Jonatan está cansado. O prazo de entrega de seu projeto para incorporar a Saicom é na próxima terça. E ele está começando a ter estranhos sonhos com Karen, sua assistente e uma presença indefinível chamado Lucille. Jonatan não sabe mais o que é o mundo real e o que é o universo de seus sonhos.
Sinopse:
Jonatan é um gerente de projetos que começa a ter sérios distúrbios do sono que chegam a afetar a sua vida profissional. Ou seria o seu trabalho que estaria bagunçando seus sonhos? Não importa a ordem dos fatores; o que importa é que Jonatan fica preso em uma aventura perigosa que revira a sua cabeça – e começa a borrar os limites entre a realidade e a fantasia.
Recentemente eu li um conto que precisava da conexão do leitor com a obra que está sendo lida. Essa conexão nem sempre acontece, mas quando acontece, mágicas acontecem. Se com o outro conto, essa conexão não aconteceu, aqui a história foi bem diferente. Foi melhor escrito do que minha outra leitura? Não sei... nem tanto assim. Hipersonia Crônica foi um dos primeiro trabalhos da autora e ela ainda estava trabalhando na sua pena. A história foi tão mais interessante assim? Para mim foi, mas talvez não tão elaborada assim. Contos reflexivos dependem do gosto e da conexão feita com o leitor. E Aline Valek me conquistou com as mensagens subliminares presentes na história.
Jonatan é uma espécie de consultor na empresa em que ele trabalha. Ele tem um projeto importante que envolve a aquisição de uma empresa na próxima semana. Em seu andar, existe uma mulher sexy e maravilhosa chamada Karen, a qual ele deseja e um chefe duro o qual ele precisa impressionar. Mas, Jonatan começa a ter estranhos sonhos envolvendo Karen, seu chefe e uma presença chamada Lucille. Com o passar dos dias a linha tênue entre sonho e realidade começa a ficar mais borrada até o momento em que ele não sabe mais diferenciar. Ele precisa tomar uma atitude e ela poderá mudar completamente a sua vida.
Histórias que mexem com o universo dos sonhos foram criadas para confundir o leitor. Deixar-nos perdidos em um universo em que não sabemos o que é alto ou baixo, para esquerda ou direita, terra ou ar. Geralmente essas histórias são bem confusas e é preciso primeiro processar a informação posta na história para podermos finalmente entender o que o autor (ou autora) quis dizer. Nesse sentido Aline Valek foi muito feliz. Ela realmente nos deixa completamente perdidos ao longo da história. Não sei se a ausência de separadores entre os momentos reais ou momentos de sonho foi algo proposital ou um erro na hora de construir o arquivo para o Kindle. Se foi um erro, que acidente fortuito!!! Se foi proposital, palmas lentas para a autora. Ela consegue dar uma rasteira no leitor a cada duas ou três páginas. Existem momentos em que eu precisei reler uma passagem para entender se era sonho ou realidade. Só havia me sentido dessa maneira em alguns livros do Philip K. Dick como Fluam Minhas Lágrimas, Disse o Policial e Valis. E a autora parece beber muito dessa influência.
Existem vários temas colocados no conto: o desejo, o stress, a ambição. O que salta mais aos olhos é o desejo de Jonatan por Karen. Várias passagens confusas na história sempre a mostram próxima do protagonista até em cenas que insinuam algo a mais entre os dois. Curioso também é que a salvação de Jonatan vem justamente de Karen quando lhe é passada a informação nos sonhos de que ela iria para o interior. Talvez essa ida para o interior fosse algum mecanismo do subconsciente de que o personagem precisava sair daquela situação de uma maneira mais drástica. Ele precisou de algum tempo para compreender o significado da mensagem, assim como o próprio leitor. Outra passagem curiosa é a do protagonista e a do chefe em uma espécie de cemitério. A ilustração do final do livro que seria acrescentada em uma possível edição com imagens não consegue passar a angústia daquele momento. É quase como se fosse uma cena de um western, em que Jonatan acerta contas com o seu chefe. Mais uma dedução maluca minha: parece nesse momento que o protagonista preferiu manter sua vida e sanidade do que continuar envolvido em um esquema louco.
O que não ficou claro para mim foi Lucille. Ela seria um programa de realidade aumentada? Uma droga? Uma IA? O trecho em que Jonatan vê um disparo de uma arma de EMP sendo disparada é realmente de fritar o nosso cérebro. Por mais que eu tivesse relido esse trecho não consegui fazer a associação com a história. O mais próximo que eu consegui chegar de alguma dedução foi a de que a aquisição da Saicom seria algo prejudicial para um grupo maior de pessoas. E o subconsciente de Jonatan acabou percebendo esse fato e tomando alguma providência alertando o personagens, através de seus sonhos, das possíveis ramificações desta atitude.
Existem outros temas mais interessantes escondidos como a nossa rotina diária cansativa, a mesmice das nossas vidas (Jonatan tomando café quase que a todo momento), mas eu prefiro deixar essas coisas para o leitor. Sejam surpreendidos pela escrita da autora. As interpretações são tão subjetivas que conseguimos abstrair muitas coisas de Hipersonia Crônica. Foi uma boa introdução para a escrita de Aline Valek e me serviu de incentivo para ler o seu trabalho mais recente, As Águas-Vivas Não Sabem de Si.
Ficha Técnica:
Nome: Hipersonia Crônica Autora: Aline Valek Editora: Auto-Publicado Gênero: Fantasia? Sci-fi? Os dois? Nenhum? Ano de Publicação: 2014
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