Em uma série de histórias sobre arrependimentos e perdas, Kitoh usa de sua escrita sensível para nos apresentar diversas jornadas de crescimento. E como somos moldados por aquilo que escolhemos.
Sinopse:
Arrebatadoramente intimistas, as sete histórias reunidas em Fim de Verão traçam uma espécie de retrospectiva artística de Mohiro Kitoh. Criador de séries consagradas internacionalmente como Bokurano e Narutaru, tornou-se conhecido por seu primor ao mesclar um traço delicado com enredos impactantes e violentos, sempre conferindo aos personagens uma profundidade psicológica raramente vista nos mangás para jovens. Publicadas originalmente entre 1987 e 2004, permitem ao leitor não apenas acompanhar a evolução do traço do artista, mas também apreciar a sutil sensibilidade com a qual ele abrange temas pungentes tais como a persistência das memórias de infância, a nostalgia pela juventude e a perda da inocência.
As sete histórias presentes nesta coletânea tratam de jornadas de crescimento e amadurecimento. Mohiro Kitoh é um artista de extrema sensibilidade e isso está presente nas páginas deste mangá. Cada história possui uma história marcante, alguns mais puxadas para o sobrenatural e outras apenas dramáticas. O ponto de encontro entre todas é a necessidade de seguir adiante. Como o verão que em algum momento chega ao fim e dá lugar ao outono.
Sobre a edição da L&PM, vai ser chato repetir isso, mas, a edição é ruim. Pequena, com quadros apertados e sem nenhum texto de apoio ou posfácio. Mohiro Kitoh é um mangaká muito influente no Japão e ver uma edição como essa me entristece profundamente. Para a sorte da editora, o traço do Kitoh não é tão marcante assim (sendo até comum em alguns momentos), portanto a edição não prejudicou tanto a arte como no caso de Solanin, de Inio Asano. Mesmo assim, é uma lástima ver isso. Ainda bem que a editora descontinuou sua linha de mangás.
Falando sobre a arte do Kitoh, ela é mais expressiva do que detalhada. O autor se preocupa muito com os olhares e expressões dos personagens. Algo curioso que eu percebi é que a maior parte deles são ou melancólicos ou raivosos (tirando a penúltima narrativa). Essa melancolia está presente também no fundo urbano das histórias. Sempre se passando em um bairro ou em uma escola, as histórias representam bastante do cotidiano. Só não gostei muito da quantidade de fundos brancos presentes no mangá. Pelo que eu entendo, as histórias do Kitoh presentes nessa coletânea foram publicadas de forma espaçada. Não sei… fico sentindo que elas poderiam ter sido melhor acabadas. Entretanto, o autor dá um show no traçado rabiscado dos personagens. Dá para ver a elegância dos contornos e o quanto ele faz algo complexo parecer tão simples. Sejam ladrilhos, telhados de casas ou uma silhueta, tudo é simples, mas muito bem acabado. Outra coisa que eu não gostei muito na arte foram as proporções corporais. Parece que os personagens tem o dobro do tamanho que deveriam ter. Me fez lembrar um pouco do estilo da Clamp com aqueles personagens com pernas imensas e magreza infinita.
Sobre o roteiro dá para perceber o sentimento por trás de cada narrativa. Vou comentar brevemente sobre alguns contos para não estragar a graça da leitura dos outros. Fim de Verão dá nome à coletânea e é sobre um menino que teve sua irmã morta em um acidente de carro. Akiko, sua irmã, um dia aparece em seu quarto com vontade de sair com seu irmão. Ele acredita que ela está com alguma coisa inacabada na Terra e precisa completar antes de poder seguir para o outro mundo. É uma história muito bacana sobre a ligação que existe entre dois irmãos. As travessuras, as alegrias, as tristezas. A narrativa é tão doce e sutil que a gente sente o calor do verão adentrando por nossas janelas. Calor esse representado pelo sentimento cálido que cerca os dois. O final é de uma doçura que acalenta nossos corações.
Já Pureza Manchada é um conto um pouco mais violento. Yuko Sawatari é o protótipo da garota perfeita: usa belas roupas, tira boas notas, é boa nos esportes. Sempre impecável, ela irrita seus colegas de classe, inclusive Takada, nosso protagonista. Ele fica pensando em o quanto sua vida é comum e seus pais são chatos e em como Sawatari sempre consegue permanecer perfeita. Subitamente, seu pai morre e tudo muda. É uma narrativa sobre bullying e como a vida toma rumos inesperados. Mas, o que mais me chamou a atenção é o quanto julgamos uma pessoa sem conhecê-la de verdade. O nome disso é preconceito. Uma vez que Takada passou por algo semelhante ao que Sawatari vivia, ele passou a compreendê-la melhor. Atitudes que para Takada pareciam estranhas, para Sawatari eram comuns. O final da narrativa te dá um soco no estômago. Puro e simples.
Por último queria falar sobre A Canção do Papai. Takahashi e Matsuba discutem a respeito da gravidez dela e das novas responsabilidades que ambos terão de ter. Takahashi sustenta uma bela caranga, curte música e fuma muito. Mas, a possibilidade de ser pai vai fazer com que ele precise mudar uma série de hábitos. Matsuba está preocupada o quanto isso pode afetar a relação de ambos e se o peso de uma nova responsabilidade pode ou não afetar seu noivo. É uma narrativa que visa explorar a chegada da paternidade e as obrigações de um marido. É o deixar de lado a juventude e alguns sonhos (muito do que eu vi em Solanin de uma forma mais estendida). E é legal o paralelo que Kitoh faz entre o que a gente pensa de nossos pais (que eles são caretas) e o quanto acabamos nos parecendo demais com eles quando crescemos. Fenomenal. Eu tenho essa impressão hoje quando busco montar associações com o meu pai. Hoje eu tenho muito das características dele. E quando somos crianças queremos tudo menos ser parecidos com nossos pais.
Recomendo esta coletânea apesar dos problemas editoriais apresentados aqui. Kitoh é um artista de muita sensibilidade capaz de escrever todo o tipo de histórias. Eu fiquei com muita vontade de conhecer outros trabalhos do autor.
Ficha Técnica:
Nome: Fim de Verão Autor: Mohiro Kitoh Editora: L&PM Gênero: Drama/Sobrenatural Tradutora: Drik Sada Número de Páginas: 208 Ano de Publicação: 2015
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