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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "A Pequena Caixa de Gwendy" (A Pequena Caixa vol. 1) de Stephen King e Richard Chizmar

Um dia, durante uma de suas corridas pela Escadaria Infinita, Gwendy encontra um estranho homem chamado Richard Farris que lhe entrega uma caixa. Com um sorriso sardônico, o senhor Farris diz que essa caixa possui incríveis poderes que podem fazer o que Gwendy quiser. E isso pode ser uma benção ou um fardo.


Sinopse:


A pequena cidade de Castle Rock testemunhou alguns eventos estranhos ao longo dos anos, mas existe uma história que nunca foi contada... até agora.


Viaje de volta a Castle Rock nesta história eletrizante de Stephen King, o mestre do terror, e Richard Chizmar, autor premiado de A Long December. O universo misterioso e assustador dessa pacata cidadezinha do Maine já foi cenário de outros clássicos de King, como Cujo e A zona morta, e deu origem à série de TV da Hulu.


Há três caminhos para subir até Castle View a partir da cidade de Castle Rock: pela rodovia 117, pela Estrada Pleasant e pela Escada Suicida. Em todos os dias do verão de 1974, Gwendy Peterson, de doze anos, vai pela escada, que fica presa por parafusos de ferro fortes (ainda que enferrujados pelo tempo) e sobe em ziguezague pela encosta do penhasco.


Certo dia, um estranho a chama do alto: “Ei, garota. Vem aqui um pouco. A gente precisa conversar, você e eu”. Em um banco na sombra, perto do caminho de cascalho que leva da escada até o Parque Recreativo de Castle View, há um homem de calça jeans preta, casaco preto e uma camisa branca desabotoada no alto. Na cabeça tem um chapeuzinho preto arrumado.


Vai chegar um dia em que Gwendy terá pesadelos com isso.






O que você faria se tivesse em suas mãos uma caixa que lhe desse poderes extraordinários, mas tivesse um terrível poder de destruição? Qual seria sua reação? No que você pensaria? Quem ajudaria? Que benefícios iria tirar dela? Esse é o mote principal desse livro diferente escrito a quatro mãos por Stephen King e Richard Chizmar que nos leva de volta a Castle Rock, um dos lugares favoritos dos fãs do mestre do terror. Lá iremos nos deparar com uma adolescente que recebe um terrível fardo em suas mãos. Sendo uma garota que passou por bullying durante o início de sua adolescência, ela conhece um pouco do mal que as pessoas são capazes de fazer com os outros. Mas, ela não faz ideia do que uma caixa com tamanhos poderes e habilidades pode ser capaz de causar no mundo. E quando Gwendy se dá conta disso, o que antes pareceram bençãos, lentamente se tornam maldições. Caberá a ela manter a caixa de botões longe de pessoas com pensamentos malignos ao mesmo tempo em que precisa evitar a sedução de usar seus poderes em seu próprio benefício.


Falando da edição em si, a editora Suma optou por uma edição em capa dura, o que é bem diferente dos trabalhos mais recentes de King, que são publicados em capa brochura (com exceção da Biblioteca Stephen King, que é uma coleção especial). O livro possui algumas ilustrações feitas por Keith Minnion, que dão a ideia de um tipo de conto de fadas ou história cautelar. São várias ilustrações normalmente colocadas no começo de alguns capítulos. A tradução é da sempre competente Regiane Winarski. Senti falta de um posfácio com os dois autores explicando como foi o processo de criar uma história juntos, mas isso é coisa do original. Não tem a mão da Suma nisso. O livro tem uma diagramação bem legal, com letras grandes, um projeto editorial bem diferente do normal e papel pólen. Seria legal se a edição tivesse vindo com um fitilho só para ser diferentona mesmo de outros projetos do King e para combinar com a ideia de um "conto de fadas". Mas, isso é preciosismo meu.

Quem está esperando uma daquelas histórias tradicionais do Stephen King, melhor mudar suas expectativas. Depois de terminada a leitura até pude perceber algumas influências do King aqui ou ali, mas esse é essencialmente um livro do Richard Chizmar. A história é bem curtinha e o leitor consegue devorar em uma tarde de leitura. Os autores usaram do expediente de capítulos bem curtinhos sendo o maior deles tendo umas dez páginas. Tem vários capítulos de uma ou duas páginas, o que faz a história passar bem rápido. A narrativa se estende em um período de dez anos e os indicativos da passagem do tempo estão presentes em sutilezas informadas através de uma rápida menção ou um diálogo bem pontuado. Apesar de que em alguns momentos fiquei perdido e os autores não referenciaram se houve ou não uma passagem de tempo. Achei isso confuso principalmente no miolo da história onde perceber determinados acontecimentos e observar detalhes se tornam essenciais para a compreensão da história.


Dá para perceber a diferença de abordagem entre King e Chizmar. King gosta de usar diálogos e pequenos trechos narrativos para contar suas histórias. Já Chizmar é mais descritivo e prefere se focar em fluxos de pensamento e na descrição de como os acontecimentos afetaram a percepção da protagonista. A história é narrada em terceira pessoa, como se fosse uma câmera colocada no ombro da protagonista; gosto de me referir a isso como pseudo-terceira pessoa porque esse estilo narrativo tem várias similaridades com a primeira pessoa. Principalmente no fato de que o narrador não é inteiramente onisciente. Por ser uma narrativa contada ao longo de um espaço de tempo, não há muitas oportunidades para aprofundar o núcleo de personagens que circundam Gwendy. Personagens vão e vem tendo alguns poucos como Olive e Frankie que permanecem mais tempo na história recebendo um pouco mais de atenção. Achei isso problemático porque Gwendy não é exatamente uma protagonista inesquecível. Pelo menos não aqui (se trata de uma trilogia e imagino que Chizmar deva desenvolvê-la melhor nos próximos volumes). Muitas de suas reações são previsíveis e só lá pelo final da história ela se torna uma personagem mais tridimensional. A existência de um núcleo de apoio talvez tivesse oferecido à personagem mais oportunidades de brilhar, mas o que vemos são acontecimentos que se sucedem sem um "payoff" adequado.


A narrativa parece ter bebido bastante do conto "A Pata do Macaco" de W.W. Jacobs. Fizemos uma resenha desse conto que vocês podem encontrar neste link aqui. Este é um dos contos favoritos de King, como ele disse no livro Sobre a Escrita. Então a ideia principal é que Gwendy está de posse de uma caixa que pode realizar desejos. Só que tem uma pegadinha: a caixa tem uma espécie de vontade maligna por trás. Gwendy se beneficia da "magia" que a caixa possui e alguns de seus problemas pessoais e familiares são resolvidos por ela. Por exemplo, no começo da história, ela sofre de bullying de seus colegas com apelidos de teor gordofóbico, além de seus pais que parecem estar em um processo de separação com um casamento estagnado. Nos primeiros capítulos da trama, a caixa parece resolver magicamente seus problemas, fazendo com que Gwendy se tornasse uma garota esbelta e inteligente e seus pais se reconciliassem. O que parece ser algo bom, começa a tomar um rumo estranho quando Gwendy percebe a extensão do que a caixa é capaz de fazer. Então a protagonista quer apenas evitar que a caixa exerça sua influência sobre as coisas, mas, como qualquer objeto que tenha esse tipo de desígnio, seus poderes parecem exercer uma certa fascinação. Por mais que ela tentasse esconder a caixa, mais ela aparecia ou influenciava determinados acontecimentos.


Só que isso acaba caindo em um ciclo de responsabilização por parte de Gwendy. Qualquer coisa ruim que acontecia ela logo atrelava a si mesma ou à influência da caixa. Algumas das coisas que se sucedem na trama até são culpa dela, fruto de uma preocupação excessiva com situações que não lhe diziam respeito. Isso é até algo que um personagem fala a ela depois. Nem tudo gira em torno dela, Gwendy. Sem falar nas possibilidades ruins de acontecimentos que poderiam ter ocorrido caso ela abusasse da caixa ou permitisse que esta caísse em mãos ruins. O zelo de Gwendy e sua responsabilidade é o que separou alguns fatos ruins de situações catastróficas. Se tudo o que ela passa é um teste ou não, só o tempo dirá. Mas, o que fica de lição é que Gwendy tem uma boa disposição para ajudar o próximo, só que se coloca no palco principal demais e isso afeta sua tomada de decisões.


A Pequena Caixa de Gwendy é uma leitura rápida e fascinante. Gwendy é uma personagem ainda em desenvolvimento e o romance não me empolgou tanto assim. Mas, o final da história revelou algumas boas possibilidades além de ter deixado ganchos para futuras histórias. Contudo, se o leitor não quiser continuar, tudo bem porque a história tem um desfecho satisfatório. É um romance feito a quatro mãos, então percebemos partes truncadas aqui ou ali. Além do fato de que este, definitivamente, não é um livro escrito pelo King. Agora é aguardar para ver o que Richard Chizmar pretende aprontar com esta personagem em futuras histórias.











Ficha Técnica:


Nome: A Pequena Caixa de Gwendy

Autores: Stephen King e Richard Chizmar

Série: A Pequena Caixa vol. 1

Editora: Suma

Tradutora: Regiane Winarski

Número de Páginas: 168

Ano de Lançamento: 2018


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*Material recebido em parceria com a Editora Suma












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