Laura está viva?? Opa, não é a Laura. É Perséfone. Então Laura também era uma deusa. Mas, o retorno de Perséfone cria uma rixa entre dois grupos dentro do Panteão. E isso vai levar a uma situação explosiva que Perséfone vai fazer questão de acender o pavio. Um volume intenso da série.
Sinopse:
O QUARTO VOLUME DA SÉRIE INDICADA AO EISNER E BEST-SELLER DO THE NEW YORK TIMES
Ser imortal não significa viver para sempre…
A cada 90 anos, aproximadamente, doze deuses reencarnam no corpo de jovens adultos. Eles são carismáticos, perspicazes e atraem grandes multidões. São capazes de levar qualquer um ao êxtase. Há rumores de que podem realizar milagres. Eles salvam vidas, seja metafórica ou concretamente. Eles são amados. Eles são odiados. Eles são incríveis. E em menos de dois anos estarão todos mortos. Isso já aconteceu uma vez. E vai acontecer de novo…
Assim se constrói “The Wicked + The Divine”, uma fascinante alegoria para os jovens de hoje sobre a glória efêmera erigida como valor supremo na sociedade moderna. Fenômeno de público e crítica, a série concebida por Kieron Gillen e Jamie McKelvie (criadores de “Phonogram” e “Jovens Vingadores”) obteve diversas indicações ao Prêmio Eisner, e agora chega ao quarto volume, “Ação crescente”, que reúne as edições 18 a 22 da aclamada HQ, além de vários extras.
TEM SPOILERS!! TEM SPOILERS!! TEM SPOILERS PARA CARAMBA!!
Esse quarto volume é um barril de pólvora e é ação do início ao fim. Aliás, o subtítulo Ação Crescente traduz perfeitamente o que é este volume. Fechamos o terceiro volume descobrindo que Laura estava viva depois de Ananke tê-la matado inexplicavelmente junto com os seus pais. Agora a gente continua a cena de onde ela parou. E bem, não é exatamente a Laura quem está viva, mas o seu lado divino, Perséfone. E isso é um mau negócio porque a deusa vem ao mundo dos vivos bem irritada e espalhando o terror por toda a parte. Se antes tínhamos sido apresentados a uma Laura que amava os deuses do Panteão, agora estamos diante de uma deusa que está louca para colocar fogo no parquinho. E os poderes de Perséfone estão lá no alto e as revelações que ela faz sobre Ananke colocam em xeque a atuação da anciã.
Começando pela retornada, esta é uma Laura bem diferente. Menos inibida, mais intensa, ela se envolve nas cenas de ação mais legais de todo o volume. Ela parece manipular poderes energéticos na forma de tentáculos que avançam por toda a parte. O fato de ela estar irada só faz ela liberar de maneira bem selvagem os seus poderes. Pode não ser a mais poderosa, mas é aquela que não está nem um pouco interessada em se conter. Ao longo do volume, vamos ver porque ela se envolve com Baphomet e toma o lado da Morrigan na disputa pelo poder do Panteão. O ataque de Ananke a Laura no volume anterior foi tão chocante que precisávamos entender bem por que a anciã fez este movimento. E Gillen consegue nos explicar bem os motivos que levaram a isso. Fora também que voltamos a ver a expressão do Destruidor sendo pronunciado por Ananke. A gente se coloca a acreditar que Destruidor seria a Perséfone, pela maneira como os seus poderes avançam sobre o grupo. Mas, em nenhum momento Perséfone afirma ser esta figura que Ananke diz ter sido profetizado. Fora que a deusa é associada ao inferno e isto contribui para a nossa atenção ser desviada para este foco. Mas, pensemos nos planos de Ananke que são revelados neste volume e depois a gente volta a conversar se pode ou não ser uma mentira contada por ela.
Outro que ganha bastante espaço é Baphomet que é apresentado como um rebelde sem causa nos volumes anteriores e apenas alguém associado a Morrigan. Quando na verdade é o próprio Baphomet que coloca a Morrigan contra o Panteão. Sendo uma pessoa mais acostumada com a mentira e a malandragem, ele percebe rapidamente que o discurso de Ananke não faz qualquer sentido e que existem contradições no que ela diz. Isso o leva a se tornar um alvo para a anciã e ele faz o possível para salvar Laura das garras dela. Infelizmente por ter "traído" Ananke, ele é culpabilizado por todos os acontecimentos que vão contra a vontade dos novos deuses. Principalmente Baal que acredita ter sido Baphomet o culpado pela morte de Inanna. Perséfone e Baphomet vão precisar encontrar alguma maneira de provar suas acusações contra a anciã. Coisas materiais mesmo.
Por fim temos Minerva que acaba se tornando o centro das ambições dos dois grupos. Baphomet afirma que é necessário salvar a pequena Minerva das garras de Ananke. E que esta estaria planejando fazer algo muito ruim com ela. Do outro, a anciã quer evitar que Minerva caia nas mãos do outro grupo, de forma a ampliar o seu espectro de atuação. A luta por Minerva é que vai ser o estopim da batalha que vai se suceder entre os dois grupos. Mesmo a gente tendo deuses no meio do Panteão que estão relutantes acerca desta guerra civil como as Nornes, Amaterasu e o próprio Woden, que apesar de seguir cegamente Ananke, começa a ter suas dúvidas cada vez maiores. É curioso por que Minerva embora tenha poderes divinos ainda é uma criança, então quando ela se vê arrastada pelo conflito ela pensa apenas em salvar seus pais que podem morrer.
Embora a história como um todo seja bem interessante, achei que Gillen deu uma vacilada neste quarto volume. A história acaba sendo muito apressada e as coisas acontecem de forma bastante atropelada. Tirando o capítulo 20 que mostra o que aconteceu com Laura (título é Perséfone no Inferno) e é uma história mais focada nas mudanças sofridas por ela, os demais capítulos são momentos de ação em cima de momentos de ação. As soluções encontradas para colocar os dois grupos em conflito são preguiçosas. Até a maneira como eles conseguem obter a revelação de Ananke de seu plano maligno parece um supervilão de terceira categoria contando os seus planos para os mocinhos. Não me entendam mal, adoro o enredo da série. Só neste quarto volume é que eu cocei um pouco a cabeça e não curti o que foi feito. Os momentos de combate possuem um ótimo roteiro, oferecendo bons momentos para todos os personagens, mesmo aqueles que ficam mais no fundo e as consequências das ações dos avatares vão ser sentidas no próximo volume. Existem vários pequenos elementos de enredo que foram deixados sem resposta de forma proposital e que deve gerar o mote do próximo arco.
Por ser um volume focado em ação não tem tanta coisa a ser dita a respeito dele. Só o lado cool dos personagens e em como eles são rebeldes. A ira de Perséfone provavelmente representa todo esse espírito baderneiro e contra as instituições que Gillen coloca desde o primeiro volume. Só que o autor nos coloca uma pequena dúvida: os atos de Perséfone são tão extremos que mesmo seus aliados já começam a não gostar muito de como ela aborda os problemas. Isso pode vir a gerar algumas situações bastante desconfortáveis na sequência da trama. Vai depender de como ela vai se assentar em seu novo papel como deusa. Para fechar, este quarto volume encerra uma tipo de primeiro ato e nos apresenta novos problemas para o futuro. Resta saber quais serão os novos desafios para eles.
O Quadrinho em 1 Quadro:
Dessa vez eu trouxe um poster que está nos pin-ups desta edição. É difícil falar da arte porque ela é um combinado de uma série de pessoas que contribuem para o resultado final. São muitas peças que fazem essa arte funcionar. Eu acho a arte bonita, mas entendo as reservas com respeito ao digital. Gosto de como tem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo em uma cena. Isso é o que McKelvie e Cowles conseguem entregar que é legal. Mesmo alguns momentos onde temos cenas com a Perséfone em um lugar sombrio e escuro, as cenas parecem bem curiosas. E coloridas com as manifestações do poder sinistro possuído pela personagem. Uma das cenas que eu costumo gostar bastante nos volumes é o do despertar dos poderes, uma espécie de ritual feito por Ananke em que o humano que se torna deus cai em uma espécie de poço sem fundo com rostos aparecendo nos lugares.
Por ser um volume mais focado em ação, fiquei preocupado com a sequência das cenas de luta. Explosões, manifestações de poder, personagens dando soco, chute e voadora nos outros. É bem fácil se enrolar com sequências de quadros de ação para ação e transformar uma situação que era para ser grandiosa em algo confuso. Mas, não é o caso. Tudo acontece de uma forma fluida e orgânica, mesmo em todo o caos do momento. São dois grupos combatendo uns aos outros, mas esse caos do combate tem uma lógica que o leitor sabe compreender. O personagem A dá uma voadora em B que defende, se abaixa, solta um raio de energia que pega no A e no C, salta enquanto o A se esconde atrás de um pilar e dispara um tentáculo de energia. Tudo faz sentido. Parabéns ao autor e aos artistas que conseguiram montar um roteiro preciso.
Ficha Técnica:
Nome: The Wicked + The Divine vol. 4 - Ação Crescente
Autor: Kieron Gillen
Artista: Jamie McKelvie
Colorista: Matthew Wilson
Arte-Finalista: Clayton Cowles
Editora: Geektopia
Tradutor: Maurício Muniz
Número de Páginas: 160
Ano de Publicação: 2020
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