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Resenha: "A Curva do Sonho" de Úrsula K. Le Guin

George Orr está buscando ajuda com o doutor Haber, um especialista em sonhos. Seu problema é que seus sonhos se tornam realidade. Não, não são previsões... eles são reais. A partir daí, Haber vai tentar usar os sonhos de Orr para moldar o mundo à sua maneira.


Sinopse:


Em um mundo assolado por instabilidade climática e superpopulação, George Orr, um cidadão pacato e mundano, descobre que seus sonhos têm o poder de alterar a realidade. Quando acorda, o mundo que conhecia tornou-se um lugar estranho, quase irreconhecível, em que apenas ele tem a memória de como era antes.


Sem rumo, ele busca a ajuda do Dr. William Haber, psiquiatra que logo deixa de lado o seu ceticismo e entende o poder que George possui, transformando-o em um peão de um perigoso jogo, em que o destino da humanidade fica mais ameaçado a cada instante.


Tão relevante para o mundo atual quanto era ao ganhar o prêmio Locus (1972), esta história de Ursula Le Guin é um verdadeiro clássico, profético e ferozmente inteligente.




Sonho ou realidade?


A Curva do Sonho é um livro que foi escrito na década de 1970. Mas, sua narrativa continua a ser muito atual. Vejam alguns dos temas trabalhados ao longo da narrativa: mudanças climáticas devido à poluição, efeito estufa, alterações ambientais (apesar de que em algumas coisas, a Úrsula errou mostrando uma terra ora gélida, ora desertificada), aumento demográfico de forma explosiva, falta de saneamento básico (retorno de doenças como escorbuto e tifo) entre outros. Le Guin nos apresenta um cenário que, mesmo mudando, nos mostra uma Terra assolada pelos problemas que os próprios seres humanos criaram. Ela consegue ser clássica na escrita e atual na abordagem ao mesmo tempo.


"[...] As coisas não precisam ter um propósito, como se o universo fosse uma máquina na qual cada parte tem uma função útil. Qual a função de uma galáxia? Não sei se nossa vida tem um propósito e não acho que isso tenha importância. O que importa é que somos um componente. Como um frio no tecido ou uma folha de relva no campo. A relva existe e nós existimos. O que fazemos é como o vento soprando a relva."

O tema principal da narrativa é o sonho. George Orr, o protagonista é alguém que tem sonhos que moldam a realidade. Não é que seus sonhos preconizem coisas; significa que o que ele sonha é real. O cenário se adapta àquilo que ele coloca em sua mente. O médico que o atende, um especialista em sonhos, logo percebe as possibilidades das habilidades de Orr, embora mantenha um certo nível de incredulidade. O doutor Haber vai buscar formas de usar os sonhos como uma maneira de tornar o mundo melhor. Claro que esse ideal nobre rapidamente vai se tornar algo egoísta já que a visão de mundo melhor é a visão de Haber, sua perspectiva. Tem um certo momento na narrativa, lá por uns dois terços, em que percebemos o quanto Haber foi longe demais. E é quando o seu sonho de justiça se torna um pesadelo.


Ficamos o tempo todo querendo que Orr saia dessa situação, se rebele contra Haber ou faça alguma coisa. O problema é que a personalidade do protagonista é fraca e submissa. Ele quer apenas se livrar do problema e vai sendo enredado pela personalidade manipuladora do médico. Em vários momentos onde lhe é colocada uma escolha, ele acaba não escolhendo. Prefere apenas atender os ditames de Haber. Para isso, ele usa inúmeras justificativas: as chantagens de Haber, o fato de ele querer ficar melhor, ou que o tratamento está funcionando mesmo que Haber esteja se aproveitando disso. Tudo não passa de uma mentira, de uma maneira que o protagonista faz para convencer a si mesmo de que não precisa agir.



Parecido, porém diferente


Le Guin usa como cenário o nosso próprio planeta. Mas, ela aproveita as habilidades oníricas de Orr para fazer diversas brincadeiras geopolíticas. Isso, de acordo com os anseios do personagem, Por exemplo, a autora nos apresenta um massacre de brancos na Europa por conta de preconceitos, ou uma possível aliança entre Afeganistão e Brasil para dominação global. Mais tarde isso vai ampliando com as alterações climáticas e o desaparecimento de cidades costeiras. Repito: vale a pena perceber o quanto a autora preconizou determinadas questões. E estamos falando da década de 1970 quando efeito estufa e aquecimento global faziam parte apenas de discussões entre acadêmicos considerados loucos e alarmistas.


"Por que esse dom foi dado a um tolo, passivo, uma nulidade de homem? Por que Orr estava tão seguro e tão certo, enquanto o homem forte, ativo, confiante estava impotente, forçado a tentar usar, até mesmo a obedecer, aquela ferramenta fraca?"

À medida em que a narrativa vai passando, Haber vai justificando suas ações, mesmo elas mexendo com a geopolítica de uma maneira irreversível, como algo necessário. Que Orr possuindo tamanho poder tinha o dever de alterar a realidade para algo mais justo. Mas, será mesmo? O propósito do homem é alterar a realidade a seu bel prazer? Pontuo isso porque existe toda uma linha filosófica que entende a realidade como sendo algo único e individual. Cada um de nós enxerga um universo só nosso. A percebemos de acordo com nossas concepções e bases fundamentais. Hayden White vai ainda mais longe dizendo que não há história, mas percepção de realidade. O que eu percebo não é o mesmo que o fulano do meu lado percebe. Com isso, a própria ideia de contar a história de uma civilização não passaria de uma falácia.


Ao mesmo tempo em que pensamos fundamentalmente em se devemos ou não mudar a realidade, qual é a nossa responsabilidade se algo sair errado? A advogada Heather se depara com esse dilema mais tarde quando entende a amplitude da habilidade de Orr. Sua mente não consegue absorver o real significado disso. É algo tão grande que ultrapassa a sua própria concepção de mundo. A princípio, a personagem não aceita, mas pouco a pouco ela vai lidando com os seus sentimentos e percebendo todo o perigo caso uma habilidade dessas caia nas mãos erradas. Então, de um lado temos uma discussão sobre a moralidade do ato e logo a seguir a responsabilidade do emprego do mesmo.


"Uma pessoa que acredita, como ela, que as coisas se encaixam, que há um todo do qual se é uma parte, e que, ao ser parte, se está inteiro; essa pessoa não tem o desejo de, em um momento qualquer, brincar de Deus. Só quem nega o próprio ser anseia por brincar de Deus."


Imaginaríamos logo de cara que um dos principais objetivos com o uso dos sonhos de Orr seria o de acabar com a violência e as guerras. E é uma das primeiras coisas que Haber tenta fazer. Mas, ele esbarra em um problema fundamental: Orr não consegue nem sonhar com um mundo sem guerras. Caio em outra questão: seria o ser humano uma criatura programada para lutar uma contra a outra? Mesmo quando a dinâmica muda na segunda metade da história, Orr continua a colocar os homens uns contra os outros. Por mais ridículo e pequeno que fosse o motivo. Imagino o quanto de discussão é possível entender a partir disso já que o ser humano é quase um parasita em seu próprio planeta. Absorvemos todos os recursos naturais e não devemos quase nada de volta. Matamos por esporte ou por prazer e quase nunca por sobrevivência. É quase como se Le Guin dissesse que temos um gene para a violência embutido em nosso DNA.


A medusa social


Já que não é possível acabar com todas as guerras, será possível acabar com todas as diferenças sociais? O fim dos preconceitos? E se todos tivessem a mesma cor de pele? Será que assim acabaríamos com todos os problemas? Le Guin dá uma bela resposta a essa questão e o que eu entendi de como ela pensa é que as características fenotípicas acabam por constituir nossa personalidade. Todas as questões referentes a cor de pele, ao preconceito inerente a isso e à desigualdade social acaba formando indivíduos muito distintos entre si. E, mesmo algumas semanas depois de ter terminado a leitura, eu ainda não consegui descobrir se eu concordo ou não com a afirmação da autora. Ela realmente me pegou de um jeito que eu fiquei sem resposta. O que vocês acham?


Mas, uma coisa que eu posso responder é outro questionamento que ronda a mente de Orr por boa parte da narrativa. A vida é estabilidade ou mudança? Desejamos ser pessoas acomodadas em um lugar pacífico ou ansiamos pelo caos e pelo conflito? Na minha visão, o homem é um ser em constante metamorfose. Ele não se contenta com o básico; este elimina sua capacidade de evolução. Seres humanos acomodados acabam por serem pessoas insatisfeitas ou infelizes. É curioso se pensarmos que sempre desejamos ver finais felizes em nossos filmes favoritos. Mas, nós mesmos não desejamos um final feliz. Ansiamos sempre por novos desafios que se apresentem perante nós. Mesmo que não digamos em alto e bom som, nosso inconsciente acaba criando as possibilidades para esses conflitos acontecerem.



Seja a escolha a estabilidade ou o conflito, todos mundos buscamos alcançar um equilíbrio. Em quase todas as acepções de mundo no futuro, sempre vemos os seres humanos buscando a unidade, procurando fazer parte do todo. Quem sabe até encarar o fato de que talvez nosso planeta seja uma entidade viva por si só e possua uma alma. Então como nos relacionar com um ser de proporções planetárias? Teremos essa capacidade em algum momento?


"O jogo da forma, do ser, é o sonho da substância. Rochas tem seus sonhos, e a terra muda... Mas quando a mente se torna consciente, quando a taxa de evolução acelera, daí é preciso ter cuidado. Cuidado com o mundo. É preciso aprender o caminho. Aprender as habilidades, a arte, os limites. Uma mente consciente deve ser parte do todo, intencional e cuidadosamente... como a rocha faz parte do todo sem se dar conta."

A Curva do Sonho é um clássico do gênero, contendo todo o talento de Le Guin para compor uma narrativa instigante e reflexiva. Ela nos coloca diante de um emaranhado de possibilidades através de um personagem fraco e submisso que precisa, de alguma maneira, virar o jogo caso queira sair da situação em que ele se encontra. Ao mesmo tempo ele vai se questionando sobre qual é o seu papel no universo e por que ele foi dotado de uma habilidade tão poderosa. Ah, sobre a medusa na capa... Existe uma explicação dada quase no finalzinho da narrativa. Vou ficar quieto e deixarem vocês explorarem-na. Ela é bem curiosa. Recomendo demais esse livro não só por ser da Le Guin, mas por ser uma ótima ficção científica.



Ficha Técnica:


Nome: A Curva do Sonho

Autora: Úrsula K. Le Guin

Editora: Morro Branco

Gênero: Ficção Científica

Tradutora: Heci Regina Candiani

Número de Páginas: 224

Ano de Publicação: 2019


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*Material enviado em parceria com a editora Morro Branco





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