Uma autora conhecida por seu trabalho voltado para o público infanto-juvenil, Edith Nesbit provocou bastante impacto na maneira de pensar histórias de fantasia. Até hoje ela continua sendo responsável pela introdução de muitos jovens ao mundo dos livros.
Conhecida como uma das pioneiras na escrita de literatura fantástica voltada para o público infanto-juvenil, Edith Nesbit foi escritora e poeta escrevendo com o pseudônimo de E. Nesbitt. Ela foi ativista política e uma das fundadoras da Sociedade Fabiana, uma organização de defesa de direitos trabalhistas. Nasceu em 1858 na região então rural de Surrey, na Inglaterra. Seu pai trabalhava com o desenvolvimento de produtos químicos voltados para a agricultura, não necessariamente agrotóxicos. Nesbit perdeu seu pai com quatro anos de idade.
A família de Nesbit se mudava constantemente devido à saúde frágil de sua irmã Mary. Ela acabou falecendo de tuberculose em 1871. Depois desse acontecimento trágico, Nesbit e sua mãe permaneceram por três anos em Halstead. Um belo lugar no interior da Inglaterra por onde passa uma estrada de ferro. Apesar de a autora negar e ter dito que se baseou em outra cidade, o lugar onde se passa Os Meninos do Caminho de Ferro tem muitas similaridades com este lugar. A autora se casou aos 21 anos com o banqueiro Hubert Bland. seu casamento ocorreu quando ela estava grávida de sete meses e, alguns de seus biógrafos alegam ter havido muita pressão social para que se casassem. Bland era um homem complicado e Nesbit descobriu, pouco depois de terem se casado, que seu marido tinha não apenas uma vida estável com outra mulher, mas um filho com ela. Pior: a amante acreditava ser a esposa. A gota d'ágia veio quando Nesbit descobriu que sua melhor amiga, Aliece Hoatson, tinha um caso com seu marido e esperava um filho dele. A briga do casal foi bem feia e Bland ameaçou abandonar Nesbit se ela não reconhecesse a filha de Hoatson. Ela passou a atuar como governanta da casa e treze anos mais tarde teve outro filho de Bland.
Nesbit teve quatro filhos com Bland: Paul, Mary, John e Fabian. Ela adotou os dois filhos de Hoatson, Rosamund e John Oliver. Os Meninos do Caminho de Ferro teve uma dedicatória a Paul e O Livro dos Dragões foi dedicado a Rosamund; Cinco Crianças e um Segredo foi dedicado a John Oliver. Seu filho Fabian tinha uma saúde frágil e acabou morrendo aos quinze anos com problemas respiratórios. Ela dedicou vários livros a ele. O envolvimento de Nesbit com o fabianismo se deu por volta de 1884 quando ela fundou a sociedade ao lado do poeta William Morris. Ela escreveu vários artigos sobre o socialismo destacando sua importância para reavaliarmos os rumos da economia e da produção nos anos que se aproximavam. Ela escreveu alguns livros em co-autoria com seu marido sob o pseudônimo Fabian Bland.
Seus primeiros trabalhos foram poemas que ela escreveu para a revista Good Words. O grosso da produção de Nesbit foi voltado para o público infanto-jiuvenil e envolvia romances, livros ilustrados e livros de pintura. Estima-se que foram aproximadamente 40 livros, Nesbit deixou de lado a tradição inaugurada por Lewis Carroll, George MacDonald e outros que acabavam levando seus personagens a outros mundos para trabalhar suas histórias. Nesbit era mais mundana e colocava o fantástico em situações cotidianas e encontros fortuitos. Isso sem falar no fato de que ela gostava do gênero de aventura inspirada em romances como A Ilha do Tesouro, de R.L. Stevenson.
Dentre a enorme produção da autora escolhi comentar sobre três livros: Os Meninos do Caminho de Ferro, O Livro dos Dragões e O Castelo Encantado. Começando pelo primeiro, um dos livros mais antigos da autora que fala de uma família que se muda de Londres para a cidadezinha de "Três Chaminés". O pai acaba sendo preso com uma falsa acusação de espionagem. Os três filhos, Roberta, Peter e Phyllis, desenvolvem uma amizade com um senhor que sempre pega o trem das 09:15. Aqui a autora escreve um romance tradicional onde ela exercita a sua habilidade em criar ambientes convidativos como se fossem gostosas tardes de outono. A trama principal da narrativa parece ter sido inspirada no famoso Caso Dreyfuss pela forma como o pai é preso e as acusações eram completamente infundadas em um tenso clima de guerra. Esse livro tem várias edições publicadas no Brasil sendo que a que mais gostei foi o da editora Minotauro.
O Livro dos Dragões recebeu uma republicação recente no Brasil pela editora Wish em uma belíssima edição ilustrada. O livro se trata de uma coletânea de histórias curtas que a autora publicou no século XIX em uma revista de tiragem semanal. Sua ideia era apresentar estas fascinantes criaturas a partir de diferentes facetas: ora travessos, ora imponentes, são seres que habitam o nosso imaginário. Vale destacar que os dragões de Nesbit nõ chegam a ser as assustadoras figuras que receberão destaque a partir da metade do século XX. Eles possuem mais elementos em comum com os contos de fadas oferecendo bençãos e sortilégios a quem os buscam.
Em O Castelo Encantado temos mais uma narrativa observada pelo ponto de vista das crianças. Jenny, Jimmy e Kathy descobrem este estranho castelo enquanto brincavam durante as férias escolares. Todo este cenário idílico formado por um imenso lago cristalino, enormes torres brancas e um labirinto de flores estimula o senso de aventura deles. Eles acabam encontrando uma bela princesa adormecida. Depois de despertá-la, as crianças são convencidas que o castelo é o lar de poderosos poderes mágicos. Ela mostra os segredos do castelo e um anel mágico, que a princesa diz tornar as pessoas invisíveis. A história brinca com a inocência e o espírito aventureiro e a fantasia no livro até é deixada mais amainada do que em outros de seus trabalhos. Existe uma virada narrativa sensacional a respeito do anel.
Edith viveu entre 1899 e 1920 em um lugar chamado Red Hall que ela acabou usando em alguns de seus livros como A Casa Vermelha. Mais para o final de sua vida ela se mudou para a região de Kent onde buscava uma vida mais tranquila. Seus biógrafos acreditam que ela tenha sofrido de câncer de pulmão por causa do seu conhecido hábito de fumar. Edith faleceu em 1924 com 65 anos.
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