Depois de comentarmos sobre as nossas leituras e os livros que curtimos, hora de falar sobre os quadrinhos. E tive contato com muita coisa sensacional, sejam clássicos ou quadrinhos atuais.
Chegamos à nossa última lista de melhores do ano. E para fechar com chave de ouro, nada melhor do que falar do que li no ano passado e que me marcou. Só para deixar claro, são as minhas leituras do ano passado, ou seja, tem muita coisa que não foi necessariamente lançada em 2023. Até porque tenho lido muito material clássico, quadrinhos que estava devendo a mim mesmo como A Saga do Monstro do Pântano ou até Sandman (que não li por inteiro). Aliás, compartilhem a lista de vocês também porque sempre é uma maneira de dar indicações a todos de ótimas leituras.
"Asa Noturna vol. 1" de Tom Taylor e Bruno Redondo
Ficha Técnica:
Nome: Asa Noturna vol. 1
Autor: Tom Taylor
Artistas: Bruno Redondo, Rick Leonard (n. 82) e Neil Edwards (n. 82)
Arte-Finalistas: Bruno Redondo, Andy Lanning (n. 82) e Scott Hanna (n. 82)
Colorista: Adriano Lucas
Editora: Panini
Tradutor: Rodrigo Oliveira
Número de Páginas: 160
Ano de Publicação: 2022
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Sinopse: Asa Noturna está de volta, e sua vontade de manter Blüdhaven segura nunca foi tão forte! Mas sua cidade adotiva elegeu um novo prefeito com o sobrenome Zucco, o nome do assassino de seus pais. Ao investigar o passado do político com a Batgirl, ele desenterra detalhes que irão chocar e alterar para sempre o futuro do herói. Começa aqui a nova fase escrita pelo aclamado roteirista Tom Taylor (DComposição, Injustiça)!
Opinião: Este volume está no lugar do arco inteiro até onde li (que foi o volume 5) do Tom Taylor. Para mim, o roteirista tem feito um trabalho impecável no personagem e conseguiu fazer com que o Asa Noturna subisse de prateleira dentro da DC. Através das suas histórias, Taylor destaca as qualidades e os defeitos do personagem, fazendo-o até refletir sobre suas escolhas de vida. Há várias semelhanças entre o Dick e o Superman, no que diz respeito à própria definição de heroísmo. Taylor trabalha bastante essas similaridades, mas do ponto de vista de um indivíduo sem poderes, que precisa de outras pessoas que possam ajudá-lo a alcançar seus objetivos. Dick é um personagem que levanta os outros, que traz e enxerga o melhor das pessoas. A batalha por Bludhaven é também uma disputa entre o bem e o mal. Uma cidade que representa várias grandes capitais hoje onde a inércia e a desconfiança caminham lado a lado com a corrupção e o crime.
Tirando o volume 2, inventado no Brasil pela Panini para tentar vender a saga Estado de Medo (que era uma perfeita porcaria), Taylor consegue manter por vários volumes o interesse do leitor. Não há só um investimento em um protagonista forte, mas um elenco de apoio que dá condições para criar inúmeras histórias secundárias. O romance dele com a Batgirl já se tornou também parte da mitologia do personagem e a maneira como Taylor conduz, com respeito, a relação dos dois é bem legal. Não comprei o vilão que Taylor criou para ser o "arquiinimigo" do Dick e até ele tenta beber da influência do Silêncio, vilão do Batman que ganhou espaço durante a saga Batman: Silêncio. Sei que existe uma enorme diferença entre o background dos dois, mas dá para perceber alguns pontos em comum com a narrativa do Jeph Loeb.
"Dylan Dog Nova Série vol. 9" de Paola Barbato, Gianluca e Raul Cestaro
Ficha Técnica:
Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 9 - Das Cinzas às Cinzas
Autora: Paola Barbato
Artistas: Gianluca e Raul Cestaro
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicação: 2020
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Sinopse: A vida do Investigador do Pesadelo está ruindo. Perseguido pelo inspetor Carpenter, sem clientes há meses e com um aviso de despejo imediato, Dylan se tranca em casa, atormentado por uma espiral de paranoia que o leva até a despedir Groucho, suspeito de armar contra ele. Uma enésima e inesperada reviravolta na vida do inquilino de Craven Road!
Opinião: Poderia ter escolhido qualquer uma entre várias edições do Dylan Dog. Se já gostava da série antes, passei a curtir ainda mais agora que peguei mais edições para ler. Qualquer roteiro da série é de alto nível, ou seja, a barra que o leitor espera para as histórias do detetive está lá em cima. Escolhi essa em particular por causa da versatilidade da Paola Barbato. Poucas vezes pude conhecer uma roteirista capaz de escrever um sem número de histórias em gêneros completamente distintos. Essa edição em particular é bastante voltada para o próprio personagem e suas inseguranças. Daquelas narrativas que empregam metalinguagem e que desgraçam a cabeça do leitor ao final. Nesta história específica o protagonista volta para casa e vê todo o seu mundo virado de cabeça para baixo. A casa em Craven Road representa o universo seguro do Dylan. Quando isso é retirado dele, Dylan perde a sua fundação e se sente inseguro para continuar seguindo em frente. A questão forte que fica na narrartiva é: o que está acontecendo é real? É alguma maldição? Ou não passa de uma confusão da cabeça do personagem? Barbato joga essas dúvidas na cabeça do leitor enquanto a trama avança.
Falar da arte em qualquer edição da série é sempre levar em conta um trabalho competente de artistas. É preto e branco na sua mais pura acepção. A habilidade em traduzir o roteiro em imagens e sequências fica claro desde o começo. E isso os leitores podem ver em qualquer edição. Outro ponto bacana é em como os roteiristas tiram influências de autores clássicos do gênero de terror: não é incomum vermos histórias onde mitos lovecraftianos são empregados ou tropos saídos de Edgar Allan Poe. Posso recomendar numa boa Dylan Dog e é uma pena que a Mythos tenha congelado as publicações da Nova Série. Todas as histórias tem um frescor diferente das edições clássicas e dialogam bastante com os problemas que vivemos na atualidade. Sem desmerecer o trabalho de monstros como Tiziano Sclavi, mas curto demais as histórias da Paola Barbato, do Ratigher e de vários outros que se tornaram constantes nessa nova fase do personagem.
"A Saga do Monstro do Pântano vol. 5" de Alan Moore, John Tottleben, Rick Veitch et al
Ficha Técnica:
Nome: A Saga do Monstro do Pântano vol. 5
Autor: Alan Moore
Artistas: John Totleben, Rick Veitch
Arte-Finalista: Alfredo Alcala
Colorista: Tatjana Wood
Editora: Panini
Tradutor: Edu Tanaka
Número de Páginas: 168
Ano de Publicação: 2018 (nova edição)
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Sinopse: De 1983 a 1987, um jovem escritor britânico chamado Alan Moore revolucionou os quadrinhos dos Estados Unidos. Sua ousada abordagem na série do Monstro do Pântano, da DC Comics, definiu novos padrões para a narrativa gráfica e desencadeou uma revolução na nona arte que repercute até os dias de hoje. Partindo das premissas de horror gótico do título e construindo um marcante e intuitivo estilo narrativo e uma profundidade de caracterização sem precedentes, a visão de Moore foi traduzida assombrosamente em belos desenhos de colaboradores como Stephen Bissette, John Totleben, Rick Veitch e Alfredo Alcala. O resultado é uma das mais duradouras obras-primas dos quadrinhos.
Este volume reúne as edições: The Saga of The Swamp Thing (1982) 51-56, e inclui as clássicas histórias O Jardim das Delícias Terrenas e Meu Paraíso Azul, bem como um texto introdutório de Stephen Bissette.
Opinião: Terminei de ler as três edições finais de A Saga do Monstro do Pântano de Alan Moore e corrigi um dos meus defeitos de caráter por nunca tê-lo feito antes (falta Watchmen... mas, isso é outra história). Poderia indicar qualquer das três edições para vocês, mas preferi o volume 5 por ser um especial. Aqui tem várias histórias favoritas do público como as duas mencionadas O Jardim das Delícias Terrenas e Meu Paraíso Azul. Na primeira história, o Monstro toma posse da natureza em Gotham City e coloca-a contra os humanos que tanto a exploraram. Sim, é o encontro do Monstro com o Batman, de novo. É uma história repleta de camadas que mostra o quanto a humanidade usurpou o espaço que pertencia à fauna e à flora. Tem alguns momentos que são de partir o coração como o Monstro sendo queimado por uma população ensandecida ou o Batman agindo como um completo babaca ao longo de toda a narrativa. O tema da história também remete à opção sexual de Abby por se envolver com o Monstro entendido como um ser bizarro e não humano. A discussão de Moore pode ser totalmente trazida para os dias de hoje com as dificuldades que a sociedade tem de compreender a diferença entre sexo biológico e gênero. Moore precedeu em décadas isso.
Como fã de ficção científica, Meu Paraíso Azul é belíssimo. Um roteiro bem acabado, apresentando um Monstro tentando entender seu lugar em outro planeta onde ele é um ser extremamente poderoso. Só que ele se vê isolado, sem ninguém a seu lado. É então que ele assume o papel de Criador e percebe, muito tardiamente, as responsabilidades que vem com isso. É também quando discutimos que nenhum ser humano é uma ilha. Precisamos ser sociáveis e nos sociabilizar porque isso faz parte de nossos instintos como seres sencientes. O Monstro se perdeu completamente quando não foi capaz de se comunicar com mais ninguém. A história é fascinante e todo o volume está em um nível completamente diferente de histórias com um roteirista que é uma lenda até hoje e artistas do nível de um Totleben e até a entrada do Alfredo Alcala. Ao mesmo tempo, começamos a ver o Moore preparando-se para passar o bastão para Rick Veitch que tomará a frente das histórias do personagem após a saída do Mago.
"Na Mente de Sherlock Holmes" de Cyril Lieron e Benoit Dahan
Ficha Técnica:
Nome: Na Mente de Sherlock Holmes
Autores: Cyril Lieron e Benoit Dahan
Editora: Pipoca e Nanquim
Gênero: Mistério
Tradutor: Fernando Paz
Número de Páginas: 108
Ano de Publicação: 2023
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Sinopse: O maior detetive de todos os tempos e seu fiel companheiro e biógrafo desvendam um mistério espetacular nesta história original baseada na famosa obra de Sir Arthur Conan Doyle! Um dos quadrinhos franceses mais inventivos de todos os tempos, com uma narrativa que simula a mente investigativa de Sherlock Holmes, chega ao Brasil num álbum extremamente luxuoso!
Em uma típica manhã de sexta-feira, um agente da polícia bate à porta da casa localizada no 221B da Baker Street, trazendo um velho conhecido do doutor Watson em condições lamentáveis. O estranho relato do sujeito chama atenção de um entediado Sherlock Holmes, que rapidamente percebe estar diante de um mistério muito maior.
As pistas envolvendo um enigmático espetáculo de magia, bilhetes com ideogramas chineses, um pó totalmente desconhecido e desaparecimentos aparentemente aleatórios atiçam a curiosidade do detetive-consultor, que se anima com a possiblidade de um caso que o desafie.
A editora Pipoca & Nanquim convida a todos para um passeio investigativo pela Londres do século XIX, atrás dos indícios que levem à resolução de uma nova e intrincada charada, em um álbum com formato grande (21 x 30 cm), capa dura com um furo na forma da cabeça do personagem (que revela uma bela arte de guarda atrás, interagindo com a capa) e 108 páginas coloridas impressas em papel offset de alta gramatura.
Aproveite esta rara e pitoresca oportunidade para ver, em tempo real e com detalhes, o funcionamento daquela que o doutor Watson um dia chamou de “a mais perfeita máquina de observação e raciocínio”: a mente de Sherlock Holmes!
Opinião: Esse quadrinho é uma aula sobre como a nona arte possui uma imensa flexibilidade narrativa. O que a dupla faz aqui é inacreditável. Em uma narrativa onde acompanhamos mais um caso impossível investigado pelo maior detetive da história da literatura, Cyril mostra um personagem muito humano e falho ao mesmo tempo em que é genial. Um homem desaparecido que aparece inesperadamente para Watson e cujo mistério vai se revelando uma enorme conspiração. Sherlock e Watson passam então a se deparar com uma terrível organização criminosa que os levará ao limite. O roteirista traz para o leitor um detetive inquieto que cuja mente funciona o tempo inteiro e cuja rotina é levada por sua curiosidade em solucionar quebra-cabeças. Cyril mostra ao longo da história o quanto foi capaz de compreender o personagem de Arthur Conan Doyle. É uma das histórias inspiradas no famoso detetive que eu mais gostei.
Mas, é preciso também comentar a respeito da arte de Benoit Dahan. Ele faz com que o leitor participe ativamente da investigação. Através de esquemas metanarrativos como direcionar o olhar, inserir pistas em pontos específicos e até esconder detalhes que pedem o emprego de algum elemento externo. São brincadeiras que só podem ser feitos com a mídia quadrinhos muito no que o Marc Antoine Mathieu faz na série publicada pela Comix Zone (que ainda não tive a oportunidade de ler). Isso dá um frescor especial e mostra o quanto ainda não foi explorado pelos desenhistas. Estamos tão acostumados com um produto americano pasteurizado que quando aparece algo diferente nossos olhos se abrem. É como se estivéssemos em uma pequena lagoa quando existe todo um oceano lá fora. A quadrinização que ele faz é algo de outro mundo: aproveitar desenhos para inserir elementos como balões ou imagens sequenciadas, muito no que Will Eisner fazia no passado. A página é como um quadro em branco que é preenchido pelo desenhista. Ele pensa em toda a página como uma tela e tudo que está presente ali interage entre si.
"Uma História Real de Crime e Poesia" de David L. Carlson e Landis Blair
Ficha Técnica:
Nome: Uma História Real de Crime e Poesia
Autor: David L. Carlson
Artista: Landis Blair
Editora: Darkside
Gênero: Biografia/Fantasia
Tradutores: Bruno Dorigatti e Paulo Raviere
Número de Páginas: 457
Ano de Publicação: 2022
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Sinopse: “Você nunca será livre até que você se liberte da prisão em sua mente”, assim começa a premiada graphic novel de David L. Carlson e Landis Blair. Uma combinação perfeita de palavras e imagens que são usadas para nos contar a história de um pai cego, um filho órfão e sua conexão com o crime do século.
Tudo começa em um inverno de Chicago em 1959. Após a morte da mãe, o jovem Charlie Rizzo reencontra seu pai depois de uma longa separação. Ausência e dor logo dão espaço para um possível recomeço. Através do recurso de flashback, as leitoras e os leitores são impactados no início da leitura pelo possível incidente que causou a cegueira em Matt Rizzo. Na obra, Charlie também fica surpreso com a descoberta e se questiona por que nunca ouviu falar sobre o ocorrido antes.
Matt Rizzo levava a vida como corretor de seguros, mas nunca se distanciou do universo da literatura e da poesia, que descobriu enquanto esteve preso. Com o passar do tempo, Charlie aprende a viver como uma pessoa cega, ressignificando e se adaptando à condição de seu pai. A parceria e a dependência entre os dois cresce com o passar dos anos, porém Charlie não imaginava que seu próprio pai pudesse mantê-lo cego diante da verdadeira história de sua vida.
Toda a verdade vem à tona quando uma velha mala é encontrada. O inferno e o purgatório engolem as possíveis razões. Mentiras ecoam e distorcem a visão de Charlie sobre tudo ao seu redor.
Décadas depois do ocorrido, o verdadeiro Charlie contou a história de seu pai ao roteirista David L. Carlson, que a partir de então mergulhou numa pesquisa profunda para a escrita de Uma História Real de Crime & Poesia. Os talentos narrativos de Carlson se uniram aos do magnífico ilustrador e quadrinista Landis Blair, que os darksiders já conhecem por ter ilustrado Para Toda a Eternidade, de Caitlin Doughty.
Nas exuberantes páginas desta graphic novel de true crime, Blair elabora uma narrativa experimental, que dá conta de transmitir a angústia da cegueira, o desespero da prisão, e os feixes de esperança em meio a tudo que viveu e descobriu sobre Matt Rizzo. Cada quadro de Blair é uma combinação perfeita de caos, sombra e luz capazes de erguer dos traços uma beleza única.
Opinião: Mais um quadrinho que usa e abusa da arte gráfica para levar sua mensagem. Na história, o filho de Matt Rizzo, Charlie, se mete em encrencas o que faz com que seu pai se entristeça muito e se recorde de quanto tempo acabou preso por conta de erros em sua juventude. A relação entre pai e filho não é boa principalmente por conta do enorme vácuo deixado pela ausência de sua esposa. Toda a narrativa vai girar em torno de Matt contando como foi seu tempo na cadeia e de como ele foi colega durante muito tempo de um grande criminoso condenado pela justiça. É uma narrativa de redenção, mas não apenas isso. Durante o assalto que o levou à prisão, Matt ficou cego. Então vamos procurar "enxergar" um mundo da maneira como uma pessoa que perdeu a visão o compreende. Falando do aspecto narrativo, o autor bebe de muitas reflexões filosóficas e sociais como a questão carcerária, as relações entre irmãos, e a desigualdade social em uma população carcerária que perde o seu espaço na sociedade.
A arte é magnífica também. Assim como na HQ anterior, Carlson brinca com as páginas formando composições visuais que servem à sua visão narrativa. A arte também conta uma história. A maneira como os personagens estão dispostos em tela, o sombreamento, ou até uma abstração qualquer possuem um propósito final. Outro ponto bacana é como Carlson traduziu a habilidade musical do seu protagonista para as páginas. Algumas delas são lindíssimas e estamos falando de uma arte predominantemente em preto no PB. Para quem gosta de apreciar que elementos gráficos estão presentes, vale destacar a habilidade do autor para a hachura. Essa mecânica serve inclusive para mostrar os demônios que habitam a mente e o coração do protagonista. Em alguns momentos esse hachurado fornece uma sensação de claustrofobia que remete diretamente à condição de preso de Charlie.
"Mugiko" de Gianfranco Manfredi e Pedro Mauro
Ficha Técnica:
Nome: Mugiko
Autor: Gianfranco Manfredi
Artista: Pedro Mauro
Editora: Trem Fantasma
Gênero: Espionagem
Tradutor: Lucas Pimenta
Número de Páginas: 128
Ano de Publicação: 2020
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Sinopse: O prisioneiro Ivan Ivanovic foi o soldado mais frio, determinado e preciso da União Soviética, mas sua insubordinação o levou a ser encarcerado na Sibéria.
Acontece que a Pátria Vermelha precisa novamente de seus serviços e Ivan ressurge como MUGIKO, o agente secreto mais mortífero, sedutor e cínico que o mundo já viu. Uma intrincada trama de espionagem e aventura saída da mente genial de Gianfranco Manfredi e soberbamente ilustrada pelo brasileiro Pedro Mauro. Originalmente publicada pela Sérgio Bonelli Editore, no título Le Storie, Mugiko é o primeiro trabalho internacional de Pedro Mauro editado no Brasil.
Opinião: Gente, eu sou fã de carteirinha do Pedro Mauro. Já tive a oportunidade de vê-lo em duas oportunidades durante a CCXP e ele sempre me recebeu com carinho e atenção. Um crime não termos valorizado a habilidade gráfica do Pedro há mais tempo. O que o Pedro desenha é uma enormidade, e não à toa ele se tornou um artista muito badalado pela Sergio Bonelli Editore. Uma editora onde apenas a nata da nata trabalha. Mugiko é uma publicação que saiu pelo selo Le Storie por onde passaram inúmeros trabalhos extraordinários. A narrativa é uma grande aventura de espionagem com um personagem bastante inspirado no 007, de Ian Flemming. É uma história de ação, com perseguição, tiroteio, beldades, tudo o que você pode esperar nesse tipo de história. Manfredi, outro monstro das publicações italianas, nos traz uma narrativa dinâmica, despretensiosa e divertida que vai agradar a qualquer leitor. A arte do Pedro Mauro é um escândalo de boa e ele usa e abusa dos quadros que passam uma energia e um vigor únicos. Às vezes uma narrativa despretensiosa pode ser tão interessante quanto aquela que lhe traz alguma crítica ou discussão. E é isso o que Manfredi e Mauro nos trazem aqui. Aquela coisa de desligar o cérebro por alguns momentos e apenas nos divertir com uma boa história.
"Primavera em Tchernobil" de Emmanuel Lepage
Ficha Técnica:
Nome: Primavera em Tchernóbil
Autor: Emmanuel Lepage
Editora: Geektopia
Gênero: Não-ficção
Tradutor: Fernando Paz
Número de Páginas: 169
Ano de Publicação: 2020
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Sinopse: O mundo seguiu seu curso, mas muitas pessoas ficaram para trás. Descubra o que aconteceu com elas neste documentário em quadrinhos sobre tragédia e morte, pessoas e terra. E sobre o que resta depois de um desastre. 26 de abril de 1986.
O núcleo do reator da usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, começa a derreter, desencadeando o maior desastre nuclear da História. Enquanto o mundo dormia, uma nuvem carregada de radiação viajou por milhares de quilômetros em todas as direções, contaminando cinco milhões de inocentes. À época, Emmanuel Lepage tinha apenas 19 anos.
Mais de 20 anos depois, em abril de 2008, um grupo de ativistas e artistas visita Tchernóbil a fim de documentar a vida dos sobreviventes da tragédia, que vivem nas terras contaminadas. Enviado para representar paisagens brutais de desastre e a loucura do homem, Emmanuel Lepage se surpreende com a inesperada beleza que encontra naquele inóspito lugar. “Primavera em Tchernóbil” é o resultado do que ele testemunhou.
Opinião: Estamos discutindo já há alguns anos sobre as alterações climáticas ocorrendo no nosso planeta. Isso se tornou pauta até de políticas públicas nacionais (e já não estava na hora né). Materiais de ficção e/ou quadrinhos que se engajem nesse debate se tornaram best sellers em pouco tempo. Ah, então Primavera em Tchernóbil é sobre alteração climática? Sim e não. Esse é o diário de viagem do Lepage enquanto ele fez um ensaio artístico em Tchernóbil. Ele passa algum tempo junto com um grupo de outros ativistas e procura registrar os seus dias no local. O que vale a pena perceber no discurso feito pelo autor é que ele teve um forte impacto com essa experiência já que estar lá e vivenciar a vida em um ambiente extremo é completamente diferente das informações que lhe foram repassadas. Isso permitiu a ele formar uma nova imagem sobre o local, pensar um ambiente maltratado pelo homem a partir de outro prisma. Pensando retrospectivamente, me incomodou um pouco a postura não necessariamente crítica e meio em cima do muro do Lepage. Mas, okay.
Daí entro no segundo ponto. A arte do Lepage é magnífica e a cada página somos presenteados ora com uma atmosfera melancólica em tons de preto e cinza, ora deslumbrantemente colorido, mostrando uma natureza que se adaptou e se transformou a um novo ethos. E aí é que entra o motivo de eu ter trazido a questão das mudanças climáticas. Não importa o que o homem faça a si próprio: guerras, poluição, lançar gases na atmosfera. As alterações climáticas afetam os seres humanos e não a Terra. O planeta não vai explodir por causa das alterações. Quem vai desaparecer somos nós, fruto de nossa destruição desenfreada de um ambiente que nos acomodou. Esse quadrinho é exemplar em nos mostrar o quanto a natureza pode ser maravilhosa mesmo em função de um desastre. A vida natural vai arrumar um jeito de se adaptar. Seja a partir da inclusão de novas espécies, seja agregando o novo espaço ao seu habitat.
"Asterios Polyp" de David Mazzucchelli
Ficha Técnica:
Nome: Asterios Polyp
Autor: David Mazzucchelli
Editora: Quadrinhos na Companhia
Gênero: Ficção
Tradutor: Daniel Pellizzari
Número de Páginas: 344
Ano de Publicação: 2014
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Sinopse: Ao lado de nomes como Frank Miller, Alan Moore e Neil Gaiman, o artista David Mazzucchelli foi um dos grandes responsáveis pela revolução nos quadrinhos no fim da década de 1980. Seu trabalho em séries como Demolidor: O homem sem medo e Batman: Ano 1 até hoje é referência do que foi feito de melhor no campo dos super-heróis. Depois de anos publicando apenas pequenas histórias autorais, Mazzucchelli voltou-se para esta que é a mais ambiciosa de suas histórias. Asterios Polyp é ao mesmo tempo um estudo sobre as possibilidades narrativas dos quadrinhos, um livro de design, estética, filosofia e, por que não, humor. Tudo isso sem sacrificar a trama, tão envolvente quanto os desenhos do autor. O Asterios do título é um arquiteto de cinquenta anos, cujo renome vem exclusivamente de seus trabalhos teóricos. Mulherengo, misógino e de uma arrogância quase inacreditável, ele vê seu passado se esfacelar após um incêndio que consome sua casa. Tendo salvado apenas uns poucos objetos pessoais, Asterios parte numa viagem de ônibus, até onde o dinheiro em seu bolso puder levá-lo. No coração dos Estados Unidos, ele encontrará uma nova família, enquanto coloca em perspectiva os principais acontecimentos de sua vida. Quem conta a história de Asterios é Ignazio, seu irmão gêmeo natimorto. A partir desse contraponto, Mazzucchelli cria um verdadeiro jogo de espelhos, uma trama ao mesmo tempo densa - que permite diversas leituras - e fluida como um bom romance. Para narrar a vida desse personagem complexo e multifacetado, Mazzucchelli levou a linguagem dos quadrinhos a um novo patamar, e na aparente simplicidade do traço se esconde um trabalho maduro e uma poderosa reflexão sobre o sentido dos relacionamentos, da arte, da família e, em última instância, da vida.
Opinião: Mais um erro quadrinístico resolvido na minha vida. Não há muito o que falar sobre Asterios Polyp a não ser leia e tenha sua vida alterada drasticamente. A história é emocionante e mostra um protagonista que é um cretino inicialmente. À medida em que a narrativa alterna entre passado e presente, momento no qual o personagem aparece com uma postura mais humilde e desejando encontrar um novo rumo em sua vida. Como um personagem arrogante, cheio de si e canalha conseguiu se transformar nesta outra pessoa? Um tipo de história que já foi vista em literatura, cinema e outras mídias, mas que Mazzucchelli faz com maestria. Não consigo encontrar um único problema de roteiro e só elogiar a forma como o autor explorou seu elenco. As mudanças temporais não atrapalham a compreensão e arte e roteiro trabalham como complementares. É impossível não se emocionar com esse quadrinho principalmente quando vamos chegando ao final. De certa forma, ficamos torcendo para um encaminhamento específico para Asterios, mas o final mais engrandecedor foi a melhor opção.
A arte é uma covardia de boa. Mazzucchelli estava no ápice de sua forma e a opção pelo emprego de cores específicas para cada uma das partes foi maravilhosa porque permitiu a ele brincar com as palhetas de cores. Existe todo um simbolismo por trás de suas opções gráficas. É uma segunda camada de interpretação para a história. Conseguimos fazer deduções sobre a personalidade dos personagens e as opções de vida que fizeram. A quadrinização está em outro nível, muito reminiscente do estilo de Will Eisner. Aproveitar o quadro e a arte como um todo para preencher uma cena. Ler Asterios Polyp é assistir uma aula de um grande mestre dos quadrinhos. O emprego de ferramentas de colorização, o posicionamento dos quadros, como empregar balões de diálogo, o impacto emocional das cenas. Está tudo ali. É só ir dissecando cada uma.
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