O rei Talan precisa decidir qual de suas filhas gêmeas precisa assumir o trono de Eurania: a doce Eurânia ou a eficiente Brucei. Enquanto ele vê sua vida se esvaindo por causa de sua doença, seus últimos dias são pesarosos enquanto um monarca que não pode mais estender sua vida.
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Sempre gostei de histórias de fantasia que são contadas e não narradas. Pode parecer que estou falando a mesma coisa, mas não é. Em alguns autores a gente percebe uma certa urgência na escrita, uma necessidade de criar grandes momentos a qualquer custo. Os momentos mais calmos são vistos como transitórios ou incômodos. Contadores de histórias não se incomodam com isso; a história vai tomar seu rumo quando tiver que ser. Não há pressa para apresentar os fatos. E é isso o que eu senti em O Último Verão de Eurania: a Melissa não estava com nenhuma pressa para nos contar sua história. E por essa razão o conto pareceu tão especial.
A narrativa começa com o rei Talan presidindo uma reunião entre seus conselheiros. Somos apresentados ao reino e às angústias e dúvidas de um rei. Ele não teve filhos; teve duas gêmeas, Brucei e Grinda. Isso acabou tornando a sucessão um tanto complicada pelas possibilidades de rejeição. Mas, sua saúde está se debilitando e ele sabe pela Outra, uma sacerdotisa que o acompanha há anos, que seus dias estão chegando ao fim. Sua maior preocupação está em decidir quem vai ocupar a sucessão do trono. E ele acaba fazendo um desejo à sacerdotisa que pode ter sido mais doloroso do que ele imaginava. Se Talan acha que está preparado para tudo, melhor ele repensar seus conceitos. Nós nunca sabemos o que se esconde atrás de alma de alguém.
Não é comum vermos narrativas sobre sucessão real. Pelo menos não da forma como a Melissa nos conta a história. Acompanhamos os últimos dias de um rei e o que se passa em sua cabeça. Quem vai ocupar seu trono, como ele será lembrado pelos seus súditos, de que maneira ele vai morrer. Tudo isso acaba tomando a mente do monarca e a memória é algo complicado com o que lidar. Às vezes podemos arranhar a imagem que deixamos para trás em um único instante. E essa preocupação se faz presente o tempo todo. Ao mesmo tempo temos um pai que gostaria de ter passado mais tempo com suas filhas. Ele coloca em perspectiva se foi capaz de dar o amor e atenção necessária a cada uma delas. Talvez uma decisão ou outra que tenha pesado demais para ele. Diante da morte, nossa vida passa como se fosse um filme e tudo o que fizemos nos é mostrado com mais clareza.
Adorei a construção de mundo da Melissa. Quando lemos o posfácio e nos damos conta de que esse é um trabalho mais antigo dela, dá para perceber o cuidado e o carinho que ela teve ao construir seu mundo. A segurança com a qual ela vai nos passando informações, sem pressa, se atentando a detalhes. Quem lê de forma desatenta, não vai perceber a preocupação que a autora teve ao criar uma religião, um sistema econômico, uma rede de alianças. E para um conto. Tendo lido, eu gostaria de ver a Melissa retornar a esse mundo, porque deixou a impressão de que existem muitas história a serem contadas sobre ele.
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Ficha Técnica:
Nome: O Último Verão de Eurania
Autora: Melissa de Sá
Editora: Revista Trasgo
Número de Páginas: 33 (em formato A5)
Ano de Publicação: 2018
Avaliação:
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