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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Planeta de Lázaro" de Mark Waid, Riccardo Federici, Mike Perkins et al

Ao final da quarta edição de Batman vs Robin, o vulcão de Lázaro entra em erupção jogando resina dessa substância no ar e provocando efeitos adversos por todo o planeta. A magia e a ciência se tornam imprevisíveis, antigos inimigos voltam à vida ou ganham novos poderes. Tudo é o caos.

Atenção: também falaremos sobre Batman vs Robin 5


Sinopse:


Após os eventos explosivos (literalmente) de Batman vs. Robin 4, o vulcão de Lázaro entrou em erupção, expelindo substâncias químicas perigosas e transformadoras na atmosfera da Terra! À medida que essas nuvens de Lázaro chovem sobre o planeta, pessoas de todo o mundo começam a desenvolver novas habilidades estranhas, observam suas habilidades já extraordinárias mudarem e testemunham todo um caos diferente de tudo que o Universo DC já experimentou! Cabe a Damian Wayne fazer o pedido de socorro para quem ainda pode ouvi-lo: venha até as ruínas da Sala de Justiça e ajude a salvar o mundo! Hera Venenosa, Poderosa, Cyborg, Batman e muitos outros respondem ao chamado, mas por que o destino de toda a vida como a conhecemos pode estar nas mãos do… Príncipe Macaco?






Nosso querido Mark Waid decidiu inovar ao pensar o evento que sairia do final de Batman vs Robin. Ao invés de termos uma megassaga ou uma minissérie, o autor apresenta um acontecimento que ecoa por várias revistas. É como se o acontecimento em si ficasse no fundo e gerasse o enredo por trás daquela história. Logicamente que a história principal é contada, mas todos os outros capítulos são derivados disso. No papel, a ideia é boa. Na prática, é um caldeirão insano de coisas bem medianas para baixo, envolvendo personagens pouco relevantes para o universo DC. São mais de 150 páginas frustrantes da qual apenas 48 são realmente legais. Justamente aquelas cujo roteiro é feito por aquele que pensou a ideia. Fazer a resenha desse one-shot vai ser um intenso lenga-lenga de reclamações. Mas, prometo recompensar com a resenha da quinta edição de Batman vs Robin que é um epílogo para a minissérie e acontece depois desse especial.


Vou começar falando sobre a única coisa que presta neste especial, que é Planeta de Lázaro Alpha e Omega que possui roteiros de Mark Waid e uma arte inspirada de Riccardo Federici. Esqueci de mencionar que cada uma das histórias deste especial é feito por um roteirista e artista diferentes. E isso não ajuda nem um pouco. Alpha vai lidar com o momento da fuga de Damian, Bruce, Talia e da Alice Sombria da Ilha de Lázaro. Como todos os equipamentos científicos estão tendo problemas diante da chuva da resina, Damian precisa pousar o transporte para poder reagrupar. É aí que ele assume o comando de várias forças-tarefa que precisam lidar com os problemas imediatos enquanto buscam deter Nezha e devolver os poderes mágicos aos seus respectivos donos. Só que o filho de Nezha, o rei Touro de Fogo quer matar seu pai e tomar os poderes mágicos para si. O que vai provocar uma corrida contra o tempo em um cenário de caos absoluto.


Waid consegue nos entregar duas histórias provocativas e repletas de ação. O ritmo é frenético e o desastre está acontecendo por toda a parte. Para que o roteiro pensado por ele funcionasse era preciso o leitor sentir que o mundo está despedaçando. E ele consegue fazer isso com sucesso. Vou descontar o fato de ele ter colocado o Damian como uma espécie de comandante no ato ali porque a ideia básica da minissérie e desse especial era colocar o filho do Batman como o centro das coisas. Em alguns momentos achei forçado, mas coloquei o meu chapéu da suspensão de descrença. Até que ele funciona direitinho e ele tem muito da presença do Bruce dentro de si. Os outros personagens são integrados à cena de maneira bastante orgânica e o ponto central é o universo mágico. Waid quis transformar esse elemento que é menos explorado no universo DC em algo mais selvagem, indomável. Acho que ele consegue dar esse sentido a tudo.


Outro personagem que recebe bastante destaque neste especial é o Príncipe Macaco. Um personagem criado por Gene Luen Yang como uma forma de introduzir representatividade asiática na DC e que foi claramente inspirado no Su Wukong da Jornada para o Oeste. Só um parênteses: ótimo para quem curtir o personagem já que a Panini não publicou as revistas do personagem aqui no Brasil. Ou seja, vai ter que esperar a boa vontade de trazer um título menos badalado para cá. Boa sorte com isso! Enfim, o Príncipe Macaco nos fornece um lado humano e sensível ao que está acontecendo por toda a parte. Enquanto os outros heróis estão fazendo coisas heróicas, Wukong está ali sendo mais sutil, cuidando da Alice Sombria que ninguém reparou que ela estava ali. Waid quis nos mostrar o sofrimento de uma personagem que foi usada e abusada por Nezha e a Mãe Alma, mas isso poderia ter sido feito melhor na série Batman vs Robin. Quando ela está aqui encolhida e sofrendo, não consigo me empatizar com o sofrimento dela porque isso não foi trabalhado antes. Aliás... foi trabalhado e bem mal. Gostei do diálogo entre Wukong e Alice porque Waid quebra as nossas expectativas ao nos apresentar uma mulher bastante forte e que não deseja ser protegida. Seu sofrimento vem dos abusos sofridos e Wukong oferece as palavras certas que ela precisava ouvir. Alice queria alguém que a escutasse e entendesse seus problemas. Feito isso ela conseguiu recuperar a motivação que precisava para fazer o que fosse necessário.


A arte de Federici é bem bonita. É uma arte que me fez lembrar o Joe Madureira na época dos Vingadores, mas a arte dele é mais polida. Gosto do fato de seus personagens não serem exatamente retilíneos, puxando mais para algo assimétrico. As curvas e imperfeições fazem o estilo ser bem peculiar, algo que me agradou quando li a saga do Mundo Bélico na Action Comics e que aqui pude apreciar em outro conjunto de cenários. Seus personagens passam bastante sentimento e algumas das cenas que mais gostei envolveram o Damian em um momento em que ele precisava fazer uma decisão difícil e outro com a Alice Sombria. No primeiro, Federici escolhe focar nos olhos dele em três quadros. É como se fosse uma transição dos olhos de um menino para os de um comandante que precisa chegar a uma conclusão séria a respeito de um dilema. No outro vemos o quanto Federici soube representar bem a jovem feiticeira ao dar a ela um olhar maligno ao mesmo tempo em que ela dizia coisas que a deixavam vulnerável. Essa mescla de vulnerabilidade e o maligno é bem representado na pose, nos gestos e no olhar dela. Outro elemento da arte dele que gosto é de como os quadros parecem sujos e granulados, quando na verdade é apenas o pincel do artista colocando peso nas cenas.


As demais histórias são vignettes chamando a atenção para histórias com outros personagens como a Ravena/Mutano, o Pistoleiro, o Nuclear, a Morticia, o Questão e a Canário Vermelho. Sendo bem sincero, todas elas são bem fracas e não me deixaram com muita vontade de buscar histórias desses personagens com exceção da do Questão. O roteiro do Alex Segura nos reapresenta à comissária Montoya que precisa colocar novamente o manto do Questão para descobrir pistas a respeito de um assassinato estranho que vem acontecendo em Gotham. A narrativa puxa mais para o aspecto heroico do que detetivesco, o que me frustrou um pouco. O Questão é o tipo de personagem que funciona melhor em narrativas ao estilo noir. Mas, Segura consegue reapresentar bem a personagem, contando suas motivações e seu atual status quo. Só achei o Segura verborrágico demais nessa história, o que atrapalhou a arte do Clayton Henry de respirar. E aí é preciso frisar que a arte dele até é boa, mas faltou isso de investir nesse clima mais da baixa Gotham, de investigação. Apesar de ele ter feito algumas cenas bem brutais no final da história, mostrando que ele tem um bom domínio do aspecto monstruoso. De inserir o estranho em sua narrativa.


A narrativa da Canário Vermelho tenta ser moderninha e descolada, mas soa mais como forçada e não inspirada. Delilah S. Dawson não conseguiu nos mostrar nessa pequena história o que faz de sua personagem única. Ela parece só uma garota estranha que conhece um amigo com poderes e faz quase tudo para ela. A personagem não teve um momento para brilhar aqui. A arte de Brandon E. Stein é mais puxada para o digital e as cenas são bastante confusas. Não consegui entrar na história completamente com ela. Tem a história do Pistoleiro que agora é parente da Amanda Waller. A gente não tem lá muita explicação do motivo (não me lembro de ter parentesco entre eles) e o personagem se transforma em uma caveira estranha com uns poderes de raios. O roteiro de Chuck Brown é simplesmente pitoresco demais para o meu gosto. A arte da Alitha Martinez até me agradou um pouco com uns toques de surreal e monstruoso. Ela consegue entregar uns designs de personagem bem legais. Só que o roteiro não ajuda nem um pouco. Fraco demais.


Brandon T. Snider traz de volta a Morticia, uma personagem que ficamos conhecendo no Torneio de Lázaro nas mensais do Damian. Como não acompanhei, não sabia muito sobre a personagem e precisei pesquisar. Aliás, o mal de todas essas histórias é não ser capaz de apresentar o personagem E instigar o leitor a continuar acompanhando as histórias. Nenhuma delas me fez querer me interessar pelo personagem e continuar acompanhando. Curiosamente o único que fez isso é o Mark Waid com o Príncipe Macaco que achei um personagem bem interessante, sem falar nessa conexão com as histórias do original asiático. E isso porque o roteirista do Wukong é o Gene Luen Yang. Enfim, a narrativa da Morticia reintroduz um personagem ao universo DC de uma maneira tão fútil que me incomodou terrivelmente. Sei que ninguém fica morto por muito tempo em gibi de hominho, mas é preciso apresentar boas justificativas para isso. Uma reintrodução instigante pode gerar uma modificação no status do personagem ou até um arco de histórias relevantes. Não é o caso aqui. É só uma história curta com um roteiro mediano, uma personagem chata e um clima pouco inspirado.


Tem mais três histórias que nem quero comentar se não vou parecer um velho rabugento. Vamos ao Batman vs Robin 5 que consegue fechar razoavelmente bem a série. Nessa edição acompanhamos as consequências diretas para o Damian e o Bruce dos acontecimentos. Tem um confronto final com Nezha e o Touro de Fogo que acabam trazendo os heróis mágicos para a frente de batalha. É aquele típico momento climático de minisséries que Waid consegue trazer bem. Não é nada memorável, mas é bem executado o suficiente para ser divertido. E no fundo é isso. Batman vs Robin nunca foi nada inesquecível, mas nem sempre um quadrinho precisa ser um clássico instantâneo para entregar ao leitor aquilo que ele deseja. Waid aprofunda a relação entre pai e filho a partir do momento em que passamos a ver esse final de história do ponto de vista do Damian. Ou seja, invertem-se os papeis. Damian entende que foi a fraqueza dele que causou toda essa confusão e ele procura se redimir buscando resolver o problema, assumindo o fardo da responsabilidade. A relação entre ele e o Bruce nunca será perfeita, mas isso não impede os dois de se amarem à sua maneira. Tem um momento na narrativa que alguns acharam piegas, e eu achei bastante singelo. É representativo daquilo que faltava aos dois personagens: se entenderem.


A minissérie Batman vs Robin termina deixando algumas coisas a serem exploradas pelos autores nos próximos meses. Waid retoma algumas coisas em Os Melhores do Mundo, então veremos como isso vai fatorar. Quanto ao especial Planeta de Lázaro, é complicado avaliar porque só o Waid consegue entregar algo que seja realmente relevante. São mais de 150 páginas onde a gente aproveita quase um terço de histórias. O resto é bem sofrível, talvez pela pequena quantidade de páginas, talvez pela falta de inspiração dos envolvidos. É complicado termos vignettes onde o objetivo é levar o leitor a ir buscar o personagem e esse objetivo falha bastante em ser alcançado. Em um mundo ideal, deixaria só Alpha e Omega e tiraria todo o resto fora. Aparentemente ainda teremos mais um especial focado no vulcão de Lázaro e em suas consequências. Espero que seja melhor do que isso.












Ficha Técnica: Ficha Técnica:


Nome: Planeta de Lázaro Nome: Batman vs Robin 5

Autores: Mark Waid, Nicole Maines, Autor: Mark Waid

Alex Paknadel, Francis Manapul, Alex Artistas: Mahmud Asrar e Scott Godlewski

Segura, Dennis Culver, Brandon T. Snider, Colorista: Jordie Bellaire

Chcuk Brown e Delilah S. Dawson Editora: Panini Comics

Artistas: Riccardo Federici, Skylar Patridge, Tradutor: Diogo Prado

Christopher Mitten, Mike Perkins, Francis Número de Páginas: 48

Manapul, Clayton Henry, Jesús Merino, Laura Ano de Publicação: 2023

Braga, Alitha Martinez, Mark Morales,

Brandt Stein

Coloristas: Brad Anderson, Nick Filardi,

Romulo Fajardo Jr, Francis Manapul, Marcelo

Maiolo, Matt Herms, Alex Guimarães, Brandt

Stein

Editora: Panini Comics

Tradutor: Diogo Prado

Número de Páginas: 152

Ano de Publicação: 2023


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