade sempre forte), as coisas podem tomar um rumo para pior. Isso porque o prisioneiro parece ter um plano para si.


Essa é uma combinação curiosa de temas: amazonas guerreiras e vampiros. A autora conseguiu fazer estes dois temas funcionarem até que bem. Se trata de uma narrativa que inverte a noção de prisioneiro e carcereiro. É óbvio que pelo título da história a gente desconfie de alguma coisa em relação a Yan. Fora que seu comportamento submisso também não combina com a natureza primal de um vampiro. Vemos um embate de vontades entre o vampiro e a amazona. Tudo segue dessa maneira de tentarmos adivinhar o que o prisioneiro está planejando. Só que não precisava Selene ser alguém tão especial. Só o fato de ela ser a filha da chefe já a colocava em outro patamar. Ela sequer precisava ser a pessoa diferente da vila. Claro que sempre é necessário individualizar personagens, mas a percepção que eu tive é que a autora deu quase um ar do tropo do escolhido para ela. E não era preciso; algumas características a mais a tornariam uma personagem naturalmente interessante. Porém, o conto é bem legal e gostei das reviravoltas no final.


8 - "Monstro feito de monstros"


Autora: Mariana Bortoletti Avaliação:




Depois de muito tempo sem encher sua algibeira com as doces moedas, Briniam decide pegar uma perigosa missão: matar uma mantícora que está aterrorizando o vilarejo de Daerah. Como caçadora de recompensas, ela sempre costumava fazer esses trabalhos ao lado de seu irmão Jihad. Só que uma aventura que deu errado, marcou o rosto e a amizade entre os dois irmãos para sempre. Desde então, Briniam nunca mais foi a mesma. Para essa missão, ela sabe que precisará do irmão. É o tipo de aventura que exige duas pessoas que pensam diferente. Ela entra em contato com seu irmão, mas a recepção não é das melhores. Será que eles voltarão a trabalhar juntos? E a mantícora... como derrotá-la?


Essa é uma boa e simples aventura escrita por Mariana Bortoletti e em sua simplicidade se esconde detalhes fascinantes. Primeiramente em como ela conseguiu passar a visão do mundo dela de uma forma simples para o leitor. Não há complicadores; o leitor pega rápido o que está acontecendo e como os personagens se encaixam. A narrativa vai se focar mais em Briniam e Jihad e a partir daí trabalhar a sua relação. Há uma boa divisão entre início, desenvolvimento e conclusão e o final parece aberto, mas não é. É redondinho e encerrado. Os personagens tem suas características psicológicas e emocionais bem trabalhadas e o leitor desenvolve uma empatia por eles. A gente torce para que Briniam consiga ajustar as coisas com o irmão e mais tarde que ela consiga escapar com vida de uma perigosa missão.


Alguns leitores vão argumentar que a história não tem necessariamente um final e eu vou discordar. A narrativa não é sobre a missão de caça à mantícora, mas sobre a relação entre os irmãos. A ideia da autora é mostrar uma história intimista entre dois irmãos que, por conta de uma situação trágica, deixaram de se falar. E ao longo da narrativa essa amizade e companheirismo entre os dois vai se remendando aos poucos. Problemas entre irmãos acontecem e isso faz parte da vida. Pode ser que a gente deixe de falar por algum tempo até. Mas, o amor entre eles vai existir, não importa a circunstância. Se a aventura vai dar certo ou não, se a mantícora vai ser morta ou não... não importa. Se ao final a relação entre os dois estiver consertada, a aventura vai ter dado um bom resultado.


9 - "Lar de carvalho abaixo!"


Autor: Fabio Aresi Avaliação:




Caedmon não acredita em dragões. Isso é coisa de lendas e superstições de pessoas que não compreenderam alguma situação. Mas, algum animal reptiliano fez duas pessoas de vítimas de um ataque brutal e esse ser parece estar no encalço de Caedmon. Como caçado de monstros, ele precisa colocar em prática os ensinamentos de seu velho mestre Hugor, que lhe passou lições valiosas para a vida além de ter lhe treinado. O que vai acontecer a seguir é um confronto mortal entre caçador e presa, algo que pode ultrapassar os limites da compreensão humana. Caedmon precisará de toda a sua coragem e impetuosidade para derrotar um monstro que ele não acredita ser um dragão. Mas, que parece muito com um.


Esse é um conto onde o autor pegou uma fração do tempo e transformou em uma imensa cena de ação. Toda essa história se passa em um espaço de horas e descreve o confronto mortal entre Caedmon e uma criatura enorme e mortal. O autor faz isso de uma forma eficiente mostrando, além do combate, as motivações e pensamentos do caçador. Sabemos da relação entre Caedmon e o Lar do Carvalho, um local em que ele passou anos ao lado de seu mestre; o quanto Hugor representava para ele e como sua morte foi um choque terrível. Para aqueles que não julgam ser possível fazer uma história que se passa em um espaço de tempo tão limitado, está aí uma que faz isso bem.


O que me incomodou na narrativa foi o emprego de uma escrita muito pomposa e descritiva. Em alguns momentos, parece que o personagem está entoando a sua história, como um cancioneiro. E, para um conto que se foca em traçar uma cena de ação, o emprego de uma linguagem dessa forma soa estranho e fora de lugar. As passagens descritivas são tantas que me via perdendo a concentração na história em vários momentos. Esse conto ganharia mais se o autor adotasse uma abordagem mais dinâmica e direta. Até porque tem vários momentos perigosos e emocionantes ao longo da aventura. Mostrar que a história é um duelo de vontades entre dois adversários. Com certeza isso elevaria o nível da história.


10 - "O olho de Tulging"


Autor: Duda Falcão Avaliação:




Dois gigantes e uma yosei são contratados por um homem-javali para matar o irmão dele, um cara que, segundo ele, é um traidor e ele quer sua cabeça pregada na parede. Só que Rann, um dos gigantes decide fazer uma paradinha para encher a cara antes da missão. Após sair quase em um estupor alcóolico, ele decide parar em um lugar para dar uma tragada em um bom fumo. Bem... acho que essa missão não vai dar muito certo. Será?


Vejam com a sinopse é simples. Não tem nada demais ali. E a história é muito, mas muito boa. Apesar de eu ter gostado muito do conto da Simone, para mim, esta história do Duda é a melhor da coletânea pelo domínio que o autor tem da narrativa curta. E isso porque não é nem uma das histórias mais carregadas do autor, sendo que o objetivo é mais escrever uma narrativa leve e despojada com um grupo de personagens aprontando todas. Outro detalhe é que, apesar da simplicidade da história, existe uma construção de mundo complexa com raças semi-humanas sendo descritas a contento, com algumas conhecidas e outras desconhecidas. Existe até uma exploração da cidade durante a noite, mostrando os vários lados que a formam: desde a taverna eclética, às sombrias ruas e ao boticário com um estranho guardião. E se o leitor ficar apenas na leitura superficial, tudo bem, ele vai se divertir e curtir uma boa história. Mas, se prestar mais atenção, vai perceber detalhes que, conhecendo o autor como eu conheço, serão explorados em outras histórias. Ou não. E tudo bem. Porque a narrativa é fechadinha e deixa um gancho bem sutil para outras aventuras.


É impossível não associar a história a um bom filme de comédia com bêbados fazendo trapalhadas como Um Morto muito Louco ou Se Beber, Não Case. Algumas situações são tão bizarras que é impossível não dar uma boa gargalhada enquanto lê. Os três são completamente sem noção, além de serem bandidos. Estão aliados por agora, mas isso não impede que um roube do outro. Não há uma temática filosófica envolvida, sendo uma grande e divertida aventura. Minha recomendação é: leiam.










Ficha Técnica:


Nome: Multiverso Pulp vol. 4 - Alta Fantasia

Organizado por Duda Falcão

Editora: Avec Editora

Número de Páginas: 176

Ano de Publicação: 2021


Link de compra:


*Material enviado em parceria com a Avec Editora














留言


bottom of page