A busca de um homem por uma lendária cidade depois do pôr do sol o levará aos recantos mais sombrios do mundo dos sonhos. Randolph Carter irá conhecer de perto males ancestrais.
Sinopse:
A busca onírica por Kadath pertence ao Ciclo dos Sonhos e é protagonizada por Randolph Carter, o alter ego de Lovecraft. Depois de sonhar com uma fabulosa cidade ao pôr do sol e de acordar sem ter contemplado a grandeza do maravilhoso panorama criado por sua fantasia, Carter pede a permissão dos deuses da terra para visitar a cidade. Para cumprir a jornada, ele mergulha no mundo dos sonhos e empreende uma jornada repleta de perigos em busca de Kadath. A novela nasceu durante o embarque de Lovecraft em seu período declaradamente "dunsaniano", devido às peças de teatro e obras de fantasia do irlandês Edward John Moreton Drax Plunkett, mais conhecido como Lord Dunsany. O autor de A busca onírica por Kadath maravilhou-se ao perceber inúmeras semelhanças estilísticas e temáticas entre as obras do barão e seus próprios escritos incipientes — semelhanças entre as quais se encontrava "a incrível aptidão para criar nomes próprios musicais, atraentes e maravilhosos" que mais tarde atribuiria ao fantasista irlandês.
Essa não é a minha primeira experiência com Lovecraft. Já havia lido O Chamado de Cthulhu em outra oportunidade e a história também não havia batido com o meu gosto literário. Sofri até mesmo com o estilo de escrita que fez com que um conto simples demorasse muito mais tempo para mim. Enfim, antes de lerem a minha resenha, saibam que ela foi afetada demais pela minha experiência de leitura que foi péssima. Em nenhum momento eu me senti à vontade lendo o autor. Não sei responder se foi a escrita do autor mais antiga (apesar de eu adorar histórias góticas... Mary Shelley é uma das minhas autoras favoritas), se foi a tradução que não estava boa ou se eu não estava em um bom momento para ler este livro. Ou uma conjunção de fatores.
A resenha que segue é apenas da novella A Busca Onírica por Kadath. Pretendo fazer uma outra postagem falando sobre os contos que estão nesta edição da Hedra.
O autor nos apresenta um personagem que segue uma busca por uma cidade mítica após um lugar chamado Kadath, onde vive um terror antigo. Somos guiados pelo personagens por lugares assustadores onde criaturas como gugs, ghouls e shantaks habitam a cada esquina. Ou seja, estamos diante de uma jornada fantástica onde somos apresentados a esses lugares e o autor aproveita para construir a mitologia por trás de seu mundo. Ao longo do percurso o protagonista passa por uma série de dificuldades e precisa ultrapassar diversos obstáculos. O que podemos ver no romance é um enredo de uma jornada por um lugar obscuro e repleto de perigos, algo que estava bem na moda na época em que Lovecraft publicou a novelleta. Jules Verne já havia tentado isso em obras Viagem ao Centro da Terra. A diferença é que o autor inseriu elementos de terror e abstração ao que experimentávamos durante a narrativa.
A ambientação é criada de forma a causar confusão no leitor. Por se tratar de um lugar onírico, um mundo dos sonhos, tudo é criado com algum tipo de simbologia ou significado ulterior. Então, por exemplo, nós encontramos os ghouls que são criaturas corcundas que devoram os mortos, os noctétricos, criaturas voadoras que levam suas presas até o seu amo, um dos Outros Deuses. Sejam as catacumbas que ficam nos planos inferiores, à planície de Leng ou até o palácio de ônix, tudo tem algum tipo de significado: medo, pavor, morte, terror, apreensão. Símbolos esses representados pelas criaturas com quem Carter interage ou os lugares que ele percorre. Ao mesmo tempo em que a ambientação é muito boa, eu a achei confusa. Ao longo de toda a narrativa, o autor se perde remetendo momentos da jornada do personagem a histórias insólitas deste mundo onírico. Cita lugares e pessoas, sem termos tempo de nos acostumarmos à sua escrita ou à jornada de Carter. Em vários momentos, algo que era para ser uma descrição de uma situação ou de um acontecimento se torna um fluxo de pensamento enlouquecedor do qual vamos levar várias páginas para nos recuperar. E todas essas referências em nada contribuem com a jornada do personagem.
A escrita de Lovecraft é feita em terceira pessoa a partir do ponto de vista do Carter. Acompanhamos sua jornada como se fôssemos seus olhos e observássemos suas ações. Estamos diante de um discurso indireto onde não há diálogos, salvo em alguns momentos em que ele cita determinadas falas (ele vai citar algumas lá no final). A novelleta não tem separações ou subseções, sendo um romance escrito de forma direta. Isso me incomodou porque acaba não criando espaço para o leitor respirar um pouco antes de continuar a trama. Não temos separações de cena, ou trocas de ângulo. São 118 páginas de escrita pura, descritiva e direta. Para mim, apesar de ser um romance pequeno, foi bem cansativo. Uma escrita bem pesada e carregada; nesse sentido não sei dizer se se trata da escrita do próprio Lovecraft ou da tradução. Até penso em pegar a tradução da DarkSide para saber se existe alguma diferença entre versões.
Não há bem uma construção de personagem. O que vemos é que o protagonista não muda muito ou se desenvolve ao longo da narrativa. Isso não é uma falha, já que a proposta das narrativas de jornada é apenas apresentar a jornada em si. Nos escritos contemporâneos é que a ideia de jornada se confundiu com a noção de jornada do herói. Quem ler qualquer romance de Jules Verne vai se tocar desse detalhe: os personagens não evoluem psicologicamente, sendo apenas a sua jornada que chega ao fim de alguma forma. Por outro lado, Carter segura bem a trama em torno de si e até vemos a presença de algumas menções feitas a outras histórias e contos de Lovecraft como o fato de Carter ter salvado um gato em outra história, ou o encontro com Pickman, personagem oriundo de outro famoso conto do autor, O Modelo de Pickman.
Enfim, eu espero que os fãs do autor não fiquem chateados comigo. É simplesmente que a narrativa não funcionou para mim. O motivo não vou saber dizer. Eu queria aquela sensação de medo e apreensão que vemos em outras histórias como O Chamado de Cthulhu ou o pavor cósmico de O Modelo de Pickman. Tal não se sucedeu aqui e admito que foi uma leitura bem arrastada. Não recomendo o conto para quem quer começar a ler Lovecraft. Para tal existem histórias mais acessíveis como Nas Montanhas da Loucura ou O Terror que Veio do Espaço.
Ficha Técnica:
Nome: A Busca Onírica por Kadath
Autor: H.P. Lovecraft
Editora: Hedra (no Brasil)
Gênero: Terror
Número de Páginas: 170
Ano de Lançamento: 2008 (no Brasil)
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O cara do "Sandman"né. Tá na hora de largar o Stephen King...
Cara, ele criou do nada um Universo de pesadelo! Celephais tem a ver com essa história, é mais curta e "palatável". O estilo às vezes enche o saco mesmo, mas não há autor que se compare a ele. Isso não é um elogio, muito menos uma crítica. Lovecraft é singular e acho que o fato de ele ter sido resgatado após décadas diz muito sobre nossos tempos.