Paulo Vinicius

Resenha: "Travessia vol. 1" (Os Tomos de Tessa) de Rapha Pinheiro e Mariane Gusmão

Um homem solitário explora o deserto e acompanhamos o personagem analisando algumas ruínas e torres de luz. Mas, ao encontrar um pequeno animal, um fenômeno diferente acontece...

Sinopse:

Um explorador solitário se perde pelas areias de um deserto alienígena.

Uma aventura intimista sobre empatia.

Essa é uma daquelas resenhas que me enchem de medo. Isso porque a HQ é tão concisa e pequena (no sentido de não tem grandes informações serem entregues) que a gente fica receoso de dar qualquer spoiler sobre ela. Mesmo assim eu preciso comentar a respeito dela porque o Rapha Pinheiro e a Mariane Gusmão criaram algo lindo. Nossa, fiquei encantado com a arte e ao começar a ler a HQ a narrativa gráfica me deixou ainda mais feliz. É de uma rara preciosidade uma joia dessas. Principalmente se formos parar para pensar no que foi entregue por eles.

Fazer uma sinopse da narrativa é bem complicada porque ela é totalmente muda. Isso significa que o que vamos entender sobre ela é bastante subjetivo. Temos um protagonista que parece ser um explorador e ele está saindo pelo deserto em busca de ruínas. Algumas torres possuindo estranhas luzes violetas se acendem por toda a extensão do deserto e o personagem parece ter um papel nisso de alguma forma. Quando ele chega a um conjunto de ruínas ele se depara com um pequeno animalzinho no chão que se alimenta da energia emanada de sua lanterna ou das torres. É aí que algo acontece...

A narrativa é feita toda através do registro visual. Não existem falas. Portanto o leitor vai precisar interpretar aquilo que está acontecendo nos quadros. Acho isso incrível porque estimula a imaginação e a criatividade do leitor. Não só isso: parece que estamos participando da composição da história ao darmos significados diferentes a ela. As cores são muito vibrantes e com uma palheta puxada no azul claro (gente, eu amo azul... é a minha cor favorita). O design de personagens e o cenário criado pelo Rapha parece simples, mas é muito detalhado. Conseguimos perceber detalhes em tudo o que circunda o protagonista: desde os grãos de areia até os entalhes na pedra. Alguns quadros mais abertos são de cair o queixo. Qualquer um deles daria um wallpaper incrível. Eu simplesmente fiquei encantado com o quadrinho. Acho que poucas vezes eu tive uma reação desse nível. De gostar tanto de algo à primeira vista.

Ao mesmo tempo não confundam falta de diálogos com uma narrativa rasa. Existem conceitos sendo trabalhados aqui. Conceitos repletos de profundidade e precisão. Temos a forma como o protagonista se relaciona com o pequeno animal e os sentimentos que isso desperta nele; as ruínas que são misteriosas e nos deixam com várias perguntas; e o motivo de ele estar ali explorando o deserto que não é revelado. Ou seja, o autor criou um volume 1 de uma história que faz a gente querer saber mais sobre o que está acontecendo. Como a leitura é rápida, o leitor vai voando atrás dos próximos volumes.