Quatro amigos vão precisar de toda a sua coragem e habilidades para enfrentar terríveis demônios no mundo dos sonhos. Uma conspiração que envolve alunos da escola e seres de poderes além de nossa imaginação. Uma aventura eletrizante enquanto os quatro precisam amadurecer e ganhar novas responsabilidades.
Sinopse:
SABRINA é altiva e forte, mas quer abraçar suas fragilidades. FELIPE almeja ser algo além de um sorriso cativante. ANNE carrega um passado que insiste em roubar a sua voz. LUCAS não sabe se deseja olhar para trás. Rubro & Roxo narra a jornada de quatro amigos jogados em uma trama de domínio e dor que se espraia e coloca seus colegas de escola em perigo. A solução deste mistério terrível está escondida em um mundo de pesadelos paralelo ao que vivem. E apenas eles podem acessá-lo, mas é preciso usar o poder de sonhar.
Sabrina, Anne, Felipe e Lucas são alunos de diferentes séries no Colégio Estações. Eles compartilham de um segredo em comum: durante a noite, em seus sonhos, eles são transportados a um outro mundo, repleto de pesadelos e criaturas indescritíveis. Aparentemente algum mal tomou conta da escola e eles estão entre os únicos capazes de se colocar contra as ambições de uma existência maligna. Todas as noites eles lutam, usando habilidades adquiridas neste mundo, e conseguem afastar estes pesadelos de sua escola, que agora possui uma arquitetura de pesadelo. Mas, os demônios começam a ficar mais ousados e os quatro percebem que alguém, dentro da escola, possui conhecimentos e habilidades também, só que empregados para o mal. E estas pessoas querem ampliar sua zona de influência e transformar a escola em seus domínios.
Antes de falar da história, é preciso destacar dois pontos principais: Valpaços escreveu uma história voltada para o público infanto-juvenil e que possui uma enorme influência de jogos de RPG. Pode ser que a narrativa não se encaixe para você, leitor, que busque algo mais sério, sujo e impactante. Mas, vou sugerir a você dar uma oportunidade para que o autor o encante com sua escrita. Até porque a trama não tem nada de boba, possuindo várias camadas que possuem segundas ou terceiras leituras. A estrutura narrativa é bem corretinha, com início, meio e fim, deixando ganchos para futuras histórias (vou pegar no pé com algumas coisas, mas no geral eu curti bastante a leitura). É daqueles livros que você lê sem dor, se divertindo, torcendo pelos personagens e o tempo passa batido. No aspecto de RPG, quem é mais experiente nesse tipo de história vai perceber os arquétipos de classes de personagens como o guerreiro, o ladino, o mago e o invocador. E está tudo bem também porque nada disso é jogado na cara do leitor. Nós é que vamos ligando os pontos e criando nossa própria impressão dos personagens.
Posto isso, se trata de um livro infanto-juvenil e vou buscar entendê-lo a partir de seu público-alvo. Não se trata de uma narrativa complicada e o leitor vai se acostumando aos poucos com o que está acontecendo. Admito que o começo do livro me deixou preocupado porque Valpaços nos joga dentro da ação sem grandes explicações. Apesar de gostar da escolha do autor, ao não testar a inteligência de seu leitor, isso me preocupa porque ao não entender de cara o que está acontecendo, isso pode afastar alguém não tão acostumado a ler. E isso porque entendo que Rubro e Roxo é um bom livro de entrada para novos leitores. Três ou quatro capítulos mais tarde o leitor já está mais calçado para entender o universo criado por ele. É muito mais o impacto inicial. A leitura é bastante dinâmica e Valpaços optou por capítulos curtos e quase do mesmo tamanho. Não vou saber precisar o número de páginas porque li em uma edição digital, mas levando em conta o espaçamento e o tempo de leitura, é mais ou menos isso.
Valpaços também optou por uma escrita no formato de três atos, o que é uma boa em se tratando desse tipo de história. A gente tem alguns pontos da famosa jornada do herói aqui ou ali, mas não é isso que é fia a narrativa. Temos um início claro onde o inimigo e os objetivos são apresentados, o desenvolvimento onde os obstáculos aparecem e precisam ser transpostos e o final onde o clímax acontece e a conclusão gera alguns ganchos para outras histórias. Como disse no começo: redondinho e corretinho. Meu problema também se encontra nos saltos temporais que o autor faz, vez por outra. E isso advém de sua formatação em pontos de vista, onde cada capítulo é enxergado sob a perspectiva de um dos quatro personagens (e um quinto tipo em que não há um protagonista claro e o narrador é mais onisciente). Quando acontece as mudanças de capítulos acontecem ruídos de vez em quando com fatos que não são bem explicados ou acontecimentos que provavelmente se sucederam em outro momento. É preciso tomar bastante cuidado com esse continuum espaço-tempo porque isso pode prejudicar a compreensão macro da história. São coisas pequenas que não vão atrapalhar no cômputo geral, mas que precisavam ser abordadas para não ficar aquela impressão de "isso aconteceu, mas tudo bem, não tem importância".
A principal arma do autor, e o seu ponto forte, é o desenvolvimento dos personagens. Dá para perceber que o autor gastou algum tempo na construção dos mesmos, em estabelecer suas relações e motivações. Gosto de como eles são tridimensionais e mesmo eles possuindo um ar arquetípico, eles procuram sair do lugar comum e apresentar aspectos interessantes e que vão fazer os leitores se identificarem. Além disso, existe uma clara progressão na trajetória deles durante a trama. Por exemplo, a Anne começa como uma personagem que prefere permanecer em segundo plano, sem chamar muito a atenção. Só que as circunstâncias da narrativa a fazem tomar protagonismo sobre si mesma. Ao final, ela será uma personagem bastante diferente de quando começamos a leitura. Minha preocupação, e fica o alerta para o autor, é o brincar com várias bolinhas ao mesmo tempo. Provavelmente para um segundo volume da série, ele irá incluir personagens que permaneceram ao final desta história e eles podem ou não se tornar parte do grupo. Meu alerta fica para um cuidado maior com esse intercruzamento de personagens. Uma coisa é jogar quatro bolas para o alto e equilibrar; outra bem diferente é fazer isso com oito bolas. Vai exigir flexibilidade e habilidade adaptativa, principalmente quando os personagens parecerem criar vida própria.
O uso do ambiente escolar para narrar a trama permite uma boa identificação com os leitores mais jovens. E abordar problemas do cotidiano como o bullying, o fazer novos amigos, o participar de clubes/atividades é bem legal e diferente. Ao ler Rubro e Roxo me senti quase jogando Persona 4 (um game de PS2 que ganhou versões para vários outros consoles) no sentido de demonstrar a importância de criar laços que vão gerar algum tipo de consequência no universo da história. O cenário serve ainda para explorar o amadurecimento dos personagens, à medida em que eles vão crescendo e precisam tomar decisões mais sérias e que podem ser definidoras de seu futuro. Aliás, esse é um momento-chave na vida de qualquer adolescente: onde ele cria a sua identificação, sua personalidade. Isso é manifestado até na forma como os personagens se enxergam no mundo dos pesadelos e em como essa manifestação vai ganhando mais contornos com a progressão narrativa.
Senti falta do Valpaços explorar melhor os dilemas familiares vividos pelos personagens. Em alguns casos o autor delimita bem o que faz o personagem funcionar. Só que tem um pequeno problema: se você gasta um tempinho para falar sobre o pano de fundo do personagem, precisa usá-lo de alguma forma. Um problema só existe para ser resolvido dentro de uma obra literária. Ele pode suscitar um desenvolvimento, uma tragédia, uma mudança... ao não usar um elemento de enredo, ele se torna uma barriga. Não há a necessidade de gastar vários momentos da trama para especificar um problema. Basta citar que ele existe e deixar para explorá-lo em outro momento, se esse for o plano. Todo e qualquer elemento narrativo precisa ser útil para a trama, caso contrário ele só se torna um acréscimo... e aí vem aquela palavrinha em inglês que autores de fantasia ficam apavorados quando é mencionada: info dumping.
Enfim, gostei da história e do universo criado por Valpaços. Vejo bastante potencial para novas histórias e os personagens são cativantes. Tem algumas vulnerabilidades aqui ou ali, mas no geral, diverte e consegue fazer com que a gente se esqueça do mundo por algumas horas. Quero ver o autor explorar mais desse mundo, principalmente após alguns detalhes no final da história que me deixaram intrigado para novas aventuras.
Ficha Técnica:
Nome: Lições - Rubro e Roco
Autor: Jorge Valpaços
Editora: Avec
Número de Páginas: 200
Ano de Publicação: 2021
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a Avec Editora
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