Esta é a edição que inicia a fase premiada desta que é considerada uma das duplas de ouro da DC Comics. Vemos como a equipe se formou diante de um desafio praticamente impossível e eles precisam encontrar forças na união de seus poderes.
Sinopse:
O aclamado desenhista George Pérez – ao lado da lenda dos roteiros Marv Wolfman – põe no papel a mais revolucionária e marcante fase dos Novos Titãs! Acompanhe a reformulação definitiva da equipe, apresentando uma nova dinâmica e elevando o status do grupo dentro do Universo DC a um patamar nunca antes alcançado. Estelar, Ravena, Robin, Moça-Maravilha, Kid Flash, Cyborg e Mutano se reúnem para enfrentar uma ameaça cósmica muito além da compreensão humana, mas sempre ancorando os heróis em um ambiente repleto de dificuldades e anseios do cotidiano de todos os jovens. Acompanhe este clássico dos quadrinhos desde sua primeira edição!
Se formos buscar fases icônicas no universo DC algumas figuras vão surgir em muitas listas: Neil Gaiman e Mike Dringenberg no Sandman, Alan Moore e um conjunto de artistas em O Monstro do Pântano, John Byrne no Superman, Dennis O'Neill e Neal Adams no Lanterna Verde. Mas talvez poucos tiveram o poder de mudar o próprio processo editorial de uma empresa quanto Marv Wolfman e George Perez nos Novos Titãs. Através de Novos Titãs e Crise nas Infinitas Terras, Perez conseguiu o estrelato em uma editora e se tornar uma unanimidade. Wolfman, por sua vez, teve uma longeva fase no grupo e conseguiu transformar meros sidekicks de heróis como o Robin, o Kid Flash e a Moça-Maravilha em personagens extraordinários por si sós. Por exemplo, poucos pensam hoje no Dick Grayson voltando a ser o Robin. Ele é o Asa Noturna e ponto final. Neste primeiro volume, as bases desse grupo são construídas e serão desenvolvidas lentamente nas próximas edições.
Ao enfrentar uma situação perigosa em Nova York, o Robin começa a ter estranhas visões onde ele é levado até outro lugar onde está liderando uma equipe com pessoas que ele mal conhece. Algumas delas ele já havia tido contato como Wally West e Donna Troy, mas outros ele sequer reconhece. Ao final dessas visões, ele vê uma estranha mulher usando uma roupa azulada e um aspecto sombrio dizendo para ele confiar nela que tudo acontecerá no futuro. Essa mulher não é ninguém menos do que Ravena, que dá um jeito de fazer os membros deste futuro grupo serem arrastados para um lugar em comum onde ela avisará a eles sobre o perigo de um ser extradimensional chamado Trigon. Mas, Ravena é envolvida em muitos mistérios e tudo ao seu redor parece frágil como areia. Suas informações são enigmáticas, Wally parece ter uma estranha fascinação por ela e o grupo ainda não é coeso com cada um tendo suas próprias motivações. Só que Trigon se aproxima perigosamente de nossa dimensão e ele é uma força tão poderosa que faria a própria Liga da Justiça dobrar os seus joelhos ante seu poder. Poderá então um grupo de ajudantes de heróis recém unidos fazer alguma coisa contra um adversário tão sinistro?
Na arte temos uma dupla imbatível: Perez nos desenhos e Dick Giordano na arte-final. Ainda vai nascer alguma dupla de artista com esse nível de qualidade em uma época em que não havia nenhum recurso digital. É tudo na pena, na arte e na coragem. Este ainda não é o George Perez de daqui a alguns anos, cujos traços se encontram em outro nível de qualidade. Como Marv Wolfman é um roteirista das antigas, que gostava de uma narrativa carregada de textos, a arte acaba ficando mais contida. Vemos algumas experimentações vez ou outra do Perez, mas ele acaba adotando um enquadramento mais padrão com 6 a 8 quadros. Temos algumas splash pages espalhadas entre os capítulos, inclusive algumas no templo de Azurath que são simplesmente de cair o queixo. Quando Perez quer, ele pira completamente nos cenários. E só posso dizer que a arte do Perez está mais contida porque li trabalhos posteriores dele como a própria Crise nas Infinitas Terras e sua fase na Mulher-Maravilha. Dick Giordano consegue dar ainda mais vida aos traços precisos de Perez fazendo as formas mais arredondas ou destacando elementos de cenário. A remasterização dessa fase que vi em outra coleção tirou esse aspecto do toque do Giordano. O nosso olhar é guiado por Giordano a algum ponto de destaque no quadro, ou ele consegue dar mais tridimensionalidade à composição de Perez. Um bom arte-finalista potencializa aspectos artísticos do desenhista e ele faz isso com perfeição.
Não vou falar tanto da arte porque ainda prefiro deixar para comentar nos próximos volumes. Quero me concentrar no motivo que fez o que Wolfman entregou ser tão icônico (embora ainda tenha vários problemas aqui). E é preciso antes pontuar que se trata de um estilo narrativo clássico, com um certo quê de inocência embora já exista aquele estilo mais "sassy", mais irreverente que vai dar uma identidade própria aos Titãs. Wolfman partiu de três heróis que são ajudantes de grandes heróis do universo DC para dar a eles uma oportunidade de brilhar. Junto a eles, criou ou resgatou outros para formar uma super-equipe que ainda precisava se conhecer. Nos três iniciais temos de um lado um Dick Grayson que deseja se descolar a qualquer custo da figura de Bruce Wayne que tem seu próprio legado e forma de agir. Se desvincular dele significa conseguir se tornar um adulto, realizar coisas à sua própria forma. Dick sabe que vai errar, mas ele precisa aprender sozinho o significado de ser um líder.
De outro lado temos um Wally West que deseja apenas ter uma vida normal. Ser um super-herói envolve sacrifícios demais. Tudo o que ele deseja é frequentar uma faculdade, seguir uma vida adulta e ser responsável. De alguma forma, a bruxa Ravena acabou trazendo-o de volta a esse mundo, mesmo contra a sua vontade. E Donna? Neste primeiro momento, Wolfman ainda não trabalha muito a sua personalidade. Apenas que existe um histórico entre o Robin e ela da época da Turma Titã, um grupo que não deu certo. Um grupo que faltava aquele senso de união que nesse grupo parece ter mais. Só sabemos da origem de Donna, como alguém que foi criada entre as amazonas da Ilha Paraíso, tendo sigo resgatada pela Mulher-Maravilha de um terrível incêndio.
Para formar os Titãs, vai ser preciso reunir gente nova para completar o time. Victor Stone foi transformado em um híbrido de homem e máquina por seu pai. Ainda não sabemos ao certo como tudo se sucedeu, mas essa transformação aconteceu contra a vontade do personagem. Ele culpa o seu pai por aquilo que aconteceu, algo que vai guiar suas escolhas. Parece que seu pai sente remorso pelo que teve de fazer, mas existem mais coisas nessa relação entre pai e filho que só veremos daqui a algumas edições. Chegando à Terra após se libertar de seus captores, Estelar aparece quase como uma estrela cadente no planeta, chegando ferida e sem saber falar o idioma. Vinda de Tamaran, uma cultura que forja guerreiros pragmáticos e desprovidos de emoções, sua violência incomoda um pouco os demais membros do grupo. Mas, essas diferenças vão sendo compreendidas pouco a pouco e um lugar comum entre eles vai sendo estabelecido. O que destaca Estelar é o seu fogo interior, manifestado em sua forma de agir e de demonstrar suas emoções, como Dick Grayson rapidamente vai descobrir. Estelar é a epítome da bombshell dos anos 1980. Mas, Perez e Wolfman tomam cuidado para não sexualizá-la demais (achei que outras encarnações da Estelar eram bem mais sexualizadas). Algumas questões foram deixadas no ar como o fato de Koriand'r ter sido escrava por dois anos e isso causar vários traumas a ela. Pelo que parece isso deixou marcas físicas e emocionais nela. Imaginem que ela é uma guerreira e ter de ser submetida não é pouca coisa.
Não tenho lá muito o que falar do Mutano neste momento porque ele é usado mais como alívio cômico do que qualquer outra coisa. E cabe reiterar o quanto essa HQ é fruto de sua época porque mesmo ela trabalhando algumas temáticas mais pesadas. Mesmo assim estamos diante de adolescentes, quase adultos se tornando heróis e encarando o amadurecimento necessário para se tornarem heróis. Convenhamos que esse primeiro arco de histórias não é nem um pouco gentil com eles já que eles encaram de cara Slade Wilson, o Exterminador, e Trigon, um poderoso deus extra-dimensional. As surras que eles levam do Trigon são homéricas e o vilão faz gato e sapato dos heróis. Existe toda a questão com a Ravena, que já comento abaixo, e mesmo assim a história tem seus momentos divertidos. Gar e Vic formam uma ótima dupla com Gar sendo o engraçadinho e Vic sendo o carrancudo. A gente tem a dinâmica do Robin com a Estelar, com a Estelar tomando o protagonismo da relação, invertendo clichês tão comuns em quadrinhos. Pensem que Robin é carregado no colo igual uma dama em apuros por Estelar e pela Moça-Maravilha, o que dá uma pista do que virá a seguir. Não é o herói que carrega a princesa nos braços, mas o oposto. Para a década de 1980, isso é fora da curva.
E precisamos falar da Ravena. Porque parte dela juntar figuras tão dissonantes como os membros do grupo. Só que ela usa bases muito frágeis nas quais fundamentar seu discurso. Por mais que ela tivesse boas intenções, partir da manipulação e da mentira jamais iria dar certo. Omitindo informações, usando seus poderes empáticos nos membros da equipe. Era óbvio que o elemento da desconfiança iria brotar no seio da equipe. Isso me faz pensar imediatamente no arco do Contrato de Judas que está há anos de distância, mas imaginar que o grupo nasceu de uma manipulação da Ravena complica tudo. Lógico que Wolfman simplifica bastante a trama (até demais para o meu gosto) e o hurrah heróico acaba sobrepujando as pequenas verdades e as grandes omissões. Os sacrifícios de Ravena acabam prevalecendo no final. Só que é bastante compreensível o grupo se separar logo que se formou. Fico pensando na cabeça dos leitores da época explodindo porque não havia internet ou redes sociais, então eles podem ter imaginado que a revista seria uma série limitada ou algo do gênero. Os motivos para a separação eram muito gritantes. Provavelmente toda essa manipulação da Ravena vai ser abordado nas próximas edições, principalmente se pensarmos no Wally West que foi o mais afetado por isso.
É um bom começo de história, embora tenha achado algumas soluções do Wolfman convenientes demais e uns buracos na história que são inexplicáveis. Aquelas lacunas que são explicadas na base do "porque sim". Mesmo assim, a história rompe paradigmas de época e entrega um grupo que os leitores mais jovens podem se identificar devido aos problemas de cada um deles. Não apenas isso, mas é inegável o apelo e a novidade da época de um grupo formado por ajudantes de heróis. É aquele velho plot do underdog, do indivíduo menor que você deseja ver vencendo e se tornando cada vez melhor. O grupo não poderia ter caído em melhores mãos do que nessa dupla. Ainda tem a melhorar bastante nas próximas edições, mas os Novos Titãs são um daqueles grupos queridos entre os fãs de quadrinhos.
Ficha Técnica:
Nome: Lendas do Universo DC - Os Novos TItãs vol. 1
Roteirista: Marv Wolfman
Artista: George Perez
Arte-Finalista: Dick Giordano
Colorista: Adrienne Roy
Editora: Panini Comics
Tradutor: Jotapê Martins
Número de Páginas: 176
Ano de Publicação: 2018
Outros Volumes:
Vol. 2
Vol. 3
Vol. 4
Vol. 5
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