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Foto do escritorPaulo Vinicius

O conservadorismo materno em Carrie, a Estranha

Carrie é um dos melhores livros da carreira de Stephen King. Repleto de camadas, ele nos entrega uma crítica sobre o universo escolar e o conservadorismo religioso. Nessa matéria, vamos falar a respeito de Henrietta White, a mãe de Carrie.


O romance Carrie, a Estranha é uma das obras mais emblemáticas da carreira de Stephen King. Mesmo após inúmeras publicações, o autor sempre retorna a esta obra, que possui toda uma mística ao seu redor. Talvez por ter sido o primeiro grande trabalho de King; talvez por seu manuscrito quase ter ido parar na lixeira e tenha sido salvo por sua esposa Tabitha; talvez por suas várias adaptações. Mas, certamente sua história, que parece atemporal seja um de seus grandes trunfos. Uma menina estranha, com poucos amigos, que sofre bullying dos alunos mais populares da escola. Sua mãe é uma católica fervorosa que inferniza sua vida, transformando-a em uma pecadora por definição. Um dia ela desperta poderes que dão a ela as condições para se vingar de seus agressores. E a cidade toda vira um pandemônio. Muito já foi dito e escrito sobre Carrie, mas nesta matéria gostaria de dedicar minha atenção a um personagem específico da história: Henrietta White, a mãe de Carrie.


Em vários de seus romances, King gosta de brincar com o estereótipo do fanático religioso: temos a pregadora maluca de O Nevoeiro, o pastor corrupto em Sob a Redoma, a multidão de fieis nem sempre muito sãos em Revival. É um tema que King gosta de brincar porque o sul dos Estados Unidos é permeado por conservadores católicos ou evangélicos. Os mesmos republicanos típicos que gostam de manter a "moral e os bons costumes" em suas comunidades. Antes de mais nada é preciso destacar que de forma alguma podemos generalizar comportamentos ou atitudes a um agregado social ou ideológico específico. A linha de corte aqui é como um autor de terror acaba trazendo suas críticas sociais para suas tramas. E infelizmente são estes grupos sociais que sofrem com uma minoria mais estroboscópica e agressiva e os pinta de maneira errada para o mundo. Não se trata de uma discussão ideológica, mas sobre pessoas que desenvolvem sentimentos ruins acerca de outras pessoas. No fim das contas, um assassino é um assassino; independente de suas convicções políticas.


Henrietta White é uma mulher apresentada como sendo de meia idade, mãe solteira por conta de circunstâncias que se sucederam anos antes do nascimento de Carrie, frequentadora de cultos dominicais e observadora rígida da boa conduta religiosa. Precisou cuidar de sua filha sozinha e alguns acontecimentos do passado a fizeram perceber que alguma coisa de errado poderia estar acontecendo com sua filha. Para que ela não fosse para o caminho do pecado, Henrietta foi rígida ao limite com sua filha. Nada de sair até tarde de casa. Escolher bem que amigos ela deveria ter - nenhum, no caso. nada de se envolver com famílias pecaminosas. Se vestir sempre adequadamente - quase coberta por completo. Evitar ao máximo as tentações e sempre pedir perdão a Deus por existir. A vida de Carrie se resumia a acordar, ir para a escola e voltar para casa. A menina tinha suas pequenas rebeldias, mas tão insignificantes que não se qualificavam como rebeldias.



Seu lar era uma espécie de prisão. Henrietta entendia que a privação era a melhor maneira de evitar que Carie causasse problemas. E, lá no fundo, Henrietta imaginava o despertar de sua filha. Com a evolução da psicologia infantil e os estudos sobre o desenvolvimento proximal (no pensamento de Lev Vygotsky, importante estudioso para a pedagogia) sabemos hoje a importância do processo de socialização. Somente a partir destas experiências, entre erros e acertos, é que uma criança desenvolve mecanismos para viver em sociedade. Ao alijá-la disso, Henrietta fez com que sua filha se tornasse uma pessoa insegura e reprimida, que não sabe se comunicar com outros colegas.


Talvez o mais agravante tenha sido as condições de nascimento de Carrie. Sua mãe se envolveu com um homem da estrada, um caminhoneiro (uma trama desenvolvida no livro), com quem teve uma tórrida relação. Mas, ela foi abandonada por seu amante que traiu sua confiança e ainda a deixou grávida. Henrietta se tornou mal vista aonde morava. Precisamos entender o contexto em que Carrie foi escrito, a década de 1970. Principalmente se jogarmos a situação para o sul dos EUA, mais conservador e retrógrado. Uma mulher solteira é uma presença subversiva em um local que valoriza a moral e os bons costumes. A futura mãe abandona o seu lugar de origem e vai buscar o refúgio em um novo lugar. Lá ela se vincula à Igreja e adota uma postura fundamentalista. A Igreja funciona como um escudo às críticas sociais. Isso garante a ela a "segurança moral" necessária para ela tocar a vida.


Ao mesmo tempo, Carrie é vista como um erro. Alguém que lembra Henrietta de uma situação vexatória e humilhante. Talvez Carrie se assemelhe a seu pai, ou lembre sua mãe dele. Não é justificativa, mas a filha é quase um símbolo disso. Maltratar a menina é uma forma de se vingar daquele que lhe fez mal. É mesquinho e ela sabe disso. O fato de ela desconfiar que sua filha possui habilidades sobrenaturais é mais um prego em um caixão. O que percebemos ao longo da história é que Henrietta não quer o bem da filha, mas para si mesma. A religião é uma justificativa para um comportamento agressivo.


Como professor da educação básica já pude presenciar alguns casos como o de Carrie (só não com poderes psíquicos, claro). Infelizmente esse tipo de comportamento é somatizado a um discurso de ódio que se prolifera diariamente pelo mundo inteiro. Em sua obra clássica chamada Em Nome de Deus, a autora Karen Armstrong reflete sobre os extremismos no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. Mas, mais do que isso ela procura investigar como o indivíduo adota uma postura violenta sendo um membro de uma religião. Em sua conclusão, Armstrong explica que existe socialmente, uma pré-disposição do indivíduo para atos extremos quando colocado em uma situação-limite. Seja pela convivência em um ambiente violento, um trauma ocorrido ao longo da vida ou sentimentos que estão acumulados. A religião seria uma maneira de o indivíduo se convencer de que seus atos, por mais abjetos que sejam, possuem uma raison d'etre, ou seja, são justificados por algum conjunto de ideias.



Ao buscar refletir sobre todos esses elementos podemos entender que a mão de Carrie tem uma boa parcela de culpa na explosão que leva à tragédia no baile. Não vem ao caso discutirmos se uma educação conservadora ou progressista é melhor ou pior. O que entendemos são os exageros, a falta de diálogo, a raiva latente. E a literatura tem o poder de nos tocar, seja a partir de alguma situação já vivenciada ou algo pelo qual passamos no momento. Talvez este seja um dos motivos pelos quais Carrie é considerada uma das obras mais importantes na carreira de Stephen King. Nos mostra o desespero de uma menina que tem diversas questões emocionais a serem resolvidas e a completa falta de apoio vindo seja de sua mãe, da escola, de seus colegas. Ele não tem a quem recorrer. A sociedade a abandonou mesmo após vários gritos de socorro. Ele acaba devolvendo ao mundo aquilo que ela recebeu.





















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