Hora de fazer aquela minha listinha daquilo que mais curti no ano que se passou. Um ano que começou devagar para mim, mas que no final teve uma série de leituras incríveis. Sem mais delongas, seguem as cinco melhores leituras, sem ordem de importância.
1 - "Cidades Afundam em Dias Normais" de Aline Valek
Ficha Técnica:
Nome: Cidades Afundam em Dias Normais
Autora: Aline Valek
Editora: Rocco
Número de Páginas: 256
Ano de Publicação: 2020
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Sinopse: Da mesma autora de “As águas vivas não sabem de si”. Alto do Oeste é uma cidade no meio do Cerrado, que, no início desse século, afundou inexplicavelmente dentro de um lago. Apesar de insólita, essa submersão foi acontecendo de forma lenta e gradual, de modo que também foi aos poucos que seus habitantes foram “expulsos” pelo avançar das águas e obrigados a abandonar à cidade. Anos depois, uma seca extrema no cerrado voltou a revelar Alto do Oeste, e todos os resquícios da vida das pessoas daquele lugar antes da inundação vieram à tona novamente, como se fossilizados pelo barro que agora encobre todas as coisas. Ao saber da notícia, Kênia Lopes, uma antiga moradora da cidade, decidiu que precisava fotografar as ruínas, como se em busca da resposta para uma questão jamais respondida: o que faziam os moradores enquanto aquele pequeno apocalipse se aproximava?
Opinião: Ao longo do ano de 2023, comecei a ler vários livros ligados à temática ambiental devido ao meu envolvimento no clube de leitura do Filamentos, que tem a curadoria da autora Ana Rusche. E essa foi uma destas leituras. O que Aline faz neste livro é digno de nota porque ela nos coloca em uma cidade em que as vidas são alteradas completamente por conta de um fenômeno insólito de afundamento da cidade. Não descobrimos o motivo para isso estar acontecendo. E o objetivo da narrativa nem é esse. Valek escreve uma boa história de realismo mágico em que o que importa é a vivência de pessoas como Kênia cuja história passeia por passado e presente. Ela se recorda de sua infância e de sua vida neste lugar tão diferente. O leitor vai se deliciar com a história de Erica e Kênia, melhores amigas no passado, e ficar curioso em saber o que aconteceu com elas. Facundo, o fotógrafo, nos traz para o presente onde ele registra as memórias das pessoas que ali viveram e tentam resgatar o pouco que ainda está acima da água. Esse é aquele livro para se ler com calma, apreciar as nuances da escrita da autora, viver junto com os personagens e se emocionar com suas histórias. É aquele livro que aquece nossos corações.
2 - "Love will tear us apart" de Fábio Fernandes
Ficha Técnica:
Nome: Love will tear us apart
Autor: Fábio Fernandes
Editora: Uboro Lopes
Número de Páginas: 178
Ano de Publicação: 2022
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*Material recebido em parceria com o autor
Sinopse: Ian acordou no cemitério. Não era um cemitério qualquer. Era uma necrópole, no sentido mais exato da palavra: uma cidade dos mortos. Lápides e monumentos para todos os lugares onde a vista alcançava. Ao longe, campos gramados com lápides de pedra antigas. Para outro lado, mausoléus imensos. Para outro lado ainda, prédios que lembravam pirâmides astecas, com terraços onde Ian conseguia ver reentrâncias que se assemelhavam a gavetas onde caberiam caixões ou talvez jarros com cinzas.
Opinião: Fábio Fernandes é um daqueles autores que gostam de testar os limites que a escrita literária apresenta. Seja brincando com as formas de escrita, seja criando algo transmídia, ou dobrando o espaço narrativo. Nesta história acompanhamos Ian Curtis, o rosto por trás da banda Joy Division. Mas, e se essa for apenas uma entre múltiplas possibilidades? E se em algum outro lugar de uma dimensão paralela, ele tivesse sido um vendedor de pizza ou um corretor imobiliário? Quantas vezes nos pegamos pensando nos rumos que nossas vidas teriam tomado caso tivéssemos feito outras escolhas? Sei disso porque sou um homem de quarenta anos que vez ou outra reavalio minhas decisões e minhas escolhas. Sou confrontado pelos meus erros, busco refletir sobre o que acertei. E é um pouco disso que Fábio nos faz aqui. Além disso, ele nos coloca uma bela de uma trilha sonora para acompanhar essa leitura. Vá por mim: faça sua playlist com as músicas do Joy Division e só curta.
3 - "Memories of Ice" (O Livro Malazano dos Caídos vol. 3) de Steven Erikson
Ficha Técnica:
Nome: Memories of Ice
Autor: Steven Erikson
Série: O Livro Malazano dos Caídos vol. 3
Editora: Forge
Número de Páginas: 925
Ano de Publicação: 2006
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Outros volumes:
Sinopse: O continente devastado de Genabackis deu origem a um terrível novo império: o Pannion Domin. Como uma onda de sangue corrompido, ela se espalha por todo o continente, devorando tudo. Em seu caminho se põe uma aliança instável: o exército de Umbraço e os Queimadores de Pontes de Whiskeyjack junto de seus antigos inimigos - mas forças do Senhor da Guerra Caladan Brood, Anomander Rake e seus magos Tiste Andii e o povo Rhivi das planícies.
Mas mortos-vivos antigos também estão se reunindo: os T'lan Imass ressurgiram. Porque parece que alguma coisa tanto sombria como maligna ameaça este mundo. Rumores chegam de que o Deus Aleijado agora se libertou e está disposto a realizar uma terrível vingança.
Opinião: Isso aqui é o puro suco da fantasia. Erikson impressiona por nos mostrar uma fantasia adulta, que não teme entrar em assuntos polêmicos, em colocar os personagens em situações impossíveis. Continuo repetindo que Erikson trata o leitor com maturidade, não desafia a inteligência do autor. Quem já se acostumou com a escrita dele no segundo volume, não vai ter qualquer dificuldade neste terceiro volume. Talvez o que impressiona é a quantidade de coisas acontecendo e o quanto essas coisas se emendam e se ligam para criar conexões e consequências que só serão sentidas nos próximos volumes. Estou lendo o quarto volume e tem pequenas coisas que se sucederam nos volumes anteriores que acabam afetando a construção de mundo e o desenvolvimento de certos personagens (falo do estranho Toblakai que segue Felisin no segundo livro, por exemplo, ou as maquinações do Deus Aleijado que só terão efeito lá pelo décimo livro). Essa é uma narrativa sobre pessoas, e Erikson vai abordar, às vezes, o ponto de vista daqueles que estão no chão, lutando nas batalhas. Como é o caso de Itkovian, um homem que é o representante de Fener na cidade ameaçada pelo Vidente Pannion ou dos Queimadores de Pontes (principalmente os secundários) que revelam suas ansiedades e medos antes de uma batalha. Este segundo volume é bem cruel, com um exército de civis que são transformados em canibais por um fanático religioso que leva todos à loucura. Os combates são sangrentos e brutais.
4 - "O Caminho dos Reis" (Os Relatos da Guerra das Tempestades vol. 1) de Brandon Sanderson
Ficha Técnica:
Nome: O Caminho dos Reis
Autor: Brandon Sanderson
Série: Os Relatos da Guerra das Tempestades vol. 1
Editora: Trama
Tradutores: Pedro Ribeiro e Paulo Afonso
Número de Páginas: 1240
Ano de Publicação: 2022
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Sinopse: Do autor best-seller n.º 1 do “New York Times” Brandon Sanderson, “O caminho dos reis”, o livro mais aguardado de todos os tempos, chega ao Brasil iniciando uma incrível saga épica. Roshar é um mundo de pedras e tempestades. Essas estranhas tormentas, de incrível poder, varrem o terreno rochoso com tanta frequência que terminaram moldando não apenas a ecologia, mas também a civilização. Animais que se escondem em conchas, árvores de galhos rígidos e uma vegetação que se retrai e se revela. As cidades só podem ser construídas onde a topografia oferece abrigo. Já se passaram séculos desde a queda das dez ordens conhecidas como os Cavaleiros Radiantes, mas suas Armaduras e Espadas Fractais permanecem: objetos místicos que transformam seres comuns em guerreiros praticamente invencíveis. Homens dão seus reinos em troca das Espadas Fractais. Guerras são travadas por elas, e são elas que garantem a vitória. Uma dessas guerras ocorre em uma paisagem inóspita conhecida como Planícies Quebradas. Lá, Kaladin, que abandonou seus estudos de medicina em troca de uma lança para proteger seu irmão mais novo, foi reduzido à escravidão. Agora, em meio a um conflito que parece não fazer sentido, no qual dez exércitos lutam isoladamente contra um único inimigo, Kaladin busca manter seus homens enquanto sonda os outros líderes. O Luminobre Dalinar Kholin comanda um dos exércitos. Assim como seu irmão, o falecido rei, ele é fascinado por um texto antigo chamado “O caminho dos reis”. As visões dos tempos antigos e dos Cavaleiros Radiantes o fazem duvidar até da própria sanidade. Do outro lado do oceano, a jovem Shallan, ainda inexperiente, procura realizar seu treinamento com a Luminosa Jasnah Kholin, a sobrinha herege de Dalinar. Embora aprecie o aprendizado, a motivação de Shallan não é tão nobre assim. Enquanto planeja um roubo um tanto ousado, a pesquisa que faz para Jasnah sugere segredos dos Cavaleiros Radiantes ― e a verdadeira causa da guerra. Após mais de dez anos de planejamento e construção deste universo único, “O caminho dos reis” é o fantástico capítulo de abertura de Os Relatos da Guerra das Tempestades, uma obra-prima de grande magnitude que continua a ser elaborada. Volte a dizer os antigos juramentos: Vida antes da morte. Força antes da fraqueza. Jornada antes do destino. E devolva aos homens os Fractais que outrora portaram. Os Cavaleiros Radiantes devem se erguer novamente.
Opinião: Sem dúvida alguma é aqui que Sanderson coloca todas as suas fichas. É uma obra de fôlego em que o escopo das coisas é muito grande. O mundo que ele criou é cheio de nuances e detalhes que não vemos, por exemplo, no mundo de Mistborn, outro de seus romances. Muitos mistérios aguardam os leitores, mas o que mais me agrada é como ele vai construindo e desenvolvendo os seus personagens pouco a pouco. Seja Dalinar, o general poderoso que precisa lidar com uma conspiração que existe dentro do seu regimento e contra uma guerra a qual ele não compreende. Ou Shallan e sua curiosidade acadêmica, precisando mentir (algo no qual ela não é lá muito boa) e nos ajuda a dar uma ciência maior sobre os poderes que existem neste lugar e as escalas dos eventos que se aproximam. Ou de Kaladin, um dos personagens favoritos de muitos leitores, que escava sua história desde o seu aprisionamento ao desespero de fazer parte de uma equipe de transportadores de pontes que só tem a certeza da morte. E que descobre em uma espreno especial o caminho para a esperança. Dá para entender por que os leitores gostam tanto do autor. Tem o sistema de magias que sempre atrai aqueles que gostam de mecânicas e regras diferentes para pessoas atirarem bolas de fogo. Ou espadas mágicas capazes de destruir montanhas. O que fica, de verdade, é a diversão de ler uma história que me agrada.
5 - "The Lions of Al-Rassan" de Guy Gavriel Kay
Ficha Técnica:
Nome: The Lions of Al-Rassan
Autor: Guy Gavriel Kay
Editora: Voyager
Número de Páginas: 504
Ano de Publicação: 2005
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Sinopse: Os Asharitas governantes vieram das areias do deserto, adorando as estrelas, seu forte e puro instinto de guerreiros. Mas ao longo dos séculos, seduzidos pelos prazeres sensuais de sua nova terra, sua fé estrita erodiu. O império dos Asharitas foi dividido em cidades-estado decadentes liderados por chefes rivais.
O Rei Almalik de Cartada está em ascensão, adicionado cidade após cidade ao seu reino, mesmo que Cartada esteja ameaçada por forças tanto internas como externas. Almalik é auxiliado por seu amigo e conselheiro, o notório Ammar ibn Khairan - poeta, diplomata, soldado - até que em uma tarde de verão, um ato de brutalidade selvagem muda sua relação para sempre.
Enquanto isso, no norte, o líder Jaddita mais celebrado - e temido, Rodrigo Belmonte, é levado ao exílio após os eventos que levaram à morte do rei que ele tanto amava. Rodrigo lidera sua companhia de mercenários para o sul, para as terras perigosas de Al-Rassan.
Em Ragosa, uma exótica cidade à beira de um lago, Rodrigo Belmonte e Ammar ibn Khairan se encontram e servem - por um tempo - o mesmo mestre. Compartilhando o destino interligado destes dois homens de mundos diferentes - e cada vez mais dividida em seus sentimentos - está Jehane, a linda e bem sucedida médica da corte, cujas habilidades cumprem um papel cada vez mais importante quando Al-Rassan é levada à beira de uma guerra santa, e além.
Opinião: Vou continuar defendendo a publicação do Guy Gavriel Kay no Brasil por muito tempo. Editoras ficam lutando para publicar séries por aqui, e o autor escreve, em sua maior parte, livros de volume único. Molezinha de publicar e é uma fantasia muito bacana. Ele emprega cenários e momentos históricos que realmente existiram e cria em cima disso. Aqui estamos diante de um contexto que se assemelha às guerras entre os reinos de taifas que existiram no território ibérico durante o século XI. Um momento que levou à formação de reinos como Castela e Aragão e precedeu o que foi chamado como Guerra de Reconquista. Kay nos apresenta um mundo balançado de cabeça para baixo quando um rei é assassinado. A história nos é contada a partir de três protagonistas: Jehane, uma médica que vive em um gueto dentro da cidade de Fezana, dominada por um rei erudito; ibn Khairan é um espião, diplomata e poeta a serviço do rei Almalik que realiza um ato de extrema crueldade e provoca a saída dele e sua reflexão acerca de suas lealdades; e temos Rodrigo Belmonte, o cavaleiro honrado que serve a Jadd, um reino que se assemelha muito aos reinos dos francos na Idade Média. Rodrigo se envolve em um duelo pela honra e acaba sendo exilado por um tempo de Jadd e acaba se encontrando com ibn Khairan e nossa querida Jehane. Esse é um livro que fala sobre amor, sobre fé, honra, religião. E sobre como homens protegem aqueles que amam mesmo em situações impossíveis. É um livro que vai traçar vários paralelos com a nossa realidade e o autor deixa isso muito claro em suas páginas. Kay tem uma escrita elegante, uma construção de mundo que deixa qualquer um embasbacado de como ele consegue fazer isso em tão poucas páginas e uma narrativa emocionante.
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