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Orwell e sua visão sobre a política na escrita literária

George Orwell foi um dos maiores escritores do século XX. Ao mesmo tempo em que foi um grande autor, ele teve uma forte participação como colunista durante a Segunda Guerra Mundial. Em uma de suas obras ele discute os quatro principais motivos para um autor escrever uma obra de ficção.



Já discutimos esse tema na visão de um dos nossos colunistas, o Diego Araujo, e ele destacou como ele enxerga essa interferência. Mas, há setenta anos atrás, George Orwell também se aprofundou nesse assunto em um livro inédito ainda no Brasil chamado, Why I Write. Minha ideia nesse artigo é apontar como o autor enxerga esse tema espinhoso e fazer alguns apontamentos em cima do que ele diz. Só um adendo a isso e eu explico isso abaixo: esse é um George Orwell bastante desencantado com o mundo, tendo enfrentado sete anos de Segunda Guerra Mundial debatendo os erros e acertos dos países ocidentais e buscando entender a vida do homem comum diante da dominação de um Estado controlador. É o homem que está prestes a publicar 1984, talvez sua maior obra. Ou seja: suas opiniões vão ser até bem radicais se analisarmos a partir dos dias de hoje. Fica esse alerta para o leitor porque um indivíduo é uma eterna metamorfose, uma constante transformação. E o que sucede na Europa nesse período derrubou muitos intelectuais que acreditavam em um mundo melhor. Orwell não vai estar isento dessa transformação.


Para ele, existem quatro motivos que levam um autor a escrever um romance: mero egoísmo, entusiasmo estético, impulso histórico e finalidade política. O autor é bem taxativo nesses pontos e a cada um dos tópicos ele constrói sua argumentação. Algo importante a se destacar inicialmente é que Orwell entende que um autor pode ser influenciado por mais de um desses motivos e em graus variados de acordo com o contexto histórico-social de onde ele seja proveniente. Provavelmente Orwell pensou em si mesmo ao fazer essa pontuação inicial. Afinal somos produtos do meio em que vivemos. Mesmo aquilo que aprendemos depende disso. É uma concepção criada por Lev Vygotsky que pode até estar um pouco ultrapassada, mas se pararmos para refletir um pouco faz sentido. O conjunto de informações e conhecimentos que serão mais relevantes para nós varia de acordo com o lugar em que vivemos, os interesses que temos e as pessoas que nos cercam. Isso pode ser relacionado ao impulso da escrita.


Assim como os artistas, os escritores também precisam massagear o próprio ego, na visão de Orwell. Por isso ele os chama de egoístas e, apesar da forma brusca como ele pontua isso, ele não deixa de ter razão em parte. Afinal queremos mostrar aos nossos pares a nossa habilidade como tecedores de narrativas. Ou até aquela ideia de deixar um legado para quando alguém se for. Esse egoísmo pode ser uma mola propulsora para a origem de várias obras. E esse sentimento da busca pela aprovação não é algo ruim ou negativo. Claro, Orwell afirma que o ser humano deixa de ser ambicioso após os quarenta anos e passa a se tornar um indivíduo tedioso ou entediado. Podemos discordar dessa segunda parte muito porque nossa sociedade do século XXI construiu um meio onde a expectativa de vida é maior. Isso fez com que várias pessoas, antes aposentadas e acomodadas, precisassem retornar ao mundo do trabalho. Mas, ao mesmo tempo, Orwell chama o escrito de inconformado, aventureiro. O que não deixa de ser verdade.



Ao falar sobre entusiasmo estético não consigo não pensar em autores que primam pela forma como manipulam as palavras como José Saramago, Jorge Luis Borges, David Mitchell ou Patrick Rothfuss. Todos autores que gostam do diferente, do inusitado. Perfeccionistas por natureza. Orwell destaca o quanto essa característica afeta em maior ou menor grau a capacidade dos autores de publicar seus livros. É uma motivação totalmente válida, sem dúvida. E novamente voltamos à definição de artista, afinal um escritor é um artista das palavras, um mestre da pena. Qualquer autor tem a sua forma favorita de contar uma história, de desenvolver personagens ou expressões (ou frases) que ele gostaria de ver inseridas em alguma cena. Narrativas inteiras podem ser baseadas unicamente em uma frase: Chapéuzinho Vermelho nunca deveria ter entrado na floresta ou Um Anel para governar a todos.


O legado histórico também é uma possibilidade de incentivo à escrita. Queremos deixar nossa marca no mundo em maior ou menor grau. Ao imortalizarmos nossa criatividade em algumas linhas de um parágrafo, colocamos para o mundo o que escrevemos. Alguns autores passam décadas pensando e aperfeiçoando o seu roteiro antes de o livro ir para as prateleiras. Outros são produtores insanos que entregam vários trabalhos volumosos todos os anos. Às vezes o legado vem por acidente: autores que eram completos desconhecidos no passado ganham vulto porque seus livros recebem um significado especial devido a um indivíduo ou acontecimento. Em certa medida podemos pensar no objeto livro como um monumento, ou seja, um símbolo que indica as realizações daquele que o escreveu. Claro que precisamos ir além do que significa monumento e deixarmos de lado a concepção concreta da palavra. Um historiador chamado Jacques Le Goff usa a expressão documento/monumento para se referir a fontes históricas que ultrapassaram a sua função de registro e ganharam um outro significado como a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento criado durante a Revolução Francesa. Mais do que um simples registro sobre o que as classes populares desejavam naquele contexto, ele se tornou a essência do que significava o movimento revolucionário. Podíamos definir a luta social através de um documento escrito em papel. No fim, um autor quer ser lembrado dessa forma, como o próprio Orwell é lembrado por 1984. Mais do que um livro, 1984 é a expressão do que significa uma sociedade de controle. É explorado hoje por diferentes mídias e até mesmo representa aquilo que o autor tanto criticou.


Mas, viemos falar aqui de política. E Orwell usa boa parte do artigo para nos falar disso. Para ele, "nenhum livro é isento de viés político". Palavras do próprio Orwell. E se pensarmos na acepção original da palavra política, do grego politikon, nada é isento de política. Vamos voltar um pouco atrás no tempo e nos direcionarmos para a Grécia clássica onde a polis se tornou a expressão sentimental dos anseios das pessoas. Polis era a expressão usada para nomear as cidades-estado gregas da Antiguidade. Esparta, Corinto, Atenas, Tebas. Todas eram polis. Para ser uma polis, ela precisava ser autônoma, autossuficiente e independente. Ou seja: possuir governo próprio, sustentar a si mesma e não fazer parte de nenhum império. Outra exigência para uma polis era a existência de uma ágora e uma acrópole: um lugar para resolução de problemas políticos e um lugar para defesa (normalmente se confundia com a região onde ficavam os templos). A expressão máxima da polis era a ágora; lá as pessoas iam para resolver os problemas locais. Todos os homens livres iam até lá e tinham o direito a expressar seus anseios e indignações. Mas, é a partir de Sócrates que vamos repensar a participação política. Isso porque ele acreditava que todo homem era um ser político. Qualquer interação na ágora envolvia a expressão do que angustiava uma pessoa. Portanto, qualquer decisão que fazemos na vida tem alguma interferência política em maior ou menor grau. Hoje confundimos política com voto. E não é isso. Do momento em que acordamos, ao espaço em que ocupamos, o lugar em que trabalhamos, os meios públicos que usamos, aonde comemos, até a possibilidade de poder falar livremente, tudo isso envolve política. E é isso o que Orwell nos traz aqui. Do momento em que colocamos a caneta no papel até o final de uma história, nossas concepções de mundo são transportadas para a narrativa. Por mais fantasiosa que seja a história. Seja nas opiniões do protagonista, nas críticas sutis a algum conceito (amizade, governo, corrupção, heroísmo, corporações, economia, religião), tudo envolve algum ponto de vista que um autor conscientemente ou inconscientemente deixa para seus leitores.


Orwell diz ainda que um autor que faz o seu trabalho baseado em uma inclinação política deseja mover o mundo em uma determinada direção ou alterar a ideia que outros fazem do tipo de mundo que desejam alcançar. Lembrar que o autor tem como contemporâneos homens como Aldous Huxley e Ray Bradbury ou até Ayn Rand que moldaram o pensamento de ambos os lados do espectro político. Começando pela polêmica Ayn Rand, devemos pensar que A Nascente foi publicado durante a Segunda Guerra Mundial e A Revolta de Atlas, um dos livros que se tornaram a essência do que viria a ser o pensamento meritocrático conservador, é de 1953. Curiosamente nesse mesmo ano Fahrenheit 451 era publicado por Bradbury. Livro esse que vai denunciar o totalitarismo e a ideia burguesa de manter a população alienada culturalmente. Ou temos Admirável Mundo Novo, um livro que criticava fortemente a sociedade de consumo e o materialismo, é da década de 1930. Todos autores que buscaram alterar a nossa percepção sobre o mundo que vivemos. Nenhum deles realiza uma pregação e tenta nos converter para o seu lado. Mas, ao empregarem uma narrativa instigante e reflexiva, provoca no leitor aquela pulguinha na orelha. Aquela vontade ímpar de pensar sobre o que nos cerca. Ou dialogar com nosso superego, aquelas ideias que temos em nosso consciente que não verbalizamos para podermos viver em sociedade.


Talvez para desânimo de alguns fãs de Orwell, ele afirma que todos os seus escritos tiveram uma finalidade política. Uma necessidade de tomar partido, de corrigir alguma injustiça. A Revolução dos Bichos surge a partir de todo aquele clima do Período Entre-Guerras entre os europeus que assistiam estupefatos, incrédulos e inertes à ascensão de Hitler na Alemanha; aos americanos vivendo em sua própria bolha sem se importar com o resto do mundo; aos soviéticos que tinham um discurso internacional, mas tinham terríveis problemas internos; e todas as outras minorias que eram massacradas pela teoria da superioridade ariana. Talvez um dos melhores trabalhos que podem ser relacionados ao clássico de Orwell seja Maus, a HQ escrita por Art Spiegelmann, uma auto-biografia onde o pai transforma o terror vivido por ele e os judeus em uma fábula povoada de animais falantes que representavam as nações envolvidas na Segunda Guerra. Seguindo a teoria posta por Orwell, é claro a todos que Spiegelmann não só tinha a intenção de exorcisar seus demônios, mas de mudar a forma como enxergamos os campos de concentração. Na época em que foi publicado, ainda havia muitos que acreditavam que a Solução Final era apenas mais uma lenda do terror alemão (ainda hoje temos esse tipo de pensamento).


A Guerra Civil Espanhola também foi fonte de muita indignação da parte de Orwell. Por essa razão ele escreveu dezenas de histórias e pequenos artigos denunciando o quanto a Inglaterra fez olhos moucos para o que acontecia do outro lado do canal da Mancha. O quanto inúmeras vidas poderiam ser salvas caso as pessoas não se eximissem de responsabilidade. É nesse sentido que ele diz não pensar na sua própria literatura como artística. Na visão dele, seus livros expõem mentiras, como é o caso da loucura ocorrida na Espanha. Ao conseguir uma audiência ele pode ser capaz de criar uma narrativa que lide com temas atuais através de uma extrapolação. Mesmo seus trabalhos de não-ficção como O Caminho para Wigan Pier lidam com temas sociais, como a falta de apoio governamental aos trabalhadores portuários. Ou Homenagem à Catalunha, uma obra francamente panfletária (nas palavras do próprio Orwell), mas que consegue expor suas ideias de uma forma dialógica e sensata. Não é simplesmente escrever expondo abertamente um lado; é ser lógico e apresentar uma trama que envolva o leitor e o faça pensar. Isso porque o leitor não precisa concordar 100% com o autor, mas entender que existe um sentido para o que está sendo apresentado na obra literária.


Vou terminar essa matéria com uma frase bem curiosa do autor:


"Todos os escritores são vaidosos, egoístas e preguiçosos, mas no fundo dos seus motivos ainda resta um mistério."


Vou além dessa fala. Toda leitura é uma reinterpretação. Cada leitor vai retirar daquilo que leu o argumento que mais lhe chamou atenção. Por isso dizemos que toda leitura é subjetiva. Ela depende de uma série de variáveis como formação, momento, sentimento e enfoque. Existem ainda mais variáveis, mas só essas quatro podem produzir inúmeras combinações impossíveis de serem previstas. Quando um livro vai para o mundo, sua essência deixa de ser privilégio do autor e passa a ser um bem coletivo. Um exemplo: certamente Alan Moore não imaginou que seu quadrinho V de Vingança seria usado por manifestantes em todas as partes do mundo reclamando das injustiças sociais que estavam sofrendo. Por mais mágico que ele possa ser. Ou Orwell jamais iria imaginar que seu conceito de Grande Irmão seria empregado em um reality show com pseudo-famosos.


Referência:


Ficha Técnica:


Nome: Sobre a Verdade

Autor: George Orwell

Editora: Companhia das Letras

Gênero: Não-Ficção

Tradutor: Cláudio Alves Marcondes

Número de Páginas: 208

Ano de Publicação: 2020


Link de compra:


*Material enviado em parceria com a Companhia das Letras










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