Ciça é uma garota muito divertida e que apronta todas junto de seus amigos. Levi. seu melhor amigo, sempre acaba arrastado para uma de suas aventuras desde viagem no tempo, cultos com botos rosa, e até uma estranha visita ao planetário.
Sinopse:
Ciça, a Menina-Saci é uma série de histórias em quadrinhos protagonizada por uma garota muito esperta e travessa. Ela conta sempre com a companhia de seu melhor amigo Levi, que de levado não tem nada (ou será que tem?). Juntos, vivem aventuras e desventuras num cenário cheio de seres fantásticos e inusitados. Como a nossa própria cultura, os personagens desta HQ são uma mistura de um pouco de tudo. Alguns, como a protagonista, são releituras de figuras do folclore brasileiro. Outros são personagens novos influenciados por culturas estrangeiras.
Nos últimos anos tivemos um bom número de HQs infanto-juvenis surgindo com trabalhos de quadrinistas que estão em busca de seu espaço. Seja através de editoras pequenas e médias, seja através de campanhas de financiamento coletivo, o importante é que mais e mais opções estão chegando em nossas prateleiras. E muitos destes trabalhos tem chegado nas escolas, públicas ou particulares. Trabalhos como Ciça são ótimas portas de entrada para novos leitores, e só os deuses da literatura sabem o quanto precisamos de novos leitores. A questão é: Ciça atende a todos os requisitos? Poderá ser uma boa opção para nossos pequenos leitores? Vou tentar responder algumas dessas perguntas e quem sabe ajudar outros autores a refletir algumas ideias para futuros trabalhos.
A ideia da HQ é usar personagens do folclore brasileiro e de diversas outras culturas para montar histórias divertidas voltadas para todas as idades. Bruno e Lucas trazem sketches com os temas mais curiosos possíveis: alguém tentando fazer amizade, como nascem os filhos, uma visita ao planetário, um culto de botos. Tem de tudo um pouco. Gosto da criatividade dos autores e do jeito bem humorado como as histórias são conduzidas. Os pais podem ficar despreocupados porque não tem nada de ofensivo ou violento aqui. As histórias são marcadas por humor, ingenuidade e muitas doses de imaginação. As histórias tem um bom timing cômico e mesmo para adultos a gente dá aquele sorrisinho divertido de lado. O tamanho das histórias também é bom, sendo que nenhuma delas é grande demais. Recomendo até fazer uma leitura acompanhada com os mediadores lendo o texto e deixando a criança observar as figuras. Outro bom ponto positivo é que não há uma sequencialidade nas narrativas sendo que é possível ler qualquer uma das histórias primeiro.
Falando da arte em si, ela é muito colorida e chamativa. O visual dos personagens é descolado e passa uma boa impressão. Não há repetição nos designs deles, sendo que sempre há alguma característica que os distingue seja a Ciça com seus cabelos coloridos, sejam os pais dela que são carrancas grandes, ou o Levi em suas duas formas ou qualquer outro personagem. Daria para criar um livro de colorir com os personagens que aposto que o público infantojuvenil iria se interessar. Não há uma cor predominante na história, mas pela observação que fiz, as cores laranja, verde e um amarelo-mostarda costumam aparecer mais. A opção por usar cores mais puxando para o brilhante favorece a puxada de olhar da criança para a página. Chama a atenção, atrai o olhar. O emprego de cores quentes funciona na mesma medida. Instigam animação, brincadeira, imaginação. O traço me faz pensar imediatamente nos desenhos da Cartoon Network ou nos da Gloob. Para os mais velhos não acredito que seja um material interessante e o foco mesmo é em apresentar um bom conteúdo para os mais jovens. Nisso, arte e roteiro se conectam muito bem.
Alguns pontos que merecem atenção dos autores podem ajudar seja em futuras edições ou em um material mais voltado para fornecer a programas do governo. Primeiro de tudo, é preciso acrescentar um glossário ao final dizendo a que cultura pertencem determinados personagens. Se a ideia é usar personagens do folclore, fica muito livre só colocá-los nos quadros sem dizer nada. Talvez a ideia fosse que as crianças tivessem a curiosidade e pesquisassem sobre o personagem? Só que não funciona de uma forma tão simples assim para eles. Para que o glossário não seja algo tão formal e chato, poderiam ser fichas de personagem (como as de um RPG) ou somente um desenho pequeno com um textinho de umas quatro ou cinco linhas explicando quem é o personagem. Isso com certeza terá um efeito mais estimulante para que a criança saia para procurar mais infos.
Outro ponto para uma futura edição é usar quadros amplos. Crianças gostam de observar cenários repletos de coisas para serem encontradas. Sei que isso não pode ser feito o tempo todo, mas páginas com um quadro de página inteira ou apenas dois quadros funcionariam muito bem. Até splash pages, se forem possíveis. Entendo que a ideia de Ciça era ser uma web toon que acabou ganhando uma edição física e aí os quadros foram adaptados para atender ao formato. Mas, é possível pensar no futuro já em uma edição impressa. No mais, não penso que precise mudar muita coisa. O ritmo está legal, a arte é bem divertida e as histórias são bastante criativas. Sou só elogios ao trabalho dos quadrinistas, mas senti que existe bastante espaço para aprimorar. E que outros autores possam investir mais nos jovens leitores. Precisamos fazer esse número crescer do contrário o mercado vai continuar minguando.
Ficha Técnica:
Nome: Ciça - A Menina Saci
Autores: Bruno Prosaiko e Lucas Marques
Artista: Bruno Prosaiko
Colorista: Lucas Marques
Editora: Avec Editora
Número de Páginas: 116
Ano de Publicação: 2022
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