Um dos livros mais icônicos do mestre do terror. Uma batalha entre o bem e o mal em um mundo que se encontra subitamente à beira de um colapso. A Dança da Morte é uma história de sobrevivência em um mundo cruel.

Sinopse: Após um erro de computação no Departamento de Defesa, um vírus é liberado, e um milhão de contatos casuais formam uma cadeia de morte: é assim que o mundo acaba. O que surge em seu lugar é um ambiente árido, sem instituições e esvaziado de 99% da população. É um lugar onde sobreviventes em pânico escolhem seus lados – ou são escolhidos. Os bons se apoiam nos ombros frágeis de Mãe Abigail, com seus cento e oito anos de idade, enquanto todo o mal é incorporado por um indivíduo de poderes indizíveis: Randall Flagg, o homem escuro. Neste livro, King cria uma história épica sobre o fim da civilização e a eterna batalha entre o bem e o mal. Com sua complexidade moral, ritmo eletrizante e incrível variedade de personagens, A dança da morte merece um lugar entre os clássicos da literatura contemporânea.
Este talvez seja um dos melhores livros de terror do grande mestre do suspense Stephen King. Frequenta todos os top 5 de qualquer leitor do gênero. Poucas vezes eu consegui ver uma obra tão extensa ser capaz de manter a mesma proposta e o mesmo ritmo ao longo de tanto tempo de história. Além disso, é uma obra realmente assustadora. O tema que ela propõe ressoa até os dias de hoje. Não envelheceu com o passar do tempo. Antes de começar preciso pontuar que a edição que eu li é a revisada. A Dança da Morte teve duas versões: a primeira edição foi lançada em 1978, tendo sido o quarto romance escrito por King; a segunda, chamada de Uncut foi lançada em 1990 contendo capítulos extras que King cortou na época do lançamento. Não existe grandes problemas entre ter a versão antiga ou a Uncut, apenas o fato de King querer aprofundar um pouco mais o andamento dos personagens em determinadas situações. Pelo que eu pude perceber, estes capítulos extras estão espalhados entre o Livro 1 e o Livro 3.
A história é simples, e talvez esse seja um dos méritos do autor: um dia, em um centro de estudo de doenças acontece um acidente em que um poderoso vírus toma conta do laboratório. O procedimento-padrão era que o laboratório entrasse em quarentena, trancando todos os infectados dentro para que depois pudesse ser feita a esterilização do local. Mas, um dos funcionários, Campion, consegue escapar do laboratório. Pega sua família e foge para um posto no meio do nada. Lá se depara com um dos principais personagens da história, Stu Redman que bebia uma cerveja no posto do Hap. A partir daí, a doença se espalha rapidamente pelos Estados Unidos, matando a maioria da população em pouco tempo. A maneira como King descreve o avanço da doença no primeiro livro é assustadora. Assustadora porque é algo que poderia acontecer nos dias de hoje facilmente. Em um momento em que discutimos sobre o ebola e tantas outras doenças fatais das quais não temos cura, é um tema totalmente pertinente. Cada situação ocorrida ao longo deste primeiro livro é totalmente verossímil. Sou capaz de imaginar uma situação destas. Não é como em um livro de fantasia em que os personagens invocam bolas de fogo ou em contos de terror onde são realizados rituais exóticos. Já havia dito isso sobre Carrie: o que amedronta em Stephen King é sua imensa capacidade de mostrar o real. De construir personagens que podemos encontrar no supermercado ou na padaria. Não são personagens fantásticos com habilidades excepcionais, mas homens comuns diante de uma situação extrema.

King brinca um pouco com o tema da força da natureza. Como o homem brincou de ser Deus, usando a ciência para manipular forças além de sua compreensão. Veremos muito esse tema nos próximos dois livros, mas aqui King dá uma pitada daquilo que ele pretende a seguir. Vemos a queda da civilização que, diante de uma força incontrolável, nada pode fazer. Alguns tentam passar os últimos momentos com seus entes queridos, outros se voltam para a selvageria enquanto alguns se escondem para morrer em sua privacidade. Aqueles que sobrevivem observam atônitos a tudo o que acontece e se encontram nas raias da loucura. King descreve algumas situações de forma assustadora como o pai de família que vê sua mulher e suas quatro filhas morrerem uma a uma ou a jovem grávida que se sente aliviada quando o marido morre e seu bebê (o qual ela nunca quis ter) também padece diante da doença, mas esta morre trancada em um frigorífico porque esqueceu a chave em casa. Certas situações demonstram a natureza do homem. Claro que não podemos generalizar tudo, mas muito assusta quando situações tão verossímeis acontecem.
Nesse cenário de queda da civilização, aparecem nossos personagens: Stu Redman, Larry Underwood, Frances Goldsmith, Lloyd Henreid e o Homem da Lata de Lixo. Cada um deles reage de forma diferente à difusão da doença. Stu é o típico cara durão do interior tentando saber o que aconteceu com seus amigos após serem levados pelo governo a uma instalação secreta; Larry é um cantor famoso que cai nas drogas e no álcool e se vê devendo a um fornecedor de drogas e agora tenta se redimir buscando ajuda com sua mãe; Frances é uma forte mulher que dá a notícia de sua gravidez a um namorado tolo que não sabe o que fazer diante da nova situação; Lloyd e seu parceiro Poke são dois bandidos tocando o terror nas cidades de Utah até que Poke perde a cabeça e começa a pokerizar as pessoas, levando-os à prisão; e o Homem da Lata de Lixo é um piromaníaco lunático que não conseguiu seu lugar na sociedade.
Todos estes personagens se encontra em uma rota de colisão com o extremo: como sobreviver em uma sociedade que caminha para sua destruição? O que virá depois? Por que sobrevivi? Flagg é uma presença tão assustadora que ninguém ousa cruzar o seu caminho. Nesse ponto eu posso depreender duas ideias básicas colocadas por King:
a) O funcionamento de uma ditadura. Flagg governa de maneira firme e aplicando sua justiça à moda antiga. Em um primeiro momento a gente até simpatiza com as atitudes de Flagg quando ele diz estar abolindo o excesso de bebida e o consumo de drogas. Realmente, pessoas sóbrias são mais eficientes. O problema é quando aparece a maneira como ele faz isso: o uso da lei de talião. O segundo e o terceiro livros transbordam referências bíblicas e esta é apenas mais uma delas. Quer outra? Crucificar os inimigos. Através da crucificação em praça pública, Flagg atingia dois objetivos: amedrontar uma possível oposição e dar à população o pão e circo. Quando Flagg realiza a execução de Larry e Ralph mais tarde na história, vemos a população em polvorosa. A loucura alucinada nos olhos, o desejo de sangue. Olhando à distância parece que jamais seríamos capazes de fazer isso ou que estas pessoas são malvadas e cruéis. Nada disso; nada é tão humano quanto isso. Alguém vai questionar um plebeu do Império Romano que juntou todas as suas economias para assistir judeus sendo devorados por leões no coliseu? Ou até de franceses pobres que se juntam próximo à Bastilha para assistir a um enforcamento no século XVIII? A violência e a sede de sangue fazem parte do espírito humano. Só que hoje nós somos limitados por uma série de convenções sociais. Retire essas convenções sociais e o que sobra? Sei que estou sendo bastante radical na minha análise social, mas a história da humanidade prova isso em muitos momentos.

b) O poder das aparências. Flagg só foi capaz de manter o controle enquanto ele mesmo tinha controle sobre si mesmo. Quanto mais os planos de Flagg foram perdendo o controle, mais a população desconfiava de suas atitudes. Basicamente é como Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto todas as suas ações saíam vencedoras, ele era tido como um deus. Mas, quando a sua sanidade correu por uma linha tênue e ele começou a tomar ações que mesmo os seus generais diziam que eram perigosas (como a campanha contra a URSS), o próprio exército alemão percebeu a iminente derrota. Flagg pôs tudo a perder quando ficou obcecado pelos espiões de Boulder. Ações alucinadas como o interrogatório de Dayna e o suicídio de Nadine colocaram a tampa no caixão de Flagg. Quando o Homem da Lata de Lixo retorna com uma bomba nuclear, essa foi a gota d’água. O poder de um ditador está em sua capacidade de enfeitiçar as pessoas, sejam com a sua intimidação, o seu carisma ou o puro medo.
Não posso esquecer aqui de falar de Tom Cullen. Muito interessante a maneira como King imaginou o retardamento de Cullen. Apesar de sua deficiência, ele era um dos mais geniais dentre os aliados de Boulder. Era aquele que a gente menos esperava que pudesse dar um herói. Claro, achei a ideia da hipnose uma forçação de barra. Ok, eu admito isso. Mas, as forças do bem nesse tipo de história voltada para uma forte religiosidade geralmente escolhem pessoas sofridas. É algo do Antigo Testamento bíblico: aquele que deseja encontrar a luz precisa passar por toda uma vida de sofrimentos antes de transcender. Mãe Abagail precisou ir ao deserto para receber a iluminação divina e passar a seus aliados a maneira de derrotar Flagg. Nick Andros, um daqueles escolhidos a dedo por Mãe Abagail era surdo-mudo e já havia passado por poucas e boas antes de chegar a Boulder e ser sacrificado pela causa. Cullen sofria de um retardamento severo. A visão de mundo dele é curiosa e King apresenta bem isso. Uma pessoa com retardamento possui muitos pontos de vista diferentes; a própria maneira de ele se comunicar com as pessoas e se relacionar com o mundo é diferente. Os poucos capítulos com o ponto de vista dele são interessantes.
O mal sempre vai existir enquanto houver maldade no coração das pessoas. Mesmo que estas tenham passado por muito sofrimento e mortes. Sempre existirão pessoas que desejam o mal a outras. Flagg é imortal porque ele existe no fundo do coração de todos nós. A luta entre o bem e o mal é eterna e é isso o que nos faz humanos. Cabe a cada um de nós não ceder diante do que a vida nos apresenta. Se dermos espaço para que um pequeno facho de trevas entre, estamos perdidos. A redenção é um longo e tortuoso processo.


Ficha Técnica:
Nome: A Dança da Morte
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Terror
Tradutor: Gilson Soares
Número de Páginas: 1248
Ano de Publicação: 2013
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Só uma duvida que queria tirar:
Se esse livro fosse completamente adaptado pra uma serie trazendo os diversos capitulos das 3 primeiras partes da trama principal quanto das diversas histórias secundarias e até terciárias,seria material suficiente pra mais de uma temporada?
Cheguei a umas 300 páginas e estou fascinado com a leitura. Muito imersiva e coerente e o mais impressionante é a maneira como fico curioso a página página que se vira. Fiquei receoso com o início da leitura porque tenho certo pré conceito a livros muito grandes com a ideia de que são estórias arrastadas e cansativas mas até onde estou, confesso que estou surpreendido. Torcer para que a minha empolgação inicial não se transforme em uma enorme frustração. Apesar de não ter conferido toda a resenha, agradeço pela indicação de que é uma grande obra, pois no fundo foi isso que eu vim buscar na internet. Grato 😄