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Resenha: "O Aquário na Janela" de Ricardo Figueiredo

Foto do escritor: Paulo ViniciusPaulo Vinicius

Raquel possui uma condição peculiar: ela é capaz de experimentar sonhos lúcidos que possuem uma materialidade impressionante. Enquanto ela cresce precisando se acostumar com isso, seu irmão faz parte de uma empresa que busca desenvolver uma tecnologia capaz de criar um mundo virtual em que as pessoas possam interagir de uma forma bastante realista.


Sinopse:


Raquel é uma moça comum, de uma pequena cidade, que começa a experimentar sonhos bastante vívidos e significativamente interativos. Procura por ajuda médica em uma cidade maior, onde seu irmão Miguel trabalha em uma firma que desenvolve tecnologias de informática, que pertence a Rodrigo, um gênio da computação e dos negócios. Suas vidas acabarão por se entrelaçar de uma forma absolutamente inimaginável. Esta é uma história dinâmica, que se alterna entre os mundos real e virtual, com desfechos surpreendentes e implicações futuras. Pode ser enquadrada como ficção científica, embora apresente muitos conceitos que já são reais ou que estão em vias de o ser.






O conceito de sonhos lúcidos sempre permeou as nossas imaginações. Aqueles de nós que são capazes de interagir com mundos fantásticos enquanto estão se recuperando de um dia de trabalho. Lugares onde as fronteiras do possível e do impossível se dobram diante de um algo incognoscível. Vários psicólogos e neurologistas já buscaram explicações ou entender o que provoca isso em nossas mentes. Ao mesmo tempo caminhamos para um futuro onde interagir com um segundo mundo virtual se torna cada vez mais possível. Graças aos MMORPGs, aos universos das redes sociais e até ao desenvolvimento de tecnologias de realidade virtual vem se tornado corriqueiros. Ricardo Figueiredo mescla essas duas ideias em uma narrativa provocadora que brinca com conceitos e se situa em alguma classificação cinza entre a realidade e a ficção científica.


Começamos a história com Raquel que aparece em uma cena curiosa. Ela está perdida em um lugar desolado que, quando ela caminha rumo a algum lugar habitado, descobre estar em alguma espécie de templo ou claustro. Uma imagem fica fixa em sua cabeça: um homem fazendo gestos nas mãos como se guiasse peixes dentro de um aquário. E a partir deste estranho capítulo inicial que conhecemos a condição estranha de Raquel que tem esses sonhos estranhos a qualquer momento do dia. Um fenômeno que pode acontecer sem aviso, repentinamente. Seu irmão Miguel sabe da situação de Raquel, mas cai sempre naquela ideia pré-concebida de que isso pode ser uma doença ou apenas stress relacionado a alguma situação de sua vida. Anos mais tarde vemos Miguel trabalhando na empresa de Rodrigo, um empresário da tecnologia bem sucedido cujo novo projeto pode revolucionar tudo o que conhecemos sobre as interações no mundo digital. Um projeto guardado a sete chaves, mas cujo desenvolvimento tem esbarrado em alguns obstáculos inesperados. Como a vida de Raquel e Rodrigo vão se cruzar? e como isso pode mudar o mundo como o conhecemos?


Essa é uma daquelas resenhas que eu gosto de fazer. Não por ser necessariamente de um livro revolucionário, que vai mudar toda a realidade de como pensamos ficção ou algo do gênero. Mas é onde consigo ser realmente útil e levar algo não apenas aos leitores como ao próprio escritor. Antes de mais nada gostei da ideia básica por trás da história. Sonhos lúcidos e realidade virtual tem tudo a ver (até me perdoem se eu estiver usando uma nomenclatura fora de moda para realidade virtual). E a maneira como o autor conecta essas duas ideias é diferente. Nada que já não tenha sido pensado antes, mas sempre é a maneira como o autor aborda suas ideias que as tornam criativas. No tocante ao aspecto escrito, a narrativa pula entre dois pontos de vista: o de Raquel e o de Rodrigo, com alguns momentos pegando Miguel como observador. Ou seja, é uma narrativa em terceira pessoa com a visão acoplada nos ombros de um personagem. Os elementos de enredo vão sendo descobertos junto dos personagens. Em vários momentos ficamos confusos com algum desdobramento, mas isso é natural porque a ideia é que o enredo seja construído de forma paulatina. E o autor emprega o expediente de dar uma rasteira vez ou outra para que nossas certezas sejam bagunçadas por algum novo elemento inserido na trama.


Nos aspectos editoriais, preciso destacar um ponto importante: autores, não pulem as etapas editoriais. Como alguém que compartilha suas impressões sobre livros há quase dez anos, entendo o quanto investir em leitor beta, revisão, copidesque pode encarecer o sonho de publicar um livro. Só que são etapas essenciais para um livro. E O Aquário na Janela tem muitos problemas editoriais. A quantidade de erros presentes no livro me assustou bastante. De erros ortográficos a esquecimentos de pontuação. E isso quebra a concentração na leitura. Atrapalha muito. Quando são poucos, eles acabam passando e é muito mais aquele trabalho de catar piolho; mas isso não é o caso aqui. Não conheço a editora que publicou o livro, mas isto também pesa na conta da editora que permite que um trabalho seja publicado dessa forma. É deixar o autor à revelia das críticas. Não proteger aquele que está sendo publicado dentro do selo editorial.


Quando o texto se foca nos aspectos mais gerais da trama e adota um tom mais narrativo, o encadeamento de palavras é muito bom. Isso oferece uma fluidez ao que está sendo lido. É possível ler o livro em uma tarde porque os capítulos são curtos e a trama progride bem rápido. Em um texto, não costumo gostar de materiais que se fundamentam mais em diálogos de uma linha. Isso me incomoda porque é uma tentativa do autor de reproduzir uma conversa real. O autor norte-americano Jeff Vandermeer em seu livro Wonderbook aponta que esse hábito é bastante comum em alguns autores e nunca funciona como o desejado. Isso se dá porque em uma conversa entre duas pessoas, as conversas não se dão uma frase após a outra. Falamos por cima do outro, divagamos, mudamos de assunto com facilidade, usamos o gestual para nos comunicarmos. Uma dica que sempre dou é que, se é possível trocar uma fala por uma descrição de fala, isso contribui muito mais para a fluidez e a compreensão. Melhor do que você dizer:


"Pedro, você vai no médico?"

"Sim, eu vou."


É usar dessa forma:


"Seu amigo pergunta se ele pretende ir ao médico e Pedro confirma afirmativamente, para alívio dele."


Novamente, isso é uma preferência minha e vários autores que curto também defendem essa ideia. De certa forma isso pode poluir o seu texto e impedir que você trate de outros temas que são mais relevantes para o aprofundamento do enredo.


A narrativa vai sendo apresentada bem aos poucos para os leitores e somos deixados em uma cortina de mistério por boa parte da narrativa. O que é possível perceber, sem dar spoiler, é que o autor nos coloca em um techno thriller onde um dos protagonistas precisa resolver um problema em seu projeto e acaba se deparando com uma situação inesperada e que abre sua mente para outras possibilidades. O que acabei não entendendo foi a opção do autor em dividir o livro em mais de uma parte. Para mim, ele poderia ter fechado a sua ideia em um livro só ao invés de buscar uma série, duologia ou trilogia. O livro é pequeno e não há a necessidade de expandir além disso. Existe uma economia literária hoje em que algo só é validado se tiver mais de um livro, o que não é verdade. Acho que provoca o efeito contrário no leitor, afastando-o. O efeito do gancho e da curiosidade só vai acontecer se o livro fechar em uma situação bastante climática que nos deixa roendo as unhas e imaginando o que pode acontecer a seguir. Tal não é o caso. O autor até busca criar um momento tenso nos dois capítulos finais, mas isso não se converte em um gancho efetivo. O final é quase como uma abertura de caminhos para a trama em um momento até mais sereno com a tensão estando presente na falha no projeto. Mas, isso em nada significou para os dois protagonistas que mais tomaram uma decisão do que aconteceu algo marcante com eles. Livros one-shot são mais eficientes em ficção científica do que séries. Um autor com uma pegada semelhante de enredo ao de O Aquário na Janela é Cory Doctorow que quase sempre mescla temas atuais com ficção especulativa. E a grossa maioria de seus livros são volumes únicos.


Costumo imaginar a mim mesmo como um leitor orientado a tramas que trabalham personagens e seus problemas e expectativas. Até curto uma boa construção de mundo, mas são os personagens que dão vida a uma história. A trama do livro é muito orientada para a história em si. Embora o autor toque em alguns dilemas dos personagens, estes acabam bastante superficiais. O leitor precisa se apegar aos personagens ou a trama precisa ser tão bem construída que acabamos por não se importar tanto com os personagens, bastando eles serem modelos estereotípicos (apesar de isso poder configurar uma bela de uma crítica). Aqui, o autor se concentrou demais na narrativa e nas discussões tecnológicas sobre seu desenvolvimento. Alguns capítulos são bem pesados nesse sentido, o que pode agradar aos que curtem esse debate. Por exemplo, algo que me desagradou bastante foi o salto temporal brusco que a narrativa sofre logo no começo do livro. Não ficamos sabendo como Raquel fez para se acostumar com o seu problema. Ele fica de lado e a personagem só aparece um pouco mais à frente, próxima do momento em que ela e Rodrigo se encontram. Apesar de o autor mostrar um pouco da vida solitária de Rodrigo, ela parece estranha quando subitamente ele se apaixona pela protagonista. Tudo apressado demais para que a história pudesse ser acelerada. Era possível pisar no freio e trabalhar o relacionamento dos dois ao mesmo tempo em que os dilemas da pesquisa de Rodrigo vão surgindo e precisando ser dribladas com pesquisa e raciocínio. Isso poderia ter dado uma riqueza maior ao livro.


No fim das contas, o livro me apresentou mais um autor bacana ao qual vou ficar atento aos seus próximos lançamentos. Gostaria depois de saber como a história vai terminar porque senti boas ideias sendo apresentadas aqui. Mas, sugiro ao autor fazer uma revisão atenta ao material para apresentar algo bacana para seus leitores e repensar algumas de suas escolhas narrativas. O livro certamente tem boas ideias em um assunto que sempre desperta nossa curiosidade.











Ficha Técnica:


Nome: O Aquário na Janela

Autor: Ricardo Figueiredo

Editora: Primeiro Capítulo

Número de Páginas: 129

Ano de Publicação: 2024


Link de compra:


*Material recebido em parceria com o autor

















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Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. 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