Retomando as clássicas histórias de espada e feitiçaria reimaginada por autores nacionais, temos uma coletânea de narrativas incríveis que envolvem guerreiras poderosas, cavaleiros amaldiçoados e ousados ladrões.

Nesta primeira parte falamos dos seguintes contos:
1 - "A Peônia" , de Alec Silva
2 - "Khamir, o Sem Rosto", de Lucas Viapiana Baptista
3 - "O lorde sombrio do castelo em ruínas", de Tarcísio Lucas Hernandes Pereira
4 - "A última luz", de Jonatas Tosta Barbosa
5 - "A caçada do paladino", de Fernando Fiorin
1 - "A Peônia"
Ficha Técnica:
Autor: Alec Silva Avaliação:

A proposta da coletânea é nos apresentar histórias baseadas no formato clássico pulp de espada e feitiçaria. Claro que esse é só o ponto de partida, com os autores podendo reimaginar seus personagens de acordo com suas ideias. E Alec Silva pega o clichê do guerreiro poderoso que segue de vila em vila coletando recompensas e dá um twist. Ele nos apresenta Marja, uma guerreira forjada sob um terrível treinamento e agora sai pelo mundo em missões perigosas. E a gente vê que com ela não se pode brincar, caso contrário, poderá acabar no fio de sua espada.
A narrativa pode ser dividida em duas metades: na primeira, temos um grupo de aldeões comentando sobre a lenda da Peônia e o quanto o seu nome deve ser temida. Ou seja, o autor alimenta a reputação da personagem ao criar histórias e lendas a seu respeito. Na segunda parte, Marja chega com o butim de uma aventura em busca de uma recompensa. Mas, talvez as pessoas que colocaram a recompensa irão ter outros planos. E Marja não gosta muito de ser enrolada. Podemos dizer que a história é bem direta e objetiva e o autor consegue criar essa atmosfera de grandeza ao redor da protagonista. Só que eu senti que faltou espaço para trabalhar melhor a própria construção dela.
Os limites impostos pela estrutura do conto prejudicaram os planos do autor. Eu gostei da narrativa, mas senti que faltou algo. Depois parando para reler e refletir melhor, percebi que o que faltava era justificar toda essa aura criada ao redor da personagem. Não houve tempo para que eu pudesse entender o quanto a guerreira é temida. Fico em dúvida se ter usado algumas páginas para contar a lenda da personagem ajudou ou prejudicou o fluxo da narrativa. Porque se formos pensar de forma direta, a narrativa mesmo só acontece quando Marja está adentrando nos portões da mansão. E já tinham-se passado várias páginas antes.
2 - "Khamir, o Sem Rosto"
Ficha Técnica:
Autor: Lucas Viapiana Baptista Avaliação:

Nesta narrativa, o autor nos apresenta um personagem que parece ter sido afetado por uma maldição que o deixou desfigurado. Ele é um guerreiro poderoso que vaga pelo reino buscando alguma maneira de destruir sua maldição. É quando ele recebe uma visão de que deve seguir rumo a um local de poder. Ao chegar lá ele precisará superar um desafio mortal que irá testar a sua força de vontade e o quanto ele está disposto a abandoná-la em prol do seu objetivo final.
A narrativa é redondinha e nos apresenta um personagem com algum tipo de obstáculo a ser superado. Gostei o quanto a maldição ajuda a compor a personalidade ele. Ela não está ali para tolher o personagem ou para ser erradicada; ela faz parte dele e de como é o seu processo decisório. A abordagem do autor é mais direta e parece até como se fosse uma aventura ou um mais um dia em sua vida. Claro que a aventura vai apontar em direção a uma situação marcante que vai, de alguma forma, deixar marcas em seu espírito. O autor acabou tendo a difícil escolha de focar sua escrita no personagem em detrimento de explicitar mais como é o mundo em que ele vive. Temos algumas referências aqui ou ali mas para o leitor essas referências acabam não dizendo nada. Em um conto ou a gente se foca no personagem ou no mundo; por mais que o autor busque equilibrar as duas coisas, isso acaba não sendo possível. No fim das contas eu acabei curtindo bastante a história e gostaria de ver mais sobre Khamir.
3 - "O lorde sombrio do castelo em ruínas"
Ficha Técnica:
Nome: Tarcísio Lucas Hernandes Pereira Avaliação:

Adoro personagens com personalidade. Sério... Em um gênero como espada e feitiçaria é complicado sair dos clichês típicos dos personagens tradicionais: o guerreiro poderoso, o cavaleiro amaldiçoado, a mulher badass. E o Tarcísio cria um personagem bem interessante; um ladrão que tem seus objetivos, cauteloso, mas que acaba se envolvendo em algo que ele sabe ser maior do que ele. Aqui não temos um personagem destemido; estamos diante de um homem que mede suas ações e está o tempo todo planejando seu próximo passo. Mas, as circunstâncias acabam colocando-o nas mãos de um poder além de sua imaginação.
Alkar é um ladrão em busca de seu próximo alvo. Um tesouro escondido, uma caverna com riquezas além da imaginação, a mansão de um homem rico. Dessa vez o alvo são as ruínas do castelo de lorde Zamiel. Então ele segue confiante rumo ao seu objetivo e ao chegar lá ele percebe que forças sinistras habitam o lugar. Ele se prepara para fazer um roubo rápido e sair dali o quanto antes. Mas, a presença do próprio lorde Zamiel o espanta de uma forma sinistra. Ou pelo menos ele julga ser o nobre. Ou alguma coisa que se assemelha a ele.
Um dos pontos altos da narrativa é o embate de inteligência entre os dois personagens. Os diálogos são sagazes e dinâmicos. Tanto protagonista e antagonista possuem motivações que interessam o leitor. Eu me senti investido naquela história e queria saber como ela iria terminar. Apesar de ser uma narrativa mais alongada, a narrativa flui bem e as descrições não são cansativas; muito pelo contrário. Outro ponto bom é que essa história é a definição perfeita do conto: se encerra em si mesmo, com uma narrativa que tem início, meio e fim. Não há pontas soltas e não quero saber mais desses personagens. Tudo se encerra ali de uma forma bastante satisfatória.

4 - "A Última Luz"
Ficha Técnica:
Autor: Jonatas Tosta Barbosa Avaliação:

A Última Luz é uma história poderosa que fala de manter a esperança mesmo na mais sombria das situações. Estamos em um mundo abandonado pelos deuses onde os seres humanos precisam sobreviver em um lugar frio e escuro. Animais selvagens e lendários se tornaram ainda mais mortais e o grupo da protagonista Ardruna precisa atravessar um cenário duro para encontrar um lugar onde talvez as coisas possam ser melhores. Nessa caminhada, muitos ficarão pelo caminho já que uma criatura chamada Beórum parece ter feito esse grupo de alvo. A narrativa começa quando o pai de Ardruna, já esgotado pela caminhada mortal, se torna um peso para o grupo que quer a todo custo abandoná-lo.
Eu gostei dessa narrativa não por ela ser um exemplo de espada e feitiçaria, mas justamente pelo contrário. Das histórias que eu li é uma das que menos tem a ver com o gênero. Não sei por que, mas ela me fez lembrar muito da narrativa de Cormac McCarthy em A Estrada. Aquela narrativa seca e cruel onde o autor não alivia nas suas descrições. O mundo de suas histórias é cruel e selvagem e somos apenas uma vítima de suas intempéries. Claro que existe uma criatura que persegue o grupo, mas o próprio ambiente em si forja os homens em um molde mais duro. As escolhas feitas tem a ver com sobreviver mais um dia. Não posso tirar o valor da história, mas também não consigo encaixá-la como um pulp, menos ainda como espada e feitiçaria.
5 - "A Caçada do Paladino"
Ficha Técnica:
Autor: Fernando Fiorin Avaliação:

Com uma temática que coloca duas culturas diferentes lado a lado em uma busca por uma criatura demoníaca, Fernando tem junto de si algo com muito potencial para ser explorado. A narrativa explora bastante as concepções e pensamentos do protagonista, Sir Richard que acaba precisando se ver envolvido com um mouro para caçar uma criatura cruel que teria amaldiçoado sua família. O que começa como uma aliança de necessidade, com o protagonista se questionando sobre os motivos que o levaram a uma atitude tola, em sua opinião, se transforma em uma verdadeira amizade e uma relação de respeito.
Esta é uma narrativa bem direta onde os personagens buscam pistas do paradeiro de um objeto mágico que seria responsável por conter os poderes desta criatura. Então quase sempre estamos seguindo de um ponto A para um ponto B, com algum problema acontecendo que faz com que o personagem acabe indo para outra direção. O ponto alto realmente é ver a quebra de paradigmas de Sir Richard diante de seu aliado. O choque cultural é bem explorado pelo autor. Mas, eu acabei sentindo falta de um momento climático na narrativa. O que acontece mais para a frente é mais decepcionante do que interessante. Senti que faltou aquele momento do combate onde as diferenças são deixadas de lado ou então o protagonista acaba se unindo em pensamento com seu aliado. Tudo foi resolvido de uma forma muito rápida, mais como algo a ser finalizado do que uma missão que encaminhou toda a narrativa.

Ficha Técnica:
Nome: Multiverso Pulp vol. 1 - Espada e Feitiçaria
Organizado por Duda Falcão
Editora: Avec Editora
Número de Páginas: 184
Ano de Publicação: 2020
Segunda parte
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a Avec Editora
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