O surgimento de uma mulher que alega que sua filha é fruto de uma aventura de Bruce Wayne em um momento frágil, provoca uma enorme confusão. Seu sequestro colocará o alter ego de Batman na mira do Coringa. Como Bruce Wayne derrotará o Coringa?

Sinopse:
O aclamado artista europeu Enrico Marini (Predadores) faz sua estreia nos quadrinhos americano com esta fabulosa e singular interpretação do Cruzado Encapuzado, em uma trama envolvendo o Coringa e sua ameaçadora companheira Arlequina. Com uma misteriosa conexão com o Batman, uma garotinha sequestrada pelo Coringa obriga o Homem-Morcego a mergulhar profundamente no submundo de Gotham em uma corrida contra o tempo para resgatá-la. As apostas são altas e para Batman este é um caso extremamente pessoal. Belissimamente ilustrada e pintada por Marini em seu estilo inconfundível, esta edição traz o Cavaleiro das Trevas e seus maiores adversários em uma radical recriação de sua mitologia.
"Finais felizes só acontecem em contos de fadas. Este aqui não é um deles."
Uma das velhas questões dos quadrinhos permeia estas duas edições deste especial: uma boa arte compensa uma narrativa ruim? Ou uma boa narrativa compensa uma arte ruim? Não digo que a narrativa daqui seja ruim, mas ela é vários níveis abaixo da arte maravilhosa de Enrico Marini. Uma simples história com o sequestro de uma menina que se acredita ser a filha de Bruce Wayne em uma de suas aventuras no passado. O sequestrador é nada menos do que o Coringa, que está interessado em usar o Batman para conseguir um presente de aniversário para a Arlequina. E é isso. Essa é a base da narrativa. Temos algumas reflexões e dramas, mas muito superficiais.
A primeira edição serve muito como apresentação para a narrativa colocando os personagens em seus devidos lugares antes de seus destinos se cruzarem. A gente pode reclamar um pouco de que se trata de uma edição mais parada fora uma perseguição de carro feita pelo Batman na metade da narrativa e um combate rápido contra a Mulher-Gato. Ou seja, Marini apenas introduz o que ele deseja fazer na história e posiciona suas peças pelo tabuleiro. O roteiro passa como mediano apenas, e acho que isso é algo bastante comentado por outros resenhistas: a série toda serve bastante como um showcase para a bela arte do autor.

Mas, fica aqui o meu elogio a como Marini abordou Bruce Wayne e não o Batman. Nos últimos anos (fora o arco gigante do Tom King na série), não vemos muitos autores mexerem com o passado do Bruce. As ameaças são mais voltadas para o Homem-Morcego do que para o rico playboy. A ideia de criar um escândalo jornalístico envolvendo o personagem é interessante e eu senti que daria para explorar mais este aspecto do que simplesmente fazer o Coringa sequestrar a menina. Por outro lado, o autor trabalha bem a forma como o personagem recebe a novidade. Apesar de termos o Damian Wayne como um filho do personagem na HQ, acho que a história do Marini descarta isso e nos coloca diante de um protagonista tentando entender as implicações de ter uma filha agora. Algumas das reações do Batman são um pouco estranhas (principalmente na segunda edição), mas eu percebi aonde o autor queria chegar.
A arte do Marini é algo que dispensa comentários. Ele é um dos melhores desenhistas europeus da atualidade. Basta ver sua série Águias de Roma para saber do que estamos falando. Seu estilo é todo pintado o que gera algo que poucas vezes vimos nos quadrinhos do Batman. Mas, vamos falar da arte dele nesta primeira edição. Aqui ele se dedica principalmente a fazer tomadas aéreas de Gotham, provavelmente para familiarizar o leitor com o cenário para depois construir suas cenas. Algumas dessas tomadas são belíssimas, como a imagem que está logo acima. Ali somos capazes de ver como o artista entende questões de perspectiva e tridimensionalidade. Um detalhe que eu vi poucos comentários a respeito dessa cena é como o Batman se integra com o cenário, parecendo uma gárgula. A gárgula é a figura ao lado ou é o Batman, mais à frente? Uma opção polêmica dele foi a de usar um outro conjunto de uniformes para os personagens, algo mais vintage como a roupa da Mulher-Gato que segue bem o modelo da Michelle Pfeifer no segundo filme lá da década de 1990. Já o Coringa ficou com um visual mais clássico também, puxando o lado mais palhaço do crime dele.

No segundo volume da série, vemos a história se fechando. Podemos dividir o roteiro em duas partes: na primeira, temos um Batman acuado, precisando lidar com o desespero de ver seu alter ego nas mãos do Coringa, sem poder usar toda a sua habilidade. Já a segunda parte lida com o clímax da história, com uma boa cena de ação entre o Batman e o vilão e seus capangas. Só achei que a solução para o problema foi bem anticlimática, sendo até simples se pensarmos direito. Senti que o Bruce só esteve ameaçado apenas em parte da narrativa e que seu desespero era algo mais da própria cabeça dele do que algo real mesmo. Diferentemente do primeiro volume onde o problema parece iminente e o leitor percebe que é algo realmente ameaçador, aqui isto fica muito forçado com o Batman descendo a porrada nos bandidos para descobrir o paradeiro de sua suposta filha. Kudos para o momento em que Wayne e o Coringa se sentam em um banco de lanchonete para que este possa fazer suas exigências. Ali eu senti um momento tenso e bem legal. No resto, é mais uma história legal do personagem que daqui a alguns anos eu vou esquecer (apesar de me lembrar das belas pranchas do Marini).
Gostei que o Marini deu uma "humanizada" (com muitas aspas mesmo) no Coringa. Ele tenta passar a ideia de um personagem que teve uma infância difícil e teria se transformado neste vilão mortal. Claro que há sempre uma margem de dúvida no que diz respeito ao personagem e o Marini faz isso malandramente com apenas uma única fala dele. Quero entender o que a Mulher-Gato estava fazendo ali... estava como uma ladra genérica, né? Porque mesmo como momento romântico do personagem não serviu muito (só para fazer aquela piadinha sobre mau humor dela no primeiro volume, preferia que tivesse sido com uma modelo gostosa genérica). Mas, fica a minha lembrança ao divertido anão que o Marini inseriu no bando do Coringa. Toda vez que ele aparecia eu dava altas risadas. E o que acontece com ele no final é ainda mais engraçado.

No que diz respeito à arte, esse volume é marcado por várias cenas de ação. O autor tem uma ótima noção de posicionamento corporal e sequenciamento de cenas de ação. Nada parece bizarro demais ou impossível de ser realizado por um ser humano. Mesmo as acrobacias da Arlequina não são estranhas como ficam na interpretação de alguns artistas. Tudo muito sólido. Minha cena favorita é uma sequência de duas páginas com o Batman perseguindo os bandidos. Na primeira temos uma splash page muito legal dividida em quatro quadros menores no canto mostrando pontos de vista diferente. E na segunda páginas temos uma página grane dividida em 8 quadros com cenas rápidas de pancada. A arte do Marini consegue fluir absurdamente bem seja em um quadro amplo ou em tomadas menores. O leitor fica com aquele entendimento de que cada página dele é muito bem pensada para funcionar com o roteiro. E, sem usar nenhum balão de diálogo ou onomatopeia. Cenas puras em que nossa imaginação é acionada para construir o todo.
Batman - O Príncipe Encantado das Trevas é uma boa série limitada, colocada fora da cronologia do Homem-Morcego. Apesar do roteiro simples, Marini explora facetas pouco trabalhadas do personagens. Focar mais no ser humano do que no super-herói. A arte é inigualável. Estamos falando de um dos maiores artistas europeus a trabalhar com arte pintada na Europa.

Ficha Técnica:
Nome: Batman - O Príncipe Encantado das Trevas
Autor/Artista: Enrico Marini
Editora: Panini
Gênero: Fantasia/Super-Heróis
Tradutor: Levi Trindade
Número de Páginas: 84 (volume 1) e 72 (volume 2)
Ano de Publicação: 2018 (volume 1) e 2019 (volume 2)
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