Dez autores nacionais contam suas histórias sobre vampiros, os seres da noite que há séculos despertam o imaginário da humanidade.
Sinopse
Esqueça os vampiros românticos e que brilham na luz do dia. Esta coleção traz os vampiros como eles são de verdade, predadores noturnos e estão entre nós desde o princípio dos tempos: são dominadores, caóticos, monstruosos, sedutores, caçadores, inescrupulosos, bisbilhoteiros e únicos. Para conhecê-los, folheie as páginas deste tomo. A coleção possui prefácio e 10 contos de autores brasileiro, entre eles Giulia Moon e Nazarethe Fonseca.
Vampiros
O que é um vampiro? É muito difícil fugir dos estereótipos já tão marcados na cultura pop: o sobrenatural sedutor, o aristocrata isolado e misterioso, o caçador sanguinário, sempre incorporados numa figura de poder, de aparência humana dotada – geralmente – de grande beleza e força. A proposta da coletânea Vampiros é justamente desconstruir a figura do vampiro que habita a nossa imaginação e propor releituras dessas criaturas e suas narrativas. O resultado foi surpreendente, inovador na maior parte dos contos e muito interessante no geral.
Dos dez contos, vou manter o foco nos que, na minha opinião, merecem mais destaque, e pincelar alguns comentários sobre os demais. Preciso começar elogiando a iniciativa da coletânea, reunindo autores competentes e experientes em um esforço coletivo de soltar a imaginação para um tema tão tradicional. A organização está boa, mesmo os primeiros contos elevando as expectativas do leitor a tal ponto que os seguintes acabam freando o ritmo, e a revisão (mais em alguns contos do que em outros) precisa de uma atenção maior. Mas vamos ao conteúdo!
O Orquidófilo - Simone Saueressig
A autora mistura a essência da criatura com elementos originais, uma temática brasileira e um clima de suspense muito bem construído. Simone faz um trabalho surpreendente ao reinventar o vampiro utilizando suas principais características em livre associação.
Um pesquisador obcecado por uma espécie exclusivamente amazônica se embrenha na selva à sua procura. O ritmo da narrativa é quebrado por trechos do diário do explorador, mas tudo só contribui para criar uma atmosfera angustiante e maligna. A ambientação é impecável, a estrutura do conto é excelente; a escrita, enfim, é nada menos que surpreendente e estimulante. É de se reconhecer a habilidade e a experiência de Simone falando mais alto, evidenciadas pelo domínio da autora em nos conduzir tão bem Amazônia adentro.
Sangue e Poeira - Fred Furtado
Outra excelente narrativa, Sangue e Poeira contribui em elevar a expectativa para os demais contos. Segundo da coletânea, há uma construção evolutiva entre os quatro primeiros contos, nos levando a crer no alto nível das histórias apresentadas.
Fred Furtado cria em cima de elementos folclóricos, trabalhando mitos e medos comuns em regiões do interior do país para ousar em uma releitura criativa. Assolado pela degradação ambiental, um vilarejo vive o terror de ter seus habitantes mortos misteriosamente durante violentas tempestades de poeira. O autor permeia sua história com referências já conhecidas do leitor, mas funcionando de forma original e criativa quando unidas. O ritmo acelerado, especialmente durante as tempestades, deixa o conto palpável, alucinante e assustador. Sangue e Poeira é um dos contos mais imersivos da coletânea, proporcionando uma aura de terror incrível.
O Dia da Caça – Giulia Moon
Conhecida pelos seus vampiros e vampiras em histórias de conteúdo mais sedutor, Giulia Moon traz um elemento interessante aliado a narrativa de poder vampírico: perspectiva.
Os elementos clichês típicos do vampirismo estão presentes no conto de Giulia Moon como a vampira sexy, incrivelmente forte, poderosa e respeitada, a sociedade vampírica, a hierarquia, o alimento vital e tudo aquilo que conhecemos. Mas, ao passar a fala à presa, a autora inverte posições e inova jogando com o gênero survival. O leitor é conduzido por uma história intensa, muito bem contada e interessante, com um clímax incrível – e olha que estamos falando de um conto curto! O Dia da Caça abre a coletânea e imprime qualidade, ritmo e personalidade ao livro.
O Vampiro Cristão – Duda Falcão
Já pelo título o conto ganhou minha atenção. Duda Falcão explora a dualidade entre profano e divino e subverte conceitos clássicos de forma cômica e criativa.
O Vampiro Cristão é o tipo de conto com substância, cheio de conteúdo a ser explorado e muitas informações desvalorizadas pelo formato narrativo. A história desenvolvida por Duda Falcão é rica, a relação do vampiro com a fé, seus instintos e necessidades, seu domínio sacro-profano... são elementos que eu gostaria de ver esmiuçados em um romance. O único pecado do conto é, de fato, ser bom demais para restringir-se à poucas páginas.
Menções Honrosas
Apesar de um rol de melhores contos, a coletânea tem um nível geral acima da média. Isso se deve a contos muito bons, elevando a qualidade do livro, mesmo algumas histórias não sendo tão interessantes.
É preciso mencionar alguns outros contos nessa contribuição bem-vinda à coletânea. All In, do Alexandre Cabral, demonstra um domínio narrativo incrível em uma ótima história de pôquer, poder e sangue. Um tema um pouco batido para vampiros, girando em torno de magnatas entediados com seus séculos de vida, mas contada de um jeito empolgante. O único problema de All In, além da pouca inovação que eu esperava ver na coletânea, é o excesso de termos específicos do pôquer, área que eu confesso não ter muito conhecimento. Apostar numa linguagem de nicho é um risco.
A Fonte da Donzela, de Carlos Patati, é um belo convite a explorar minuciosamente o despertar de uma vampira e seu contato com a modernidade. O conto é lindo, expressivo, simbólico, cheio de referências a clássicos, como em Drácula. O autor descreve longamente o cenário e perpassa camadas inesperadas para um conto, construindo um background forte. No entanto, o autor acabou por se demorar demais nas descrições, levando o leitor a uma divagação um pouco incômoda. O ritmo é lento, mas a história compensa.
Por fim, mas não menos impressionante, Colonização, de Carlos Bacci, é uma história forte, de tom hostil, dominador. A estilística de Bacci fica evidente por sua personalidade e certeza nessa narrativa desconstruída. O conto flerta com a ficção científica e produz uma leitura dinâmica, interessante. O conteúdo não me convenceu tanto, mas a escrita merece o devido respeito.
O restante dos contos não conseguiu me agradar, pecando pelo abuso dos clichês e pela visão estereotipada dos vampiros, especialmente sexista no caso das vampiras. Não acho que esse tipo de história caiba numa proposta que preza pelo diferencial e, sobretudo, pela criatividade dos autores.
Vampiros é uma boa coletânea sobrenatural, cheia de narrativas singulares, criativas e estimulantes. Alguns contos se sobressaem, outros não são tão bons, mas nada que retire o prazer de ler boas histórias de terror.
Ficha Técnica:
Nome: Vampiros
Organizado por Duda Falcão
Série: Coleção Sobrenatural vol. 1
Editora: Avec Editora
Gênero: Terror
Número de Páginas: 208
Ano de Publicação: 2015
Link de compra:
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*Material enviado em parceria com a Avec Editora
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