Depois de mais um dia aprontando todas com a Mônica (e mais um plano fracassado), Cebolinha volta para casa para descobrir que o Floquinho fugiu de casa e ainda não voltou. Inicia-se uma caçada em que Cebolinha, Mônica, Magali e Cascão vão buscar o cachorrinho perdido. E eles irão nos mostrar o quanto os laços de amizade que unem todos são fortes.
Sinopse:
O Floquinho desapareceu. Para encontrar seu cachorro de estimação, Cebolinha conta com os amigos Cascão, Mônica e Magali e, claro, um plano “infalível”. Em Laços, os irmãos Vitor e Lu Cafaggi levam os clássicos personagens de Mauricio de Sousa a uma aventura repleta de emoção, lembrança e perigos.
A maioria de nós deve ter tido contato na infância com a Turma da Mônica, de uma forma de outra. Seja você leitor de quadrinhos ou não, seja você leitor ou não. O que Maurício de Souza criou é uma instituição nacional, um dos pilares de sustentação dos quadrinhos brasileiros. Goste você ou não do autor, tenhamos elogios ou críticas. Astronauta - Magnetar foi a primeira Graphic MSP, mas Turma da Mônica - Laços pode ser considerada a essência espiritual do que é essa nova fase de quadrinhos tão importantes para nós. Em suas páginas vamos ver tudo aquilo que mais apreciamos na turminha do bairro do Limoeiro: inocência, criatividade, amizade. E em uma aventura fascinante, somos levados a reviver o que fez com que esses quatro se tornassem tão amigos.
Em mais um plano fracassado do Cebolinha, ele e o Cascão estão correndo por toda a cidade, fugindo da fúria da Mônica e do Sansão. Passando por vários personagens conhecidos do bairro, eles tentam a todo custo evitar o famigerado coelhinho, mas não conseguem. Depois de mais um dia de diversão, Cebolinha se despede do Cascão e volta para casa. Ao chegar lá, ele vê todos de sua casa e seus vizinhos em polvorosa e descobre que o Floquinho, seu cãozinho de estimação desapareceu. Depois de uma busca infrutífera, Cebolinha fica desconsolado com a perda de seu amiguinho. É aí que Cascão, Mônica e Magali se unem a seu amigo para saírem em busca do Floquinho. E eles vão se meter em todo tipo de confusão.
Que roteiro gostoso e simples de explicar. Acho que nada consegue traduzir bem o que são as aventuras da Turma da Mônica do que o roteiro do Victor e da Lu. O leitor devora a história e não quer parar de ler. Assim como eram os gibizinhos da Turma quando lia na infância. O que mais me agrada no roteiro é como ele consegue passar bem as mensagens que pretende, sem firulas ou complexidades. Claro que ele tem uma leitura superficial e divertida que vai agradar a todas as idades. Ao mesmo tempo, se o leitor parar para observar mais a HQ, a arte e a história em si vai perceber as homenagens feitas pelos dois autores a vários dos personagens de Maurício de Souza. Os easter eggs, as lembranças, o resgate de histórias memoráveis da turma. Tudo está ali e foi feito de forma respeitosa e competente pela dupla. No ritmo, achei a narrativa orgânica e esse é um dos motivos que faz da história tão viciante.
A arte é linda e une os traços sólidos do Victor a uma suavidade presente na finalização da Lu. As cores estão bem suaves com uma palheta que começa com cores bem pastéis e vai se modificando à medida em que eles vão entrando em um espaço escuro e desconhecido. O design de personagens ficou excelente e respeitam demais o visual clássico deles, ao mesmo tempo em que criaram algo novo e contemporâneo. Sejam os cabelinhos do Cebolinha, o macacão do Cascão, o rosto corajoso da Mônica ou o jeito descolado da Magali. Tem até uma homenagem legal dos autores ao primeiro visual da Magali com o vestido verde. O cenário é lindo e me remete à infância. Quando a gente brincava de futebol e de pique-pega na rua. Nesse sentido, os dois autores conseguiram traduzir esse clima de vizinhança calma onde as crianças correm livres e apenas são crianças. A barraquinha de cachorro quente, os meninos soltando pipa e brincando no escorrega. Essas inspirações simples conseguem nos trazer os ingredientes para uma história atemporal. A quadrinização é bem executada sendo que o começo e o fim são simplesmente emocionantes. São páginas especiais com cores meio esmaecidas (como se fosse algo antigo) com um tipo de colagem de fotos dos primeiros momentos da vida do Cebolinha, do Floquinho e de como toda a turma se conheceu. Impossível não se emocionar com uma cena dessas.
A melhor definição desse álbum são os laços de amizade que unem a turma. Por mais que o Cebolinha e o Cascão aprontem todas, eles são amigos para sempre. Aquele tipo de amizade que se mantém por toda uma vida, e que cada um deles está para o outro no momento de necessidade. Um dia antes, o Cebolinha tinha amarrado as orelhas do Sansão em mais um dos seus planos "infalíveis". No dia seguinte, vendo o amigo muito triste, a Mônica entende que aquilo não era hora de brigas e era o momento de estender uma mão para ajudar. Impossível não remetermos toda a aventura ao clássico Conta Comigo, um filme adaptado de um conto do Stephen King. Tem uma cena em que eles estão caminhando juntos no entardecer que lembra esse momento do filme. Mesmo diante de todas as adversidade e até de um grupo de garotos chatos no parque que os ameaçam, eles se mantém juntos.
A todo o momento os autores remetem a quando eles se conheceram. Por essa razão que essa HQ pode ser uma excelente porta de entrada para aqueles que nunca tiveram contato (embora ache isso quase impossível). Se podemos falar de outro momento em que se fala de laços, esse é outro. Ao se conhecerem juntos por estarem em uma mesma vizinhança, eles formaram um sentimento de união que só se reforçou com o passar do tempo. Quando eles partem para a aventura, é perceptível o quanto eles se conhecem. O Cascão é o responsável pelas ideias criativas e malucas, a Mônica é a corajosa, o Cebolinha tem os seus planos e a Magali é aquela personalidade calma e tranquila que une todos. Tem alguns momentos mágicos como todos eles compartilhando histórias divertidas ao redor de uma fogueira em que a Mônica chega a fazer uma homenagem ao Maurício de Souza. São essas pequenas ocasiões que mostram o quanto eles representam pessoas especiais um para o outro.
A aventura em si é marcada pela inocência dos personagens. Nós os vemos entrar em diversas situações pelo espírito de explorar e de salvar o amigo. E é esse espírito inocente que torna a aventura tão pura e divertida. Vários momentos da história que a gente fica com aquele pensamento de que algo só aconteceu do jeito que foi porque eles não tinham a malícia para entender o ocorrido de outra forma. Como no confronto com os meninos do parque. Ali era uma situação bem séria que poderia ter dado muito errado. Em vários sentidos. Ou da indignação dos quatro ao verem o homem do ferro-velho maltratando os animais. Para eles o Floquinho é como um quinto amigo. Faz tanta parte do grupo como qualquer um deles. E maltratar um amigo é um pecado mortal e cabe a todos os outros defendê-lo. Assim como não houve qualquer tipo de segundo pensamento quando o Cascão, a Mônica e a Magali decidiram ajudar o Cebolinha. Ninguém ali pensou em interesses, motivações ou objetivos secundários.
É curioso pensar também que Laços também pode significar o fato do Floquinho ter ajudado os quatro amigos a se unirem. Ele foi o ponto de convergência entre os amigos que estavam brincando com o recém-chegado cãozinho até o Cebolinha comentar qual era o seu nome. E é o motivo pelo qual esta aventura, que nos faz rever como eles chegaram até aqui, acontece. A HQ é inesquecível, em vários momentos a gente se emociona e aqueles sentimentos saudosistas da infância batem. Seja por eu ter sido introduzido nos quadrinhos pela turminha do bairro do Limoeiro como por me lembrar de bons momentos do passado. A arte é uma gracinha e a Lu Cafaggi conseguiu imprimir a sua personalidade nos personagens, mantendo o que os fez serem personagens memoráveis, seja no design ou na personalidade de cada um.
Ficha Técnica:
Nome: Turma da Mônica - Laços
Autores: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi
Coloristas: Lu Cafaggi e Priscilla Tramontano
Editora: Panini/Graphic MSP
Número de Páginas: 82
Ano de Publicação: 2018
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