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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Ela Está em Todo Lugar" de Cherie Priest

Princess X é uma personagem criada pelas jovens Libby e May. Ela representa o que elas gostariam de ser e marcou o nascimento de uma doce amizade entre elas. Mas, Libby morreu em um acidente de carro. Três anos depois, imagens da Princess X começam a aparecer por toda Seattle. Mas, quem será que a está desenhando?


Sinopse:


May e Libby criaram a Princess X no dia em que se conheceram, e desde então tornaram-se inseparáveis. Através da personagem, as garotas mataram todos os dragões e escalaram todas as montanhas que a imaginação delas pôde criar.Até Libby e sua mãe morrerem em um acidente de carro.Três anos depois, May começa a ver imagens da Princess X em adesivos e pôsteres por toda a cidade. Isso só pode significar uma coisa: Libby está viva. E May não vai parar enquanto não encontrá-la.




A união de quadrinhos e prosa


Uma coisa que todo leitor de quadrinhos comenta é sobre a junção entre roteiro e narrativa visual. O quanto é importante as duas coisas conversarem entre si para produzir uma boa história. Cherie Priest tenta algo bem diferente aqui: criar duas histórias que atuam em paralelo, uma de uma menina investigando estranhos desenhos de uma personagem que ela criou junto de sua amiga e uma história em quadrinhos de uma princesa guerreira em busca de quatro chaves que permitiriam a ela resgatar o seu reino das forças do mal. É algo bem diferente e que produz uma história que, no mínimo, vale a curiosidade para ver como ficou o resultado final.


Este livro é a primeira aventura de Cherie Priest no mundo dos romances YA. Antes desse livro, ela havia conseguido sucesso com uma ótima série steampunk cujo primeiro volume chamava-se Boneshaker (que chegou a sair no Brasil por uma editora que eu sequer me recordo o nome). Sair de um romance adulto onde ela tinha liberdade para um romance Infanto-juvenil/YA é um salto grande até porque o próprio estilo de escrita acaba exigindo uma certa restrição na mão do autor. Se formos pensar a partir de uma literatura infanto-juvenil a autora até que conseguiu entregar uma história bem competente apesar de um começo meio truncado. Ela adotou o formato YA também na formatação dos capítulos, sendo eles pequenos e muito dinâmicos. A ação é apresentada de forma progressiva sendo que primeiro os personagens são introduzidos, depois a problemática e as complicações.


May conheceu Libby na sexta série. Sendo duas meninas deslocadas, elas acabaram naturalmente atraídas pela amizade uma da outra. Libby criou uma personagem junto de May chamada Princess X, uma princesa que usa um vestido, uma coroa, um all-star vermelho e portava uma espada. A amizade das duas se solidificou e elas viviam grudadas uma na outra. Um dia, um acidente de carro levou as vidas de Libby e sua mãe. O impacto para May foi muito grande ao lado da separação dos pais que a levou para longe de Seattle. Três anos depois, May está de férias na casa de seu pai. Ao explorar a cidade ela se depara com um cartaz da Princess X, para o seu total choque. Não apenas isso, mas existe um site com várias histórias dela. Quem teria criado? Quem é a responsável?



A amizade entre Libby e May é muito trabalhada ao longo da narrativa. O quanto Libby foi importante para o desenvolvimento dela. Se antes, May era mais introvertida, ela passa a ser uma pessoa mais livre. Claro que a morte de Libby causa um choque tremendo na vida dela, fazendo com que ela não queira mais se relacionar com outras pessoas. May se torna uma garota inteligente, embora traumatizada. No começo ela sonhava todos os dias com o retorno de Libby ou se ela poderia ter salvado sua vida. Esses "se" que sempre abalam a gente... o que poderíamos ter feito de diferente. Quando os cartazes da Princess X aparecem, ela percebe que alguma coisa está errado. Ela fica dividida entre seu sentimento por Libby e o fato de alguém estar lucrando com uma personagem que ela havia criado junto de sua querida amiga.


Este é um livro de investigação nos moldes das melhores histórias de mistério. Nós temos a menina curiosa (May), o especialista (Trick) e o personagem misterioso (Gralha). A investigação que começa sendo uma busca por um site obscuro da internet aos poucos vai tomando contornos mais assustadoras quando uma trama sinistra se desenrola. Os personagens vão seguindo uma mentalidade inocente até o momento em que percebem que acabaram metendo os pés em algo realmente assustador. A sensação de perigo na metade da narrativa se torna iminente, mas parece que a ficha demora a cair para os personagens. Se formos parar para pensar a narrativa é bem sinistra para um romance infanto-juvenil (por isso insisto em ele ser mais um YA do que um infanto-juvenil).


As histórias em quadrinhos são colocadas pontualmente na narrativa. Elas não estão ali à toa, complementando a narrativa e contribuindo para desvendar o mistério que está acontecendo ali. O leitor vai acompanhando a história e buscando montar o quebra-cabeças ao lado das personagens. A arte não é nada espetacular, mas cumpre bem o seu papel. Novamente, a ideia não é criar uma arte bonita, mas apresentar elementos de mistério e charadas para que o caso pudesse ser resolvido. Como a arte da Princess X é algo que vai se relacionar mais com a May, com coisas pessoais dela, nem sempre dá para a gente concluir alguma coisa. Mas, eu curti muito essa junção de quadrinhos e prosa.



No fim, por ser um estilo experimental, a Cherie Priest entregou até que algo bem legal. Não é revolucionário ou de vanguarda, mas consegue divertir. A leitura é bem rápida e um leitor mais concentrado vai terminar o livro em dois ou três dias. A prosa é eficiente e a autora não emprega jargões muito específicos (os que ela emprega, ela explica no próprio texto). Ou seja, o leitor não vai se sentir assolado por nada complexo demais. A gente acaba se envolvendo bem com as personagens, mas eu sinto que a Cherie poderia ter desenvolvido melhor a relação entre Libby e May no começo da narrativa. O capítulo onde esta relação acontece é muito rápido, e o impacto da amizade das duas perdura por toda a história já que ela é a formadora de caráter da protagonista. Merecia pelo menos mais uns dois ou três capítulos.










Ficha Técnica:


Nome: Ela Está em Todo Lugar

Autora: Cherie Priest

Ilustrador: Kali Ciesemier

Editora: Gutenberg

Tradutor: Rodrigo Seabra

Número de Páginas: 272

Ano de Publicação: 2015


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