Em homenagem à compra dos direitos autorais da coletânea Solarpunk para uma editora norte-americana, fica aqui a resenha do conto que eu mais gostei. Roberta Spindler nos apresenta um mundo onde o amor pode se colocar contra os ditames do mundo.
Dentro da coletânea Solarpunk, Roberta Spindler foi a que melhor captou a essência do que constituía a proposta do livro. Com uma prosa arguta e bem direcionada, Roberta apresenta uma trama centrada em um drama familiar. Laura, Lúcio e Elio são desenvolvidos de forma bem emotiva pela autora. No final do conto a gente acaba desenvolvendo sentimentos de carinho por estes personagens.
A história se passa em 2214 quando o sol se tornou o maior aliado e o maior inimigo do homem. Após uma série de explosões solares, seus raios passaram a incidir maliciosamente na Terra. As lavouras morreram lentamente devido à força excessiva dos raios solares. O corpo humano também já não suporta tamanha radiação nociva. Várias pessoas começam a sofrer de terríveis doenças cancerígenas por causa da exposição prolongada.
Graças a um cientista foi desenvolvida uma tecnologia à base de nanitas que servem para filtrar os raios solares e alimentar o corpo humano. Com isso o homem já não precisaria mais se alimentar porque toda a energia viria do sol. Este também se tornou o principal fornecedor de energia do mundo sendo que veículos e comunicações passaram a empregar energia solar.
Lúcio é pai de Elio. Chegou a vez de seu filho se submeter à cirurgia de implante dos nanitas (que formam uma espécie de tatuagem de sol no tórax). Laura e Lúcio estão preocupados com os riscos da cirurgia já que nem todos os que passam por ela sobrevivem. E seu filho havia esperado muito por causa de uma doença que agia enfraquecendo o seu sistema imunológico (normalmente o implante era feito no final da infância). Essa era uma das preocupações que levavam Lúcio a desejar que seu filho não se submetesse a esta cirurgia. Mas havia outro motivo cujo significado era mais profundo.
Quando um indivíduo implantava a tatuagem ele não precisava mais se alimentar, bastando se reabastecer no início do dia. Mesmo que se alimentassem, os nanitas bloqueavam o sentido do paladar. Não havia a menor diferença entre os alimentos. Lúcio desejava que seu filho conseguisse sentir o sabor de um abacate, coisa que ele já não se lembrava desde sua infância. Outro fato que contribuía para a indecisão de Lúcio era a escassez cada vez maior de alimentos. Chegaria um ponto dentro de poucos anos que já não haveria mais nenhum tipo.
Quando Lúcio expôs suas preocupações à Laura esta se enfurece dizendo que seu marido estava sendo egoísta. Bem vou parar de contar a história e deixar alguma coisa para os leitores descobrrirem por si só. A técnica de escrita de Roberta Spindler é bela e envolvente. A gente acaba se importando com os personagens. E ela aproveita todo o curto espaço de seu conto fazendo-o com maestria. Contribui também o estilo intimista da história.
Não quero estragar ainda mais a história, pois ela vale muito a pena ser lida. É um conto doce e gentil de uma família com problemas em um mundo caminhando para uma nova era. E um mundo em que os seres humanos poderiam estar perdendo um pouco de sua humanidade.
Ficha Técnica:
Nome: Sol no Coração
Autora: Roberta Spindler
Conto que faz parte da coletânea Solarpunk
Editora: Draco
Gênero: Ficção Científica
Ano de Publicação: 2013
Avaliação:
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