Escrito por Joshua Palmatier
Traduzido por Paulo Vinicius F. dos Santos
Artigo original em: https://bit.ly/39CfP8g
Como um aspirante a escritor e um leitor voraz de fantasia há anos (e anos) atrás, o aspecto que mais me intrigava e me mantinha lendo e escrevendo fantasia era o estilo único do mundo que poderia ser encontrado entre as páginas de cada livro. As magias arcanas, as criaturas de outro mundo, e as raças e criaturas nunca antes vistas que habitavam o mundo capturavam minha imaginação e me levavam aos novos reinos de temor e imaginação. Afinal, é por isso que se chama fantasia, não é? O "novo" é o motivo pelo qual nós tanto curtimos, certo?
Então imagine o meu choque completo enquanto lia Tigana, escrito por Guy Gavriel Kay que era o familiar que fazia do novo tão especial.
O livro mudou a forma como eu escrevia e a maneira como eu lia romances de fantasia. Percebi que, como um escritor aspirante, estive tentando construir mundos da maneira errada. Estava tentando criar mundos novos com uma roupagem totalmente nova - novas culturas, novas raças, novas magias, novo tudo. Mas depois desta epifania, percebi que a única razão para todo esse novo - toda a magia, todas as criaturas - ser tão interessante era porque estava em contraste com um pano de fundo que era essencialmente 90% familiar. A ideia de que para a fantasia trabalhar bem, para ter tamanho poder como ela tem, viria do fato de que a maior parte do mundo onde ela se passa é essencialmente o mundo real era, francamente, assombroso.
Não era necessário criar uma nova criatura ou uma nova cultura; eu poderia pegar um cenário do mundo real - passado ou presente - e torná-lo a base para uma criatura ou uma cultura. Tudo o que eu precisava fazer para tornar o familiar algo novo e revigorante era mudar pequenos aspectos daquele mundo, ou adicionar algo novo e determinar o quanto o mundo poderia ter que mudar para acomodar aquilo.
Em Tigama, Guy Gavriel Kay cria um mundo centrada na cultura da Itália. Não, a península não é em forma de uma bota, e não, a cultura não é exatamente como a Itália renascentista, mas o sabor da Itália está lá - na estrutura de palavras, os nomes de lugares, os personagens; nos gestos, nas tradições, na força da vida cotidiana que faz as pessoas tocarem a vida. Por trás da fachada de fantasia existe uma fundação baseada no mundo real que é reconhecível e é esta familiaridade que fornece as bases para o leitor e provem a ele a estabilidade para quando a verdadeira magia do mundo começa.
Desnecessário dizer, eu devorei Tigana e então A Song for Arbonne e toda a trilogia The Fionavar Tapestry e os muitos outros mundos criados por Guy Gavriel Kay. Ele é um mestre em pegar um cenário reconhecível de nosso mundo - um lugar ou uma cultura - e transformá-lo em algo completamente de outro mundo, enquanto ainda mantém o senso de familiaridade, aquele senso de eu já estive lá. E não é isso que é um dos elementos essenciais da escrita de fantasia? Todos nós não estamos tentando criar um mundo que faça o leitor se sentir como se já tivesse vivido lá?
Como ele faz isso é pura magia, e devo confessar que após anos de estudo de não apenas os romances de Guy Gavriel Kay, mas praticamente cada outro romance de fantasia que eu li, ainda não consegui dominar completamente a sua arte. Certamente existem alterações óbvias para trazer o leitor para fora do mundo familiar e levá-lo ao reino da fantasia, tal como ter duas luas ou mudar a geografia, mas estes são meras mudanças cosméticas. A arte de Kay é muito mais sutil. Ele altera o familiar através de todos os aspectos da vida, até os rituais cotidianos arbitrários, incluindo mitos e lendas e superstições, tal como a extremamente poderosa lenda da riselka em Tigana. Mesmo pensando agora na riselka me dá calafrios na espinha, evocando tão efetivamente o final assustador de Tigana. Kay consegue pegar cada mudança - seja ela cosmética ou outra coisa - e incorporá-la perfeitamente ao familiar. Cada mudança não apenas altera o mundo, fazendo-o parecer mais fantástico, mas também se comunica com o mundo, moldando-o tão profundamente que o leitor não pode imaginar a remoção deste aspecto do mundo. Este se torna intrínseco e se liga a cada outro aspecto do mundo, até que ele só consiga ser enxergado como um todo, sem partes separadas. E que este todo é também completamente novo, mesmo com aquela base de familiaridade.
Muitos escritores, quando falam do trabalho de Guy Gavriel Kay, falam de sua perícia e capacidade lírica com a linguagem. Sua escrita é evocativa, mesmo impressionística em certos lugares, e certamente transporta o leitor para um mundo diferente com escolhas simples de palavras e viradas narrativas. Mas para mim, a verdadeira arte no trabalho de Kay não é apenas o uso da linguagem, mas a forma sutil que ele dobra o que é tão obviamente um cenário familiar em algo fantástico e misterioso e completamente diferente. Este é o poder da narrativa de Guy Gavriel Kay, e não é nada menos do que extraordinário.
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Joshua Palmatier é um escritor e matemático. Nasceu na Pennsylvania, mas viveu em vários outros estados por toda a sua vida e atualmente mora em Binghamton, Nova York, e é professor titular de matemática em Oneonta. Threading the Needle, a continuação de Shattering the Ley, foi lançado em junho de 2016 pela editora DAW.
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