Depois de seus estranhos apagões, Lynx sai em busca da origem de seu novo implante cibernético. Só que ela acaba conhecendo três irmãs que foram colocadas para atender a todos os seus desejos. Mas, as coisas não batem. Qual é o objetivo?
Atenção: tem spoilers!
Sinopse:
Terceira parte da série cyberpunk REQU13M, da autora Lidia Zuin, "A máquina sonha Deus". Os recentes acontecimentos destruíram a confiança de Lynx no mundo ao seu redor. Os mistérios atingem níveis mais profundos do que é capaz de lidar, mas não vai desistir tão facilmente. Mesmo a hospitalidade das irmãs Raga, Arati e Pali, repleta de prazeres e alienação, não é capaz de mantê-la fora das ruas por muito tempo. Decidida a retomar as investigações, Lynx descobre novas conexões entre os eventos que tumultuaram sua vida. E isso pode ser o seu fim.
O que falar dessa série? Fiquei com sentimentos um pouco divididos em relação a ela. Por um lado, a história é sensacional. Quem vai pegar achando que se trata de um cyberpunk comum, vai cair do cavalo. A Lídia tem uma escrita bastante precisa e sabia o que queria desde o primeiro volume. Apesar da ambientação trazer aquele toque meio Blade Runner, meio Neuromancer, analisando os três como um conjunto é possível dizer que Requiem é uma narrativa da Lidia Zuin. Ela pegou referências de vários lugares, mas o mundo e as ideias que ela criou são inteiramente dela. A gente pode argumentar (como eu vou fazer) sobre algumas escolhas não terem sido tão legais quanto outras. Mas, que diacho de mulher criativa!! Devorei a trilogia dela. Algo que eu não costumo fazer; prefiro esperar um tempo antes de continuar uma série. Mas, com essa aqui não deu.
Nossa protagonista Lynx continua de onde ela parou no volume anterior. Moha foi morto e não lhe deu respostas sobre que implante é esse que ele colocou em sua cabeça. Para piorar, ela começa a ter alguns apagões súbitos e duvida de sua capacidade de compreender o mundo ao seu redor. A incapacidade de saber se o que ela está vendo e vivenciando é uma simulação ou é a realidade abala as suas certezas. Com toda essa dúvida, ela retorna ao hospital onde ela passou pela operação e encontra Raga. Raga e suas irmãs, Arati e Pali foram enviadas por alguém para atender a todos os desejos de Lynx. O que no começo parece ser algo incrível, logo se torna uma inércia enorme que ela não consegue suportar. Essa instabilidade da personagem a colocará de novo em um caminho estranho e perigoso que envolvem preceitos budistas como o abandono do mundo material. E agora? Por onde seguir? O que se esconde atrás de um véu de mentiras e falsidades?
Essa é uma narrativa profunda que envolve nossa própria capacidade de entender o mundo que nos rodeia. Lidia mescla a percepção da protagonista com a do próprio leitor. Afinal de contas, esse mundo é apenas uma mera ilusão criada pelo nosso olhar. Cada existência é uma individualidade por si só. Ao nos apegarmos à materialidade do mundo, somos incapazes de perceber o quanto tudo é efêmero e fugaz. Os preceitos que levam ao nirvana nos são mostrados aos poucos pela jornada vivida pela própria heroína. E se pararmos para pensar um pouco, por que Lidia dividiu sua série em três partes? A própria divisão representa a mensagem que ela quer nos passar. Enquanto a personagem permaneceu passiva diante do que lhe acontecia, ela sentia que algo estava faltando. Por isso a inquietude. E isso se espelha em muitos de nós. Quando nos queixamos de que falta algo em nossas vidas, passamos por esse mesmo processo de questionamento. Claro que vai caber a cada um de nós nos libertarmos de nossas amarras e buscarmos algo que transcende a nossa compreensão.
A escrita da Lidia continua muito boa, apesar de que eu achei este terceiro volume muito carregado de informações. A autora podia ter diluído melhor essa carga entre o segundo e o terceiro volumes. De vez em quando eu precisei voltar para entender melhor algum conceito ou ideia que ela colocava. Até mesmo pegar o primeiro ou o segundo volume para conferir informações. Isso prejudica a leitura mais fluida do material. Entendo que ao chegar neste último volume a autora não se preocupou muito em tirar o pé do acelerador, mas em determinados momentos ela poderia ter pego mais leve. Ou até aumentar um pouco a quantidade de páginas de forma a tornar a compreensão mais amigável. Senti também alguns buracos de informação, principalmente no que diz respeito à relação da Lynx com os rivetheads. Não sei se essa é uma narrativa que a autora vai retomar em algum momento, mas essa parte da vida da Lynx está repleta de lacunas. No mais, é uma trilogia que eu só tenho a recomendar. Gosto da forma como a autora ambientou sua série, as ideias propostas e até a personagem é interessante. Faltou alguma coisa aqui ou ali, mas é normal.
Ficha Técnica:
Nome: A Máquina Sonha Deus
Autora: Lidia Zuin
Série: Requiem vol. 3
Editora: Draco
Número de Páginas: 48
Ano de Publicação: 2014
Avaliação:
Outros Volumes:
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