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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Atômica" de Anthony Johnston e Sam Hart

A agente Lorraine Broughton é enviada até uma Berlim assolada por protestos pela derrubada do Muro, em 1989. Sua missão: recuperar uma lista que possuiria detalhes de todos os agentes secretos aliados no cenário europeu. Será uma missão repleta de dificuldades onde ela precisará usar todos os seus conhecimentos e sagacidade.

Sinopse:


Berlim, outubro de 1989. O muro que dividiu a Alemanha está prestes a cair, feito uma peça de dominó que acabará derrubando também a União Soviética e a impenetrável Cortina de Ferro. A Guerra Fria parece chegar ao fim, mas o assassinato de um agente secreto inglês do MI6 com informações inestimáveis ― uma lista que contém os nomes de todos os espiões que atuam em Berlim ― deixa claro que os dois lados ainda têm muito o que esconder, como até hoje. Mas, junto ao corpo, não se encontra lista alguma.É nesse momento sombrio que entra em cena Lorraine Broughton, a veterana espiã fria e calculista vivida por Charlize Theron nos cinemas. E tudo começou nas páginas de ATÔMICA: A CIDADE MAIS FRIA, graphic novel escrita por Antony Johnston e ilustrada por Sam Hart que a DarkSide® Books está publicando no Brasil.ATÔMICA: A CIDADE MAIS FRIA é uma HQ com os melhores ingredientes de uma boa história de espionagem: ritmo tenso e uma trama que pode mudar a cada momento ― no underground de Berlim Oriental, nada é exatamente o que parece ―, e inclui um levante popular, contra-espionagem, deserções que dão errado e assassinatos secretos. E o resultado foi tão bem recebido que Atômica já chegou ganhando o prêmio de melhor graphic novel pela Comixology, no ano em que foi publicada.Como um segredo precioso demais para ser mantido, ATÔMICA acabou parando nas mãos de Charlize Theron. Em pouco tempo, a atriz vencedora do Oscar comprou os direitos da graphic novel para adaptá-la junto com o diretor David Leitch (John Wick ― De Volta ao Jogo, Deadpool 2).O filme aborda a história de Antony Johnston com uma pegada diferente, incluindo doses extras de pancadaria e sexo. Quem sai ganhando é o público, que pode combinar duas narrativas que partem do mesmo ponto mas não se repetem. Ao contrário, se completam numa experiência inesquecível.O destaque da graphic novel é o estilo sofisticado que os autores imprimem à história. Antony Johnston é o autor da premiada série de HQs Wasteland, roteirista do game Dead Space e escreveu para personagens como Wolverine e Demolidor. A arte é de Sam Hart, ilustrador inglês que mora no Brasil e tem no currículo quadrinhos como Juiz Dredd e Tropas Estelares.ATÔMICA é para ler nos quadrinhos. ATÔMICA é para ver no cinema. ATÔMICA é para se perder nos becos escuros de uma Berlim que não se encontra nos livros de História. Mais um lançamento da coleção DarkSide® Graphic Novel, com o que há de melhor no lado mais dark dos quadrinhos. Em capa dura, claro, à prova de balas da KGB e do serviço secreto alemão.




Um jogo de espiões


Atômica é uma história que se passa em um cenário bem peculiar: a Berlim prestes a ter o seu muro derrubado em 1989. Um momento em que todos os vícios dos dois lados do muro estavam nítidos. O autor cria uma bela história de espionagem onde nada é o que parece. Agentes secretos são eternos jogadores em um tabuleiro onde vidas estão em jogo. Nesse sentido a ambientação foi muito bem criada e a cada momento da narrativa a gente sente o cheiro de mentiras e poder no ar.


Na narrativa temos a agente Lorraine Broughton que atuava em outro local da Cortina de Ferro. Ela é enviada para reaver o corpo de um dos agentes estacionados em Berlim que morreu em circunstâncias misteriosas. Outra missão ainda mais importante se esconde por trás deste simples resgate: uma lista que teria os nomes de todos os agentes aliados no lado comunista. Caso esta lista caia nas mãos dos soviéticos pode significar uma enorme derrota para a Inglaterra e para os EUA. O agente que vai ajudar Lorraine é Percival, um experiente agente inglês em ação há décadas em Berlim. Só tem um problema: Percival é um filho da mãe, conservador até o último fio de cabelo e não deseja nem um pouco trabalhar ao lado de Lorraine. À medida em que a busca pela lista prossegue, a protagonista vai entendendo que existe muito mais em jogo. E que Percival pode não ser o melhor dos aliados...


Lorraine é uma excelente protagonista feminina. Ela é ativa, direta e objetiva. Sua melhor habilidade é a capacidade que ela tem de observação. Desde o começo ela está sempre dois ou três passos à frente de seus perseguidores. O que a deixa desestabilizada é o fato de ela ser obrigada a trabalhar em um lugar com o qual ela não está familiarizada e não terá a menor oportunidade de se familiarizar. Além disso, ela encontra muitos estranhos personagens: o desagradável Percival, o misterioso Luneta e o sedutor Serlet. Mesmo diante de tantas distrações ela não perde o foco em seu objetivo. A narrativa de Johnston alterna entre o presente e a missão de Lorraine. Vemos intervenções a todo o momento para comentar um pouco dos bastidores ou de informações adicionais que a personagem não sabia naquele momento. A sacada é boa apesar de ser um pouco incômoda em alguns momentos.


O ambiente é bem trabalhado pelo autor. Ele consegue passar a atmosfera final de uma Berlim já prestes a ceder espaço para a queda do socialismo. Isto está presente nas atitudes de Percival que é quase como se fosse uma imagem da cidade. Ele não é capaz de aceitar que aquilo estava chegando ao fim. É como uma pessoa que foi sequestrada por um criminoso e desenvolveu síndrome de Estocolmo. Percival se acostumou com todo aquele jogo mortal. Era algo que havia se entranhado em seu ser. As alianças, os joguetes, as traições, a espionagem. Isso era o seu ar. Em um mundo em transformação, as novas alianças lhe eram estranhas. Por essa razão, a presença de Lorraine lhe era tão tóxica.

Uma Arte Fria como a Cidade Mais Fria


A arte do Sam Hart não é espetacular, mas ela serve para criar todo o mood (o clima) de espionagem. Ele emprega quadros simples e uma arte que pode até parecer seca e fria, mas traz para o leitor aquela sensação melancólica de uma cidade que vive seus momentos finais. Há uma forte presença do branco e preto, com um trabalho nas silhuetas sempre presente. Em alguns momentos essa técnica de sombras do artista me parece um pouco esquisita, mas com o tempo a gente acaba se acostumando. Porém me desagrada um pouco o excesso de branco no fundo. Não digo o emprego do branco em si, mas a ausência de um fundo. Entendo que a jogada do artista é focar todas as cenas nos personagens propriamente ditos, mas acaba prejudicando de certa forma uma beleza estética como um todo. Não esperem splash pages porque este não é o estilo do artista. Já o enquadramento gira entre os 3 e os 5 quadros por quase toda a HQ. Hora ele coloca um enquadramento comum, enquanto que em outro momento ele alterna com quadros raiados na vertical ou na horizontal.


Já na composição de personagens e de cenas eu não gostei mesmo. Acho a arte dele rabiscada demais, não sendo um estilo que agrade a mim como leitor. As expressões dos personagens parecem artificiais demais e não é aquele jeitão cool de agente secreto. É simplesmente uma falta de expressão pura e simples. Já nas cenas de ação (as poucas que tem), eu achei as escolhas esquisitas também. As tomadas de câmera acabavam por prejudicar mais do que auxiliar. Somente no ataque do sniper ao Luneta quase no finalzinho que eu realmente gostei. Ali, o artista deu uma boa ideia da tentativa de Lorraine de se mesclar no meio da multidão enquanto o atirador percebia todos os movimentos. As escolhas de enquadramento ali foram muito boas.


O roteiro do autor é muito bem construído. Se a gente for parar para analisar, Atômica tem todo o jeitão de ter sido feito com o propósito de ser vendido como um filme ou uma série de TV. A ação se divide claramente em três atos: o chamado de Lorraine ao MI6 e a sua ida até Berlim; o envolvimento com Percival e Serlet; e o encontro da lista. Só não gostei daquele claro momento Agatha Christie em que são contados todos os segredos para o leitor. Em uma HQ, esse estilo de revelar as coisas para entendermos melhor o que estava acontecendo acaba sendo chato e enfadonho. Para mim chega até a ser uma preguiça de roteiro. Parece aquela coisa de supervilão contando o seu plano infalível. Tem certas coisas que o autor pode deixar subentendido ou espalhar essas revelações ao longo da história. Eu entendi que ele quis subverter a nossa expectativa nos dando uma rasteira, mas a maneira como isso foi feito não foi legal.

O Filme e a HQ


Vou falar brevemente sobre o filme porque a ideia não é fazer uma análise sobre ele. As diferenças estão presentes no ritmo e na ação. O filme adota um jeitão até meio tarantinesco com a personagem sendo cool e expressiva. A Charlize Theron está fantástica no filme, mas para mim HQ e filme são duas coisas completamente diferentes. A opção por um filme mais de ação sai um pouco da proposta do jogo de espionagem e inteligência proposto na HQ. Ali, a gente tem raros momentos de ação. A protagonista se dá bem sendo esperta e sagaz, enquanto que a Atômica do filme chuta bundas e toma nomes. As propostas são distintas. Acho até que para determinados momentos o filme consegue passar melhor determinadas situações do quadrinho enquanto que em outros eu fico mais com o segundo. Não é aquele caso claro de um sendo melhor que o outro. São distintos demais. Agora, a trilha sonora do filme é imbatível. Se você quiser ler a HQ ouvindo a trilha sonora do filme, fica o meu joinha.


Enfim, Atômica é uma HQ com suas qualidades e defeitos e entrega para o leitor uma boa história de espiões. O cenário escolhido por Johnston é até bem legal e acho que foi pouco explorado por autores que preferem momentos mais na década de 1950 e 1960. A escolha foi ousada e curiosa. A protagonista é uma excelente personagem feminina que consegue realmente carregar a história. A arte é comum em alguns pontos enquanto que em outros não me agradou tanto. Porém, arte e roteiro conversam muito bem entre si.


Ficha Técnica:


Nome: Atômica

Autor: Antony Johnston

Artista: Sam Hart

Editora: DarkSide Books

Gênero: Thriller

Tradutor: Érico Assis

Número de Páginas: 176

Ano de Publicação: 2017


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