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  • Foto do escritorPaulo Vinicius

A FutureCon e o futuro da ficção científica em terras brasileiras

Atualizado: 2 de nov. de 2020

Esta matéria é uma pequena reflexão sobre a FutureCon e que reflexos ela tem sobre o mercado editorial brasileiro. Hora de pensarmos um pouco nos anos que virão.



Começo essa matéria afirmando que, para o mercado editorial brasileiro, o impacto da FutureCon vai ser mínimo. Se para os autores representou um importante passo, para as editoras pouco ou nada significou de concreto. Já vou chegar nesse ponto. Mas o que foi a FutureCon? Foi um evento que aconteceu em setembro, totalmente online por causa da pandemia, e que contou com a participação de autores de ficção científica vindos dos cinco continentes. Alguns mais conhecidos como Kim Staney Robinson e Ian McDonald e outros menos conhecidos de mercados periféricos. A organização do evento ficou por conta de um time internacional de autores e editores e que contou com a importante participação da Jana Bianchi, do Fábio Fernandes, do Renan Bernardo, da Ana Rusche, do Francesco Verso (além de outros nomes que eu peço desculpas de não ter lembrado... e me ajudem a lembrar se puderem). Para a continuidade do projeto, o FutureTalks, se juntaram a esse time estelar a Cristina Jurado e a Gabriela Damián Miravete. Ou seja, o Brasil esteve envolvido diretamente na organização do primeiro evento desse tipo no mundo. Foram autores de mais de vinte países envolvidos. E a FutureCon teve diversos desdobramentos como o FutureTalks, um evento com uma periodicidade mais frequente que vai tratar de diversos temas.


Mas, algumas perguntas ficam e eu vou tentar respondê-las. Onde estavam as grandes editoras? E os importantes influenciadores digitais? E os veículos de imprensa? O que acontecerá aos nossos autores no futuro?


Começo minhas reflexões falando sobre grandes editoras. Se eu pertencesse ao departamento de aquisições de uma editora, seja ela de média ou de grande porte, eu participaria do evento. A FutureCon foi um manancial de informações sobre autores e títulos. Mais do que isso: ele contou com a participação de importantes editores internacionais como o Francisco Verso, a Sara Chen, a Ann Vandermeer, o Gord Sellar. Sem falar nas pessoas presentes no Discord do evento ou no superchat como o Neil Clarkson, editor da Clarkesworld, uma das mais importantes publicações em língua inglesa de contos e novellas de fantasia, terror e ficção científica. Não existem melhores intermediários para aquisições de direitos autorais do que estas pessoas. A própria Ann Vandermeer comentou em uma das palestras do evento o quanto ela já fez esse papel de intermediação para outros países.


Okay, digamos que falar com os editores fosse um pouco complexo e assustador. O evento contou com tantos autores quanto Estados no Brasil. Mesmo que alguns desses autores prefiram que seus direitos sejam adquiridos através de seus agentes, seria possível iniciar uma conversa com os mesmos até para amaciar o relacionamento. Não vou dizer que não teve nenhuma editora, por que isso é desconsiderar pequenas editoras e as independentes, aquelas que moram no meu coração e sabem a importância de um evento como esse. Mas, onde estavam as médias e grandes? É a demonstração cabal de que literatura de gênero não tem a menor importância no país. Como fomentar o gênero se nem quem deveria vendê-lo se interessa? Me espanta (aliás, não... não me espanta) ver o descaso com um evento desse porte. Compreendo o quanto a rotina de uma editora pode ser massacrante, principalmente em tempos de pandemia e home office em que as equipes editoriais encolheram, os serviços se acumularam e uma pessoa vira faz-tudo. Só que o evento deixou as palestras gravadas no seu site no Youtube. Por falar nisso, deixo o link do canal da FutureCon no Youtube aqui para apreciação. E o site também onde tem minibios de todos os participantes (quem sabe gera algum contato, né?).



A imprensa brasileira ignorou sumariamente o evento. Somente O Estado de São Paulo teve uma matéria do André Cáceres, um jornalista que é bastante envolvido com literatura de gênero. Novamente, não espero nada da crítica literária especializada que ainda acha que literatura de gênero é coisa de nerd ou de pessoas que não entendem a "verdadeira literatura" (seja lá o que essa expressão significa). A questão é que vários dos autores que se envolveram ou participaram das mesas são pessoas que já possuem algum reconhecimento dentro do mercado nacional e já se preparam para um passo maior. Vamos pensar que alguns deles foram selecionados para serem publicados em importantes revistas como a Strange Horizons (que teve uma edição dedicada a divulgar autores brasileiros) ou a Clarkesworld. Estes veículos de imprensa possuem seus encartes e blogs dedicados à divulgação de literatura. E quase nada foi comentado nesse sentido.


Mas, tudo bem, pelo menos influenciadores digitais? Bem, posso contar em duas mãos quantos participaram. Não pequenos como eu, mas influenciadores importantes. Quem estava presente eram os mesmos que apoiaram desde o começo; pessoas que são dedicadas a divulgação de literatura de gênero. Mas, fora as pessoas conhecidas, não houve grande alarde. E mais uma vez isso só comprova o quanto a literatura de gênero anda em baixa por aqui. Muitos optaram por esticar o seu alcance, ampliar seu conteúdo e abraçar outros gêneros e fantasia, terror e scifi acabaram ficando de lado. Conheço pessoas que abandonaram mesmo porque do contrário não conseguiriam monetização ou parcerias. Eu pertenço a uma classe de seres insanos que continuam no front de batalha, ficando triste a cada cancelamento de série ou de livro legal. Um evento como a FutureCon é uma excelente ponte para conhecer e entrar em contato com autores internacionais. Fazer networking puro e simples. Se alguém como eu consegue, por que outros não? No curto espaço de tempo de quatro dias, adicionei vários autores que eu tive a curiosidade ou que eu admiro aos meus contatos. Por que? É óbvio que eu quero ficar atento aos seus trabalhos e quem sabe fazer uma entrevista no futuro.


Durante o evento eu pontuei que as minhas expectativas para o mercado de literatura de gênero do Brasil não bem baixas, quase mínimas. Muito pelo contrário: o que eu imagino que possa acontecer nos próximos anos é uma diáspora de autores nacionais. Isso porque o mercado brasileiro não é atrativo. Não é recompensador a quem investe nele. Bons autores sofrem com a indiferença de grandes editoras. Me deixa indignado saber que pessoas talentosas como a Jana Bianchi, a Clara Madrigano, o Ian Fraser, o Fábio Fernandes, a Cláudia Dugim e tantos outros não estão sendo publicados por grandes casas. Coincidentemente, dois dos autores que eu citei acima foram publicados na edição de novembro da Clarkesworld. Por mais que eles mesmos tenham suas reservas quanto a isso (totalmente compreensível) é, no mínimo, desrespeitoso não dar uma oportunidade de publicação a eles. Okay, Jana e Fábio fazem traduções e o Fábio é um tradutor de mão cheia que já trabalhou para essas casas, mas eu quero ver o que eles escrevem recebendo uma capinha e um tratamento de qualidade.


Peço desculpas por essa postagem a quem se sentiu ofendido. Só que é frustrante ver ano após ano a literatura de gênero perdendo tanto espaço no país. E simplesmente por falta de investir seja em marketing para autores nacionais ou em formação de novos leitores. Detesto destruir essa lenda, mas leitores não caem do céu, não brotam no solo. Nosso país não investe em políticas públicas de fomento à leitura. Esqueçam isso, eu mesmo trabalho nessa linha de frente. Há mais de seis anos que o governo não se importa muito em formar novos leitores. O Programa Nacional do Livro Didático agora que incorporou a aquisição de livros de ficção para bibliotecas escolares, mas isso se deu mais porque existe uma sobra enorme no FUNDEB e o governo precisa gastar um certo percentual do fundo. Se as editoras quiserem novos leitores, aumentar suas vendas e atingirem novos públicos, vão ter que abandonar a sua inércia e tentar alguma coisa. E não participar de um evento como esse, de escala global, é de um pecado enorme. Mesmo que assistir a uma ou duas palestras, mas estar presente, conversar com os envolvidos, traçar estratégias com novos contatos. Isso é o mínimo de planejamento.





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