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O emprego de diálogos e ganchos narrativos em Eleanor & Park, de Rainbow Rowell

Uma das coisas que eu sempre reclamo em minhas resenhas são os diálogos curtos mal feitos ou os ganchos narrativos mal executados. Mas, como é o jeito certo? É possível fazer um diálogo curto ser interessante? Sim, é possível. Eleanor & Park, de Rainbow é prova disso. Leia esta matéria e descubra o motivo.


Imagem de Eleanor e Park com um fundo salmão. Só podemos vê-los de costas e dos ombros para cima. Eleanor tem cabelos vermelhos e usa uma camisa amarela e Park usa tem cabelos pretos e usa uma camisa azul. Eles estão usando fones que estão ligados por um fio um ao outro.

Uma das tarefas mais complicadas do fazer narrativo é a criação de diálogos. Isso se deve a uma razão simples: como eu posso criar uma conversa entre duas ou mais pessoas que não soe artificial e pareça interessante? Nas minhas leituras e participando da seleção de contos da revista A Taverna eu venho percebido que os autores ainda não entenderam a medida certa de como empregá-lo em sua narrativa. E o curioso é que eles sempre peca ora pelo mínimo, ora pelo máximo. Quando é necessário encontrar um equilíbrio. Claro que é possível escrever um conto ou um romance apenas com descrições ou exposições. Só vai ser bem chato e parecer uma dissertação e não um romance.


Existem duas possibilidades para um diálogo:


a) apresentar alguma informação nova para mover a história adiante;

b) desenvolver uma relação entre personagens/revelar uma característica de um determinado personagem.


Hoje eu quero me debruçar mais sobre o segundo exemplo e para isso eu vou empregar dois livros: um teórico e um prático. Para a minha argumentação, eu vou usar Para Ler como um Escritor, da autora Francine Prose e para usar como exemplo peguei Eleanor & Park, da autora Rainbow Rowell. Posso acabar usando mais exemplos, mas pretendo ficar mais nesses dois. Rowell usa a ferramenta do diálogo de uma das formas que eu mais costumo criticar em alguns autores: os diálogos curtos. Eu que detesto diálogos curtos, só tenho a elogiar a forma como ela empregou esse recurso narrativo. Novamente: não é o fato de o diálogo ser curto ou longo, mas a forma como este está sendo usado. Autor algum vai transcrever literalmente uma conversa normal entre dois indivíduos para o papel. Seria chato demais até porque nossa forma de comunicação é repleta de pausas e coisas não ditas. Comédias românticas sabem trabalhar esse recurso de forma profunda e a Rainbow Rowell fez isso bem aqui. Porque os diálogos entre Eleanor e Park vão nos ajudando a entender o caráter e as emoções dos dois naquele dado instante. Nessa forma rápida de comunicação a gente vai vendo em tempo real como eles vão reagindo às mudanças no ambiente que os cerca e em como ele reage às reações do outro. É uma mata-análise.


Segundo Francine Prose:


" (...) a maioria das conversas envolve uma espécie de sofisticada multitarefa. Quando nós, seres humanos, falamos, não estamos meramente comunicando informação, mas tentando causar uma impressão e alcançar uma meta. E às vezes estamos tentando impedir que o ouvinte perceba o que não estamos dizendo, que pode ser não apenas perturbador, mas, tememos, tão audível quanto o que estamos dizendo. Em consequência, o diálogo geralmente contém tanto subtexto quanto texto, ou mais. Mais coisas ocorrem sob a superfície do que nela. Uma marca do diálogo mal escrito é que ele faz apenas uma coisa, no máximo, de cada vez."

Em Eleanor & Park, Rowell foi inteligente ao alternar fala e pensamento. Ou seja ela transcreveu para o leitor texto e subtexto. Se eu fosse um pouco mais crítico, diria que ela não deixa muito espaço para imaginarmos o que está se passando, mas julguei que nesse caso não foi necessário. Durante os diálogos, lemos seus pensamentos, seus gestos e sentimentos. Quando a autora não descreve de forma direta um sentimento, ela emprega uma metáfora qualquer. O efeito disso é uma empatia imediata no leitor que entende o que está acontecendo e se sente parte da cena. Somos quase como voyeurs do caso de amor entre o casal.



Ao mesmo tempo o leitor se sente participativo. A gente sabe quando o personagem está escondendo algo do outro. E ficamos tentados a empurrá-lo para que ele fale tudo de uma vez. Quando o diálogo funciona dessa maneira com o leitor, é sinal de que o autor conseguiu o seu intuito: gerar uma reação no leitor. É complicado quando um livro se torna indiferente a um leitor. Quando um personagem não importa para ele. Quantos de nós odiamos as falas mesquinhas do Joffrey Baratheon na série de Game of Thrones? Vou usar outro exemplo de série para demonstrar como diálogos velozes despertam reações nos leitores (ou, no caso espectadores). Ficamos durante anos a fio vendo a dança de Ross e Rachel entre o vai ou não vai na série Friends. Assistimos a anos e mais anos de série querendo que o casal finalmente se juntasse. Mas, sempre acontecia algo que atrapalhava. Os diálogos entre Ross e Rachel eram um dos pontos altos da série. David Schwimmer e Jennifer Aniston conseguiam conduzir um diálogo afiado entre os dois personagens. Não é que os dois eram almas gêmeas. Muito pelo contrário; eles tinham características bem distintas e isso ficava marcado nos seus diálogos. Mas, estes diálogos permitiam conhecer melhor o interior de seus personagens. A ingenuidade insegura de Ross e o sarcasmo indeciso de Rachel. Alguns dos melhores momentos deles foram de one-liners, ou seja, de diálogos breves.


Ou seja, o que eu quero dizer é que um diálogo não precisa ser uma fala perfeitamente reproduzida e nem algo artificialmente criado. Vai parecer redundante, mas uma fala precisa dizer algo ao leitor. A gente percebe, por exemplo, que Eleanor é uma garota introvertida e tímida. Ela tem dificuldade de se expressar para as pessoas. Algumas vezes ela não consegue sequer formular frases completas. E várias de suas frases são monossilábicas. Isso mostra muito de sua personalidade. Já Park é mais articulado e toma cuidado com o que fala. O leitor é capaz de perceber o esforço que ele faz para pensar nos sentimentos de Eleanor. A intimidade vai fazendo com que os diálogos entre eles se tornem mais naturais. E, mais uma vez, isso é mérito da autora. Porque ela fez uma gradação nos diálogos. Aos poucos ela foi dando camadas aos personagens.


"Entremeada com diálogo, uma narrativa pode proporcionar o benefício do comentário e as lentes precisamente focadas do ponto de vista."

Mas, não é somente nos diálogos que Eleanor & Park é uma obra tão acima da média. Rowell também empregou uma estratégia arriscada: o emprego de constantes mudanças de ponto de vista. Se eu pudesse comparar a escrita da Rainbow Rowell a alguma coisa, eu compararia a um carro de F-1. Veloz, possante e dinâmico. Acho que eu nunca vi uma escrita tão rápida na minha vida. Eu devorei esse livro em menos de 24h e ele não é um livro pequeno. O que eu posso dizer é que a escrita em terceira pessoa da autora possui uma forte interconexão. Os ganchos narrativos que ela deixa são pesados e fazem com que o leitor tenha sinta a curiosidade de saber o que vai acontecer a seguir. O que parece ser uma estratégia arriscada, a de mudança rápida e brusca de pontos de vista, com ela funciona de forma suave. O método de escrita dela não me incomodou nem por um segundo.



A cada fim de capítulo se torna importante para o escritor criar uma situação ou questionamento que faça o leitor querer continuar lendo o livro. Mas, e se a cada quatro páginas eu tivesse um capítulo novo? E se a cada página eu tivesse um capítulo novo? E se a cada página eu tivesse dois capítulos novos? Mudar o ponto de vista é como criar um capítulo novo. O que Rainbow Rowell fez foi criar cliffhangers (ganchos) em todas as mudanças de ponto de vista. Sempre tem uma deixa ou algo marcante entre elas. Por isso é que a escrita dela parece ser tão rápida e o livro parece ser tão curto. Na verdade não é. Eleanor & Park tem o tamanho de um livro médio com aproximadamente 350 páginas. Mas, sua leitura flui bem por conta de diálogos velozes e ganchos que fazem você querer continuar.


Um cliffhanger nada mais é do que um atiçar a curiosidade. Todo leitor é um fofoqueiro por natureza. Você precisa dar razão suficiente para que ele dê mais alguns minutos de seu tempo para mais algumas páginas de seu livro. Quando isso é bem realizado, o livro se torna uma imensa teia de aranha organizada com fios entrelaçados. Um fio puxa o outro que puxa o outro e assim por diante. Quando o gancho é mal realizado chamamos de quebra de ritmo. Isso pode ser acidental (por um erro do escritor) ou proposital. Eu posso querer quebrar o ritmo propositalmente para iniciar outro ato de minha história. Não querer uma continuidade narrativa também é parte do jogo. O escritor precisa saber delinear aquilo que é mais conveniente para o que ele está propondo. Somente dessa forma ele vai alcançar uma unidade narrativa.


Espero poder ter ajudado vocês a entenderem um pouco das minhas predileções e exemplificar artifícios narrativos de alguma forma. Usei Eleanor & Park em minha digressão porque foi uma obra que me chamou muita a atenção nestes dois quesitos. E são sempre questionamentos que eu recebo através das minhas mídias sociais. Não é um assunto esgotado. Pelo contrário, devo voltar a ele em outras oportunidades. Fica aí também a dica de leitura deste livro fantástico.




Assinatura Paulo Vinicius - Frase: "Isto é o que você deve se lembrar: o fim de uma história é apenas o começo de outra."


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