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  • Foto do escritorPaulo Vinicius

A História de Duas Mulheres em Cabul

Esta é uma matéria voltada para discutir a história de Mariam e Laila, as protagonistas do livro A Cidade do Sol. Aproveito também para falar um pouco sobre a cultura oriental e a violência contra a mulher.

ATENÇÃO: Contém spoilers do livro. Prossigam apenas se tiverem lido ou não se importarem com spoilers.





Uma difícil narrativa


Este é um livro difícil de ser degustado. É uma daquelas pílulas que a gente precisa tomar, mas que a gente gostaria de não precisar dela. Acima de tudo, é uma história real, tão real que as duas personagens ficcionais parecem ser de carne e osso. Khaled Hosseini nos apresenta uma história de luta, de perseverança, de esperança. Mas, acima de tudo, de mulheres que nunca perdem a fé e acreditam no dia de amanhã. Porque somente assim elas são capazes de continuar a tocar a vida.


De um lado temos Mariam. Uma mulher que quando era criança acreditava em um pai amoroso e que sempre lhe trazia presentes. Apesar da vida simples, esses pequenos encontros com seu pai, Jalil, a deixavam feliz e a completavam. Mas, aos poucos, a vida vai dando contorno em como as coisas são injustas com ela. Em primeiro lugar, ela é uma filha "bastarda". Sendo fruto da relação de seu pai com a empregada da casa, alguém que nunca foi aceita pelas esposas de Jalil. O nascimento de Mariam é considerado um constrangimento para toda a família. Em segundo lugar, ela vive em uma kolba, ou seja, em uma pequena casa de barro afastada da cidade. Ela não pode morar na cidade porque ela pode acabar despertando olhares desrespeitosos das pessoas em direção a ela e a seu status na família de Jalil. Seu pai sequer pode lhe acompanhar para ver um filme no cinema da cidade. Ou seja, Mariam é um constrangimento para seu pai. As circunstâncias acabam causando a morte da mãe de Mariam e esta é colocada em um casamento com Rashid. Casamento esse cujo objetivo único era afastar a garota da vista das esposas de Jalil.


Do outro lado temos Laila, cuja vida acaba mudando da noite para o dia quando seus irmãos (que haviam ido para a guerra entre mujahedins e comunistas no Afeganistão) morrem. Filha de um pai professor e de uma mãe bondosa, ela tem uma vida pacata em Cabul. Diferentemente de Mariam que foi criada em Herat, uma cidade mais no interior do país. Laila cresce com uma visão mais progressista das coisas, muito por causa de sua criação. Mas, sem dúvida alguma, a morte de seus irmãos causa um vazio em sua causa e provoca o afastamento entre seus pais. Laila precisa amadurecer cedo por conta da depressão de sua mãe. Quando acontece a queda do líder comunista, ocorre uma revolta civil no Afeganistão, colocando Cabul à mercê de senhores da guerra. Estes reforçam a sharia (as leis corânicas) como as verdadeiras leis civis e exigem o cumprimento à risca delas. As mulheres perdem a sua liberdade e aquelas que são vistas na rua são atacadas por "milicianos". A vida vai se tornando cada vez mais difícil para Laila e quando seus pais desistem finalmente de Cabul, um míssil acaba destruindo sua casa junto com seus pais. Laila se vê precisando permanecer na casa de Rashid.

Diferentes tons de amor


Possivelmente a forma de amor mais claro é o que Laila sente por Tariq, seu amigo de infância. Uma amizade que lentamente vai se tornando um algo mais, se transformando e amadurecendo em algo bonito. Tariq também gosta de Laila, mas seus deveres e responsabilidades acaba prendendo-os em suas respectivas casas. Quando a guerra civil estoura no Afeganistão, Tariq acaba precisando sair com os pais da cidade por conta de problemas no coração. Já Laila fica com os seus que não desejam abandonar o espaço em respeito a seus irmãos que se sacrificaram na guerra. Mas, quando Laila se casa com Rashid ela está esperando um filho de Tariq. Este casamento acontece porque a personagem pensa que ele teria perecido quando chegou a Peshawar em um campo de refugiados. Então casar-se com Rashid é uma estratégia para obter abrigo, já que tanto sua família como seu amor morreram.


Já Mariam é uma mulher desolada. Essa característica é bastante reforçada na história. Ela não recebeu o devido amor dos pais, é violentada por Rashid por não dar a ele o que ele deseja (um herdeiro homem) e é odiada por ser mulher. Posteriormente quando Laila chega à casa e se casa com Rashid, esta é uma nova humilhação para ela. A personagem se vê descartada como lixo por uma mulher mais jovem e bela. Aliás, a própria noção de amor para ela vem aliada à violência. Estar casada a um muçulmano tradicional que a obriga a usar burqa e retira toda e qualquer possibilidade de exercer sua liberdade e feminilidade a torna uma personagem amarga e até difícil. Mariam não é aquela personagem que você se empatiza a partir da metade da história, mas é essa complexidade que a torna tão curiosa. O amor que ela vai desenvolver mais tarde por Laila e seu filhos é o seu momento de redenção. É isso que a faz se abrir mais e se arriscar mais.


Rashid é um fruto de sua sociedade. Sendo de uma linha mais conservadora do Islã, sua visão sobre o amor é bem estrito. A perda de seu filho por afogamento quando mais jovem o tornou uma pessoa rude. O personagem é o típico "macho alfa", com propensão à violência. Seus sentimentos vão se acirrando com a convivência com as personagens e a sua frustração em relação a elas. Os acontecimentos no Afeganistão também acabam por provocar uma maior revolta dele. Como? Simples: se trata de uma situação extrema onde as mortes se tornam algo comum. Ele perde o seu negócio e acaba vivendo com a constante ameaça de fome. Para ele, que sempre teve o que quis, subitamente ele perde seu status. Essa frustração profissional se soma à pessoal. O resultado disso são as cenas de violência que se tornam cada vez mais fortes com o passar da narrativa. Aliás, fica até o meu aviso de gatilho com cenas bem pesadas de violência contra a mulher. Algumas são difíceis de digerir como quando Mariam e Laila tentam fugir de casa. Outra impactante é quando Rashid faz Mariam comer pedras.

A chegada dos Talibãs


É incrível como Hosseini consegue retratar bem o momento de transformação da história do Paquistão. Recentemente li O Ministério da Felicidade Absoluta (de Arundhati Roy) e pude ver um pouco da ascensão dos fundamentalistas islâmicos na Caxemira. Mas, é preciso perceber que estes vieram do Afeganistão, lar do Talibã e de Bin Laden. Ver o quanto os talibs são recebidos praticamente como salvadores e em pouco tempo se tornam os opressores. O quanto a sociedade se acomoda diante da violência no sentido de que a sociologia da destruição se torna parte do cotidiano. O silvo das balas por todo o dia, as mortes sem sentido, os bombardeios que destroem vidas. Vemos pessoas se colocando dos dois lados da situação: aqueles que apoiam porque gostam ou apenas porque desejam sobreviver; e aqueles que se sentem com medo e são prisioneiros em suas vidas.


Inserido na narrativa temos a política afegã e em o quanto ela afetou o dia-a-dia das pessoas. Temos alguns momentos dramáticos como o assassinato público dos líderes do governo pelos talibs e até o momento em que o World Trade Center foi atacado. São chaves para entender a ascensão e a eventual queda do movimento. Cabul é destruída por toda esta violência. Talvez uma das cenas mais emblemáticas para a civilização afegã tenha sido a destruição dos Budas gêmeos, um monumento histórico que Laila visitou junto de Tariq em uma dada oportunidade.


A Cidade do Sol é uma longa jornada pela vida de duas personagens, mas que junto delas vivemos a própria história recente do Afeganistão. Uma jornada dura e pedregosa, mas que no final nos dá uma pequena luz de esperança. Mariam e Laila são mulheres fortes, forjadas em um ambiente terrível cujos sonhos são a única coisa que as mantém vivas.





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