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As verdades sociais em Ritos de Passagem, de William Golding

Uma viagem de navio da Inglaterra até a Austrália vai ser o palco de um teatro do caos, protagonizado por todo o tipo de personalidades típicas da sociedade burguesa dos séculos XIX e XX. Golding registra de forma magistral uma narrativa que nos mostra as hipocrisias dos "cavalheiros" europeus.


William Golding é um mestre da escrita. Mais conhecido por sua obra seminal O Senhor das Moscas, é um crítico feroz da sociedade europeia tradicional. Através de suas obras o autor tenta nos mostrar as hipocrisias e falsos moralismos que são tão típicos dos seres humanos. Suas obras continuam tão atuais nos dias de hoje porque parece que algumas de suas críticas são atemporais. Na nossa matéria de hoje queria concentrar minha atenção em sua obra Ritos de Passagem, que foi recentemente publicada pela editora Alfaguara. Uma obra talvez menos conhecida do autor, mas que mantém toda a essência de seus debates em suas páginas.


Autores que desejam escrever personagens irônicos ou desagradáveis deveriam conhecer Edmund Talbot, o protagonista desse livro. Poucas vezes conheci um personagem tão nojento ou patético, e isso é o que faz dele um grande exemplo do que Golding pretende nos mostrar. Talbot não é empático, ou seja, ele não é feito para ser apreciado. É machista, preconceituoso ao limite, covarde e presunçoso. Ele é o melhor representante de um modelo social decadente, que se baseia em privilégios que não tem mais razão de ser em um outro modelo "civilizatório". O mais curioso é que Talbot é a essência da narrativa e essa falta de empatia o torna ideal para a trama. Recomendo até não buscar no protagonista ou nos demais personagens atitudes virtuosas. Aliás, o único personagem levemente virtuoso tem uma morte horrível dentro do navio. Todos os personagens, sem exceção, são desprovidos de virtudes, mesmo Summers, o primeiro-tenente tem atitudes reprováveis em certa medida. Talbot é um anti-herói perfeito e vale observar sua trajetória para entender como não há necessidade de usar o caminho da redenção para criar alguém nessas linhas. O personagem é coerente com suas características até o final.


Na narrativa somos colocados dentro de um navio que sai da Inglaterra com destino às terras australianas. A história se passa em pleno século XIX com a ilha se tornando o alvo do interesse britânico como um lugar exótico. Talbot é um homem ligado a pessoas importantes do governo britânico e provavelmente ocupará um cargo administrativo de muita influência. Se trata de uma longa viagem, lembrando que uma jornada como essa poderia levar meses. Somos apresentados a uma variedade de personagens que fazem parte da tripulação do navio: o capitão Anderson, um homem rude e violento; o sr. Summers, o imediato; os marujos Oldsheim, Deverel, Taylor, Gibbs e mais alguns outros que são apresentados de diferentes maneiras ao longo da trama; o vigário Colley; a governanta srta Granham, uma solteirona; o sr. Prettiman e seus hábitos incomuns; o sr. Brocklebank e sua filha Zenobia. Ao longo dessa jornada, Talbot iniciará um diário contando o cotidiano nesse navio, um diário destinado a seu protetor nobre na Inglaterra. Um diário que revelará o esfacelamento das contenções que nos permitem viver em sociedade.


A escrita de Golding é bastante pesada e clássica. Talvez isso atrapalhe leitores casuais e a narrativa precisa ser encarada de uma forma distinta à tradicional. Com certeza o leitor vai se incomodar com os personagens e até com a maneira enfadonha com a qual Talbot descreve seus dias e as pessoas do navio. Talbot sequer se importa com a numeração dos capítulos. Em determinado momento ele começa a inventar números de capítulos ou usa até letras gregas. Ele se esquece completamente dos dias e meses e aquele universo particular dentro do navio é o que vai valer. O leitor precisa se esquecer de uma leitura tradicional e pensar na história como uma sátira. Isso mesmo o narrador escrevendo seu relato com extrema seriedade. Mas, é na forma preconceituosa e desagradável que ele escreve que estão as inconsistências. Por exemplo, ele alega ser um cavalheiro que participou de uma guerra e teme ser abordado pelo capitão do navio, se escondendo em seu quarto. Alega ser um homem virtuoso e comete assédio moral com o vigário. A narrativa é epistolar, ou seja, em relatos de diário, cartas ou registros. Outra situação de escrita que pode incomodar os leitores são os parágrafos longos. Torna a leitura um pouco mais lenta e o protagonista tende a divagar bastante em fluxos de pensamento. Recomendo que o leitor leia em um ambiente calmo e sem ruídos. Porque é possível perder o sentido de algumas colocações que o autor faz caso deixemos nossa atenção desaparecer.


Vamos começar pelo protagonista Talbot que merece uma série de parágrafos a respeito. Um homem absolutamente desprezível, que fala mal das pessoas pelas costas enquanto mostra uma faceta respeitável em sua frente. Usa seus privilégios como nobre para estabelecer uma divisão entre ele e os demais. Dois casos são exemplares. Começo pela forma como ele lida com os demais tripulantes, sempre exercendo uma superioridade aparente enquanto os diminui repetidamente. A maneira como Talbot aborda o capitão Anderson vai ser o estopim para a série de situações constrangedoras que acontecem com Colley. Isso porque Talbot rebaixa o capitão do navio na frente de seus marujos. Isso é a humilhação definitiva para um "homem do mar" que tem no seu machismo e em sua posição a sua validação social. Quando alguém retira isso, a pessoa afetada irá buscar outras maneiras de recuperar o seu prestígio. Talbot mente em diversos momentos da história, exagerando detalhes de sua história pessoal, momentos que percebemos a partir de lacunas em seu próprio discurso. Em determinado momento, Summers pede que Talbot interceda junto ao capitão para ajudar Colley. Embora tenha prometido a Summers que iria conversar com o capitão, o protagonista não o faz e sua omissão também contribui para a tragédia que se abate depois.


Outra situação n qual Talbot se envolveu se refere à Zenobia, a filha de Brocklebank. Em um navio onde a maioria da tripulação é formada de homens, as mulheres estavam ameaçadas de alguma forma, caso não tivessem protetores. Inicialmente o leitor é levado a acreditar que a srta Granham será o alvo das investidas dos homens. Isso porque ela, mesmo já tendo mais idade, é uma mulher sem nenhuma proteção. Mas, Zenobia se revela ser mais disponível apesar do cerco feito pelo pai. E aí é que começa a confusão. Zenobia acaba se envolvendo com vários homens dentro do navio e é curioso pensar que eles sabem do fato. Só que em uma espécie de um "acordo entre machos" eles não comentam sobre os seus casos em voz alta. Tudo acaba em uma situação em que Zenobia é "usufruída" por todos eles. Talbot afirma que não há nenhum tipo de competição ou ciúmes entre eles, mas percebemos depois que tal não foi o caso e era óbvio que um deles queria algum tipo de exclusividade. Os marujos estavam intimidados com o prestígio de Talbot e suas picuinhas não chegavam até ele. Só que o mesmo não poderia ser dito a respeito dele. Fico pensando na maneira como os homens comentam uns com os outros sobre suas relações com mulheres. São conversas marcadas por detalhes até constrangedores. Entre quatro paredes os assuntos só dizem respeito ao casal. Infelizmente existe uma espécie de carimbo de masculinidade se você comprova que faz e acontece. Golding nos mostra essa imagem de uma maneira crua.


O que dizer sobre Zenobia? É complicado fazer afirmações precisas porque a narrativa é contada do ponto de vista do Talbot. E Talbot tem frases bem pesadas a respeito dela. Não sabemos exatamente como Zenobia se envolveu com tantos homens ao mesmo tempo. Temos algumas pistas espalhadas pela história. Por exemplo, Zenobia parece sentir prazer em ser vista como alvo de olhares indiscretos. Vemos isso após a primeira interação entre ela e Talbot onde ela parece regozijar-se de seu poder feminino. Talvez seja a sua maneira de estabelecer algum tipo de autoridade ou poder em um espaço estritamente masculino. Lembrando que o alto mar é um local de manifestação masculina, visto até em descrições feitas por Colley e Talbot. Homens fortes, seminus manuseando os cordames do navio, exercendo seu conhecimento para levar a todos com segurança ao seu destino. Quem desobedecesse suas ordens poderia estar sujeito a punições até físicas. Porém, preciso pontuar que o que acontece no quarto de Talbot me soou muito a um abuso sexual. Talbot entendeu como uma espécie de joguinho sexual de Zenobia, mas não tenho nenhuma certeza disso. Toda a cena soa estranha e não consensual. Mas, logo em seguida, Zenobia exerce seu poder de atração. Isso é o que nos faz ficar em dúvida. Mesmo nos dias de hoje as mulheres sofrem ao conviverem em espaços estritamente masculinos. A única saída para alguma delas é usar de seu poder de atração. E isso provoca as críticas sociais. Claro que estamos em uma sociedade mais crítica hoje e as mulheres tem conseguido se destacar por seus próprios méritos e qualificações. Mas, a sombra de Zenobia está sempre presente.


Aparentemente Summers seria a pessoa mais "virtuosa" dentro do navio. Ele tenta aplacar os conflitos entre os marujos e age como um medidor entre os tripulantes e o capitão. É Summers quem faz Talbot se mover em uma direção de maior auxílio com aqueles que estão passando por problemas. Tem umas trocas de diálogos entre eles que nos fazem ter quase certeza disso. Summers questiona a "nobreza" de Talbot colocando-o contra a parede. Sua argumentação é bastante convincente até e tece algumas críticas sobre o imobilismo dos nobres ingleses. Só que pouco tempo depois percebemos que Summers estava fazendo tudo isso como uma maneira de se redimir por situações nas quais ele deixou de agir. Ou seja, ele pecou pelo conformismo e pela inércia. No momento em que Colley precisava de sua intercessão, Summers nada fez. Achou que a situação se resolveria por si mesmo e temeu por como seus companheiros iriam encará-lo. Sem falar que quando o vigário morre, Summers tira o corpo fora. Não quer saber de se envolver nos testemunhos sobre a causa mortis, com medo de perder o seu cargo no navio. Isso mostra um pouco do conformismo que temos em nossa sociedade ao vermos situações complicadas acontecendo e não tomarmos nenhuma atitude. Ao invés de assumirmos o controle de nossas vidas e de nossa convivência social, queremos que outro tome conta. Preferimos ficar no banco do passageiro.


Seria possível falar de outros temas como a violência do capitão Anderson, o comportamento bizarro dos marujos, o sr. Brocklebank que age como uma espécie de cafetão de sua própria filha ou até Prettiman e seus delírios de soldado. Mas, o que falamos até aqui já servem para nos demonstrar uma sociedade repleta de vícios e problemas, vícios esses que marcam ate hoje a relação entre homens de diferentes classes e até de mulheres em ambientes hostis. A linguagem empregada por Golding é marcante no sentido de que ele não poupa o leitor de um certo grau de violência. Ao leitor só resta acompanhar essa difícil viagem. É um livro complicado de ler no sentido de que ele nos marca e nos faz refletir. Me recordo de que algumas situações e frases do Talbot eram tão bizarras que eu ria. Mas, era aquele riso culpado ao perceber que estava percebendo a tragédia humana se desenrolando. E que são situações que poderiam acontecer em qualquer lugar se as pessoas envolvidas se libertassem de suas travas. Talbot é sincero ao extremo em seu diário. O que pensar disso? Fato é que as verdade sociais ficam ainda mais evidentes a cada novo dia de viagem e os ânimos ficam mais e mais acirrados.


Livro comentado:


Ficha Técnica:


Nome: Ritos de Passagem

Autor: William Golding

Editora: Alfaguara

Gênero: Drama/Sátira

Tradutor: Roberto Grey

Número de Páginas: 216

Ano de Publicação: 2022


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*Material enviado em parceria com a editora Alfaguara








Sinopse: Em uma viagem à Austrália, no início do século XIX, Edmund Talbot mantém um diário, no qual narra suas aventuras para entreter o tio na Inglaterra. Talbot é um jovem com uma carreira promissora à frente, no serviço público da Coroa Britânica. Cheio de mordacidade e algum desprezo, ele relata o dia a dia dos marujos e oficiais e descreve os emigrantes em busca de uma nova vida.


A bordo de um navio da Marinha inglesa, tripulantes e passageiros têm de conviver em um espaço exíguo, e a tensão entre eles parece cada dia maior. Talbot se envolve com uma passageira, que pode também estar se relacionando com outros homens. E, aos poucos, os companheiros de viagem começam a exibir sua verdadeira ― e sombria ― natureza.


A situação se agrava quando um único passageiro, o jovem e aparentemente ridículo reverendo Colley, atrai a antipatia e animosidade dos marinheiros, e a vergonha e humilhação podem se tornar mais perigosas do que o próprio oceano.
















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